A Domadora - Os Prenúncio dos Quatro Elementos escrita por Maria Beatriz


Capítulo 17
Capítulo 16 - Sangue do Meu Sangue


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por comentar Rob Dan! pela Marcela Jackson ter favoritado e por mais um leitor estar lendo a fic!

E comecei a escrever mais uma historia da serie Argos, só que ela vai se passar em um futuro mais distante dessa historia, tendo uma arquitetura steampunk. O nome é "Argos - Os Guerreiros Perdidos". A personagem principal se chama Pallas, e ela pode ter uma personalidade parecida com a da Sora, só que um pouco mais explosiva, reclamona (acabei de inventar um palavra u.u) e azarada ( sim, eu trollei geral a personagem lol) o link para a historia é esse: http://fanfiction.com.br/historia/415496/Argos_-_Os_Guerreiros_Perdidos/

Apenas uma coisa a dizer sobre esse capitulo: ele tem muita informação e espero que vocês não se confundam, mas qualquer divida, e só perguntar, ok? E também, já vou lembrando que não sei quando o próximo capitulo será portado, mas só digo um coisa, o clima paradão da historia já vai logo, logo terminar... (sim, eu acabei de far um SPOILER, SQN#)



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Com cuidado sentei na cama da enfermaria, Luna trouxera-me até aqui para que cuidasse de meu ferimento. No momento ela estava sentada em um banco de costas para mim, mexia em algumas coisas colocadas sobre uma mesa pequena. Estiquei meu tronco e tentei ver o que ela fazia, mas mesmo que eu tenha tentando fazer repentinas vezes, não consegui.

–Você se machucou feio. - Luna virou-se arrastando a mesinha, colocando-a do lado da cama. Sobre ela havia um frasco de vidro com um liquido transparente, juntamente de duas bandejas, aparentemente, feitas de ferro. Dentro de uma delas havia algumas ataduras, uma tesoura, uma agulha, um porta-agulha e linha. - Como isso aconteceu? - Falou enquanto colocava os óculos, então pegou um pedaço das ataduras e o frasco com o liquido transparente, quando abriu pude constatar que aquilo era álcool que ela usaria para limpar o corte.

–Quando estávamos no deserto, eu tive que lutar com uma mulher, acho que o nome dela deveria ser Abigail... - Eu iria continuar, mas não consegui, só agora fui me dar conta do que eu fizera.

–E, o que aconteceu depois, Sora?

–... Eu a matei... - Luna encarou-me com os olhos castanhos assustados por um momento, mas logo voltou a sua expressão normal. - Eu não iria fazer aquilo, mas ela atacou-me e eu tive de me defender, então acabou que...

–Ela deu uma facada em você e você a matou? - Interrompeu-me.

–Sim. - Senti-me aliviada em ela ter constatado aquilo por si mesma.

–Não é preciso se preocupar, existem pessoas no mundo que fazem coisas piores. - Por algum motivo, mesmo que eu não quisesse aceitar, acabei sentindo-me melhor em saber aquilo. - Poderia voltar a deitar na cama?

Assenti e fiz o que ela mandara, enquanto Luna molhava o pano no álcool. Com cuidado ela levantou parte de minha blusa branca, deixando a mostra somente parte de minha barriga. E então eu a senti colocar aquele pedaço de pano sobre meu ferimento.

E ardeu.

Mordi meu lábio inferior para tentar não prestar atenção, obviamente não adiantou nada. Pois continuou ardendo, ergui minha cabeça apenas para ver como estava a ferida. O corte não fora tão grande, entretanto, enquanto Luna prensava o pano humedecido com álcool, fazia com que um pouco de sangue ainda saísse e ardesse mais. Minha pele também estava avermelhada ao redor e conforme ela limpava onde ainda estava sujo, deixava mais a mostra a vermelhidão.

–Não se preocupe, logo vai passar.

