Lost West: Laços De Sangue escrita por Cavaleiro Branco, Yoru, Mast


Capítulo 3
Capítulo 2 - Auto-Exílio


Notas iniciais do capítulo

Hurr durr demorou pra escrever;
Hurr durr capítulo longo;
Hurr durr hurr durr;
Sim, eu estou nervoso.
Hurr durr pq?
Por um motivo pessoal que infelizmente não lhe interessa.
~~~~
Aproveitem esse capítulo ridiculamente mal feito.



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Um jovem andava de um lado para o outro, impaciente. Dezenas de 'homens' estavam logo atrás, esperando seus comandos. Ele vestia uma roupa altiva, que ostentava poder em seu manto vermelho e riqueza em seus detalhes dourados. Sua pele avermelhada e seus dois chifres pontudos, apontados para trás, junto à cauda que saía por baixo da capa, denunciavam sua espécie.

Era um Daemon.

Um demônio.

Mas sua coroa mostrava que ele não um plebeu qualquer. Era Azaz'el Sammel Sihvva, ninguém menos que o descendente real, o 'Bondoso' Príncipe dos Sete Círculos do Inferno.

Devia ter quinze anos, mas as responsabilidades exigidas dele eram o suficiente para deixar qualquer adulto louco. Tinha uma musculatura bem definida, marcada de cicatrizes – resultado de um capricho de seu pai, que o forçava a fazer parte de treinos desnecessariamente exagerados.

As roupas que vestia apenas denunciavam o desdém dele com o Rei. Este sempre dizia que essas vestimentas eram desnecessárias, e justamente por isso ele as usava.

Ele não gostava nem um pouco de seu pai.

O jovem esporadicamente mirava o relógio, balançando a cabeça. Cada minuto dessa batalha iria incomodá–lo muito, disso ele tinha certeza. Além do mais, ele não gostava de matar diabretes.

O sangue deles era muito pegajoso.

De vez enquanto, passava a mão por entre as escamas duras de sua montaria. Claro que a dele não era comum como as dos soldados logo atrás. Ele jamais montaria uma dessas bestas meio cães meio cavalos, os Sh'aadik.

Muito menos um cavalo. Só de pensar em montar em um ele sentia desgosto.

Não, não, a montaria dele era muito mais digna. Era uma verdadeira jóia dos demônios.

Kel'amalik, a morte Alba.

As tropas inimigas se amendrontavam perante sua presença. As chamas azuis vindas de sua boca queimavam os inimigos, transformando–os em cinzas.

O dragão albino, altivo como seu mestre, piscava seus olhos dourados, pacientemente controlando sua antiga sede por sangue e morte.

Olhou ao relógio novamente, e bufou. Estava na hora. Pulou em cima da besta, que abriu as asas como estandartes imperiais.

—Vamos logo! –ordenou, terminando de arrumar a 'sela'.

Os guerreiros urraram, estendendo suas espadas para cima e para frente, e os Sh'aadik começaram a correr. Kel'amalik deu um impulso, subindo nos céus, soltando uma rajada de fogo azulado para o alto.

—Que Baphomét nos ajude. –o jovem sussura, fechando os olhos.

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POV' Azaz'el

—FOGO! –ordenei, vendo meu dragão queimando dois diabretes. Olhei ao redor. Haviam muitos deles. Meu pequeno contingente havia sido dizimado, e havia pouco o que se fazer. Me segurei na sela, limpando um pouco do sangue vinho pegajoso, grudado em minha mão.

Estavam furiosos. Usavam seus poderes à todo vapor, controlando a natureza ao seu favor. Eram muito mais do que haviam estimado.

Sim, ignorantes não pensariam que esses humanóides diminutos fossem tão poderosos. Não culpo os tolos que o fazem. Suas asinhas minúsculas agitadas e sua pele azulada impedem que alguém os leve a sério. Sua cauda e pequenos chifres podem até lembrar os Demônios, mas não creio que temos a mesma origem. Podem parecer apenas frágeis indivíduos, por terem pouco mais de meio metro de altura.

