“Entrei num corredor com luzes falhas, um ambiente descuidado, paredes com infiltrações, chãos com poças d’água.Num flash,  mudou para entrando numa sala de reunião, ou de jogos.Sete homens jogavam cartas, alguns fumavam, outros não.Olharam-me furiosos e começaram á gritar palavras que não pude ouvir.Outro flash.Eles viam em minha direção e eu socava-lhes, os arremessava longe, mas aquelas não eram minhas mãos.Flash.Eu torcia a cabeça de alguém e em seguida esfaqueava outro.Flash.Encurralei um homem, trocamos golpes, até que ele desmaiou.Flash.O prendi na cadeira.Flah.Havia muito sangue saindo de seu rosto, mas bem lentamente suas feridas cicatrizavam.Flash.Havia pego suas mãos, não havia 3 dedos, minhas mão encontravam-se ensangüentadas.Flash...”

    Acordei com o sol no meu rosto,ouvi os pássaros cantarem, nunca quis tanto uma escopeta para calá-los.Minha cabeça parecia que ia explodir á qualquer momento, meu corpo suava frio, e sentia meu corpo dolorido.Bufei e escondi a cabeça embaixo do travesseiro, mas logo senti o cobertor sendo puxado, deixando-me com frio.Olhei rabugenta para havia feito aquilo.Jenna sorria com uma xícara de barro na mão com uma visível fumaça.

          - Bom dia Kate. – falou

          - Arg, bom dia.

          - Por que tanto mal humor?

          - Dor de cabeça. – levantei-me da cama e fui tombando até o banheiro

    Joguei o rosto na pia e quando me olhei nos espelho, minha visão se focou em meus próprios olhos, e outra imagem apareceu, ainda que turva era possível enxergar um rapaz em cima de uma moto em movimento, preta e linda, os cabelos brancos ao vento e o óculos aviador preto na ponta do nariz.Jared.

    A visão mudou e eu me olhava de novo no espelho, minha respiração ofegante.Lavei meu rosto mais uma vez e minha nuca.Escovei os dentes e fui até a cozinha.Fleur colocava o café na mesa, enquanto Jenna colocava água nas plantas sorrindo e cochichando com as mesmas.

          - Bom dia. – falei ao me sentar na mesa

          - Bom dia. – respondeu Fleur

    Tomamos um sadio café da manha, mas não farto como dos Hewit, o que fez meu coração se apertar trazendo-me a lembrança de Emma.Estávamos distantes uma da outra á uns 5 dias,eu sentia tanto a sua falta.Uma vez ficamos uma semana longe uma  da outra, quando ela viajou para o Canadá, visita aos avós, mas eu sabia que poderia e iria revê-la, mas agora eu não tinha mais essa certeza, por que graças ao Jared, eu corria perigo...Não.Estou certa.Corria.

     Agora vivo com Jenna, posso pedir á ela para ir visitar Emma, ou Emma vir até mim.

     Isso.

     Talvez agora tudo fique um pouco melhor.Jenna até então sem sido muito legal comigo, carinhosa e doce, Emma pode voltar á minha vida e aos meus planos.Jared?Eu espero que esteja fora da minha vida pra sempre, tanto ele como quaisquer coisa do seu mundo.

      Do nosso mundo.

      Olhei para Jenna e Fleur que lavavam a louça enquanto conversavam, tão...inocentes.Não tinham ideia de que anjos realmente existiam, assim como demônios e assim por diante.

       Será que Jared estando longe de mim irão parar de me perseguir? Espero que sim.Ficaria péssima em saber que pessoas se feriram por minha causa, talvez até morrer.

        Lembrei-me de James, se é que esse é seu real nome.

         Segundo a televisão ele não era registrado no país, talvez não fosse um cidadão daqui.Então como ele havia se tornado meu tutor?Como sabia de tudo sobre mim e minha mãe? Será que nos perseguia? O que pretendia comigo?

          Outra coisa que me intrigava era o fato de que não encontraram o corpo dele, não sabiam que ele estava morto.Como? Ele havia sido morto no meio da rua, e aquele demônio não tinha se dado o trabalho de tirar o corpo, e depois nem viveu para desaparecer com o mesmo depois.

           Quem era James Calton?

            A minha dor de cabeça voltou estupidamente forte, apertei o copo que estava em minha mão, que logo se estraçalhou.Jenna e Fleur olharam para trás, encarando minha mão, que sangrava.