Ela colocou o pano sujo de sangue sobre a bandeja vazia junto do frasco de álcool, logo em seguida, calmamente colocou a linha na agulha e por fim, pegou o porta-agulha e colocou a agulha já com linha no mesmo.

–Você vai costurar? - Perguntei enquanto fitava o teto cinza feito de tijolos de pedra. Aliás, as paredes ali também eram feita do mesmo tijolo e tinham a mesma cor.

–Se eu não fizer isso, provavelmente irá se abrir novamente. Sem contar, que você teve sorte, pois poderia ter uma hemorragia, a facada foi bastante profunda, mas não atingiu nada que possa lhe atrapalhar, se tiver sorte, logo irá cicatrizar.

Luna novamente levou sua atenção ao meu ferimento e então, desta vez, não apenas ardeu, como também doeu um pouco. Senti que a agulha entrou em minha pele e ela começou a costurar as partes mais profundas do machucado, novamente mordi minha boca e tentei ignorar aquilo, mas era impossível! Ergui minha cabeça novamente e voltai a prestar atenção no que ela fazia. Agora Luna estava fazendo os pontos mais superficiais, logo em seguida ela deu um nó e pude constatar que terminara, pois colocou os materiais que usara sobre a mesinha novamente.

–Você mentiu. - Falei.

–Menti? - Ela retirou os óculos.

Cruzei meus braços sobre meu peito.

–Sim, disse que não iria doer.

Luna riu.

–Mas foi pouco, não é? E isso já aconteceu outras vezes.

Descruzei meus braços, arrumei minha blusa e com cuidado - um pouco de dificuldade também - sentei na cama.

–Tem razão.

–Lembra-se quando era criança? E vinha imediatamente atrás de mim quando se machucava, ao invés de falar com Terence?

Sorri com o que ela dissera. Realmente eu fazia aquilo.

–Eu achava que ele iria ficar bravo comigo por causa disso, então vinha atrás de você. Mas no final, ele nunca chegou a se irritar com isso, acho que ficava mais preocupado do que eu.

–Terence é um pai para você, não é? - Ela falou enquanto pagava as ataduras que ainda não haviam sido usadas.

–É... - Fitei o chão por alguns instantes, aquilo me fazia lembrar que eu nunca chamara Terence de pai, mesmo que ele tenha sido um para mim.

–Poderia ficar de pé? Mas levante com cuidado, pois os pontos podem se abrir.

Assenti e fiz o que ela mandara, sentindo uma ligeira dor em meu corpo. Luna pegou as ataduras e novamente direcionou-se para mim. Acho entendo o que ela irá fazer... Novamente levantei a barra de minha blusa, deixando apenas a mostra onde estavam os pontos, ela começou a passar as ataduras ao redor de minha cintura, fazendo uma espécie de cinto.

–Isso é para que os pontos não se abram e nem caiam antes da cicatrização. - Luna disse enquanto dava um nó no lado direito de meu tronco. Ela colocara as ataduras de forma que, realmente, parecia um cinto largo, mas que eu teria de usar por baixo da roupa.

Arrumei minha blusa novamente e procurei com meus olhos onde estava o colete que eu usava antes, por sorte ele estava sobre uma cama vazia, que ficava ao lado da que eu estava antes. Peguei-o e por uns instantes analisei-o... Não estava em um estado completamente deplorável. Talvez por ser de cor vermelha, tenha disfarçado um pouco as manchas de sangue, sem contar, que o tecido também era forte e resistente, o que ajudara a não deixar transpassar o sangue.

Achei que isto estaria em um estado pior...

Mas terei que botar fora a blusa que estou usando agora.– Respondi.

–O que vai fazer depois que sair da fortaleza? - Luna perguntou-me, imediatamente acabei assustando-me com suas palavras sibiladas, acho que acabei me distraindo enquanto falava com Arcano e imediatamente joguei o colete sobre a cama.

–... - Fiquei pensativa antes de responder, ainda havia algo que eu precisava fazer e quase me esquecera. - Poderia me levar até o calabouço?

