*Sakura*

            Acordei, ou melhor, levantei ainda sonolenta. Ficar até tarde na internet nunca faz bem para ninguém. Ainda mais quando esse alguém tem problemas de insônia às vezes. Peguei uma roupa qualquer no meu guarda-roupa e caminhei até o banheiro. Fiz minha higiene matinal e vesti a peça que pegara. Não era muito exagerado, apenas um vestidinho floral no tom de rosa bebê e minhas famosas chinelas. Desci as escadas e encontrei meu pai sentado na mesa ao lado de minha mãe. Uma cena rara de se ver nessa família.

            - Bom dia. – murmurei enquanto pegava uma xícara e colocava leite. Odiava tomar café puro.

            - Bom dia querida. – respondeu minha mãe alegre. – Não vai para a escola hoje?

            - Não. – respondi sentando-me na cadeira que estava vaga. – Nunca tem nada na última semana, então só vou na sexta-feira receber o resultado.

            - Entendi. – sussurrou enquanto tomava o que eu julgava ser café puro. – Bem Sakura, seu pai e eu vamos viajar a negócios hoje de tarde então pode convidar a Ino para ficar aqui se quiser.

            - Não dá. – respondi – Ino vai viajar com os pais dela para Paris e só volta depois das férias. Ela pediu que eu pegasse o resultado para ela.

            - Que pena. – falou – De qualquer forma, converse com alguma colega sua. Não queria que passasse a noite sozinha aqui.

            - Pode deixar mãe. – respondi. – Eu ligo para alguma das meninas depois. Agora acho que vou tirar um pequeno cochilo, não consegui dormir direito ontem.

            - Insônia novamente? – perguntou dessa vez papai enquanto lia o jornal. Sessão de esportes se não me engano. Era a única coisa que ele lia. – Espero que aquele seu problema não esteja voltando.

            - Só não dormi bem porque fiquei na internet até tarde. – respondi temendo que ele estivesse certo. – Garanto que não é aquele problema novamente.

            - Espero que sim. – murmurou enquanto eu saia da cozinha.

*Hinata*

            - Naruto... – eu murmurava o nome dele sem acreditar no que os meus olhos viam. – Isso é...

            - Todo o passado. – respondeu. – O nosso passado bem em sua frente.

            A sala estava decorada de fotografias minha e dele em tamanho real por todos os cantos. E todas aquelas fotos me traziam lembranças animadas e divertidas. Momentos inesquecíveis e incrivelmente engraçados que vivi ao lado daquele loiro de cabeça oca.

            O baque ainda estava enorme quando percebo que meus olhos começam a arder. Droga! Eu estava chorando! Maldição! Prometi a mim mesma que não choraria mais, não seria mais a Hinata tola que vivia triste, eu iria mudar, e tinha que começar parando de chorar na frente das pessoas, ainda mais na dele. Passei as mãos no rosto limpando as lágrimas e pisquei inúmeras vezes para impedir que caíssem mais.

            - Por quê? – perguntei e pude perceber que o sorriso que Naruto havia colocado estampado no rosto desapareceu. – Por que está fazendo isso?

            - Porque sou seu amigo Hinata. – resmungou – Mesmo que você nunca mais queira falar comigo novamente. Eu apenas... – pausa – Apenas quero que não esqueça esses momentos.

            Senti os olhos arderem novamente. Maldito loiro. Sai em direção ao corredor. Eu tinha que me manter longe daquela sala. Tinha que me manter longe daquelas lembranças, que mesmo sendo maravilhosas, eu sentia meu pequeno coração começando a arder em dor ao imaginar que talvez nunca voltassem a acontecer.

            - Hinata. – chamou-me, mas não tive a coragem de virar e encarar-lhe. – Olhe para mim.

            - Não. – murmurei. Porém ele puxou-me e virou meu rosto em sua direção. Tentei me soltar em vão. – Solte-me.

            - Não. – retrucou. Ele ainda me segurava forte. – Pode chorar se quiser.

