História de Um Grande Amor escrita por Acyd-chan


Capítulo 11
Capítulo 11




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Os meses foram passando e os recém-casados se acomo daram numa rotina afetuosa e agradável. Darien, que vivera uma existência infernal com Rey, surpreendia-se a todo momento como a vida a dois podia ser gratificante quando se escolhia a pessoa certa. Serena revelara-se uma deliciosa surpresa. Gostava de observá-la ler, escovar os ca belos, dar instruções à governanta.

Na verdade, sentia satisfação em contemplá-la, indepen dentemente do que estivesse fazendo, e procurava os meno res motivos para tocá-la. Mesmo que fosse para tirar uma partícula invisível de poeira do vestido dela ou para afastar-lhe alguns fios de cabelo do rosto.

Serena não demonstrava grande efusão por isso. Raras vezes, se estava muito atarefada, afastava a mão dele. Com maior freqüência, ela sorria ou movia a cabeça, o suficiente para encostar a face na mão do marido.

Em certas ocasiões, quando não se percebia observada, Darien notava-lhe um olhar ansioso que rapidamente se per dia como se não houvesse existido. E à noite, antes de dormir, ele reparava que o olhar trazia um laivo de tristeza, o que o deixava com o coração apertado.

Conhecia bem a esposa e estava convencido do que a ator mentava. Teria sido muito fácil acabar com aquele sofrimen to. Por que não dissera as três palavras tão simples? Mesmo que não fossem verdadeiras, não valeria a pena o sacrifício só para vê-la feliz?

Algumas vezes ele se esforçava para verbalizar o que Serena ansiava por ouvir, mas sentia-se sufocar e nada falava.

A maior ironia era a certeza de que não séria difícil amar aquela mulher. Afinal, já não estivera convencido de que amava outra pessoa que acabara destruindo seus mais no bres sentimentos? Nem imaginava como poderia continuar vivendo se alguma coisa acontecesse com a esposa.

Darien gostava de tudo o que se relacionasse com Serena. Desde o nariz ligeiramente arrebitado até a sagacidade da qual ela não o poupava. Mas isso seria o mesmo que amar uma pessoa?

E como saber se a amava? Dessa vez ele queria ter certeza. Se possível, uma prova concreta. Da outra vez acreditara que a mescla de desejo e obsessão fosse amor. No entanto, o que mais poderia ter sido?

Naquela altura, homem amadurecido, considerava-se mais sensato, o que era uma boa coisa, e mais cético, o que era ruim.

Na maior parte do tempo Darien conseguia tirar essas preocupações da mente. Afinal, era o que os homens faziam. Mulheres discutiam, refletiam e tornavam a argumentar a respeito do que desejavam. Ele preferia ponderar sobre um assunto uma ou duas vezes antes de resolvê-lo.

Por isso lhe parecia exasperador o fato de não conseguir afastar esse problema da mente. Serena era adorável, en cantadora e feliz. Por que desperdiçar energia ou raciocínio, avaliando as condições de seu coração? Deveria aproveitar as bênçãos que lhe eram destinadas, e não perder tempo em analisá-las.

Estava concentrado nos motivos por que não queria pen sar sobre isso, quando escutou a batida na porta de seu escritório.

-# Entre!

Serena pôs a cabeça para dentro.

-# Estou incomodando?

-# Claro que não. Venha cá.

Ela empurrou a porta, entrou e ele disfarçou um sorriso. Nos últimos tempos, a barriga de Serena parecia preceder a dona por, no mínimo, cinco segundos. Ela percebeu o esforço com que Darien se empenhava para ficar sério e entristeceu-se.

-# Estou descomunal, não é mesmo?

-# Não posso negar.

-# Você poderia ter mentido para poupar os meus senti mentos e dizer que não estou tão grande assim. Mulheres no meu estado ficam muito emotivas. — Lentamente, ela foi até uma poltrona próxima à escrivaninha e, apoiando-se nos braços do móvel, sentou-se.

Darien levantou-se de imediato para ajudá-la.

-# Pois eu gosto de vê-la assim gorda.

-# Eu sei. O que lhe agrada é a prova tangível da sua virilidade.

-# Ela deu muitos pontapés hoje? — perguntou, sorrindo.

-# Não. E também não tenho certeza de que seja uma menina.

-# Claro que é. Está perfeitamente óbvio, milady.

-# Suponho que esteja planejando abrir um curso sobre parto psicológico.

-# Veja como fala, minha senhora — ele caçoou, arqueando as sobrancelhas.

Ela revirou os olhos e estendeu-lhe uma folha de papel.

-# Recebi uma carta de sua mãe hoje e achei que lhe agra daria ler.

Darien pegou a carta e leu-a andando pelo recinto. No começo, evitara revelar seu casamento para a família. Após dois meses, acabou convencido por Serena de que não po deria esconder por mais tempo a verdade. Como não podia deixar de ser, todos ficaram espantados, com exceção de Hotaru, que previra o que estava se passando. Não demorou muito e estavam todos em Rosedale para inteirar-se da si tuação.