Luna estranhou minhas pergunta por uns instantes, mas logo voltou a sua expressão normal, deixando a confusa de lado, como se também tivesse se lembrado de algo.

Antes de Luna falar, peguei o colete jogado em cima da cama e comecei a coloca-lo, ainda com cuidado.

–Você precisa falar com Aghata? - Assenti. - Nós a mudamos de cela, mas posso sim levar você até lá.




***



Havíamos caminhado por vários corredores e, descido alguns lances de estacadas. No momento, estávamos caminhando em um corredor, que alias, parecia não ter fim. Tudo era ligeiramente mal iluminado, sendo que as tochas que serviam como iluminação ficavam bem distantes umas das outras, o que resultava em deixar o local ainda mais escuro. As paredes eram todas feitas de tijolos, tudo com uma pigmentação acinzentada e o chão e teto, também eram feitos do mesmo material.

–Desculpe intrometer-me... - Luna começou a falar, um tanto que receosa - Mas por que precisa falar com Aghata?

Fitei novamente o corredor a minha frente, não acho que seria problema falar o que Terence me pedira para Luna. Ela sempre fora de confiança afinal.

–Terence disse que ela queria falar comigo.

–E você sabe o que ela quer falar?

–Não faço a menor ideia, Luna. - Respondi. - Talvez seja sobre há doze anos... - Completei, e de fato, eu tinha uma ligeira impressão que era sobre quando a encontraram. Embora, tenho de admitir, que a ultima vez que a vi, eu ainda era apenas uma criança e isso acontecera pouco tempo depois dela ser presa. Não faço a menor ideia como Aghata esteja, nem lembro muito bem como ela era na época que eu a vi pela ultima vez.

–Acho que meu trabalho como guia terminou. - Luna parou em frente a uma porta feita de ferro. - Aqui fica outra ala do calabouço, apenas Aghata está aqui, foi ela mesma quem pediu para que a deixasse aqui nos últimos dias.

Parece que ela já tinha tudo bem planejado, não? – Sibilou Arcano.

É o que parece.

–Irei esperar você aqui fora, mas não demore muito, está bem? - Ela disse enquanto pegava uma chave de metal que estava guardada no bolço de seu vestido, logo em seguida começou a abrir a porta.

–Obrigada. - Falei, Luna logo abriu a porta para que eu entrasse, fazendo menção para que eu passasse.

Sendo assim, fiz o que ela mandara e finalmente adentrei ao calabouço, dando o primeiro passo silencioso que mesmo assim, ecoara onde eu estava. Ainda podendo ouvir Luna fechar a porta atrás de mim, fazendo com que o barulho da porta enferrujada fosse ressoado dentro do local escuro.

Apertei meus olhos, sentindo eles aos poucos acostumar-se com a escuridão de onde eu estava. A única coisa possível ver era uma tocha colocada na parede, do que parecia ser a divisão entre duas selas. Mas isto estava distante de onde eu permanecia, e a minha frente, deveria ter mais um corredor extenso. Em passos silenciosos e hesitantes, comecei a caminhar naquele local, sentindo a sensação de sufoco, pois o corredor era estreito, mesmo que estivesse repleto de celas. Apenas o barulho de minhas botas chocando-se no chão de pedra era possível ouvir, juntamente do barulho de gotas de agua caindo no chão, o que significa que provavelmente, havia goteiras ali e isso explicava o ar úmido.

Aos poucos me aproximei da única tocha acessa, já podendo ver um pouco melhor o que se encontrava ao meu redor. Eu não errara ao pensar que havia apenas selas ali, pois de fato, havia muitas. Parei de frente para a única cela que tinha boa parte iluminada, sendo que a tocha estava colocada na parede ao lado dela. Corri meus olhos à procura de uma única alma viva e a única coisa que encontrei foi...

–Eu sabia que viria. - Meus olhos arregalaram-se e acabei dando alguns passos para trás, hesitante ao ouvir aquelas palavras. Era feminina, isso eu não poderia negar, tinham um tom grave e ao mesmo tempo, arrastado, embora, de certa forma, não eram ameaçadores, apenas misterioso.

