Ainda estava com os olhos fechados, a luz branca já se desfizera e era possível sentir até mesmo que estávamos em um lugar de solo diferente. Era a sensação de estar pisando na neve, não tinha duvidas. Ainda hesitante, abri meus olhos lentamente, fitando apenas o portão de entrada de Temesia e a cidade movimentada lá dentro. Ainda era dia, a campina que cercava a cidade estava completamente coberta de neve e a temperatura, comparada com a dos lugares que fomos, era mais baixa.

Não, eu não estava sozinha, não tinha essa sensação, apenas estava distraída demais encarando a cidade.

Virei de costas e esbarrei em Denzel, nossas testas acabaram chocando-se e logo nos afastamos. Com minha mão direita massageei minha testa, ela ficara ligeiramente dolorida e ele estava no mesmo estado que eu.

–Desculpe. - Ele falou, apenas olhei-o assentindo levemente e retirando minha mão de minha testa.

Ele é cabeça dura.

Você também.– Retrucou.

E você.

Um triste fato na vida de um domador, é que, às vezes nossos youkais tem uma opinião completamente diferente da nossa. O que não é bom, embora seja bem raro. Pois dependendo do que, eles podem acabar nos negando seus poderes, o que é deveras péssimo. Respirei fundo e tentei - realmente - ignorar aquele fato. Rolei meus olhos ao redor, Yoru e Yume estavam parados de pé, um do lado do outro e a presença deles não me surpreendia, pois obviamente viriam. Fallen, eu não a obrigara e nem pedira para viesse, ela apenas veio, sem a minha intromissão. E Benjamin... Sim, ele viera, e estava com os pés atolados na neve, encarando-a com uma expressão indignada. O que vale lembrar, que eu “não” o obrigara a vir.

Observei para Fallen apenas com meus olhos - mas permaneci com o rosto na direção de Benjamin, que alias, parecia não ser muito “habituado” com neve -, ela estava com os lábios levemente arroxeados e os braços cruzados. Céus, eu deveria imaginar que isso iria acontecer, ela estava com frio, isso era impossível negar. Aproximei-me dela, enquanto retirava minha capa. Eu não iria sentir frio, já estou acostumado com as temperaturas baixas de Temesia, mas ela não.

–Pegue. - Estiquei meu braço na sua direção, oferecendo a capa.

–Não preciso, eu estou bem. - Por que será, que por algum motivo, já imaginava que ela iria dizer algo parecido com aquilo?

–Sua boca está roxa e você esta tremendo. - Constatei o obvio. - Eu insisto.

Fallen assentiu de leve, com os olhos um tanto que tímidos, todavia, ela permaneceu com a expressão vazia de sempre. Pegou a capa de minhas mãos e a colocou, embora permanecesse um tanto que encolhida, ainda deveria estar com frio.

E então, voltei a encarar Benjamin, eu sabia que ele viria e se não viesse, eu iria atrás dele de qualquer jeito.

–Como você se machucou assim? - Ele apontou para minha roupa manchada de sangue, enquanto desatolava os pés da neve.

–Longa historia... - Falei estendendo a palavra “longa”. E realmente, era uma longa historia... - Posso explicar isso melhor depois, agora temos que ir para a Fortaleza de Argos.

–É aquela que você falou? - Franziu o cenho.

–Sim. - Falei de maneira ligeiramente seria. - E você, tem certeza que virá? - Sim, acho que eles no mínimo mereciam uma pergunta como essa, que por sinal, eu nem ao menos fizera.

–Eu não faço a menor ideia por que fui atrás de você e minha vida já não era das melhores... Estou praticamente sem nada e não sei exatamente onde é que estamos... Minha família deve me odiar, os alquimistas devem estar atrás de mim... Sem contar que se eu voltar, ainda tenho chances de ser preso. - Ele estava contando nos dedos tudo o que fizera o que me faz pensar no que ele não falara. Pelos deuses, o que ele irá falar? Ou melhor, o que mais ele fez, além disso? - Então acho que sou quase que obrigado a ir com você. - Por algum motivo, já esperava uma resposta como aquela, embora, apenas assenti, em uma tentativa inútil de não demonstrar que ficara realmente grata em saber daquilo.

–E você? - Olhei para Fallen, ela não ainda não questionara para onde estávamos indo e nem discutira sobre nada parecido, totalmente o contrario de Benjamin.

Ela encarou-me com os olhos azuis escuros, mas resolveu fitar o chão e deixar parte do capuz de minha capa cair sobre seus olhos, me impedindo de ver a sua expressão.

