Descobrindo a própria luz escrita por Marii Weasley


Capítulo 4
Capítulo 4 - Um pouco de sol, um pouco de lua e algumas confissões


Notas iniciais do capítulo

Hey Guys !!!

Esse é meu primeiro capitulo da semana, espero que gostem (:
O próximo só amanhã (:



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Apesar do distanciamento mental, eu conseguia perceber as pessoas se aglomerando ao meu redor. As vozes rodavam e invadiam meu cérebro, vindas de todos os lados e fazendo com que eu me sentisse ainda pior. O cheiro do perfume de Matt, que sempre fora o meu favorito no mundo todo estava verdadeiramente fritando os meus neurônios restantes enquanto ele me segurava com a ajuda da minha irmã.

Annabeth estava em algum lugar a minha esquerda e eu podia a escutar ordenando que todo mundo desse o fora dali e me deixasse respirar.

— Ande logo Matt – ela exigia toda ofegante, agarrando meu braço com força. – A enfermaria fica dentro daquela casa ali na frente.

Tentei abrir os olhos quando percebi que Matt me ergueu completamente no colo para subirmos uma espécie de escada, mas fracassei. Meu corpo inteiro ainda pinicava, como se todos os meus inimigos estivessem enfiando agulhas em um bonequinho de bruxaria. Ao mesmo tempo e com bastante energia.

Uma porta foi aberta com um rangido e eu escutei nitidamente um som de cavalos em minha direção. Estou realmente ficando louca, pensei.

O que tinha restado de mim foi depositado em cima de um colchão pra lá de duro e eu me escutei resmungar, enquanto as pessoas se afastaram e passaram a conversar naquele tom sussurrante que não é necessariamente baixo, só irritante.

Ainda estava bastante nauseada e queria pedir para todo mundo falar direito, me incluir, mas não conseguia.

— O que está havendo, Annabeth? – ouvi uma voz grave e masculina se sobressair. – Sei que ela é sua irmã e imagino que tiveram problemas, mas nem mesmo ela deveria estar aqui. Não sem a permissão dos deuses.

— Você não entende – Annabeth argumentou urgente. – Isabelle e o garoto são semideuses.

Ainda me lembro de como me senti naquele momento, com todas as minhas suspeitas sendo realmente confirmadas. Era surreal e assustador. Passei anos ouvindo as histórias de minha irmã e de Percy e agora tudo aquilo estava acontecendo comigo. Um pouco atrasado, mas estava.

Eu estava na enfermaria, na Casa Grande do Acampamento Meio-Sangue, com Quíron, o centauro que treinou os mais famosos heróis de toda Grécia. Eu e Matt éramos semideuses.

Todas as vezes que monstros apareceram, ou que as coisas simplesmente estavam erradas... Não era só por culpa de Annabeth, ou de qualquer objeto que ela tinha deixado pqra trás. Éramos todos nós. 

— Semideuses? – perguntou Matt, como que para ter certeza de que não estava alucinando.

Eu havia me esquecido de sua presença por um raro minuto. Suas mãos faziam carinho no meu cabelo e aquilo me deixou inquieta, fazendo com que eu me sentasse, apoiando as costas no seu tronco e resmungando mais um bocado.

— Calma Bells – ouvi Matt dizendo segurando minha mão. – Está tudo bem.

Annabeth percebeu nossa movimentação e interrompeu sua conversa. Ela me fez abrir um pouco os olhos e tomar algo de uma fumegante taça prateada. O gosto lembrava chocolate quente e eu soube que estava ingerindo a bebida divina, o néctar.

Escutei imóvel minha irmã relatar tudo que havia acontecido nessa tarde para o centauro, mesmo que meus pensamentos estivessem correndo soltos. Eu estava preocupada com tantas coisas ao mesmo tempo que mal conseguia respirar.

— Não consigo acreditar que isso está realmente acontecendo – Matt confessou, perto demais, e eu me permiti soltar uma risadinha, porque era simplesmente surreal.

E foi como se estivéssemos sendo transportados para o nosso universo particular. 

Meu mundo tinha acabado de mudar de modo drástico e lá estávamos nós dois novamente, agindo daquela forma meio termo um com o outro.