E são.

Mas, quando estão aos montes, se tornam incontroláveis.

Chovia como nunca havia chovido antes naquelas terras, e raios caiam para todos os lados. Estavam avançando na direção do Inferno, e isso não era nada bom.

Kel’ percebeu isso, e também não gostou nem um pouquinho. Ele tem um sentimento muito forte de proteção em relação aos outros dragões que residem no nosso reino. Senti um arranque, e logo estavamos indo em direção a horda mais a frente, a maior de todas.

O réptil entrou em fúria, e começou a fazer selos de mão. Ele era incrível, tinha de admitir.

O melhor Towa Kuchiyose que eu já vi.

Confesso que sempre quis poder usar jutsus.. É realmente uma pena que minha raça é desprovida dessa capacidade.

Bem, pelo menos podemos fazer outras coisas.

—Katon: Sekiyu Bakuhatsu Fukuma no Jutsu! –gritou, soltando um jato de gosma negra pegajosa. Ele continuou sobrevoando-os e cobrindo-os de óleo por longos minutos.

Minha vez.

—Kadza’kael: Elmayko’tet Kadza tor Bazra ze Ratgaz!

Um círculo vermelho apareceu na minha frente, e um pentagrama se desenhou no meio dele. Um pilar de chamas sairam dele, e logo começaram a se apagar, pela chuva. Me concentrei mais, e as chamas voltaram a arder.

Forcei minha mente, e o pilar começou a se estender, se contorcendo como uma cobra na direção do óleo pegajoso.

A maioria dos diabretes sequer haviam percebido que o que os cobria era óleo, quem dirá que eu estava acendendo-o.

Mas eles não precisavam da maioria para me derrotar.

Um grupo deles usou seus poderes Sannin para controlar o vento, jogando Kel’amalik no chão, inconciente.

Não!

Minha distração permitiu ao fogo se dissipar, deixando apenas o pentagrama no chão.

Outros dois diabretes, particularmente poderosos e maiores que os outros –com ‘incríveis’ um metro de altura –, começaram a fazer algum tipo de dança estranha. O óleo começou a escorrer rapidamente, apesar de viscoso. Logo havia todo se juntado em uma grande bola gosmenta.

Olhei para aquilo com atenção, e me preparei para me proteger.

Quando a arremessaram, meu sangue gelou.

Aquilo não era para mim.

Olhei, petrificado, enquanto a bola caía em cima de meu grande e único amigo.

Um diabrete olhou para mim com um sorriso irônico, apontando seu indicador para a esfera negra.

Uma faísca saiu da ponta do dedo dele.

A chuva caía.

Meu coração batia com força.

E uma gigantesca bola de fogo explodia na minha frente.

Uma onda de calor varreu o que estava em seu caminho, me arremessando para trás, me deixando em uma poça de lama.

Me levantei, atordoado. A chuva, que havia parado por alguns segundos, refrescava minha pele.

Olhei para frente, vendo o fogo se desvair, revelando uma grande cratera.E nela, um corpo, antes branco, jazia acinzentado.

Me aproximei de Kel’amalik, cambaleando, e caí de joelhos do lado dele.

Ele respirava lentamente, lutando para viver.

Eu sabia que ele era resistente ao fogo, mas aquilo já era um exagero.

Vi-o tentando levantar a cabeça, sem sucesso.

Segurei uma lágrima.

Ele olhou para cima, com um olhar cheio de medo.

Segui seus olhos, apenas para ver uma imensa pedra sendo levada em nossa direção.

Ele juntou todas as suas forças e me deu uma patada, me mandando para longe.

Quando caí na lama novamente, ouvi um estrondo.

Senti o sangue escorrendo em meu peito, e ouvi gritos no horizonte.

Conseguiram fazer a tempestade alcançar a cidade.

Minha pele escureceu, ficando negra, e meus olhos tornaram-se iguais aos de um bode.

Alguns dos Diabretes recuaram alguns passos, mas era tarde demais.

—Vocês vão pagar por isso.

~~~~~~~~~~~~

O jovem cambaleava, tampando a ferida, que ardia com a forte luz do sol do meio dia.