–Você iria me salvar e acabou se ferindo por minha causa, mas não deixou de me ajudar... - ela fez uma pausa. - Devo muito a você, estou realmente grata. - Encarou-me. - Por isso eu irei. Não tenho duvidas. E também, não tenho ninguém a recorrer. - Por algum motivo, senti uma leve pontada de angustia em meu peito, apenas de imaginar o que ela passara. Quanta vez já havia passado por uma situação como aquela? Quantas vezes fora machucada sem nem ao menos merecer? Prova disso, era o seu braço enfaixado, com a mancha carmesim, que sem sombra de duvidas, deveria ser apenas mais algum dos tantos machucados que já tivera.

Assenti com um leve sorriso que não pude deixar de esconder. Realmente, era de se esperar uma reposta como a dela e que por algum motivo, me marcara profundamente. E acho que eu deveria explicações. Eles de certa forma, mereciam.

–Acho que agora deveríamos ir para cidade logo, deve ser de manhã e o dia será longo. - Maneei minha cabeça indicando para que seguíssemos caminhando até o portão de entrada da cidade cercada por muralhas.

–O que é essa tal “Fortaleza de Argos”? - Benjamin perguntou enquanto atravessávamos o portão de entrada da cidade.

Antes de responder, pude ver que a cidade estava cheia de pessoas e teríamos que passar com cuidado entre elas par que não esbarrássemos em ninguém. E isso me lembra de algo, hoje era dia de feira, o que significa que não há somente pessoas da cidade aqui, como também deve haver de outras regiões ou, até mesmo, da Luz ou Trevas, mas acho que isso deve ser algo raro.

–Eu já iria falar sobre isso. - Respondi e a verdade, é que eu realmente já iria falar. - A Fortaleza de Argos foi feita somente para os domadores aprenderem a controlar melhor os poderes de seus youkais. Ela foi à criada há muito tempo atrás, e não me pergunte qual é a idade. Normalmente, um domador desenvolve seus poderes quando ainda é criança, então, deve-se traze-la para cá, a fim de torna-la um verdadeiro domador e trabalhar para fortaleza, claro, existem alguns domadores que abdicam seus poderes e não trabalham para a fortaleza. Mas isso é raro e a maioria acaba trabalhando para a fortaleza, sendo que antes de receber missões, devemos ter aulas praticas e teóricas, o que inclui todas as matérias de uma escola normal. E também, é raro quem recebe missões antes de se formar e fazer todos os testes.

Continuamos a caminhar entre as pessoas, havia mercadores e feirantes em praticamente toda a rua, o que dificultava a nossa passada e tínhamos que ter cuidado para não esbarrar em nada, muito menos em algumas crianças que insistiam em correr no meio de toda a multidão. Estava mais agitado do que em outros dias de feira...

–Mas se não somos domadores, porque temos que ficar aqui? - Novamente mais uma questão de Benjamin.

–Por que as anciãs disseram que era o melhor a fazer, sem contar que, mesmo que um domador não tenha um poder comparado ao que vocês podem ter, ainda são as pessoas que chegam mais perto.

–Nós vamos ver as anciãs quando chegarmos? - Perguntou-me Yoru.

–É provável que não. Elas sempre ficam no templo, do outro lado da cidade.

Nesse exato momento um grupo de umas quatro crianças passou correndo a nossa frente, tive de parar de caminhar e esperar que elas passassem, também pude reparar que uma delas corria atrás de todas, atrapalhada tropeçava em seus próprios pés. Era uma garota e não aparentava ter mais do que uns oito ou nove anos, seus olhos eram azuis e seus cabelos longos, lhe batiam abaixo da cintura, em um tom estranhamente róseo, embora fossem quase brancos. E por algum motivo, pude sentir uma aura fraca sendo exalada dela, embora não pude ter muita certeza.

E então, só fui desperta de meu devaneio ao ver que a garota esbarrara em seus próprios pés e caíra no chão, a alguns passos de distancia de mim. O que fez com que o vestido branco que usava ficasse completamente sujo de barro. Também pude ver que a mesma segurava um bonequinho de pano, embora ele tivesse caído longe dela.

Abaixei-me ignorando totalmente meu machucado e pequei o brinquedo caído no chão, era um coelho feito de pano, com os olhos de botões e algumas costuras que deveriam ter sido feitas devido à algumas vezes que se rasgara.

–É seu? - Perguntei enquanto agachava-me para ficar na altura da garotinha, ela por sua vez apenas levantou-se e sentou no chão mesmo, encarando-me com os olhos arregalados e curiosos.