Pelo fato de que, apenas parte da cela estava iluminada, dentro dela, um pouco distante das grades havia uma cama. Entretanto, pude constatar aquilo apenas pela estrutura que tinha, pois não estava totalmente iluminada. E juntamente disso, era possível ver a silhueta de alguém sentado nela, embora não era possível ver seu rosto, com os pés descalços, com parte coberta por, provavelmente, um vestido velho e manchado, longo e em um tom que antes deveria ser branco.

–Aghata?! - Perguntei, ainda sem mexer um único musculo de meu corpo.

–Quem poderia ser? - Nesse momento, pude ver ela se mexer-se de onde estava. Fazendo com que a estrutura da cama rangesse. Logo pude constatar que estava levantando-se da cama e finalmente saindo de dentro das sombras. Deixando seu rosto a mostra.

Era impossível negar que era realmente ela. Seus cabelos eram cinzentos como os meus, embora, tivesse em um comprimento muito maior, por pouco não encostarem ao chão. Seus olhos eram prateados e do mesmo formato que os meus. Tinha a pele ainda mais pálida do que a minha e isso deveria ser devido ao tempo que deve ter ficado longe do sol. Embora a aparência de seu rosto, não a deixava transparecer tão velha, nem mesmo seus cabelos grisalhos, apenas estava magra e aparentava estar fraca, mas ela era uma Maarten afinal. Não era possível decifrar sua expressão, talvez estivesse alegre em me ver, talvez decepcionada, ou não se importasse... Ela me parecia um enigma.

–Você se parece muito com sua mãe. - Aproximou-se das grades.

–...

–Fico feliz em saber que veio, por um momento achei esqueceria.

–Vim apenas por que Terence me pediu. - Respondi finamente. - Ele disse que você queria falar comigo. - expliquei de maneira ligeiramente seria.

–Realmente, tem algo que preciso falar e você chegou quase em cima da hora.

Aproximei-me das grades, finalmente ficando mais próxima dela, cara a cara.

–Em cima da hora? - questionei. Aquilo me deixara intrigada.

–Não se preocupe, ainda temos tempo. E antes disso, tenho mais coisas para falar.

–E do que se trataria?

–Acho que você poderia me contar um pouco de como foi sua viajem, nos outros mundos.

– Como... Sabe?! - Ela não deveria saber da profecia, principalmente, nas condições em que se encontrava. Totalmente desconectada do mundo a fora. Aquilo estava estranho...

–Como acha que sei? - Arqueou uma sobrancelha. Ótimo, mau nos conhecemos, mau a vi durante toda a minha vida e ainda quer que eu leia seus pensamentos? Se bem que, a resposta era obvia.

–Terence. - Falei após alguns segundos de silencio.

–Exato - confirmou. - Ele ficou bem orgulhoso em saber que você foi escolhida para fazer algo tão importante, ainda mais, tratando-se de uma profecia na qual envolva os três mundos.

–Então... Ele falou com você?

Imagino que, se ela sabia daquilo, Terence provavelmente falara com ela. E também, Aghata não era uma anciã e não tinha um dom para prever o que se passa além do calabouço. E Terence falava demais, isso era impossível negar.

–Pedi algumas vezes para que ele viesse falar comigo, sempre que possível, claro.

Repeti o mesmo ato de poucos instantes, ficando novamente em silencio. Não sabia o que falar, era complicado demais estar de frente para uma pessoa, que passara doze anos presa em uma cela e que, era sangue do meu sangue. Ao mesmo tempo em que, lembro-me de um ligeiro ódio que nutri por alquimistas desde a aparição dela, não entendo o porquê disso, pois de certa forma, não acho que alquimistas sejam pessoas ruins, se bem que, os que vi a pouco tempo, não me pareciam confiáveis. Mas existem traidores em todos os lugares.

–Você não está a fim de falar, não é?

