I Would Bring You The Stars To See You Smile escrita por Lithium


Capítulo 46
45. Anjo


Notas iniciais do capítulo

MEUS AMORES!

Eu demorei meses de novo! Gente, perdão :( Eu sei que devo tomar vergonha na cara, afinal eu estive postando em outras fics durante todo esse tempo, mas eu entrei em um bloqueio infernal para todas as fanfics de sagas que eu tenho postadas. Não sei o motivo, sei apenas que travei, e nada saía. Até agora.
Acontece que muitas coisas aconteceram nesses sete meses, se minhas contas não estão erradas. Passei no terceiro bimestre (vivas!), até no hospital eu fui parar, mas é exatamente como eu disse quando postei o meu capítulo de "volta": a Melody que vocês conheceram em 2013 não é a Melody que vos escreve em 2015. A Mel mudou, minha gente, e escrever I Would tornou-se extremamente complicado para ela por conta dessa mudança.
Leiam as notas finais, por favor - eu preciso conversar urgentemente com vocês, e dar umas notícias também :)

Agradecimentos especiais a DIVA da Ash, que eu amo muito. Sem o apoio dela, esse capítulo demoraria muito mais para ser postado. Ela contribuiu com umas mil palavras e foi graças a elas que o gás para escrever voltou :')

Eu acho que não sei mais o que dizer nesse campo além de: hope you'll enjoy!



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No capítulo anterior...

– Fred... se eu não te conhecesse, eu diria que você não pode me entender. Eu estou sentindo uma angústia tão grande. Fred, eu encontrei o verdadeiro amor! Eu encontrei alguém para amar pelo resto da minha vida, alguém para envelhecer ao meu lado, alguém para observar os meus netos de uma varanda ao meu lado. Mas se algo der errado dentro daquela sala, eu não poderei fazer nada disso! Não poderei me casar, não poderei ter filhos... eu não existo sem James, Fred. É James e Angie. Angie e James. Um só. Até depois que a morte os separe.”

POV – ANGIE McKORMICK

Ao vermos o médico, Gina, Albus, Lily e eu nos levantamos ao mesmo tempo. Meu coração deu um salto e pude sentir a temperatura de minhas mãos esfriando de medo e nervosismo. O médico olhou para todos os presentes, sem saber o que encarar, e o tempo quase desacelerou, como câmera lenta. Eu estava pensando no pior.

– Srta. McKormick?

– Sou eu – respondi prontamente. – O James, ele- ele está bem?

O médico suspirou pesado.

– Eu, infelizmente, não estou aqui para dar notícias sobre o Sr. Potter, Srta. McKormick. Há alguém no térreo querendo conversar com a senhorita.

Franzi minha testa, meu coração batendo descompensado. A primeira pessoa que me veio à mente foi Claire. A imagem dela nos jardins voltou a me assombrar como um flashback. Enrijeci onde eu estava.

– Al-algúem? – perguntei. Minha voz era trêmula e falha. – Quem? Não é nenhuma garota usando um casaco, é?

– Não, senhorita. A pessoa disse que é da sua família.

Congelei. Aquilo não era possível em hipótese alguma. Que família? Eu não tinha uma família! James, Fred e Lucy eram a minha família!

Em apenas um segundo, meu cérebro foi capaz de analisar várias teorias. A primeira delas foi a de que aquele era um grande engano – talvez estivessem procurando outra Angie McKormick, não eu. Talvez o nome da garota que procuram sequer é Angie McKormick. Nunca se sabe. Poderia ser também algum outro médico, mas essa fazia menos sentido, afinal qualquer coisa que alguém daquele hospital quisesse avisar teria o feito através do médico ali conosco. Ou, na pior das hipóteses, era alguém tentando se passar por um membro da minha família.

Respirei bem fundo atrás de calma e encarei o médico de modo impassível.

– Tem certeza de que sou eu essa Angie McKormick que procuram? Talvez “Angie” seja na verdade um apelido para “Angela”...

O médico deu de ombros.

– Não temos essa informação. É uma garota loira, disse apenas que procurava uma parente com esse nome. Como a única pessoa chamada Angie McKormick que está nesse hospital hoje e agora é a senhorita... só temos uma única opção.

Ergui uma sobrancelha.