Com os olhos azuis e tímidos ela assentiu, sem falar nada pegando o animal de pano que estava em minhas mãos e o abraçando fortemente depois. Acho que poderia arriscar dizer, que ela era fofa.

Não tive tempo de falar mais alguma coisa, pois ela imediatamente levantou-se e saiu correndo atrás das outras crianças, no entanto, não pude deixar de não notar que ela realmente exalava uma aura fraca, embora não pude nem identificar a cor ou a forma de um youkai. Mas ela com toda a certeza tinha um youkai.

–Não sabia que gostava de crianças. - E com essas palavras, rapidamente levantei e encarei Denzel.

–E disse alguma vez que não gostava?

–Não, mas... Nunca imaginei ver você assim.

–Assim como? - Arqueei uma sobrancelha.

–Menos séria? - Acho que deveria ter soado como pergunta.

–Você não me conhece.

–Não mesmo.

–Você não estava com pressa para ir para aquela tal fortaleza? Essa sena de vocês dois não me fez muito bem... - Benjamin falou de maneira ligeiramente zombeteira e fingia estar enjoado, enquanto passava caminhando em frente, apontando para os muros da fortaleza que ficava no fim da rua.

Ninguém falou nada, apenas dei um sorriso leve, enquanto voltávamos a caminhar. Não demorou muito para que alcançássemos Benjamin que seguia caminhando rapidamente e praticamente sumindo entre as pessoas da feira.

Voltei a caminhar em frente a eles e os dirigindo até a entrada da fortaleza, enquanto caminhávamos naquela rua que, por algum motivo, talvez pela feira, parecia ser interminável. Em momento algum vi alguém conhecido, o que de certa forma, forma era bom. E se encontrasse Terence, bem, provavelmente ele iria me perguntar sobre a conversa que tenho a fazer com Aghata... Embora, prometi a ele e irei cumprir, de preferencia, hoje mesmo.

Atravessamos o portão de entrada da fortaleza, logo caminhando pelo trilho de cascalho e tendo a visão de todo o pátio. Sendo que, na parte direita do pátio havia uma turma de domadores, eles formavam um circulo e no centro dele. Rajadas de luz eram lançadas, em completa sincronização fazendo uma espécie de dança, formando imagens abstratas e desfazendo-se em outras, eles deveriam estar treinando. Também pude reparar que quem fazia isso tinha uma aura violeta, embora a imagem de seu youkai não era possível ver.

Atravessamos trilho de cascalho até a porta de entrada, embora, não pude deixar de contemplar mais um pouco daquela imagem, também pude reparar que os outros ficaram em uma situação parecida com a minha.

–Aquilo era bonito... - Yoru disse, ainda com os olhos fixados na turma, parecia hipnotizada com o que acontecia.

–Parece que você está é drogada. - Yume retrucou com uma leve ponta de ciúmes da irmã. Só então olhei na direção da turma, vendo que quem estava lançando os raios era um garoto de aparentemente, a mesma idade que os gêmeos.

– Respeite sua irmã, Yume! - Denzel o repreendeu, recebendo apenas um olhar contrariado em resposta, sendo que Yoru apenas deu de ombros sobre o que eles fizeram.

Acabei rindo ao ver tal situação, Yume estava com ciúmes da irmã, o que já era de se esperar, o típico irmão protetor.

–Você é jovem demais para esse tipo de coisa, garota. - Desta vez quem falara fora Benjamin, intrometendo-se na conversa com uma piada sem graça e sento totalmente ignorado.

Empurrei a porta de madeira maciça a minha frente, deixando que Fallen, Benjamin, os gêmeos e Denzel entrassem, logo em seguida os segui, sendo a ultima a entrar e deixar a porta fechar-se atrás de mim. Benjamin e Fallen deveriam estar boquiabertos fitando o grande salão, o que de fato, era impossível não negar que qualquer um não ficaria. Ainda mais, pelo teto de vidro que deixava a mostra o céu de dia, embora, mesmo que estivesse ligeiramente nublado.

Rolei meus olhos em todos os cantos do grande salão antes de dizer algo, logo pude ver Luna caminhando com pressa nos corredores do salão, não demorou muito para que ela chegasse até a estada que levava para a parte térrea do salão. Ela ainda com pressa aproximou-se de onde estávamos, ajeitou a bolça que carregava no ombro esquerdo e parou a alguns passos de distancia.

–Estava começando a me preocupar com sua demora. - Ela disse finalmente.

Encarei-a confusa, quanto tempo nós havíamos passado longe daqui?

–Por quê? - Perguntei.

–Você não reparou? Faz uma semana que partiu.