Maneei minha cabeça, fitando um lado qualquer daquele lugar, sem me preocupar qual era. Talvez eu estivesse sendo rude, egoísta e rancorosa, naquele momento. Talvez, eu aparentasse isso, ou, talvez, fosse apenas impressão minha.

–Pergunte-me algo, então. Posso não conhecer você exatamente, mas sei que ainda é uma Maarten e sei como somos.

Respirei fundo. Aghata não iria desistir, mas estava me dando a chance de fazer perguntas. Uma das coisas que sempre quis poder fazer, quando algum assunto sobre ela virava motivo para discussão, eram perguntas. Perguntas em demasia estavam em minha mente, mesmo que nunca tivesse me importado, nunca achei que seria importante.

Mas estávamos frente a frente, teria de dizer algo.

–O que... Aconteceu, exatamente há doze anos? - Perguntei.

–Há doze anos? - Ela não pareceu surpresa com a minha pergunta. - É uma longa historia, tem tempo para isso?

–Não.

–Curta e grossa. Vejo que você desenvolveu uma personalidade forte em todos esses anos e ao mesmo tempo, ligeiramente fria, não é? - Preferi não responder. - Admiro isso em você.

Ela moveu-se de onde estava, sentando-se no chão, escorada na parede esquerda da cela e ao lado das grades, sobre o chão gelado e úmido de pedra.

–Acho que seria uma boa ideia você se sentar também, vai se cansar desse jeito.

Ponderei antes de fazer o que ela pedira, mas desisti. Não adiantaria ficar em silencio e tentar ignorar, ela não me deixaria fazer isso. Sentei no chão também, com meus joelhos dobrados e com minhas costas escoradas nas grades, cruzei meus braços sobre os joelhos e voltei a ficar em silencio, estava à espera de sua reposta.

–Boa parte disso você sabe, não é? - Aquela pergunta não pedia uma reposta, mesmo que eu não pudesse ver sua expressão no momento, pude notar no tom de voz. - Como sabe, cinco anos antes eu parti de Temesia, passei alguns meses em Freedom, não chegou há completar um ano lá. Nesse meio tempo, estudei sobre a alquimia. Sua mãe era forte, e me sinto ridícula em dizer que, tinha uma pitada de inveja dela, também queria ser forte.

–E o único meio que encontrou, foi se tornar uma alquimista? Poderia ir para a cidade de Eternal também, não precisava sair da Terra. - Comentei, também pude perceber que ela ficara em silencio, prestando atenção em minhas palavras.

–E me tornar uma paladina? Não, eu não queria ser forte desse jeito, sem contar, que não iriam me aceitar lá - disse. - Paladinos são guerreiros santos e domadores guerreiros demoníacos, minha irmã era uma domadora, eles iriam me expulsar quando descobrissem. E a alquimia me fascinava apenas em pensar o que poderia ser feito através dela...

–Mas ela é proibida.

–Sei disso, por isso fui embora. Mas não queria ficar longe daqui, então, novamente voltei para a Terra, embora, não vim para Temesia, fui para a cidade e Moon. Continuei a praticar alquimia, mesmo que ela fosse proibida e que eu estava arriscando minha própria vida.

–E fez o que? Transformou ferro em ouro? - Perguntei de maneira ligeiramente sarcástica.

–Fui muito mais, além disso. - Pude ouvir uma leve excitação em suas palavras. - Eu criei a vida humana artificial, um humano perfeito, sem nenhum erro.

–E o que aconteceu com ele? - perguntei.

Pude ouvir Aghata mexer-se do outro lado das grades, e uma mínima tensão pairar no ar por alguns instantes, ela ficava desconfortável. Eu deveria ter tocado em um assunto delicado.

–Acho que você deveria saber disso há bem mais tempo, mas... - ela fez uma pausa hesitantemente. - O elemento que faltava para a criação de um humano perfeito, era parte de outro humano, para que ele não começasse do zero. Isso significa que eu precisava apenas de um pedacinho de alguém.