                  - Oh querida. – Jenna se aproximou – O que houve? – falou pegando em meu pulso.

          Fleur se aproximou e tirou os cacos da mesa, Jenna pegou um pano molhado e limpou o sangue de minha mão, revelando múltiplos e profundos cortes..Levou-me consigo até o quarto e a enfaixou.

                  - Fique deitada, descanse.Mais tarde se quiser ir comigo á cidade para conhecer minha loja de flores, aceito uma boa companhia.- falou sorrindo

         Sorri.

                  - Obrigada Jen.Não tem nada que eu possa ajudar vocês em casa? – perguntei educada

                  - Não.Só se acomode em seu quarto.Ponha suas roupas na cômoda, podemos ir na cidade e comprar tinta para sua parede, podemos comprar o que quiser.Ok?

                  - Ok. – sorri.

          Ela sorriu de volta e se levantou, mas segurei sua mão, Jen olhou-me.

                  - Obrigada.Por tudo. – disse sincera

                  - Emily faria o mesmo por Fleur. – sorriu dócil, mas seus olhos se encheram d’água.Ela fungou e saiu do quarto fechando a porta.

          Joguei-me na cama e encarei o teto.Lembrei-me do meu teto de quando criança.Lembre do meu recente sonho.

          O que é que havia assustado a pequena Katherine, e porque ter aquela lembrança me fez tão mal á ponto de sangrar pelo nariz?

     Deitei-me de bruços encarando minha janela com uma bela paisagem do outro lado dela.Um sol radiante, pássaros voando, grama e mais grama verde.Respirei fundo, ar puro, na verdade cheiro de incenço.

     Estava quase pegando no sono quando bateram na porta.

               - Entra. – falei

      Fleur pois a cabeça na porta.

              - Visita. – falou

      Fiquei encarando-a ,“sério?”, ela assentiu com a cabeça.

      Levantei-me , do corredor ouvia Jenna falando “sinto muita coisa negativa de você,hmm, você é O negativo”.

       Aproximei-me de minha tia e meu coração parou.

       Estava tudo muito bom, muito certo.

       Jared estava na porta todo de preto como sempre com um óculos aviador no rosto, como na minha visão.

              - O que você está fazendo aqui? – perguntei

       Jenna me olhou e eu revirei os olhos.

              - Um...conhecido. – falei

              - Ok, qualquer coisa grite, vou estar com minha vassoura á mão. – ela olhou para Jared mais uma vez – Negativo. – e saiu andando cantarolando sozinha

     Cruzei os braços na altura do peito e encarei Jared.

              - Não vim aqui pra você ficar me admirando. – falou

              - Entra. – falei

              - Hm, negatividade, energia negativa. – ouvi Jenna gritar.

      Jared seguiu-me até o quarto, ele passou e eu fechei a porta.

      Ele se escorou na cômoda e eu me sentei na cama.Ele tirou os óculos e me encarou.

              - Vai, fala. – falei

              - Sua tia está na porta. – falou

              - Você... – abaixei o tom – você vê através das coisas também? – sussurrei

              - Não, estou vendo a sombra dela no chão. – apontou

      De repente a sombra sumiu.

              - Ta, então agora fala.

              - Fui atrás dos Baalihans.Descobri onde Harahel está.

              - Onde?

              - No inferno. – engoliu seco

              - Oh.E o que você vai fazer agora?

              - Não tenho força o suficiente nem para encarar anjos, nem demônios.Pra isso preciso da Chave de Salomão.

              - Uma o quê?

              - Um griminório,um livro, onde se encontram vários rituais para invocar demônios.

              - Uh, Jared isso não é perigoso?

              - Podemos invocá-los, mas eles nos obedeceram,eu acho.

              - E onde se encontra esse livro?

              - Não sei.Vou tentar me comunicar com Isaac.

              - Bom, e o que eu tenho haver com tudo isso?

              - Te manter informada, e para que não esqueça que ainda há pessoas atrás de você, então todo cuidado é pouco.Pra isso você requer treinamento.

              - Treinamento?

              - Sim, luta.Aprender a lutar, socar e matar ou nocautear cada espécie.Pra isso você precisa se alimentar bem, vamos também trabalhar o seu físico, ver se seu corpo se torne mais.... – ele me avaliou – Agradável. – o canto da sua boca se dobrou.

              - Ah sim, e onde pretende dar esses treinamentos?