– Garota loira? E como essa garota se chama?

Ele folheou alguns papéis de sua prancheta, parando para ler algo no rodapé de uma folha depois de algumas páginas.

– Hm... Aqui diz que ela se chama Angel.

Já fazia um tempo que eu tinha percebido que sou mesmo capaz de viver muitas emoções em um único dia, considerando a sorte que tenho. E eu já fiz tanta coisa, mas tanta coisa, que àquela altura no campeonato, era capaz de nada mais me surpreender em lugar algum em todo esse planeta. Nunca.

Para variar, eu estava errada de novo.

Quando ouvi aquele nome, fiquei estática. Nunca pensei que ouviria-o sendo pronunciado de novo – ao menos não se referindo a esse alguém. Uma cena daqueles não acontecia nem nos meus melhores sonhos, mas agora, eu ouvia uma coisa daquelas justamente nesse que poderia ser o pior momento da minha vida. Pior do que o dia da morte dos meus pais. Pior do que o dia em que eu soube a verdade por trás do “namoro” que James e eu fingíamos há alguns meses. E, então, jogando uma luz na escuridão, isso.

Havia tantas coisas que estavam acontecendo ao mesmo tempo que eu cheguei a ficar desnorteada com tudo. E, ao invés de arregalar os meus olhos, congelar onde eu estava ou praticamente cair para trás pela milésima vez, tudo o que eu consegui fazer foi balbuciar uma única frase:

– Isso não é possível.

O médico voltou a checar a prancheta.

– Bom, é possível sim. É o que está escrito aqui, senhorita. A menina se identificou como Angel McKormick e está te esperando no térreo.

Demorei uns cinco segundos para juntar as palavras. Angel McKormick. Esperando. Térreo.

– Você tem certeza absoluta?

– Certeza absoluta, senhorita.

Engoli em seco e encarei Fred de modo atordoado. Ele parecia não entender nada, mas fez um gesto com a cabeça em direção à saída, o que eu interpretei como “vá lá de uma vez por todas”. Eu respirei fundo.

Angel McKormick estava morta. Minha doce irmãzinha havia sumido desde o acidente que causamos e que matou nossa família, e seria impossível para uma criança da idade dela sobreviver por tanto tempo sozinha. Se estivesse viva, teria nove anos. Ela não poderia simplesmente adivinhar que eu estava no St. Mungus e perguntar por mim na recepção. Aquilo não fazia sentido – eu vi o fogo se alastrar melhor do que ninguém. Ela não poderia ter sobrevivido, não por tanto tempo.

Todos esses anos fizeram com que eu me acostumasse com a ausência da minha família – talvez porque encontrei uma família em James, Fred e Lucy. Não era como se eu tivesse exatamente superado a perda deles. A dor não morre, nunca. Apenas aprendemos a viver com ela, e esse foi o meu caso. Aos dezessete anos, eu não tinha mais acessos de choro ao falar deles.

Eu aprendi que o luto tem cinco estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. E eu tinha passado por todos eles, finalmente alcançando a aceitação.

E de repente... bum. Como uma bomba.

– Térreo, é? – perguntei, tentando não deixar óbvio o quanto eu estava atordoada.

O médico assentiu, e eu engoli em seco. Era oficial: fosse quem fosse, havia uma Angel McKormick atrás de mim.

Ao sair da sala de espera, não pude conter minha ansiedade mais. Corri em disparada para o térreo, chegando lá muito mais rápido do que eu chegaria se tivesse vindo por uma escada ou algo assim.