–E o que você fez...?

–A parte que eu precisava, era sua.

Senti um calafrio percorrer meu corpo, iria dizer algo, mas temi pela resposta.

–Não se preocupe, precisei apenas de uma mexa de cabelo, que peguei antes de partir.

–E por que não usou uma sua? Eu era apenas uma criança naquela época... - Disse, de maneira ríspida.

–Não acha que seria egoísta demais se fizesse isso? Eu não queria um clone meu. Mas não se preocupe o resultado final não foi alguém idêntico a você. Não me pergunte os métodos que usei, não acho que será importante você saber disso. E admito que, também imaginei que o resultado seria alguém igual a você, mas foi diferente...

–Então, qual foi?

–Ele era um garoto. Como disse, os resultados foram diferentes, mas de certa forma, ele não deixava de ser uma espécie de clone.

Aquilo me deixara intrigada, então, significa que ela praticara a alquimia, criara um ser humano através da mesma e ainda por cima, ele tinha parte de mim? Um clone versão masculina? Pelos deuses, Aghata é louca!

–No primeiro ano, ele cresceu muito rápido. Aquilo me deixou preocupada, mas logo estabilizou e pude constatar que parara ao atingir a aparência de alguém da sua idade naquela época. Criei-o como se fosse meu filho, mesmo que em segredo. Lembro-me que quando recebi a noticia de que Temesia fora atacada, fiquei muito preocupada e ainda mais com a morte de seus pais.

–Como soube? Já que estava se escondendo... - completei.

–Tinha os meus informantes. Mas voltando a falar sobre minha vida em Moon, como sabe a cidade foi atacada por rebeldes três anos depois, mas não foi apenas por uma rebelião. - pude reparar que ela gesticulara os braços, provavelmente, fazendo os sinais de aspas no ar. - Eles foram mandados fazer aquilo. E apenas pude saber disso, quando vim para cá novamente.

–E você sabe quem fez isso? - Perguntei.

–Argalon. O maldito Outrora...! - Pude reparar que ela trincara os dentes ao pronunciar aquelas palavras. - Ele acha-se o mais forte de todos, o mais poderoso. E destruiu uma cidade inteira apenas por interesse, assim como quase fez com Temesia...

–Com Temesia...? - Encarei o chão por uns instantes interrompendo-a.

–Você não sabe disso, mas quem criou todo aquele tumulto no dia que seus pais morreram, foi ele. Invocado um dos animais mais temidos em todos os tempos...

–Usando magia proibida. - Interrompi-a.

–Exatamente. E com isso, desfez o selo do Dragão de Ônix, o animal mais poderoso que poderia existir em qualquer mundo. Mas como todos sabem a raça de dragões já fora extinta. Mas Argalon foi mais longe, além de invocar um dos mais poderosos, usou-o para tentar destruir uma cidade, mas não faço a menor ideia por quais motivos naquela época.

Respirei fundo, sentindo minhas pálpebras pesadas devido à penumbra daquele lugar.

–E o que aconteceu, com ele, depois disso? - Perguntei, novamente voltando ao assunto sobre a cidade de Moon.

–Ele? - Indagou-me.

–O seu filho...

Ouvi um suspiro de Aghata antes de começar a falar e por algum motivo, que não sei responder, me senti mal com aquilo.

–Não faço a menor ideia... No dia que Moon foi destruída, Argalon fez questão de ir diretamente atrás de mim, por isso soube que fora ele quem fez isso, e o motivo, foi por causa de meu filho. Ele queria saber como era o humano artificial perfeito, mas agora, não faço a menor ideia do que aconteceu com ele.

Eu não sabia que tudo isso havia acontecido...

Nunca sabemos o que realmente acontece com quem está ao redor.– E esta, era mais uma das respostas “sábias” de Arcano, se bem que, ele tinha razão.

–E o que mais você queria falar? - Perguntei, estava quase esquecendo que ela dissera que precisava falar comigo e que eu chegara “em cima da hora”.