Sempre fui uma dessas pessoas que gosta das coisas bem delimitadas, de preto ou branco,  sim ou não. Mas a minha relação com Matt, para ser sincera, andava bem cinza desde a última vez que eu havia dormido em sua casa. Nossa amizade assustadoramente ameassada pela minha falta de habilidade em esconder o que realmente meu coração dizia sobre ele.

Enquanto pensava sobre isso, senti uma de suas mãos segurando a minha e a outra alisando quase que imperceptivelmente meu cabelo. Aquilo era mais contato físico com ele em um só dia do que em todos os nossos dez anos de amizade juntos. Ou quase isso. E eu estava sinceramente agoniada com a confusão que nossa relação era, no final das contas.

— Mas vai ficar tudo bem – ele continuou em uma altura que só eu poderia ouvir. – Eu estou aqui.

Senti uma pausa prolongada antes dele prosseguir. E eu reconhecia tão bem esse sentimento de hesitação, o medo de exteriorizar mais do que a gente pudesse aguentar. Ele parecia tão perdido quanto eu, quando deixou escapar: 

— E vou estar sempre aqui. Eu prometo.

Ele já havia prometido isso antes. Há oito anos atrás, quando nos tornamos definitivamente inseparáveis, com direito a juramento de sangue e tudo. E no fim, de um jeito ou de outro, ele sempre tinha cumprido mesmo.

Percebi um pigarro alto que nos transportou pra fora da nossa bolha, para um mundo onde os problemas entre adolescentes não eram tão simples como os nossos. Um mundo do qual éramos parte a partir daquele momento.

— E então, eles foram reclamados?– questionou Quíron.

— Sim, eles foram. Matt é filho de Apolo.

Claro que ele é. Foi o que eu pensei ao ouvir aquilo, quase sentindo meus olhos revirarem com a situação. 

Senti um pequeno sorriso nervoso se formar em meus lábios, enquanto ela prosseguia, pois percebi que estavam prestes a falar a meu respeito. A ansiedade fazendo meu peito afundar um pouquinho.

— E ela... Bem, ela... – Annabath parou, como que buscando palavras. – Ainda que eu não saiba explicar, ela é minha irmã. De sangue e tudo. 

Demorei um pouco pra raciocinar o que isso de fato significava. Enquanto a informação ia sendo processada aos poucos pelo meu cérebro recém reiniciado, Annie fez a anunciação mais clara em um tom bem contente, apesar de apreensivo:

— Ela é filha de Atena — confirmando para todos.

E essa informação foi realmente bem chocante pra mim, mais do que todas as outras. Durante todos esses anos, secretamente eu sempre quis ser uma semideusa e fazer parte do mundo tão encantador do qual a minha irmã fazia. Na minha imaginação eu escolhia um deus para ser meu pai ou mãe olimpiano e mesmo sabendo que não passava de uma bobagem, ainda mais depois que passei tanto tempo do prazo para ser reclamada, desconfiava que todos os alunos novos eram meu sátiro. Mas eu nunca, nunca mesmo,  tinha me permitido sequer pensar em ser do mesmo chalé que Annie. Ela era boa demais quando comparada a mim para isso ser possível e eu tinha total ciência dessa realidade.

— Será que podemos falar sobre isso em particular? — Quíron solicitou, fazendo Annabeth e boa parte dos curiosos que nos seguiram se moverem. 

Quando me deixaram sozinha com Matt na enfermaria para descansar, as informações ainda girava pela minha cabeça. Era muita coisa de uma vez e meu íntimo já sabia que teria que encarar o meu melhor amigo naquele instante também. Ou seja lá o que fosse que nós éramos um do outro. As pessoas não tinham compaixão pelo meu estado de recém desmaiada.

— Isa? – chamou e eu me ajeitei, tentando agir naturalmente. Sua mão ainda confortava a minha e acabei chegando a conclusão que poderia passar mal mais frequentemente, se aquela fosse a recompensa. — Você está se sentindo melhor?

Tossi como que para recuperar a voz. A verdade é que a minha cabeça ainda rodava, mas a náusea havia diminuído, de modo que eu me sentia consideravelmente viva. 

— Estou sim — garanti, para o tranquilizar, aassistido suas feições preocupadas se suavizarem um pouco e notando que ele também parecia cansado, o que fez eu me envergonhar um pouco com a próxima frase. — Obrigada, por ter me trazido até aqui e tudo. E ter aguentado minha irmã reclamando com você. 