Olhei ao redor. Estava lotado de gente – gente por todos os lados. Alguns tão nervosos quanto eu, outros mais relaxados. Um hospital não é o lugar mais feliz do mundo, e ver tantos graus diferentes de angústia no rosto de tantas pessoas fazia com que eu me sentisse (ainda mais) angustiada também. Mas eu não conseguia encontra-la, porque eu sequer sabia o que procurar. Se fosse verdadeiramente ela, Angel, minha irmãzinha, como estaria agora? Ela teria onze anos. Estaria pequena ou alta, como seria seu rosto? Será que os olhos ainda continuavam verdes e translúcidos, ou será que seu cabelo loiro teria escurecido? Eu não sabia, porque apenas havia perdido anos da vida da minha querida irmãzinha... Fechei os meus olhos por alguns instantes e tentei me lembrar da memória mais feliz que eu tinha dela. Com muito esforço, eu consegui, era um belo dia em uma casa de campo que nossos pais tinham, os olhos verdes dela brilhavam em animação, um sorriso enorme estava estampado em seu rosto, o sol batia contra os cabelos dela de forma que eles chegavam a parecer o mais delicado fio de ouro que já havia feito. Ela usava um vestido branco soltinho no corpo enquanto ria de alguma piada que eu havia falado. Ela era linda, apenas alegre e tinha aquela inocência que apenas uma criança tinha, será que ela havia perdido isso? Eu me lembrava de como ela costumava me chamar “anjo”. Chegava a ser engraçado como ela me via como a super irmã mais velha que iria a proteger de tudo, e no final das contas era eu quem havia mais estragado tudo...

Um dos piores sentimentos que se existem no mundo é a decepção, acabamos decepcionando as pessoas todos os momentos e todos os dias, seja por um trabalho escolar que deixamos de fazer, seja por um vestido que deixamos de usar, seja por uma função que deixamos de cumprir, seja por uma amiga que não estava lá quando você precisou, uma paixão que não sentia o mesmo que você, e infelizmente o ser humano foi feito para ter decepções e ser decepcionado a todo instante, mas as maiores decepções vem das pessoas que você mais ama, é irônico pensar que sempre estamos mais vulneráveis as pessoas que mais nos importamos, mas sem dúvidas a pior decepção de todas é a decepção consigo mesmo, eu mal conseguia me lembrar de como era o perfume da minha irmã, pensar nisso fez meus olhos marejarem, afinal tínhamos o mesmo sangue correndo nas veias, tínhamos os mesmos pais e tínhamos uma vida feliz até eu conseguir estragar tudo por uma coisa tão estúpida, pequenos atos que nem pensamos ao certo antes de fazer realmente podem acabar com a sua vida, mas não só a sua, a vida das pessoas ao seu redor, eu preferiria ter sentido toda aquela dor de perder todo mundo mil vezes dentro do meu coração a ver as pessoas que eu amo sofrendo por causa disso.

Dizem que a primeira coisa que nos esquecemos de uma pessoa depois de ficar muito tempo sem a ver era a voz, e eu mal me lembro da voz da minha irmã, mas eu lembro de como havia alegria ali e as vezes irritação sempre que direcionada a mim, era estranho pensar que você podia estar xingando a sua irmã em um momento e a abraçando no outro, porque no fundo isso é a irmandade, é você poder se irritar com o seu irmão e no final sempre poder contar com o abraço dele para todas as situações, porque não é apenas o sangue que ligam vocês, é o coração, é a convivência, é o dia a dia, você se levantar todo dia e ouvir uma mesma pessoa correndo pela casa enquanto canta chega a ser uma alegria quando você percebe que um dia você pode perder isso e eu tinha medo, muito medo mesmo de ter perdido a minha irmãzinha, talvez não para a morte, mas para a mágoa, para a raiva ou para a própria convivência diária que não tínhamos há tantos anos... Era apenas horrível pensar nisso, porque no fundo o tempo afasta sim as pessoas e afasta sim os seus corações, talvez não para sempre, mas nunca poderíamos ser as mesmas que éramos antes, como poderíamos? Nós duas enfrentamos a perda, nós duas sofremos com ela, não éramos mais crianças, e apenas por um instante eu quis voltar a ser uma, as crianças vivem querendo ser adultos, mas ser criança é apenas ótimo, você não tem noção da dor que existe no mundo, tudo é resolvido com um sorriso e todas as memórias ruins caem no esquecimento, as piores brigas de uma criança são aquelas em que ela chora por querer um pirulito que não pode ter, a maior decepção delas é não ganhar aquele presente de Natal que elas tanto queriam, não existe malícia em uma criança, não existe maldade nela, porque ela sequer sabe o real significado dessa palavra, não existe dor real em uma criança também, é apenas aquele delicioso mundo de fantasias em que princesas existem, heróis com armaduras vão vir te salvar.