–Há alguns dias, Argalon veio falar comigo. Ele já sabia que hoje eu seria solta e como você já deva ter imaginado, tinha interesse sobre isso - disse. - Argalon fez um discurso desculpando-se de tudo que aconteceu no passado, pedindo para que eu o perdoasse por ter tirado o meu filho de mim, dizia que iria me ajudar a encontrar ele novamente. E o principal, ele pediu para que eu o ajudasse.

–E o que você disse?

–Eu iria negar, obviamente. Mas resolvi ir mais além, disse que estava do lado dele e que havia o perdoado. Apesar disto ser uma grande mentira, ele acreditou e com isso, obtive informações que você precisa saber.

Argalon, por que não fico surpresa com isso? Ele era um ser desprezível, definitivamente.

–E o que ele disse?

–Ele disse que iria repetir o que aconteceu a cidade há quinze anos. Iria desfazer o selo do animal que está preso no subterrâneo da fortaleza.

Naquele momento, senti meu coração apertar por alguns instantes, as lembranças daquele dia não eram boas, quando Temesia foi quase destruída... E pensar que aconteceria tudo de novo, era pior ainda.

–E você sabe o motivo?

–Ele quer os elementos. Os garotos que você teve de encontrar, ele quer o poder deles. - Aquilo me deixou preocupada, os garotos não iriam aceitar ficar do lado de Argalon. Isso era fato e eles não eram tão ingênuos assim.

–E por isso, ele quer repetir o que aconteceu naquele dia. Apenas para poder, de alguma forma, usar isso como distração. - Constatei o eu me parecia já ser obvio.

–Exatamente.

Antes que ela falasse mais algo, levantei de onde eu estava e já me preparando para sair. Tinha que fazer algo, não poderia deixar as coisas desse jeito. A cidade e a vida de tantas pessoas estavam em risco e aquilo não iria acontecer, não posso deixar.

–Você vai ir embora?! - Perguntou-me, enquanto preparava-me para começar a caminhar.

–Não posso deixar as coisas desse jeito. - Encarei-a por uns instantes e pude ver, ela sorri com a boca fechada, discretamente como se não quisesse que eu visse.

–Você tem o coração bom Sora, mesmo que seja um pouco gelado. - Ela comentou.

Instintivamente parei de caminhar, ainda de costas para ela.

–Mas espere até o pôr do sol, não seja tão apressada. E não conte isso para ninguém.

Maneei minha cabeça, assentindo ainda de costas e finalmente voltando a caminhar entre aquele corredor escuro. Aos poucos me afastando de onde Aghata estava.

Eu não poderia deixar aquilo assim.


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Notas finais do capítulo

Duvidas? Criticas? Elogios? A historia ta meio calma, né? Mas sobre o dragão que citei nela, sinceramente, espero não cair na mesmice com isso, por que vejo varias historias que usam isso como um dos elementos, mas não se preocupem, tenho planos que vão alem do normal sobre isso #ACHO
E se vocês tivessem ideia do quanto pesquisei sobre alquimia para essa historia... Tipo, eu não queria que ficasse algo que nem Fullmetal, mas também nunca acho um artigo descente explicando a alquimia sem ter uma unica citação do anime. E eu queria que ficasse algo mais realista, tipo, se você for pesquisar a alquimia, as coisas não eram feitas exatamente como no anime e nem tinha o negocio de troca equivalente ( apesar da ideia ser foda). Sem contar, que existe poucos registros publicados na internet sobre alquimia, pois ela já foi deixada de ser praticada a muuuito tempo... Mas se for pesquisar a fundo, houve até relatos de uma pessoa que conseguiu fazer a pedra filosofal ( apesar de que não acredito muito nisso, mas tudo bem... não duvido) e se não me engano, nunca conseguiram transformar ferro em ouro ( ta ai o porque da piadinha irônica da Sora rsrsrsr), mas enfim... ainda tenho que pesquisar muuuuitas coisas para saber melhor sobre isso.



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