Ouviram lady Rudland repetir centenas de vezes que ja mais poderia sonhar com o ocorrido e perceberam o compor tamento desenxabido de Seiya. Mas Serena acabou fa zendo uma passagem tranqüila de Cheever a Bevelstoke. Afinal, ela praticamente fizera parte da família antes.

-# Seiya se meteu em encrencas em Oxford — Darien murmurou, lendo as palavras escritas pela mãe.

-# Bem, creio que era de se esperar.

-# O que está pretendendo dizer com isso? — perguntou, divertindo-se.

-# Ele deve ter seguido o exemplo do irmão. Não pense que não ouvi contar sobre as suas extravagâncias na univer sidade.

-# Agora estou muito mais amadurecido. — Sorriu, sem jeito.

-# Assim espero.

Em seguida aproximou-se, beijou o nariz e depois o ventre abaulado da esposa.

-# Eu gostaria de ter ido para Oxford — ela lamentou, — Teria adorado ouvir todas aquelas palestras.

-# Não todas. Acredite, algumas eram desanimadoras.

-# Ainda assim, creio que eu me deliciaria. Darien deu de ombros.

-# Pode ser. Você é certamente bem mais inteligente do que a maioria dos rapazes que encontrei por lá.

-# Depois de passar uma temporada em Londres, é pos sível inferir que não é muito difícil ser mais inteligente do que os homens da sociedade.

-# Presumo que esteja excluindo a presente companhia.

-# E claro — ela anuiu com graça.

Darien voltou para a mesa. O que mais gostava naquele casamento eram as conversas argutas e leves que permea vam os dias. Sentou-se e pegou um documento que estivera examinando antes de Serena entrar.

-# Creio que terei de ir para Londres.

-# Mas agora? A cidade deve estar vazia.

-# Acredito que poucas pessoas permaneceram — ele ad mitiu. O Parlamento estava em recesso e a maioria dos no bres havia deixado a capital e ido para suas casas de campo. — Porém um grande amigo meu está em Londres e precisa dos meus conselhos para efetuar um negócio.

-# E se eu fosse junto?

-# Nada me agradaria mais do que isso, mas não quero vê-la submeter-se aos percalços de uma viagem nas atuais condições.

-# Estou perfeitamente saudável.

-# Eu acredito, porém não me parece prudente assumir riscos desnecessários. Verdade seja dita, você tem se mostra do um tanto... — Darien deu uma tossidela — desajeitada.

-# Não sei o que você poderia ter dito que me fizesse sentir menos atraente. — Fez uma careta.

Os lábios dele estremeceram, antes de se inclinar para beijá-la no rosto.

-# Foi uma brincadeira. Não me demorarei. Talvez uma quinzena, no máximo.

-# Tudo isso? — perguntou, um tanto desanimada..

-# São quatro dias de viagem para a ida e outros tantos para a volta, isso se não houver percalços pelo caminho. Com as chuvas recentes, as estradas devem estar péssimas.

-# Sentirei a sua falta.

Darien hesitou por um momento, antes de responder:

-# E eu também me ressentirei com a sua.

Serena não falou de imediato e deu um suspiro sentido que apertou o coração de Darien. Mas de repente demons trou-se mais animada e seu comportamento modificou-se.

-# Ah, terei muitas tarefas que me ocuparão o tempo. Por exemplo, eu gostaria de mudar a decoração do salão oeste. O estofamento das poltronas e sofás está esmaecido. Talvez convide Hotaru para me fazer uma visita. Ela é ótima para essas coisas.

Com um sorriso aberto, Darien comprovou com satisfação que a esposa compartilhava seu gosto por Rosedale tanto quanto ele.

-# Confio no seu discernimento e tenho certeza de que não necessitará dos palpites de Hotaru.

-# No entanto me agradará ter a companhia dela enquan to você estiver em Londres.

-# Então nada melhor do que convidá-la. — Darien olhou para o relógio. — Não está com fome? Já passa do meio-dia.

-# Fome, propriamente, não. Mas poderei comer uma ou duas colheradas — concluiu, distraída, passando a mão no abdômen.

-# Bem mais do que duas ou três — ele afirmou com se riedade. — Sabe muito bem que não está comendo apenas para uma pessoa.

-# Pode acreditar que sei — concluiu, fitando o ventre disforme e suspirando com desalento.

-# Vou ver o que encontro na cozinha — anunciou, seguin do até a porta.

-# Por que não toca a campainha e pede para a criada trazer alguma coisa?

-# Não. Assim será mais rápido.

-# Mas eu não estou...

Tarde demais. Ele já estava no corredor e não a ouviria. Serena sorriu, sentou-se e curvou as pernas sob si mesma. Ninguém poderia duvidar de que Darien se preocupava com ela e com o bebê. Via-se isso pela maneira como ele afofava os travesseiros para ela antes de dormir, pelo modo como se interessava pela sua alimentação e insistia em produtos nu tritivos. E, principalmente, pela forma como colava o ouvido em seu ventre todas as noites para sentir o bebê se mover.