Chega a ser triste como as pessoas que morrem caem no esquecimento, mesmo que não literal, você nunca vai se lembrar totalmente da pessoa, nunca vai conseguir sentir novamente certinho o cheiro da pessoa ou se lembrar cada nota de som que saia da boca dela, nunca vai poder se lembrar com clareza de como eram os dentes dela ou de como era o seu sorriso, nunca vai conseguir se lembrar de cada detalhe daquele vestido que ela usou no aniversário dela ou de cada fivela que ela colocava no cabelo todos os dias, aos poucos detalhes e detalhes vão se perdendo até não sobrar nada, afinal não é isso que é a fase idosa da vida? Quando você apenas já viveu tanto que as memórias ruins e as boas também vão se afastando cada vez mais de você? Talvez a fase idosa da vida seja uma das mais boas, eu não sei, nunca a vivi, mas saber que você um dia vai poder se esquecer de tudo aos poucos, de toda a dor, mas também te toda a felicidade te traz uma espécie de calmaria e melancolia, dois sentimentos que juntos formam um belo agridoce, no fundo todos seremos esquecidos um dia, mas o que importa mesmo é sermos lembrados até o último momento que cada cérebro de cada pessoa com quem nos importamos e com quem nos importam com a gente conseguir lembrar, é triste pensar que um dia o formato do seu sorriso vai ser esquecido, mas ao mesmo tempo é bom saber que ele não vai cair no esquecimento tão rapidamente.

Havia tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que a confusão em minha cabeça me deixava desnorteada. Meu namorado, o meu James, estava no meio de uma operação de risco enquanto eu não poderia fazer nada além de esperar atônita e torcer para que Merlin e Deus pensassem um pouco em nós e fizessem com que tudo desse certo, e então, de repente, minha irmã mais nova, que até alguns minutos atrás estava morta, supostamente queria falar comigo. Eu havia perdido de vista o limite da razão e da fantasia e me perdido juntamente, pairando pelos dois lados e vez ou outra sobre a linha. Como eu imaginara Angel tantos anos depois?

Eu analisei o espaço. Havia realmente muita gente – homens, mulheres, crianças, adolescentes, idosos, casais, famílias inteiras. Reparei em cada detalhe das feições de cada criança ali presente, mas nada me lembrava de Angel. Nenhuma delas era loira, nem tinha olhos verdes, e muito menos me traziam alguma memória remota ou coisas do tipo. Meu Deus, o que eu estava pensando? Angel obviamente não estava ali. Mas como o médico poderia ser explicado? Ninguém faria uma brincadeira de mau gosto desse porte. Além da diretoria de Hogwarts, só James sabia, e o segundo estava incapacidado de qualquer coisa do tipo e, mesmo se não estivesse, não teria sido ele. Teria sido marotagem – na verdade, sacanagem – demais até mesmo para alguém como ele.

E mal se passou um segundo desde que pensei em tais palavras quando uma voz soou me puxando de meus pensamentos para a realidade, me atingindo de tal maneira que nenhuma das vozes no recinto seria capaz.

– Angie.

A voz, feminina, aveludada e forte, vinha de algum ponto a minha direita. Quase que mecanicamente, virei-me para encontrar sua dona, que estava de pé ao lado de um bebedouro. Ela não era nem muito baixa nem muito alta, não deveria ter mais que treze anos e estava vestida em roupas que eram caras demais para terem vindo da Madame Malkin. Os cabelos dourados eram cortados na altura da nuca. E os olhos eram verdes translúcidos.

As palavras pareciam ter morrido na minha garganta. Eu não sabia o que pronunciar – se deveria dizer o nome dela, gritar, “venha aqui” ou algo diferente. Mas, ao contrário de mim, Angel parecia muito mais preparada para aquele momento, pois sorriu e não hesitou nem mais um centésimo em correr na minha direção e me abraçar com força. Seus braços envolveram minhas costas e me trouxeram para perto. Ela enterrou sua cabeça logo abaixo do meu busto, e só então eu percebi: era real. Angel McKormick estava viva.

Fiquei estática nos primeiros segundos, mas logo, “voltei para a Terra” e envolvi minha irmã em meus braços com toda a força que eu ainda possuía. Sobre o choque e o espanto, havia a alegria. De certa maneira, eu estava realizando um sonho. Muitos anos depois, Angel não apenas estava viva, como não havia me esquecido. Se lembrava de mim, não me odiava por ter deixado-a e ainda me amava.