              - Vou arranjar um lugar.

              - E aonde você está dormindo?

              - Vou procurar. – encarou-me

        O encarei, parecia exausto,seus olhos verdes estavam pesados.Ele precisava descansar.

              - Posso ver com Jenna para que fique aqui. – falei, mas tive uma vontade de querer me esmurrar

              - Negativo para negativo!Aqui só boas energias! – gritou Jenna enquanto passava pela porta.

              - A quanto tempo ela está ouvindo a conversa? – perguntei á Jared

              - Ela passou no exato momento em que falou que ia falar com ela. – ele encarava a porta, mas depois me olhou – Vou embora.

              - Ok. – falei e abri a porta do meu quarto levando-o até a saída.

        A moto em que ele montou era a mesma da minha visão.Coisa estranha.Como se fosse um Djavú, só que eu não estava nem perto do ambiente.

       Saiu em disparada com a moto então voltei para casa.Jenna dançava pela sala com um incenço na mão, olhos fechados mãos em movimento.

              - Esse menino é muito estranho.Senti muitas coisas ruins vindo dele . – falou enquanto contornava um vaso de planta. – Se eu fosse você se afastava dele, você não se sente bem também quando está com ele.

              - Ah...é.Mas o que você esta fazendo?

              - Dançando.Já ouviu “Quem canta os males espanta”? – abriu os olhos e me olhou – Venha dançar. – sorriu e estendeu a mão.

              - Não sou muito boa com essa coisa de dança.- sorri

      Jenna pegou minha mão puxando-me.

              - Só se movimente e sinta, deixe as boas energias fluírem, sinta as plantas, o sol, o vento, a vida. – ela fechou os olhos e voltou a dançar pela sala.

      Ri.

              - Sinta Kate. – falou de olhos fechados

      Fechei os olhos e respirei fundo. “Sinta”.

       Senti o cheiro da sala, uma agradável fragrância,e uma lembrança veio a minha mente.

        “ Eu girava, via tudo escuro, mas sentia o movimento e a tontura já me dominando.Abri os olhos, ainda girava, mas aos poucos a rotação diminuía, até que cai no chão, percebi que eu ria na imagem, ouvia uma risada doce e gostosa de criança.Senti minhas costas no chão, então abri os olhos.Uma criança de cabelos brancos me olhava com o cenho franzido, os olhos verdes estavam iluminados.Ri então ele sorriu.Lindo.E estendeu a mão para me ajudar a á levantar.O pequeno Jared encarou-me por um tempo, parecia perdido em seus próprios pensamentos.

             - O que foi? – perguntei.

         Ele olhou para o chão,pôs a mão no coração e  fez uma cara estranha.Respirou fundo e sob seus cabelos brancos me encarou de novo com seus intensos olhos verdes, sua pupila estava dilatada, o que fez ficarem bem mais intensos.

              - Ed, ta bem? – toquei-lhe o rosto

         Jared olhou para minha mão e depois para mim.

              - Não sei como mas... –

         Olhava-me como se eu  fosse algo abstruso.

              - Não sei como Kat, mas eu gosto de você. – falou

          Senti um sorriso em meus lábios.

              - Também gosto de você Ed. – sorri e fui para abraçá-lo, mas ele se afastou.

           Minha cabeça caiu para o lado,o encarei.Ele havia rejeitado meu abraço, parecia um pouco assustado, olhava para meus braços abertos com receio, os quais depois lentamente desci.Ele pareceu relaxar, e me encaro,estendeu a mão.

              - Venha, vamos girar... – falou e começamos á girar e girar, girar, girar...”

          Dei de cara na parede o que fez minha cabeça latejar.Cai no chão e escondi minha cabeça entre as pernas enquanto grunhia de dor.

          Então era isso? Jared um dia havia gostado de mim?

          Ri um pouco daquilo.

          Ele parecia tão sincero, crianças são sinceras, mas também pareceu estar mal antes de dizer aquilo, e havia recusado um abraço, ficara acanhado.Jared, sempre tão misterioso e problemático desde criança.

          Então o meu amor por aquela criança voltara, um amor que estava esquecido á muito tempo, uma amizade.Mas será que Jared ainda um dia poderia voltar á ser meu Ed? Aquela criança dócil e sincera que conheci na Romênia.

         Ri comigo mesma.

        A batida de cabeça na parede havia sido forte, estava maluca em supor aquilo.