-# Ela deu um pontapé! — Darien havia exclamado certa vez com excitação.

-# E provável que tenha sido um arroto — Serena o provocou em resposta.

Darien não percebeu a zombaria e ergueu a cabeça, preo cupado.

-# Os bebês podem arrotar na barriga da mãe? Isso é normal?

-# Não sei. — Ela deu um sorriso indulgente.

-# Talvez fosse melhor perguntar ao médico. Serena puxou-o para a cama e o fez deitar-se a seu lado.

-# Tenho certeza de que tudo está transcorrendo bem e dentro da normalidade.

-# Mas...

-# Se está pretendendo mandar-me para o médico, ele pensará que meu marido ficou louco.

-# Mas...

-# Vamos, abrace-me e vamos dormir. — Ela suspirou, aconchegando-se. — Assim. Agora posso descansar sosse gada.

Serena lembrou-se da conversa e sorriu. Darien fazia coisas semelhantes várias vezes ao dia, demonstrando seu amor. Não podia estar imaginando tudo aquilo. Como era possível que Darien a olhasse com tanto carinho se não a amasse? Por que ficar tão insegura quanto aos sentimentos do marido?

Certamente porque ele nunca os declarara em voz alta, embora comentasse com freqüência o quanto estava feliz em ter-se casado. Isso sem citar quanto ele a elogiava.

Não poderia existir forma mais cruel de tortura, refletiu, e ele sequer imaginava que a cometia. Achava que ser aten cioso e agir com bondade resolveria tudo.

Mas toda vez em que Darien a olhava e sorria, caloroso, Serena imaginava que ele se inclinaria para o seu lado e sussurraria que a amava.

Porém nada disso acontecia. Ele a beijava no rosto, aca riciava-lhe os cabelos ou perguntava se gostava de estar grá vida ou outra baboseira qualquer. Serena imaginava que seu pobre coração amargurado ficava cada vez mais enru gado e seco, o que tornava sempre mais difícil fingir que sua vida era precisamente como havia desejado que fosse.

Tentara ser paciente. Não gostava de falsidade. Afirmar amor por alguém seria terrível se não houvesse nenhum sentimento por trás das palavras.

Recriminou-se, pois não deveria pensar no assunto àquela altura. Darien mostrava-se muito atencioso e terno. Portan to deveria sentir-se imensamente feliz.

E estava feliz... Ou melhor, quase. Havia apenas uma pe quena falha que insistia em aparecer e que a aborrecia de verdade. Serena não queria desperdiçar a mente e a ener gia em fatos sobre os quais não tinha controle.

Darien entrou no escritório e beijou-a no alto da cabeça.

-# A sra. Hingham garantiu que mandará trazer uma bandeja com comida em alguns minutos.

-# Eu disse que não deveria preocupar-se em descer — ela repreendeu-o. — Imaginei que nada estaria pronto.

-# Se não tivesse ido por minha conta — comentou ele, casualmente —, teria de esperar uma criada vir para ver o que eu desejava. Depois seria preciso aguardá-la descer até a cozinha e ficar na expectativa de a sra. Hingham preparar nossa comida, e então...

-# Chega! Entendi o seu ponto de vista — clamou ela, levantando a mão.

-# Dessa maneira o almoço chegará mais rapidamente. Não sou uma pessoa dotada de muita paciência.

Serena também não era.

Mas Darien, ignorando os pensamentos tumultuados da esposa, simplesmente sorriu e olhou pela janela. Uma leve camada de neve cobria as árvores.

Um casal de criados entrou no escritório e a bandeja com comida foi arrumada sobre a escrivaninha.

-# E seus documentos? — inquiriu Serena.

-# Não se preocupe. — Ele empilhou tudo a um canto.

-# Não faz mal se ficarem misturados?

Ele deu de ombros.

-# A refeição é mais importante. Você é mais importante.

A criada suspirou diante das palavras românticas e Serena apertou os lábios. A criadagem na certa imaginava que lorde Darien se derretia de amor quando ficava sozinho com a esposa.

-# Ora, vejam — Darien animou-se. — Temos carne e ensopado de legumes, meu anjo. Quero vê-la comer tudo.

Serena olhou com desconfiança para a tigela deixada à sua frente. Seria preciso um exército de mulheres grávidas para consumir tudo aquilo.

-# Você deve estar brincando.

-# De maneira nenhuma. — Darien enfiou a colher no ensopado e levou-a até os lábios dela.

-# Francamente, não posso...

Ela engasgou pela surpresa, depois mastigou e engoliu o bocado.

-# Ah, isso é muito engraçado.

-# Talvez para você. — Ele repetiu o gesto e Serena engoliu. — Nada pode ser mais ridículo.

-# Que bobagem.

-# Isso não será uma maneira de evitar que eu fale tanto?

-# Não, embora eu tenha perdido uma grande oportuni dade com a última sentença.