Quando éramos mais novas, a Angel era como um raio de luz na minha vida. Em todos os momentos, ela foi necessariamente importante. Quando eu me entristecia, ela estava lá. Quando eu me alegrava, ela estava lá. Angel era a causa da minha alegria e a salvação da minha tristeza, e novamente, mesmo sem saber, ela estava me apoiando e permanescendo do meu lado quando eu mais precisava.

– Angel – balbuciei. – Eu... Eu...

– Angie, calma! – ela soltou-se e riu. Uma risada suave e melodiosa. – Vamos nos sentar em algum lugar. Acho que temos muito o que dizer uma a outra.

Lentamente, eu assenti. Angel agarrou minha mão e puxou-me até as cadeiras onde alguma pessoas estavam sentadas e nos acomodamos em duas, uma ao lado da outra. Segurei as mãos de minha irmã e nos encaramos, sem saber exatamente como começar, e soltamos um risinho. Encarei seus olhos verdes e percebi cada detalhe de seu rosto, reparando como minha irmã tinha se tornado bela com o tempo. Ela tinha uma pequena cicatriz perto da sobrancelha, quase imperceptível, e as pequenas pintinhas no pescoço faziam quase uma trilha e entravam dentro do sobretudo, em um ponto que eu não podia ver. Pigarreei, fazendo menção de dizer algo, mas como começar? Eu não podia dizer “Ah, meu namorado sofreu uma tentativa de assassinato à lá trouxas e aqui estou eu”. Angel pigarreou também, me deu um pequeno sorriso e pareceu ter encontrado a solução para o nosso problema:

– Vamos fazer assim: eu te conto tudo desde o começo e você me conta tudo desde o começo. Feito?

– Feito.

Angel respirou fundo, roçou uma mão contra a outra e pressionou os lábios, pensando como ela iria começar, até que voltou a olhar para mim e deu início a seu relato:

– Depois que a casa desabou, uma equipe de resgate do hospital acabou conseguindo chegar até lá. Os nossos pais, inevitavelmente, morreram. Eles me acharam dentre os destroços, mas não conseguiram encontrar você. Fiquei internada por quase dois anos e meio, me recuperando das lesões e recebendo tratamento. Quase fiquei paraplérgica, perdi a memória, mas eu sobrevivi e, depois desses dois anos, eu recebi alta.

“Então o hospital encontrou um problema: eles tinham uma criança de quatro anos internada, com pai e mãe mortos, sem nenhum outro contato com a família e, obviamente, sem um lar. Eu não poderia residir no hospital depois da alta. Havia uma única alternativa: conseguir contato com alguém da minha família. Pouquíssimo da memória voltou com o tempo, e foi realmente difícil para mim, porque eu não tinha nem um filete de memória de você. Mesmo depois de lembrar que eu tinha uma irmã, eu não conseguia me lembrar da sua voz ou do seu rosto, nem nada do tipo.

“Como eu não me lembrava de ninguém, o hospital não poderia fazer mais nada exceto me levar para a adoção. Eu fiquei aterrorizada. Chorei, implorei para que fizessem alguma coisa, qualquer coisa, menos me levar para um lugar onde eu não conhecia ninguém, a mercê de qualquer um que viesse e dissesse que queria me adotar.

“Eu estava aqui há bastante tempo e todos os membros da equipe do hospital não apenas me conheciam como tinham se apegado a mim. O St. Mungus tornou-se quase uma família, sabe? E eu era a ‘filha’ de todo mundo. Então surgiu a Carol, ou melhor, Dra. Carolin Mason, minha ‘mãe’. De todos os médicos e funcionários, ela foi a primeira a oferecer uma solução. Eu iria para a adoção, sim, mas ela entraria com o processo para me adotar no mesmo dia. Demorou um tempo, mas deu tudo certo.

“Então cá eu estava, filha adotiva de uma médica. Vivia por aqui, assistindo minha mãe cuidando das pessoas. O medo dela era de eu não ter sangue mágico, mas essa questão se resolveu rápido também; acho que você pode imaginar como. Foi aí que a memória foi voltando, em lapsos, e eu lembrei que tinha uma irmã. Inicialmente eu não lembrei do seu nome, nem se você era mais velha ou mais nova, mas sabia disso e para mim foi suficiente.