–Não imaginava que o tempo na Luz e Trevas era tão diferente da Terra. - Comentei. Para mim, o tempo que levamos foi no máximo de um dia, ou menos.

–E esses dois garotos que estão vocês, eles são os elementos? - Ela perguntou de maneira serena, ligeiramente.

–Sim. - Respondi. - Ela é Fallen Angel, o elemento agua. - Indiquei Fallen que ainda usava minha capa. - E este é Benjamin Break, o elemento fogo.

–Muito prazer. - Luna disse com um sorriso sereno no rosto. - Eu sou Luna Leghten, a conselheira do Conselho de Argos.

Fallen e Benjamin se entreolharam, logo em seguida apenas acenaram com a cabeça, em um cumprimento silencioso.

–O que aconteceu com você, Sora? - Luna perguntou preocupada ao ver minhas roupas manchadas.

–Er... Digamos que eu me meti em briga. - Respondi. -Arcádio está? - Perguntei tentando mudar de assunto.

Você levou uma facada, foi isso que aconteceu.

Cale-se Arcano!

–Sim - disse. - Eu estava saindo, mas posso leva-los diretamente para lá.

Assenti e ela nos guiou, sendo assim, subimos as escadas do grande salão, fazendo o mesmo percurso que fizemos quando da ultima vez que falamos com o conselho. Entramos no corredor fechado que levava para a sala de Arcádio e seguimos caminhando até a porta que se encontrava entre as outras duas. Luna parou de caminhar e deu algumas batidas no mármore da porta, logo em seguida Arcádio a abriu.

–Senhorita Hill. - Ele olhou-me espantado, talvez não estivesse esperando a minha chegada. - Vejo que finalmente chegou, e que está acompanhada.

Assenti e ele fez menção para que entrássemos, esperei Luna e os garotos entrarem, logo em seguida fiz o mesmo que eles, embora, Denzel fora barrado por Luna que apenas direcionou lhe um olhar sério, embora, gentil para que ele esperasse do lado de fora. Se fosse eu, provavelmente ele iria protestar, mas apenas assentiu e ficou em silencio. Luna fechou a porta logo em seguida.

–E então? - Arcádio começou a falar. - Acho que deveria começar falando quem exatamente são eles. - Ele olhou para Fallen e Benjamin.

E eu teria de apresenta-los... Novamente.

–Ele é Benjamin. O elemento fogo, encontrei-o no Porto de Freedom, nas Trevas. - Arcádio apenas assentiu, esperando o que eu iria falar depois. - E ela é Fallen, a encontramos no Deserto de Leoni, que fica no Reino Cássia, na Luz. - Se era estranho dar todas essas informações para ele? Sim, é deveras desconfortável fazer isso, mas temos que responder tudo da maneira mais detalhada possível, ou, que expliquem tudo em poucas palavras.

–Muito prazer, meu nome é Arcádio Kingdom, sou o domador Alfa e líder do Conselho de Argos.

E novamente, Benjamin e Fallen apenas acenaram.

–E você tem completa certeza que eles dois, são realmente os elementos que procuramos? - Voltou a falar.

–Sim. - Respondi, deveria estar parecendo confiante, embora, se eles não forem os elementos, com toda a certeza as coisas não ficariam boas para mim. Contudo, tenho certeza que são. - Eles não exalam nenhum tipo de aura ou youkai, muito menos estão usando algum tipo de magia proibida.

–Eles provaram terem tais poderes?

Essa foi à mesma pergunta que ele fez para os gêmeos.

É, percebi.

–Sim, eles provaram Senhor Kingdom.

–E pelo que vejo a viagem até aqui fora mais complicada, não?

Respirei fundo, detesto que fiquem fazendo um monte de perguntas.

–Encontramos um grupo de vátores no deserto de Leoni, ao que parece, eles viajam por todos os reinos da Luz e roubam pessoas, vendendo-as no mercado negro como escravos.

Arcádio ficou serio por um instante, mexeu a cabeça negativamente em um sinal de que aquilo era um problema a bem mais tempo do que deveria.

–O Reino Edésia até já pediu para que mandássemos domadores para lá, com o intuito de dar um fim neles. Mas acho que não fora muito eficaz em nenhuma das vezes. - Luna explicou, realmente, eu não sabia daquilo.

–Nunca é. Parece até que eles se multiplicam sempre que alguém tenta fazer algo. - Arcádio parecia se lamentar, embora, estava insatisfeito com o que já deveria ter acontecido por culpa dos vátores. - Então, me diga o que fizeram ao encontra-los?

Merda, como eu iria responder aquilo? Eu estava praticamente inconsciente quando aconteceu.