Seguiu a linha do cânion que delimitava 'suas' terras, até que chegou em uma ponte. Atravessou-a, e ficou um tempo pensando.

Não, não queria alguém seguindo-o. Não queria ter de explicar ao pai como foi sua vergonhosa derrota, nem sofrer as penalizações por isso.

Apesar de ter derrotado o exército da Metrópole dos Diabretes, seu contingente foi destruído, e Kel’amalik, morto.

A cidade havia sido atingida, e os dragões provavelmente estavam incontroláveis.

Não hesitou: pegou a espada – ou o que havia sobrado dela – e cortou as cordas que seguravam a ponte. Iria ir até a próxima ponte, e fazer a mesma coisa. Sem Kel'amalik, os outros dragões não obedeceriam aos seus mestres. E, sem os dragões, levariam pelo menos três dias para atravessar a barreira natural.

E, nesse meio tempo, já estaria muito longe dali.

Sorriu para si mesmo, parabenizando-se pela ideia. Caminhou, obstinado, tolerando o calor, a dor e a areia que o incomodavam tanto.

Depois de mais ou menos meia hora de uma caminhada cheia de tropeços, viu a ponte se aproximar no horizonte.

—Só mais um pouco.. – murmurou, franzendo os olhos, olhando ao outro lado da ponte. –Aquilo correndo é..?

Uma jovem fugindo de alguns demônios que cavalgavam logo atrás.

Merda. – pensou, pulando atrás de uma pedra, observando-os, atento. A menina correu pra perto da ponte, se abaixando no momento exato que um tomahawk passou por ela, cortando uma corda da ponte. Um daemon desceu do cavalo, se aproximando. Queriam capturá-la.

Ela estava segurando na corda restante, e o bastardo lançou outra machadinha na menina. Vesgo como um trasgo, ele acertou a outra corda. A ponte caiu, ficando suspensa pelo lado do cânion aonde Azaz'el estava. A menina estava sangrando muito pela batida na parede, mas mesmo assim subiu pela corda até chegar em cima da borda do penhasco.

Ela parou ali, provavelmente desacordada. Os demônios reclamaram muito com o infeliz culpado, e até ameaçaram jogá-lo no penhasco, mas não o fizeram.

Azaz'el deduziu, pelas suas montarias, que eram apenas daemons comuns, da 'casta inferior'. Não iriam conseguir executar algum feitiço que os levassem até ela, muito menos algum que a trouxesse para eles.

Fracotes.

Logo desistiram, achando que estava morta, e foram embora. Quando se certificou que estava seguro, o jovem saiu de seu esconderijo, se aproximando da garota.

—Ela não cheira à morta.. está mal, mas ainda está viva.. Esse cheiro.. é..? –murmura, agachando ao lado dela. Estava caída com o rosto no chão. Ele a virou, e, quando viu quem era, deu uma risada irônica.

—A escrava de 'papai'.. –diz, quase cuspindo a última palavra.

Heh.. ele odeia ela.. sempre arruma motivos para torturá–la e.. fazer aquilo com ela..

Ela não tinha sequer algum motivo para ser escrava..

Até mesmo quando ela não tinha feito nada de errado, ele a castigava..

Como ele fazia comigo..

Fechou os punhos, com força.

Mandava os soldados lutarem comigo, porque não podia mandar me espancarem diretamente...

Fechou os olhos, trincando os dentes.

Me enviou para essa batalha.. Ele.. ele sabia que eu não ia vencer.. Ele me mandou.. para morrer..

Sua pele novamente ficou escura. Abriu os olhos, revelando as pupilas de cabra.