-# Você é incor... Mais uma colherada.

-# Querida, está com um pouco de guisado no queixo.

-# É você quem está segurando a colher.

-# Fique quieta. — Inclinou-se para a frente e lambeu as gotas de molho da pele dela. — Hum, delicioso.

-# Eu lhe digo que me vingarei, seu... — Serena inter rompeu-se quando a colher colidiu com seu nariz.

-# Olhe o que você fez. — Darien sacudiu a cabeça com exagero. — Está se mexendo tanto que eu perdi a direção da sua boca. Agora fique quieta.

Ela contraiu os lábios, mas não pôde evitar um leve sorriso.

-# Isso, mostre que é uma boa menina. — E aproximando o rosto, sugou-lhe a ponta do nariz até limpar tudo.

-# Darien!

-# Lady Serena Tsukino Chiba é a única mulher no mundo que tem cócegas no nariz. — Ele deu risada. — E eu tive o bom senso de me casar com ela.

-# Pare com isso!

-# De derramar molho no seu rosto ou de beijá-la? Serena prendeu a respiração.

-# De derramar guisado, ora. Você não precisa de um pre texto para me beijar.

-# Ah, nem pode imaginar o meu alívio. — Ele tocou o nariz dela com o seu.

-# Se não me beijar logo, sou eu quem ficará maluca. Ele provocou-a com um beijo leve como as asas de uma borboleta.

-# Assim está bem? É o suficiente?

Recebeu como resposta uma negativa com um gesto de cabeça e o beijo foi intensificado.

-# E agora?

-# Acho que ainda não.

-# O que você quer? — ele sussurrou, com a respiração quente de encontro aos lábios macios.

-# Primeiro diga você o que deseja — ela contrapôs e aca riciou os braços fortes e, de maneira não usual, massageou os músculos dos ombros.

Aquilo despertou instantaneamente o ardor de Darien.

-# Ah, Serena... — Gemeu, sentindo o corpo amolecer.

-# Isso é maravilhoso. Por favor, não pare.

-# É extraordinário. — Ela admirou-se, sorrindo. — Você vira uma massa amorfa nas minhas mãos.

-# Qualquer coisa, mas não pare — ele disse entre ge midos.

-# Por que está tão tenso?

Darien abriu os olhos e olhou-a com severidade.

-# Sabe muito bem o motivo.

Serena corou. Na última visita ao médico, fora informa da de que estava na hora de fazer uma pausa nas relações sexuais. As reclamações duraram uma semana.

-# Eu me recuso a acreditar — ralhou e tirou os dedos dos ombros do marido, e sorrindo ao escutá-lo gemer em protesto.

-# Não sou a única causa das suas dores nas costas.

-# Tensão por não poder fazer amor com você, exaustão física por ter de levar esse corpanzil escada acima...

-# Você nunca teve de me carregar!

-# Está bem, apenas pensei nisso, o que já foi suficiente para fazer surgir minha lumbago. — Darien levou a mão para trás e apontou um local na coluna vertebral. — Bem aqui.

Serena franziu os lábios, mas cedeu à tentação. Pôs-se a massagear o lugar indicado.

-# Permita-me dizer uma verdade. Milorde é uma criança grande.

-# Hum-hum... — ele concordou com a cabeça de lado. — Importa-se se eu me deitar? Será mais fácil para você.

Serena espantou-se. Como ele conseguira induzi-la a massagear-lhe as costas ali mesmo sobre o tapete? O que também dava a ela um certo prazer. Gostava de tocá-lo e de memorizar os contornos de seu corpo. Feliz, livrou-o da ca misa e acariciou a pele dourada, quente e sedosa.

-# Gostaria que você cocasse minhas costas — pediu ela, lembrando-se de que fazia muito tempo que não conseguiu deitar-se de bruços.

-# Agora fique quieta — comandou ele com suavidade, virou-a e iniciou a compressão metódica na coluna de Serena.

-# Ah... — Ela suspirou, com a impressão de estar no paraíso. — Que delícia!

Ouvindo um gemido, virou o pescoço para ver o que havia acontecido. E comprovou o esforço que ele fazia para contro lar o desejo.

-# Sinto muito, querido — desculpou-se com uma careta. — Se servir de consolo, eu também sinto imensamente a sua falta.

Darien abraçou-a com força, mas cuidando para não pres sionar o ventre.

-# Claro que não é sua culpa, meu anjo.

-# Eu sei, mas assim mesmo tem sido difícil aceitar esse afastamento forçado.. — Ela baixou o tom de voz. — Sinto-o dentro de mim, meu amor, e algumas vezes é como se esti vesse tocando o meu coração. E isso é o que me faz mais falta.

-# Não fale assim...

-# Perdoe-me.

-# Pelo amor de Deus, pare de se desculpar.

-# Está bem, esqueça o que eu disse. — Ela teve vontade de rir. — Mas lamento que você esteja nesse estado. Isso não é justo.

-# Claro que é. Tenho uma esposa saudável e um lindo bebê. Restringir-me durante alguns meses não é tão grave.