“Fiquei com medo, muito medo. Na minha cabeça, a Carol teria uma neurose e agiria como aquelas mães adotivas vilãs que prendem o filho em casa e fazem de tudo para não deixar que encontrem a família. Não me olhe com essa cara! Eu tinha seis anos, oras. Bom, novamente, a Carol foi como um anjo e me apoiou o máximo que pôde, apesar de que ninguém poderia fazer muito. Sabia só o seu sobrenome, e isso tirando base no meu. Foi quase um ano para que eu me lembrasse que seu nome é Angie.

“Ano passado, a Carol foi ao Ministério procurar por você nos arquivos. Ela encontrou seu registro em Hogwarts, sabe? Histórico, notas nos N.O.Ms e esse tipo de coisa. Mas não encontrou nada sobre onde você reside nem nada do tipo, e para mim tudo parecia perdido, até agora a pouco.

“Como eu te contei mais cedo, sempre acompanho minha mãe no trabalho. Eu não estudo. Sei que parece estranho, afinal, ir a Hogwarts talvez fosse o jeito mais simples de te encontrar. Mas acontece que eu tinha desistido a essa altura. Eu jamais saberia como reconhecer, não teria nem uma pista, porque não me lembrava do seu rosto, Angie. Voltando, aqui estava eu, dando uma olhada nas fichas de alguns dos personagens quando eu pensei ter visto ‘Angie McKormick’ como um dos acompanhantes de um paciente. Olhei de novo, e não estava alucinando, porque lá estava. Angie McKormick na lista dos acompanhantes de James Sirius Potter. E, bem, aqui estamos.”

Respirei aliviada e sorri abertamente para minha irmã, abraçando-a com força novamente logo em seguida. Era incrível estar perto dela de novo, perceber que eu a tinha de volta. Uma “nova velha” pessoa em minha vida! Meus olhos encheram-se de lágrimas, mas dessa vez, eram de emoção. No meio de toda a dor e o tormento, Angel ressurgiu. E ela não podia ter escolhido um momento melhor.

– Agora me conta! – ela disse. – Quero saber por que você está aqui. E quem é James?

Sorri tristemente para ela.

– Eu nem sei por onde começar.

– Eu tenho tempo – brincou.

Pus duas mechas de cabelo para trás da orelha. Encarei o vazio, pensando em como começaria para contar a minha história.

– Bom... – suspirei. – Tudo começou no início do ano. Eu namorava um idiota, o John Creevey, e quando voltamos para Hogwarts, ele me trocou por uma vadia chamada Claire Zabini – suspirei novamente. Pensar na traição não doía mais há muito tempo. Era pensar no que os dois fizeram que me machucava. Como eles puderam chegar ao ponto de tentar me matar, apenas por pura vingança? – Eu fiquei furiosa. Queria me vingar dele de alguma forma, entende? Não no sentido totalmente ruim na palavra. Pelo menos mostrar que ele não faria falta. Então, na festa de boas-vindas dada por uma estudante chamada Dominique Weasley, a oportunidade perfeita apareceu. O nome dela era James Sirius Potter.

– O garoto que está internado aqui – Angel observou.

Eu assenti.

– James tinha acabado de sair de um jogo de verdade ou consequência quando me procurou. Ele foi desafiado a namorar sério uma garota, entende? Se apaixonar. E a garota que o desafiou, Lysander, queria uma prova concreta. Então o James veio atrás de mim, dizendo que se eu aceitasse a proposta dele, eu poderia provar para o Creevey que não precisava dele, esse tipo de coisa. Eu, idiota – eu soltei um risinho com a palavra, porque lá no fundo, não pensava assim –, aceitei.

“Tudo, inicialmente, não passou de encenação. James e eu fingíamos bem. Ainda não sei o motivo de não termos cogitado virar atores, nos juntarmos a uma trupe teatral bruxa. Enfim, aos poucos, nós fomos nos envolvendo. Trocamos um beijo, criamos respeito e depois, fascínio um pelo outro. Os momentos memoráveis começaram quando viajamos para Las Vegas, por causa do casamento da prima dele. Fizemos uma roda de histórias. James, Fred Weasley, primo e melhor amiga dele, e Lucy Weasley, também prima dele – mas não era ela quem estava casando, só para constar.