Pegou o corpo inerte da jovem e, em segundos, estava correndo pelo deserto, em uma velocidade absurda.

~~~~~~~~~~~~

Depois de alguns minutos de corrida, e de atravessar alguns territórios, ele chegou à tal zona humana, 'Konoha City'. As casas de madeira – muitas estavam abandonadas – se situavam ao redor das estradas principais, que formavam uma cruz no meio da cidade.

Viu um casebre qualquer, aparentemente sem dono. Abriu a porta de madeira, que rangeu escandalosamente, e entrou. Nenhuma luz estava acesa, e havia poeira para todos os lados.

O plano dele era ficar ali, escondido dos humanos, até a menina se curar.

Levou-a ao quarto do local, e lá havia uma cama relativamente arrumada. Colocou-a lá, e pegou algo em seu bolso. Um pequeno vidro de cristal, com um líquido verde-marinho dentro. Pingou uma gota na ferida em sua cabeça, e esta começou a soltar fumaça, se fechando.

Pingou mais uma , dessa vez nos lábios dela.
—Isso deve ajudá-la.. –murmurou, vendo um brilho sair da boca da menina.

Ele olhou ao redor, e se sentou numa cadeira, esperando-a acordar.

—Não deve demorar muito..

~~~~~~~~~~~~

Bocejei. Fazia mais ou menos uma hora que havia pingado a Lágrima nela, e ela ainda não havia acordado.

—Ah.. esses humanos são tão frágeis..

—E... Eu não sou... Fragil... –ouço uma voz fraca, rouca e dolorosa soar bem baixo pelo quarto.

Olhei para cama. Ela estava acordando.

—É sim. Não conteste a realidade, é inútil.

—"Inútil". –ela riu, usando os cotovelos para levantar-se lentamente. –Qualquer esforço é útil.

Olhei para cima, fitando o teto.

—Qualquer esforço.. – balbuciei, dando uma risada irônica.

Eu me esforcei para salvar os guerreiros do meu grupo.

Eu me esforcei para resistir à batalha junto à Kel’amalik.

Eu me esforcei para que meu pai tivesse orgulho de mim.

Tudo em vão.

—É sim. –ela murmurou, finalmente abrindo os olhos. Percebi um brilho de reconhecimento fraco, e ela acrescentou. –Senhor.

Girei os olhos, fitando-a com raiva.

—Primeiro. Não, nem todo esforço é útil. Gastar energia com ações precipitadas que não levarão a lugar algum é pura idiotice.

—E, segundo. Seu "Mestre" – disse, cerrando os olhos – é o meu "querido" pai. Se você me comparar à ele de novo, eu..

Ela se encolheu levemente e desviou os olhos.

—Desculpe, senhor, mas, no entanto, escravos devem sempre se dirigir a outros com a postura adequada e submissa, senhor. Aceitarei uma punição, se for vossa vontade, senhor. –terminou, com a voz um pouco tremula.

Bati minha cabeça na mesa, impaciente.

—E desde quando você é minha escrava? – perguntei, sem levantar o rosto.

—Desde o momento que eu fui comprada para uso geral do reino? –ela falou, incerta. –Qualquer um poderia me dar ordens, senhor.

Suspirei.

—Estamos em algum dos Círculos do Inferno?

—Não. – disse, antes que ela respondesse.

—EU SOU UM MEMBRO DO REINO? NÃO!

Ela se encolheu novamente, parecendo segurar um choramingar.

Bati a cabeça na mesa mais uma vez, e outra, causando uma rachadura.

—O que preciso fazer para você deixar de ser fraca? –murmurei, virando o rosto lentamente para ela.

Ela apenas abaixou a cabeça e olhou para o chão, em submissão.

Suspirei novamente, respirando fundo.

—Ok.. vamos tentar novamente.. Olá, eu sou Azaz'el. Qual é o seu nome? –perguntei, tentando me tranquilizar.

—... Eu não sei. –ela começou, devagar. –Eu acho que é Alexis. –ela balançou, atordoada.

Olhei para ela, ligeiramente curioso.

Ela não sabe.. o próprio nome..

—Como é.. ser escrava? –perguntei, olhando para os meus pés.

Sim, eu sei que é horrível.

Mas.. tem algo que eu preciso saber..

Algo que.. preciso ouvir..

—Como é não ser um? –contratacou ela, em voz baixa. –Eu não sei. Eu nunca fui livre. Nunca serei livre. Eu sou o que eu sou. O que eu nasci para ser. O que me forçaram a ser. Eu sigo ordens. Eu sou punida. Eu não vivo. Eu vou morrer. É simples assim.