-# Mas não será preciso continuar em abstinência — murmurou Serena de maneira sugestiva, abrindo-lhe os botões da calça.

-# Pare com isso. Eu não suportarei.

-# Não terá de fazê-lo. — Ela levantou a camisa de Darien e beijou-lhe o abdômen.

-# O que... Ah, Serena... — Ele deixou escapar um ge mido áspero.

Ela continuou a beijá-lo em sentido descendente.

-# Oh... oh!

7 de maio de 1820,

Sou uma desavergonhada, mas meu marido não tem do que se queixar.

Na manhã seguinte, Darien despediu-se, beijando delica damente a testa da esposa.

-# Tem certeza de que ficará bem durante a minha au sência?

Serena engoliu em seco e anuiu, piscando para afastar as lágrimas que jurara não derramar. O céu ainda estava escuro, mas Darien queria sair cedo para a viagem a Londres. Sentada na cama, com as mãos sobre o ventre volumoso, observava-o vestir-se.

-# Seu criado terá um ataque apoplético — ela provocou-o. — Sabe muito bem que ele não confia na sua maneira de aprontar-se.

Vestido apenas com a calça, Darien sentou-se na cama ao lado de Serena.

-# Não se importará mesmo com a minha partida?

-# É lógico que ficarei triste. Eu preferiria mil vezes tê-lo aqui comigo. — Ela sorriu, vacilante. — No entanto estarei bem e cumprirei minhas tarefas a contento sem você para me distrair.

-# Então é assim? Eu a atrapalho?

-# Muito. Se bem que — sorriu, corada — nos últimos tempos não pude ser muito distraída...

-# Essa é uma triste verdade. Eu, infelizmente, tenho o tempo todo a minha atenção desviada dos meus afazeres. — Darien segurou-lhe o rosto e beijou-a com paixão. — Todas as vezes que a vejo.

-# Todas? — Serena duvidou, mas ele anuiu com sole nidade.

-# Mas eu estou parecendo uma baleia.

-#Uma baleia muito atraente. — Darien tornou a beijá-la.

-# Ah, é assim? — Empurrando-o, bateu de leve nos om bros largos. — Pois nunca mais fale comigo!

Ele sorriu com malícia.

-# A viagem a Londres será benéfica para a minha saúde, ou pelo menos para o meu corpo. E uma sorte eu não ser propenso a ficar com hematomas.

Ela franziu os lábios e depois mostrou a língua. Fingindo não ter percebido a má-criação, ele jogou um beijo no ar antes de se levantar e cruzar o quarto.

-# Pelo visto a maternidade não a amadureceu, lady Chiba.

Serena atirou um travesseiro sobre ele. Em resposta, Darien voltou e estendeu-se na cama, levando-a junto.

-# Talvez eu devesse ficar para manter as rédeas firmes.

-# Não seria uma má idéia.

Ele tornou a beijá-la, dessa vez com paixão mal reprimida.

-# Eu já lhe disse quanto adoro estar casado com você?

-# Hoje ainda não.

-# É muito cedo ainda. Certamente poderei ser perdoado por esse lapso. — Ele mordiscou-lhe a ponta da orelha. — Mas eu me lembro de ter dito isso ontem.

E anteontem, Miranda pensou com certa amargura, e tam bém trasanteontem. Todavia nunca dissera que a amava. Era sempre Amo estar com vocêou Amo compartilhar tare fas, e nunca um sonoro Eu te amo. Era mais seguro afirmar Adoro estar casado com vocêem vez de Eu te adoro.

O olhar melancólico de Serena não passou despercebido.

-# Algo errado, querida?

-# Nada — ela mentiu. — Estava apenas pensando na saudade que vou sentir.

-# Eu também sentirei a sua falta. — Ele beijou-a pela última vez e levantou-se para vestir a camisa, enquanto era observado por olhos castanhos atentos.

Darien nada diria, a menos que ela o fizesse primeiro. E por que falaria? Estava muito satisfeito com a situação e teria de forçar o assunto, o que a deixava apavorada. E se Darien não a tomasse nos braços e não dissesse que apenas aguardava ouvi-la repetir que o amava? O pior de tudo seria ele sorrir e declarar algo parecido com Gosto muito de você, querida. Ela estremeceu.

-#Tem certeza de que está se sentindo bem? — perguntou preocupado.

Seria fácil mentir e negar seu bem-estar. Bastariam al gumas palavras, e ele permaneceria a seu lado, abraçando-a carinhosamente à noite e beijando-a com tanta ternura que a faria acreditar que era amada. Porém a verdade era o mais importante.

-# Estou bem. Creio que ainda não acordei direito.

-# Minha querida, outra coisa: não quero que você traba lhe em excesso durante a minha ausência. Em menos de dois meses o bebê nascerá.

-# Como se eu pudesse esquecer disso

-# Ainda bem. Você carrega meu filho na barriga — Ele vestiu o paletó e inclinou-se para um beijo de despedida

-# O bebê é meu também.