–Eles nos cercaram quando estávamos saindo da cidade abandonada de Leoni. - Fallen interveio, não esperava que ela fosse dizer algo, mas resolvi ficar em silencio. - E nos prenderam, mas a garota, Yoru, certo? - Ela olhou para Yoru que apenas assentiu. - Ela nos ajudou a pegar a chave da jaula que nos prenderam e então conseguimos sair. Mas eles nos seguiram, então Yume criou um abismo no meio do deserto e os impediu de nos alcançar. - Ela disse de maneira ligeiramente seria, recebendo um olhar aprovador de Arcádio, acho que isso a fizera ganhar pontos com o conselho.

–Então todos vocês tiveram de usar seus poderes? - Arcádio disse fitando os quatro garotos.

Fallen assentiu, Yume e Yoru se entreolharam e fizeram o mesmo. Benjamin, por sua vez encarou-os um pouco confuso. Não vá fazer burrada... Mas por fim, ele também assentiu.

–Por isso você tem tanta certeza que eles são os elementos, que as anciãs tanto falaram?

–Sim.

–E como foi nas trevas?

–Encontramos uma fera e três alquimistas, mas eles não foram um problema em demasia, apenas um deles queria que Benjamin fosse com ele. - Não, não falara a completa verdade, até porque, nem citei o fato de que eles tinham um Cérbero, mas acho que não será um grande problema.

–Obviamente você matou a fera, certo? - Assenti. - E sabe qual era o nome do alquimista que queria que o garoto ficasse?

–Raynê Saron.

–E os que estavam com ele?

–Acho que o homem chamava-se Aran e a mulher Isra.

–Luna, poderia chamar Terence Albert? - Luna assentiu e saiu da sala, deixando apenas nós e Arcádio que por sua vez, revirava alguns papéis em sua mesa.

Aproximei-me dele hesitante, havia algo que eu ainda precisava perguntar, ou melhor, precisava saber se poderia fazer. Parei de caminhar em frente a sua mesa e então, Arcádio voltou sua atenção a mim.

–O que mais precisa falar? - Ele arqueou uma sobrancelha.

–É sobre Aghata.

Ele respirou fundo antes de falar.

–Se você quer saber quando ela será solta. Será hoje mesmo e a tarde, vamos julga-la, então ela ainda permanece no calabouço da fortaleza.

–Obrigada. - Agradeci em voz baixa, mesmo que não tivesse pedido nada.

–Por que quer saber disso?

–Preciso falar com ela.

Arcádio provavelmente iria falar mais alguma coisa, mas foi interrompido por Luna, que abriu a porta acompanhada de Terence. Fiquei em silencio apenas fitando-os se aproximar. Terence deu uma rápida olhada para todos que estavam ali, fixando seus olhos castanhos em mim por ultimo, mas não disse nada.

–O que quer Senhor Kingdom? - Ele disse serio ao parar ao meu lado, dando mais uma rápida olhada para mim, como se quisesse dizer algo, e sei exatamente o que é.

Ele quer que você vá falar com Aghata, não é?

Sim.

–Poderia leva-los até a Sala de Ensaios? Se possível, verifique se estão precisando de alguma coisa antes.

–Sim. - Terence saiu caminhando em direção aos garotos. - Vamos? - Ele perguntou enquanto abria a porta e esperava que passassem, fechando a porta logo em seguida.

–A Sala de Ensaios? - Luna indagou enquanto aproximava-se da mesa de Arcádio. - Mas ela é restrita para domadores de um nível maior.

–Nem eu mesma já fui lá. - Comentei.

–Mas se eles realmente são os elementos, - Não acredito que ele ainda estava com duvidas... -, provavelmente devem ter um poder muito maior do que um domador sobre qualquer elemento, então, acho que deve ser uma sala apropriada para que eles façam um teste.

–Teste?! - Bati minhas mãos na mesa de Arcádio ignorando totalmente o fato de ele ser o domador alfa. - Não acredito que você não confia no que eu disse!

–Acalme-se senhorita Hill. Apenas quero ter certeza.

Bufei e realmente, tentei me acalmar, mas não fora nada eficaz. Dei as costas e segui caminhando até a porta, oras, eu fora para dois mundos completamente desconhecidos para mim e ainda por cima, aceitei o trabalho que me mandaram fazer, tudo isso sem questionar. Apenas fiz. E ele ainda não acredita em mim? Amaldiçoei-me mentalmente por isso.

Aproximei-me da porta e a abri, embora, antes disso ouvi Luna chamar-me.

–Sora, espere!