—Nunca foi livre.. – murmurei. – E.. quer ser? –perguntei, encarando-a.

—E por que eu não iria querer parar de sentir essa dor? Conseguir realmente me curar? Realmente viver? Eu fantasiei tanto com a liberdade, senhor. Meus companheiros de cela, quando não estavam se aproveitando de mim, –ela não parou nessa parte, dizendo isso com uma naturalidade abismante –estavam me dizendo o quanto eu era tola. A única liberdade para um escravo é a morte.

Os outros escravos.. –sussurrei, balançando a cabeça – E não foi isso que perguntei. Perguntei se quer ser livre agora. Estou te dando essa chance. Sou o Príncipe dos Sete Círculos do Inferno, isso tem de valer alguma coisa.

—A unica liberdade para um escravo é a morte. –repetiu ela. –Mas eu não quero morrer.

—Não, eu não vou te matar. Ninguém vai. Quer ser livre? Viver se quiser e como quiser, ir aonde quiser, comer o que quiser e quando quiser e essa coisa toda? –insisti, começando a perder a paciência novamente.

—Isso não existe, senhor. –ela murmurou baixo.

Segurei meus chifres, quase arrancando-os, mas parei para respirar e me sentei ao pé da cama, encarando-a nos olhos.

—Por quê não? Eu tinha isso, mais ou menos. Você também pode ter.

—Eu nasci para sofrer, senhor. Apenas isso. A liberdade é simplesmente impossível.

—Pois agora eu digo que é possível. Eu sou seu mestre, não pode me contradizer. E agora eu te liberto. Pronto. Você é livre. Divirta-se. –disse, me levantando.

—O senhor não me comprou. –contradisse a garota. –Apenas o mestre principal pode me libertar. Por isso é impossivel, Senhor Azaz'el.

—Se você quer seguir as regras bestas dele, vamos brincar assim. Meu pai é o Rei, mas eu tenho direito de clamar as 'posses' dele. Então, posso te tornar minha escrava. Quem você prefere ter como mestre, ele ou eu? –perguntei, fechando os olhos.

Acalme-se.. Acalme-se.. Acalme-se..

—E qual a diferença? –ela perguntou, com um sarcasmo e recentimento fraco na voz. –Qual a diferença de ser estuprada por ele ou por você, mestre? De ter o braço arrancado por ele ou por você, mestre? Qual é a diferença?

Dei um soco na mesa, aumentando a rachadura.

—A diferença, Alexis, é que eu não pretendo te estuprar, nem arrancar seu braço. –cuspi, entredentes.

—Nem te punir por qualquer merda aleatória sem sentido que nem ele fazia.

Ela olhou para o outro lado, claramente zombando disso.

Ah mas que droga! –gritei, batendo a testa na mesa pela última vez, rachando-a em duas.

—ELE JÁ ME MANDOU TE ESTUPRAR NÃO SEI QUANTAS VEZES! VOCÊ VIU! MAS EU NUNCA NEM TOQUEI EM VOCÊ! –berrei, furioso.

Ela se encolheu levemente, mas não me olhou.

E foi aí que uma imagem veio a minha mente, me derrubando atordoado no chão.

Uma lembrança.

De quando eu estive bêbado, em uma festa no ano passado.

—E–eu.. eu já.. –balbuciei, atordoado.

Ela se encolheu levemente novamente, com um olhar um pouco assombrado.

—Eu.. eu.. –minha mente rodava. Eu nunca, nunca quis fazer algo assim com ela. Nem com ninguém.

—Me.. me desculpe.. Não.. pedir desculpas não é suficiente.. –murmurei, com o olhar vidrado.

—Suficiente. –a menina repetiu, fracamente. –Talvez não. Mas é alguma coisa, pelo menos.

—Me.. me.. me perdoe.. –disse, ficando de joelhos.

O olhar da menina era puro choque. E ela não respondeu, paralisada.

—P–por favor.. Eu.. eu não queria.. –implorei.

“Droga.. o que eu estou fazendo?”