Ele acabou rindo de mim embasbacada, sua mão ainda firme na minha, a situação toda me desestabilizando. Tentei ignorar esses distrativos e focar em algo realmente importante pra iniciar um assunto normal. Tipo o fato de sermos seres mágicos daquele momento em diante.

— E você? Como você está? — perguntei, um tanto receosa. Assisti ele próprio pensar por longos instantes, antes de responder.

— Eu sei que vai parecer estranho. Mas apesar de estar muito assustado, é como se as coisas tivessem se encaixado, sabe? — começou.  — Desde que você me apresentou esse mundo, eu nunca tive dificuldade em acreditar nele e agora eu sei que é porque alguma coisa dentro de mim devia me avisar que era meu lugar.  

Franzi a testa e considerei, porque nunca realmente tinha imaginado que meu amigo experimentava qualquer sensação perto da de deslocamento que eu sempre senti. Mas eu compreendi suas palavras, aquilo não era estranho para mim de maneira alguma, porque também pensava o mesmo. 

— Mas você já tinha notado alguma coisa como a Hidra? Eu nunca ouvi falar de semideuses que ficam tanto tempo sem ver monstros como nós dois — alguma coisa simplesmente parecia fora do lugar na minha mente.

— Eu não sei explicar, Isa. Depois das últimas horas, é como se todos os sinais sempre tivessem estado lá e eu simplesmente estava concentrado em outra coisa, sabe? — e de novo, eu sabia muito bem do que ele estava falando, mesmo antes que ele finalizasse. — Principalmente nos últimos meses.

Eu queria responder, mas me senti congelar no lugar. Meu cérebro formando as frases desleixado e,  assim que abri a boca pra dizer algo, Matt acabou jogando a bomba no meu colo, sem me dar chance de preparação:

— Eu estava ocupado demais concentrado em você. Em tudo sobre você. E no final, baby, eu simplesmente estou cansado de viver uma vida que eu sei que não é a certa para mim, então eu preciso ser sincero — ele suspirou, os olhos azuis temerosos, mas decididos, procurando os meus. Meu coração acelerado como nunca. — E a verdade é que eu amo você. Tipo, não só como amigo, ou como irmão, eu verdadeiramente amo. E eu vou entender se você não se sentir do mesmo modo.

E eu senti como se todo o meu ar estivesse escapando naquele instante.

A verdade é que eu era uma planejadora irritante.Tentava entender todo mundo ao meu redor e sacar antecipadamente o que as pessoas iam dizer para não me meter em situações como aquela. Eu esperava que Matt fosse finalmente me confrontar sobre o que tinha acontecido entre nós, não que ele simplesmente diria aquelas três palavrinhas. 

E era essa imprevisibilidade que me fazia gostar tanto dele como eu gostava. Muita gente pode até achar essa declaração sem noção para o momento, mas eu simplesmente estava sintonizada do mesmo modo. Buscando arrumar as coisas na minha vida que por tanto tempo estiveram fora do lugar. E por isso, aquilo foi a melhor coisa que eu poderia ouvir no momento.

Eu era uma semideusa. Uma guerra contra gigantes canibais se aproximava. Se eu chegasse aos vinte anos de idade, podia me considerar com sorte. Minha vida de agora em diante, não seria mais segura em lugar nenhum.Tudo isso anulado pelo pedaço da minha vida normal mais significativo:

Matt me ama. Me ama e está aqui comigo. Ele estaria sempre comigo, ele havia prometido. Prometido de novo.

E tudo que ele fez nesses anos todos foi cumprir a sua primeira promessa. Estava comigo durante minhas brigas com Rebecca e no tempo em que meu pai esteve doente. Quando Annabeth foi embora, era a única pessoa com quem podia contar. Algumas vezes eu era grossa ou meio sem sentido com ele e mais recentemente muito, muito confusa. Mas ele sempre ficava.

Quando estava triste, tudo que eu tinha era Matt. Já havia ligado para casa dele de seis horas da tarde e desligado o telefone de quatro da manhã. Ele era o meu porto seguro. Ele jamais mentiria pra mim. Ele me fazia feliz. E por isso , não esperei nem meio segundo pra responder, mesmo que não tivesse planejado nada daquilo.

— Eu Matt. Eu amo você.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram ???

Sugestões, por favor!



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