“Cada vez mais nós conhecíamos mais um do outro. Foi em uma expedição para um lugar chamado Long Lake em que tudo mudou. James e eu... bem-”

– Transaram – Angel competou com a maior narualidade do mundo. – Sou filha de uma médica, Angie. Eu sei o que é sexo há muito tempo – ela riu.

Sorri amarelo.

– Nós transamos, e meio que assumimos o namoro a partir daí. Mas um ponto muito importante, um momento em que nos separamos, foi o Natal. Foi ali que eu contei a história da nossa família para James e foi ali que eu soube do jogo.

Angel arregalou os olhos.

– Você não sabia?! Que filho da puta! – ao perceber o que dissera, ela enrubesceu. – Ai, Angie, desculpa. Se ele está aqui, é porque aconteceu alguma coisa e... ai, eu devia ter ficado de boca fechada. Desculpa, desculpa!

– Ei, calma! Tá tudo bem. Eu pensei a mesma coisa dele na época. Lysander me contou tudo, com as piores intenções do mundo, claro. Eu fiquei tão arrasada que contei um segredo gravíssimo de James para o Fred e a Lucy. Me arrependo disso, porque eu o deixei totalmente sem apoio em um momento em que ele realmente precisava. Mas o fato é que, graças ao Fred e a Lucy, James fez algo lindo para mim. Cantou uma música à capela. Os três planejaram tudinho, e naquele momento, eu percebi o quão boba eu estava sendo. E daí que nosso namoro é fruto de um jogo? Nenhum homem jamais me fez mais feliz – a minha voz falhou naquele momento e as lágrimas voltaram a inundar minhas íris. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando manter a compostura. Não era hora de chorar.

“Muita coisa mudou a partir daí. Não éramos o casal mais sexualmente ativo do mundo. Bem, ao menos não transávamos todo santo dia! Mas depois daquela música nós ficamos tão bem que começamos a fazer sexo sempre que podíamos, mais de duas vezes ao dia! Até que...”

– Até quê? – ela encorajou.

–... O John e a Claire... eles... – respirei novamente. Não chore, não chore. – Eles tentaram me matar. E eles íam conseguir, mas quem foi golpeado foi o James. E cá estamos.

Angel encarou-me com humildade, me puxando para outro abraço.

– Angie... eu sinto muito – ela sussurrou em meu ouvido.

– Está tudo bem – eu disse, apesar de não estar nada tudo bem. – Eu tenho esperanças – desfiz o abraço. – Não estou sozinha nessa, Angel. Fred e Lucy estão aqui, junto a família de James. Eu... espero que dê tudo certo, apesar de que os médicos disseram que o caso dele é grave – novamente, lágrimas. Sequei-as com as costas das mãos e sorri para minha irmãzinha ao ter uma ideia. – Agora, preciso te apresentar para duas pessoas. Fred e Lucy vão adorar te conhecer!

30-10-2015

No próximo capítulo...

“O chão era coberto por folhas arranjadas como as folhas que caem das árvores no outono. Elas, que eram em grande quantidade, estavam por todos os lados. Em meio a grama mais verde que eu já tinha visto, flores de todos os tipos emergiam e brotavam. Meus pés estavam descalços e eu vestia apenas um pano branco. Havia um rio, que brilhava como se estivesse cheio de diamantes boiando sobre as águas, e o atravessando, uma ponte que dava em um lugar que eu não podia enxergar, pois era ofuscado por uma neblina. O céu era muito azul, o sol brilhava bastante sem que estivesse muito calor. Olhei ao redor. Aparentemente, eu estava sozinho. Não conseguia ver ninguém além de eu mesmo. Até que, de repente, uma voz soou atrás de mim:

– Bem vindo, James.”