“Minha voz.. Minha voz até está falhando..!”

—Não... Me peça... Desculpas... –falou Alexis, atordoada. –Não faça isso. Isso é... É... Estranho... Isso não devia acontecer... O senhor devia ter me punido pela forma que eu reagi... –ela estava afobada, e assustada. O choque ainda era a emoção predominante em seu rosto.

Como assim, não pedir..? É meu dever te pedir perdão, no mínimo! Eu.. eu.. eu te estuprei e.. algo me diz que não foi só uma vez.. –murmurei, diminuindo a voz.

Balançei a cabeça com força, apertando os olhos.

—Me dê pelo menos uma chance de.. tentar.. compensar o mal que te fiz.. –sussurrei, olhando para baixo.

“Droga, a que nível você chegou, Azaz'el? Se humilhando desse jeito para uma humana!”

—Mal é a ausencia do bem. –contradisse Alexis, fracamente. –Se eu nunca tive bem, como isso poderia ser mal?

—Você acabou de.. se contradizer.. Se nunca esteve bem, esteve sempre na ausência dele..

—Me dê uma chance de.. mudar isso.. ou.. pelo menos.. te ajudar a mudar..

—Algo só pode se ausentar se em algum momento ele tiver estado lá. –murmurou ela, meio vermelha, se recusando a responder a segunda frase.

—Então.. me deixe.. fazer você ficar bem.. –supliquei.

—E por que INFERNOS o senhor faria isso?

—Porque.. eu.. eu quero.. –murmurei, me recusando a completar a frase.

Ela continuava me olhando, nervosamente, mechendo nas cobertas.

—Eu.. quero.. quero te ver bem. –revelei, derrotado.

E com isso ela fechou os olhos.

Meu pai sempre dizia que eu iria me casar com “minha irmã”. Claro que eu não seguiria as ideias loucas dele. Eu não casaria com minha irmã, muito menos com uma que ainda não tinha sequer nascido.

Meu pai também dizia: “Quem anda com porcos, dorme na lama”. Usando essa frase como argumento, impedia que eu tivesse contato com “seres inferiores”, até mesmo se fossem escravos. Não que eu quisesse ter escravos. Eu já odiava o sistema de castas, quando meu ‘querido’ pai resolveu legalizar a escravatura, fiquei furioso.

Tanto que eu tinha apenas servas, e todas eram Daemons nobres que aceitavam cuidar de mim. Claro que eu não recusava o ‘tratamento especial’ que algumas me ofereciam, mas essa ainda não era minha ideia de vida. Sei que é estranho, mas eu só queria ter uma mulher, viver com ela e ter filhos, construir minha casa e essa bobagem toda.

Bem, eu nunca havia visto uma humana antes. Quando vi Alexis, comecei a bisbilhotá-la – apenas por curiosidade. Um dia meu pai me pegou, e ordenou que eu a estuprasse. Claro que não obedeci, e claro que eu apanhei muito por isso.

Desde então, ele começou a tentar forçar isso, como se tivesse algum tipo de fetiche estranho. Sim, eu nunca soube o que esperar do Rei. Com o tempo, ela se tornou um tipo de criada minha. O máximo que eu mandava ela fazer era brincar comigo, ou algo assim.

Eu via ela como a irmã que nunca tive.

O tempo foi passando, e comecei a vê-la de outro jeito.

—Eu não sei lidar com isso. –murmurou tremula. –Eu não sei lidar...

—Eu.. também não.. podemos aprender.. juntos.. –quando a última palavra finalmente saiu, percebi que havia corado.

“Droga, eu devo estar escuro agora..”

(Nota: O sangue dele é negro, então, ao invés de ficar vermelho, ele escurece sua pele avermelhada.)

Felizmente, Alexis apenas olhou isso com curiosidade, e não entendeu as implicações da frase.

—V–você.. poderia.. me dar.. essa chance? –murmurei.

Ela ficou parada por alguns minutos mas, enfim, assentiu lentamente. Fiquei encarando-a por alguns segundos, absorvendo a ideia, e depois minha mente subitamente acordou.

