Por alguns minutos eu pude esquecer tudo de ruim que tinha acontecido comigo naquela semana. Parecia que tudo foi combinado para acontecer tudo de uma vez, e Matt aparece magicamente pra me acalmar de tudo isso.

Eu estava com meu ouvido contra seu peito e eu podia ouvir seus batimentos cardíacos perfeitamente. Eles estavam acelerados e fora de compasso. Sua respiração também oscilava.

Eu sentia meu rosto quente. Era cem por cento de certeza que eu estava vermelha. O lugar não era muito iluminado, mas era perceptível.

Meus pensamentos foram cortados quando pude ouvir alguém correndo no ginásio. Parei por alguns segundos mas os passos estavam se afastando cada vez mais. Me soltei dos braços de Matt e fui correndo pra porta do depósito. Vi apenas um longo cabelo loiro passando pela porta do ginásio. Estremeci. Era Claire, eu tinha certeza. E ela tinha visto tudo. Matt não tinha culpa de isso ter acontecido. Pera i, ele tinha culpa sim. Em alguns segundos a cena dele e de Claire abraçados no corredor passou perfeitamente na minha mente. Cachorro. Ele tinha namorada e teve coragem de me beijar? Entrei no depósito novamente, peguei minha mochila e saí. Pude sentir meu olhos arderem, as lágrimas iriam abandonar meus olhos em poucos segundos. Minha garganta queimava e eu passei por Matt e esbarrei nele de propósito. Ele segurou meu braço e disse:

— Mel! Espera eu- não deixei ele concluir, soltei meu braço das mãos deles e corri.

Sai do ginásio correndo e ao final do corredor pude avistar um grupo de professores. Me esquivei para o banheiro. Encostei em uma das paredes e ouvi os professores do lado de fora questionando Matt por estar essas horas transitando pela escola. Depois de alguns segundo não pude ouvir mais ninguém no corredor. Me preparei pra sair quando ouço uma conversa vindo de algum dos box no banheiro, prendi minha respiração por um instante e pude ouvir claramente:

— O que aconteceu? - eu conhecia essa voz. Era daquela garota morena que andava junto com Claire. Acho que seu nome era Santana.

Depois de alguns segundos ouvi Claire. Apesar de estar em meio aos soluços a voz dela era firme e determinada:

— Essa tal de Melanie vai ver. Primeiro por me tratar como qualquer uma no meu primeiro dia, e depois por beijar o meu Matt.

Meu coração acelerou. Como eu pude ser tão idiota? Parte disso era culpa minha. Mas eu fiquei tão frágil na presença de Matt que me deixei levar. Mas a culpa maior era dele. Era ele que tinha uma namorada, não eu.

Não fiquei para ouvir mais. Espiei o corredor e não havia mais sinal de ninguém. Corri para a saída e o portão estava fechado. Não pensei duas vezes e escalei o muro. Quando estava lá em cima, pronta para pular pro lado de fora, ouvi alguém gritar meu nome. Era Matt. Meu coração parou por uma fração de segundos. Não olhei para trás e pulei.

Cheguei em casa e minha mãe ainda não havia chegado. Suspirei aliviada, podia pensar em tudo e organizar melhor as ideias na minha mente.

Larguei minha mochila em um canto qualquer, meus tênis ficaram logo à frente e fui direto pra cozinha. Fiz um mega sanduíche e fui para o meu quarto. Fiquei cerca de 5 horas na frente do computador, eu já não sentia minhas pernas por causa da câimbra. Tirei meus fones e pude ouvir alguém mexendo nos utensílios da cozinha e um pouco ao fundo podia ouvir alguma conversa.

Fui andando sorrateiramente até a entrada da cozinha, pude ver minha mãe e um cara. Um cara que não era o meu pai.

Vi ele de perfil. Era um cara bonito, parecia ter seus 38 anos. Cabelos pretos, olhos castanhos, mas à luz da cozinha parecia um mel esverdeado. Ele tinha uma barba mal feita e um sorriso bonito. Minha mãe conversava alegremente com ele quando percebeu minha presença e disse:

— Oi Mel! Venha aqui quero te apresentar meu amigo.

Andei na direção dos dois. Ele se levantou para me cumprimentar com um beijo no rosto mas me esquivei e estendi minha mão, ele a apertou e disse docemente:

— Olá Mel, sua mãe fala muito de você, meu nome é Jared, muito prazer!

Eu acabara de conhecer Jared mas eu tinha certeza que já vira aquele sorriso antes. Olhei para ele e sorri gentilmente.

Minha mãe me convidou para jantar com eles, mas recusei, precisava ficar sozinha. Fui para o meu quarto e deitei na cama. Eu não falava com Meg desde o dia anterior, ela não fora para escola hoje, já estava preocupada. Tentei ligar, mas ela não atendia. Desisti na 13º vez que disquei o número dela.

Fechei meus olhos e fiz uma retrospectiva do dia e cheguei à uma conclusão: era incrível, como apenas 30 segundos melhoram sua vida, mas ao mesmo tempo terminam de estragar. Eu estava nos braços de Matt, isso me livrou de tudo. Eu me senti bem. Mas ao mesmo tempo eu não devia ter cedido à ele. Não mesmo. Fui burra. Eu vi ele agarrado com Claire no corredor. Eu era a errada da história toda. Eu destruí o relacionamento dos dois.

Só agora eu tinha me dado conta. minha mãe havia trazido um amigo para jantar em casa apenas há dois dias do meu pai ter saído de casa. E eu nem sabia o real motivo de ele simplesmente abandonar minha mãe e eu. Ou se foi minha mãe que o expulsara de casa.

Há um tempo atrás minha avó havia me contado que meu pai e minha mãe só casaram porque ela estava grávida de mim e meu avô não ia permitir uma mãe solteira de baixo do mesmo teto que ele e obrigou-os a casar. Talvez seja isso. Eles já se aturavam há quase 15 anos, talvez não se amavam tanto assim. E eu tinha que interferir e estragar tudo de novo.

Parece que é isso mesmo. Parece não, é isso mesmo. Tudo culpa minha. Melanie Gabriela Strauss estraga tudo, sempre.

E à essa altura, em meio a tantos pensamentos, era meu próprio corpo que sofria. Minhas pernas ardiam e então eu percebi o quanto minhas unhas afundaram na minha própria pele.

Adormeci. E com a intenção de não ter um mundo pra eu ter que acordar no outro dia.