            Não aguentei. Aqueles olhos azuis penetrantes. Aquele cheiro amadeirado dele e aquela segurança que seu abraço transmitia fez com que todos aqueles murros que crie em volta de mim desmoronassem. E eu comecei a chorar como uma criança abraçada nele. Eu não sabia o motivo do choro, mas eu apenas queria chorar. Porém, eu afastei-me bruscamente dele.

            - Não Naruto. – resmungava mais para mim mesma do que para ele. – Não posso.

            - Não pode por quê? – perguntou encarando-me com aquelas safiras. – Por que não quer demonstrar seus sentimentos? Por que não quer dizer o que realmente sente por mim? Por que não quer dizer que me ama? Ou por que não quer me ouvir dizer que também te amo?

            A última pergunta dele me pegou de surpresa. Ele realmente havia falado aquilo ou eu apenas imaginei essas palavras? Meus pensamentos voavam insistentes quilômetros por hora, minha cabeça rodava na velocidade da luz.

            - O que você disse? – perguntei ainda incrédula.

            Ele se aproximou de mim. Próximo demais, pensou uma parte do meu cérebro, a parte da razão, aquela parte que queria empurra-lo para longe de mim e sair correndo de volta para minha casa, àquela parte que se arrependera de não ter dado meio volta mais cedo quando soube que ninguém viria para escola hoje. Mas também existia a outra parte, aquela a qual eu vinha tentando esquecer e esconder no meu subconsciente, a parte que se importava em ouvir aquelas doces palavras por parte dele. Ele continuou se aproximando, o que me deixava ainda mais eufórica por dentro. Segurou meu rosto entre as duas mãos. Eu apenas olhava aquelas imensas safiras que eram os seus olhos.

            - Eu te amo Hinata. – respondeu selando qualquer coisa que viesse a sair da minha boca com seus lábios em um beijo calmo. Interrompeu em seguida para me olhar novamente nos olhos. – Desculpa ter feito você esperar.

*Sakura*

            Depois de um bom e merecido cochilo, acordei sentindo todas as forças renovadas. Como era bom dormir. E pensar que a noite em claro me deixara preocupa com as chances daquele problema voltar. Balancei a cabeça de um lado para o outro expulsando os pensamentos trágicos da minha mente em frente ao espelho enquanto penteava meus cabelos róseos desembaraçando-os gentilmente.

            - Sakura. – chamou minha mãe da porta do banheiro.

            - Pois não? – perguntei enquanto terminava de pentear uma parte do cabelo.

            - Estamos saindo um pouco mais cedo ok? – perguntou. – Não se esqueça do que eu falei mais cedo.

            - Claro, pode deixar mãe. – respondi calmamente. Seria um longo dia.

            Depois de trancar a porta e garantir que todas as janelas estavam fechadas eu caminhei vagarosamente até a cozinha e avistei a imensa pia cheia de louça. Lembrei-me das palavras de minha doce mãe.

“Sakura. Poderia lavar as louças para mim quando acordar? É que eu e seu pai resolvemos sair mais cedo. Há e não esqueça que Uchiha Sasuke vem buscar umas coisas aqui mais tarde, mas não o deixe entrar em casa. Não quero você sozinha com um rapaz sem mais ninguém na casa”.

            Sorri ao lembrar-me dos sermões de minha mãe. Eu tinha certeza que poderia ter trinta anos e ela ainda seria a mesma mãe coruja que é agora. Comecei a lavar os pratos engordurados que havia na pia. Um pequeno sorriso brotou no meu rosto quando pensei novamente na frase. Sasuke apareceria aqui hoje. Depois dos recentes acontecimentos envolvendo nós dois eu começava a imaginar o que viria agora. Mas também me preocupava. Afinal das contas, eu ainda namoro o Naruto, e aquela repentina pergunta dele sobre meus sentimentos em relação à Sasuke ainda me deixava um pouco confusa. Aproveitaria que Sasuke viria aqui e perguntarei o que ele pensa sobre esse comportamento nada comum do loiro.