-# Não tenho dúvida. — Darien se endireitou, preparando-se para partir. — Por isso eu a amo tanto.

-# Darien!

Ele se virou, estranhando o temor na voz da esposa.

-# O que foi?

-# Eu apenas queria dizer... Isto é, eu queria que soubesse que te amo — ela declarou depressa, com receio de perder a coragem de falar.

Darien estacou e teve a impressão de pairar acima do próprio corpo. Mas afinal, não era por isso que esperava? Não era ótimo contar com o amor incondicional da esposa?

Ele a fitou e pôde escutar o que ela estava pensando.

Por favor, meu amor, não despedace o meu coração.

Ele entreabriu os lábios. Fazia meses que vinha dizendo a si mesmo que desejava escutar novamente aquela afirma ção. E naquele momento, depois de ouvi-la, um nó apertava sua garganta. Não podia pensar, nem respirar. Via apenas o desespero naqueles grandes olhos castanhos.

-# Serena, eu... — Não conseguiu terminar a frase, pois engasgou-se com as palavras. Por que era tão difícil falar?

-# Não diga nada, meu amor—ela pediu com voz trêmula. — Esqueça o que eu falei.

-# Você sabe quanto gosto de você.

-# Aproveite bem a sua estada em Londres...

-# Serena, por favor... — A angústia dele era visível, mas nem de longe era comparável à amargura que a con sumia.

-# Não fale comigo! — ela gritou. — Não quero escutar as suas desculpas nem as palavras estudadas! Não quero ouvir mais nada!

Exceto que você me ama.

O que não pôde ser dito deixou a atmosfera pesada. Darien sabia que Serena se afastava cada vez mais e assim mesmo sentia-se incapaz de fechar o abismo que se formava entre ambos. O que deveria fazer era muito simples e reduzia-se a três palavras que ele queria dizer, porém não conseguia verbalizar.

Não era racional e não fazia sentido. Darien não sabia se era por receio de amá-la ou de ser amado. Ou talvez fosse o medo de admitir que seu coração tinha sido destroçado no primeiro casamento e que estivesse morto internamente.

-# Minha querida...

Darien pensou no que poderia dizer para deixá-la feliz. Se isso não fosse possível, pelo menos teria de encontrar alguma coisa que amenizasse a tristeza daquele olhar tão doce.

-# Por favor, me chame pelo nome — Serena pediu em voz mal perceptível.

Darien teve vontade de gritar, de sacudi-la pelos ombros e fazê-la entender o que ele próprio não compreendia. Não fez nada disso, apenas anuiu.

-# Eu a verei dentro de duas semanas.

-# Espero que sim — disse, desviando o olhar.

-# Até breve...

-# Com a cor verde é possível fazer muitas coisas — Hotaru afirmou ao dedilhar as cortinas franjadas no salão oeste. — E verde fica muito bem em você.

-# Não vou vestir cortinas — Serena retrucou.

-# Eu sei, mas todas as mulheres querem ficar com boa aparência na própria sala de estar.

-# Ora, isso é irrelevante.

-# Chega. Se não quer o meu conselho, não deveria ter me convidado. —A amiga sorriu com naturalidade. — Mas fiquei muito feliz com o convite. Tenho sentido a sua falta. Haverbreaks está. cada vez mais enfadonho. Imagine que Moly Bennet continua me visitando.

-# Ah, que horror!

-# Fiquei até tentada a aceitar um dos convites dela por puro tédio.

-

# Não faça isso, Hotaru.

-# Não acredito que ainda guarde mágoa por causa do incidente ocorrido no meu décimo primeiro aniversário.

-# Só um pouquinho — respondeu, aproximando o polegar do indicador.

-# Esqueça isso. Afinal, você conseguiu fisgar Darien e bem debaixo do nariz de todas nós. — Hotaru ainda não acei tara o fato de que seu irmão e sua melhor amiga tivessem namorado sem ela saber. — Por falar nisso, achei uma es tupidez ele ter ido para Londres e abandoná-la aqui.

Serena sorriu sem vontade e arrumou as pregas da saia.

-# Não foi tão ruim.

-# Ele não deveria tê-la deixado sozinha às vésperas de dar à luz.

-# Darien não me deixou. Você está aqui, não está?

-# Sim, e eu poderia ficar até o bebê nascer, mas mamãe acha que seria uma atitude imprópria para uma moça sol teira.

-# Pois eu creio que seria ótimo. Daqui a alguns anos você terá de enfrentar a mesma situação.

-# Bem, primeiro terei de arranjar marido — lembrou pesarosa.

-# Não vejo nenhum problema nisso. Quantos pedidos já recebeu este ano? Seis?

-# Oito.

-# Então você não tem do que se queixar.

-# Não estou... Oh, não importa. Mamãe deu permissão para eu ficar em Rosedale, mas não sozinha.

-# As cortinas — Serena mudou de assunto.

-# Ah, sim. — A amiga animou-se de novo. — Se os esto fados forem verdes, as cortinas podem ser em cor contras tante ou também em tonalidade mais clara.