—E–está com fome? –perguntei, meio confuso. Eu não sabia exatamente o que fazer. Só queria.. fazer algo bom, pela primeira vez.

Algo bom de verdade.

Ela negou com a cabeça, ainda sem falar nada.

Não aceitei essa informação. Eu conheço meu pai, e o jeito que ele trata seus escravos. Ela em especial.

—Quando foi a última vez que.. comeu algo?

Um brilho de alivio em seus olhos.

—Eu comi... Bebi... –corrigiu–se. –Algo... Ontem.

—"Algo".. – repiti, balançando a cabeça.

Não há dúvidas.”

“Ela não 'bebeu algo' porque quis. Ela foi forçada.”

Ela deu de ombros e tentou parecer inocente.

—Eu.. não tenho comida 'de verdade' aqui.. Só.. um doce.. –disse, removendo o pequeno chocolate do bolso e estendendo-o para ela.

—Eu já bebi alguma coisa ontem. –teimou ela, apesar de estar claramente quase babando de vontade de comer o que quer que fosse.

—E vai comer coisas hoje. –insisti, abrindo o pequeno embrulho de seda e aproximando o chocolate do rosto dela.

O olhar dela era nublado e ela engoliu em seco, tentando resistir.

—Vou tentar caçar algum animal, ou talvez.. negociar com algum comerciante? Duvido que irão querer que eu me aproxime.. mas eu posso sempre.. –murmuro, parando ao ver que ela ainda não havia comido.

Estendo o chocolate, fazendo-o tocar a boca dela, mas ela apertou ainda mais os lábios, em rebeldia.

Suspiro, puxando o chocolate de volta, olhando a marca que ficou nos labios dela. Desvio o olhar, corando novamente.

—Coma.. é gostoso, e é tudo o que tenho para te dar agora.. –sussuro.

—E o senhor? –insistiu ela, evitando o chocolate em seus labios completamente. –O que vai comer, se eu comer isso?

—Eu comi ontem de noite, e hoje de manhã. Não preciso de comer agora.. –murmuro.

—Eu também comi ontem. –ela reclamou.

—Não, não exatamente, e você sabe o porque. – disse, apertando os olhos com uma das mãos e estendendo o chocolate com a outra. Ela ainda não pegou, mordendo os labios com um olhar irritado.

Suspiro, mordendo metade do chocolate, e estendendo a outra pra ela.

Ela finalmente pegou o chocolate e mordeu um pedaço, hesitante. Vi uma explosão nos olhos dela, mascarada instantaneamente. Seus olhos eram opacos, em quanto ela escondia o que sentia.

Dei um meio sorriso, observando-a com curiosidade.

Ela mestigou devagar, demorando quase cinco minutos para decidir engolir a primeira mordida de chocolate.

Isso doeu, um pouco. Era só um chocolate.

Não. Era o primeiro chocolate da vida dela. A primeira doçura na sua vida de sofrimento e tristeza. Não era 'só um chocolate'.

Afinal, ela comeu todo o chocolate que restava em cerca de cinquenta minutos.

...

—Bem.. você gostou, né?

Ela olhou para mim, com um brilho de susto, aparentemente tinha esquecido que eu estava ali. Ela assentiu timidamente.

—Bem.. você me fez comer metade. Vou ter de procurar mais comida. Não acho que vai ser tão bom quanto essa aí, mas vou procurar do mesmo jeito. –disse, e meus olhos começaram a brilhar, vermelhos. Minha pele começou a mudar de cor, ficando rosada, e meus chifres estralaram, 'entrando' dentro da minha cabeça.

Em segundos eu era um humano normal. Pelo menos parecia um.

—Vou tentar ser rápido. –disse, caminhando para a porta.

Eu iria abri-la, mas ele foi mais rápido.


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Notas finais do capítulo

Nem precisa fazer review que eu já sei que tá uma merda.
Espero que o próximo capítulo adocique seus olhos para anestesiá-los de tamanha desgraça.

A única ressalva que faço é que parte desse texto foi feito no skype, e que meu word piratão não tem corretor ortográfico em PT-BR.