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Notas finais do capítulo

Então. Há quanto tempo estamos trilhando essa estrada, não é? Conheci o Nyah aos doze anos. Hoje, eu tenho quinze. I Would veio à minha cabeça enquanto eu tomava banho, quando eu tinha apenas treze anos. Dois anos depois, eis que aqui estamos. O que dizer? Essa fic tinha tudo para não ter um final, mas eu não sou capaz de abandoná-la. Não posso desistir de I Would. Ela é especial, e minhas leitoras mais fiéis dizem que, de tudo o que eu já postei aqui, não há nada como I Would. Acho que como todo fic-writer, eu não consigo entender esse fascínio, da mesma maneira em que eles não conseguem entender o meu como autora dessa história. Eu jamais pensei que faria algo tão grande. Onze recomendações, 270 comentários. Quase trezentos! E 50 capítulos, apesar de os outros ainda não estarem escritos.
A Melody que vocês conheceram era eu em minha fase romântica e sonhadora. Aquela Melody gostava de Taylor Swift, vivia de ler e se dedicava 100% ao Nyah. Eis que em fevereiro de 2014, próximo do fim, I Would entrou em hiatus. Nesses poucos meses, eu mudei quase totalmente. Conheci a música dos Beatles e minha alma finalmente encontrou uma banda que traduzia seus sentimentos em essência. Deixei a Taylor para trás, encontrei o meu estilo de escrita e descobri que meus limites iam muito além do que eu pensava. Desenvolvi o projeto da vida de um ficwriter, apesar de não tê-lo postado ainda, descobri que os livros feitos para mim são biografias - grandes histórias que aconteceram DE VERDADE - e minha mente começou a se abrir. Um emprego na Rolling Stone Magazine tornou-se minha maior meta.
2015 iniciou-se e a transição terminou. Com o Ensino Médio, amadureci sexualmente e perdi a vergonha de escrever hentais. Hoje, o que eu mais procuro em uma história é uma cena de sexo bem escrita. Tornei-me essencialmente crítica, e o genial para mim passou de bons romances para histórias intensas onde você não pode adivinhar o final. Mas, acima de tudo, descobri que a Melody que iniciou I Would era apenas um protótipo de quem eu realmente sou - a Melody de hoje sempre esteve lá. Ela só precisava ser descoberta.
A Melody que vos escreve é a favor da legalização da maconha, simpatizante do comunismo, esquerdista, hippie e obviamente faço parte do flower power. Me encontrei em uma ideologia anticapitalismo a favor do intelecto, do amor e do sexo livre, da paz e do amor. E, sinceramente, na minha opinião, não há uma ideologia que me descreva melhor ou que me pareça mais correta. A Melody de hoje é Beatlemaníaca E Stoniana, gosta de grandes debates sobre grandes assuntos. Gosto de dividir minha escrita assim: a Melody sonhadora e romântica que assinava como Melody Potter Black e a Melody de hoje, de alter-ego definido.
Isso influenciou I Would. E muito.
A próxima temporada será essencialmente diferente, e todas aquelas que recomendaram, sem exceção, terão os nicknames citados em homenagem, já que eu infelizmente perdi as fichas. Terá muito mais drama e eu garanto que os surpreenderá desde o primeiro capítulo.
Outra coisa que vai mudar é: I Would foi James e Angie e apenas James e Angie. Novos casais farão grande diferença nessa nova fase, sem falar que a escrita também vai mudar. I Would é uma história de Melody Potter Black. Sua segunda fase é uma história de Melody Lannes-Hower (que vai mudar o nome assim que der I Would como terminada ao postar o último capítulo).
Aliás, vou fazer muitas coisas quando encerrar I Would além de mudar o meu nome para todo o sempre aqui. Farei uma autobiografia em meu perfil contando toda a minha trajetória como ficwriter até aqui, passando por todas as mudanças pessoais. Cada fanfic terá um ou mais parágrafos especiais dedicados apenas a elas, e Thunderstruck - nossa segunda temporada - não poderá ficar de fora, é claro!
Daqui em diante, em todo fim de capítulo, haverá a data em que o terminei, não só em I Would, mas em todas as minhas fanfic. O Nyah é parte importante da minha vida. Eu não sou quem eu sou sem ele, e mesmo que eu venha me aposentar dele algum dia, eu quero que mesmo as pequenas coisas como datas e sensações fiquem guardadas.
Mas chega de textos longos. Deixemos o que faltou - e as lágrimas - para o Epílogo, que está BEM próximo. Depois desse, mais três e o Epílogo, montando cinquenta sem contar com o prólogo, e I Would estará encerrada.
É isso, meus amores. Obrigada por não terem desistido de I Would e terem me acompanhado até aqui.
Mel.



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