Serena sorriu, aprovando, mas sua mente estava longe. Em Londres, mais precisamente. Pensava em Darien todos os minutos do dia. Se conversava com a governanta, via o sorriso do marido diante dos olhos. Não conseguia terminar de ler o livro por escutar o som de suas risadas. E à noite, quase adormecida, experimentava a sensação de um beijo leve nos lábios e perdia o sono, ansiosa pelo calor daquele corpo másculo e tão viril.

-# Serena? Serena! — Impaciente, Hotaru repetiu.

-# O quê? Ah, perdão, Serena. Eu estava divagando.

-# Eu percebi.

-# Na verdade, ando muito sentimental. Deve ser por cau sa do bebê. — Dentro de dois meses a criança não serviria mais de desculpa para esses lapsos momentâneos de concen tração, tampouco para o suspiro profundo que acabara de dar. — O que queria me dizer?

-# Apenas que se o verde não lhe agrada, poderíamos mu dar a decoração da sala e usar tons de rosa-escuro. Seria o salão rosa, muito adequado para Rosedale.

-# Não acha que seria feminino demais? Darien também usa muito esta sala.

-# Bem, então temos um problema.

Serena só percebeu que fechara as mãos em punho quan do sentiu a dor das unhas nas palmas. Era estranho que a simples menção do nome do marido a deixasse com vontade de chorar.

-# No entanto eu sempre gostei de rosa-escuro...

-# Tem certeza? — Foi a vez de Hotaru duvidar. — Darien...

-# Se ele não gostar, o problema será dele. — A veemência da cunhada fez Hotaru arquear as sobrancelhas. — Se ele pretendia dar um palpite na decoração, não deveria ter ido para Londres.

-# Não precisa ser tão contundente — disse, procurando acalmá-la. — Darien também deve estar com saudade.

-# Que nada. Provavelmente, seu irmão nem pensou em mim.

Darien sentia-se acossado por Serena.

Pensara que passar depois de quatro dias intermináveis dentro de uma carruagem fechada seria capaz de afastá-la de sua mente. Ainda mais em Londres, com todas as diver sões que a cidade proporcionava.

Ledo engano.

A última conversa não lhe saía da mente e sempre lhe ocorria o que deveria ter acrescentado ao diálogo deles. Nisso a memória se desfazia e restava apenas a imagem daqueles imensos e tristes olhos castanhos.

Sentia culpa, e essa era uma emoção que ferroava, quei mava e estrangulava. A raiva seria muito mais precisa e simples de diagnosticar.

Era o que experimentara por Rey e pelos homens com quem ela havia se relacionado.

O remorso era outra coisa bem diferente e seria impossível viver com aquele sentimento. Teriam de voltar a ser felizes como antes. Serena também se mostrara satisfeita, embora se queixasse de suas falhas.

Darien jurou que faria a felicidade da esposa. Se ela acei tasse a afeição que ele era capaz de lhe dar, poderiam voltar à existência satisfatória que tinham antes. Serena teria o bebê e eles formariam uma família. Faria amor com ela de todas as maneiras, inclusive com as mãos e os lábios. Exceto com as palavras. Ele já a conquistara uma vez. Poderia re petir a dose.

Duas semanas mais tarde, sentada no novo salão rosa, Serena tentava ler um livro, mas olhava pela janela a maior parte do tempo. Darien tinha mandado avisar que chegaria naquele dia, e a cada ruído que lembrava a apro ximação de uma carruagem, seu coração disparava.

O sol já se escondera no horizonte e ela não havia conse guido ler uma página do livro. Preocupada, uma criada trou xe o jantar, mas a sopa ficou intacta. Serena acabou por adormecer no sofá.

Algumas horas depois, ela não escutou o barulho dos cas cos nem das rodas. Cansado da viagem, Darien apeou do coche, ansioso para ver Serena. Pegou uma sacola de mão, um pacote feito com capricho e deixou o restante da bagagem no veículo para os criados transportarem. Olhou para cima e não viu luzes em seus aposentos. Esperava que ela não estivesse dormindo. Não teria coragem de acordá-la, mas queria conversar e reparar seus erros.

Subiu os degraus e tentou tirar a lama das botas. O mordomo, que o aguardava com ansiedade semelhante á de Serena, abriu a porta antes de ele bater.

-# Boa noite, Brearley — Darien cumprimentou-o, afável.

-# Fico feliz em ser o primeiro a desejar-lhe as boas-vin das, milorde.

-# Obrigado. Minha esposa ainda está acordada?

-# Encontra-se no salão rosa, milorde. Lendo, eu suponho. Darien tirou o casaco e piscou atônito.

-# Brearley, não temos nenhum salão rosa.

-# Não tínhamos. Trata-se do antigo salão oeste, milorde.

-# Ah, então foi redecorado. Isso é ótimo. Quero que ela pense em Rosedale como seu lar.

-# Assim como todos nós, milorde.

Serena conseguira angariar a lealdade da equipe de auxiliares, e as criadas a idolatravam.

-# Farei uma surpresa a ela.

Atravessou o saguão e virou à direita na direção do antigo salão oeste. Pela porta entreaberta via-se o tremeluzir de uma vela. Teria de lembrar Serena que ler com pouca lu minosidade era prejudicial.

Empurrou a porta e espiou. Deitada no sofá, ela dormia com um livro sobre a barriga. Na mesa lateral, a refeição não terminada. A inocência adorável da esposa fez seu co ração ficar angustiado. Sentira falta de Serena e pensara nela, e na despedida infeliz, em todos os minutos do dia. Mas até ali não havia entendido a profundeza e o poder daquele sentimento.

Embora não lhe agradasse acordá-la, teria de fazê-lo, a não ser que a deixasse dormir ali. O que seria uma incoe rência.

Aproximou-se do sofá, empurrou a bandeja para o lado e sentou-se na beira da mesa, deixando o pacote no colo.

-# Acorde, minha queri... — Lembrou-se de que Serena pedira para ele não usar mais termos afetuosos. — Acorde, Serena.

Ela piscou.

-# Darien? — falou com voz sonolenta.

-# Olá, querida. — Problema dela se não gostasse. Ele não deixaria de usar apelidos carinhosos.

-# Eu quase havia desistido de esperá-lo — ela contou, depois de um longo bocejo.

-# Eu disse que chegaria hoje.

-# Mas as estradas...

Ainda não totalmente acordada, Serena não lembrava da raiva que sentia do marido.

-# Não estavam tão ruins. — Darien sorriu e acariciou-a na face. — Senti sua falta.

Novo bocejo a acometeu.

-# E mesmo?

-# Muita. E você?

De nada adiantaria mentir. Darien sabia que ela o amava.

-# Eu... também. Tudo transcorreu de acordo com o espe rado em Londres? — ela perguntou com cortesia.

-# Eu preferia que você tivesse me acompanhado. — A declaração foi feita com excesso de formalidade. — Passou bem durante a minha ausência?

-# Hotaru ficou alguns dias aqui.

-# Que ótimo.

-# Além disso, tive tempo para pensar.

-# Entendo... — Darien disse depois de um longo silêncio. Deixou o pacote de lado, levantou-se e foi até perto do castiçal onde cintilava a vela solitária. — Está muito escuro aqui. — Tomando uma vela, acendeu as outras.

-# Eu adormeci ao entardecer.

Parecia haver um acordo tácito entre ambos para manter o ambiente civilizado e cordial, mas sempre evitando a rea lidade.

-# É mesmo? Agora escurece cedo. Você devia estar muito cansada.

-# É exaustivo carregar outra pessoa na barriga.

Darien sorriu, finalmente.

-# Não será por muito tempo.

-#Não. E eu desejo que o último mês seja o mais prazeroso possível.

Aquelas palavras não eram inocentes.

-# O que está pretendendo dizer? — indagou ele com se riedade.

Ela desejou estar em pé, com as mãos na cintura ou com os braços cruzados, qualquer coisa diferente da posição vul nerável em que se encontrava, deitada no sofá.

-# Bem... não posso continuar a viver como antes.

-# Achei que éramos felizes.

-# Éramos... Eu era... Isto é, eu não era.

-# Ou uma coisa, ou outra, querida.

-# As duas. Será que não entende?

-# Percebo que não.

-# Não sei o que deseja que eu faça — Darien desconver sou, e ambos sabiam que se tratava de uma mentira.

-# Darien, preciso saber o que represento na sua vida.

-# Deus do céu, Serena! — Ele parecia descrente. — Você é minha mulher! O que mais lhe interessa saber?

-# O óbvio, Darien. Se você me ama ou não! — Serena levantou-se, desajeitada.

-# O que está querendo dizer com essa conversa sem sen tido? — exigiu ele, com os músculos do rosto contraídos.

-# Preciso saber a verdade a respeito dos seus sentimen tos. Se você não... — Serena fechou os olhos e apertou as mãos, procurando palavras corretas para se expressar. — Não importa se você não me ama, mas é essencial que eu saiba a verdade.

-# Não posso acreditar no que estou ouvindo. — Exaspe rado, ele passou os dedos nos cabelos. — Eu vivo repetindo que te adoro.

-# Não é o que o ouvi dizer. Você afirma que adora estar casado comigo.

-# E qual é a diferença? — ele indagou, animado.

-# Pode ser que lhe agrade uma situação matrimonial bem consolidada.

-# Depois do que houve com Rey? — Darien se irritou.

-# Perdão. — Serena reconheceu que errara em referir-se ao casamento anterior. — Mas há uma grande diferença — acrescentou em voz baixa. — Quero saber se você gosta de mim, e não dos bons sentimentos que eu possa lhe des pertar.

Darien apoiou as mãos no peitoril da janela e se deteve a observar a paisagem.

-# Não sei do que está falando — murmurou, dando-lhe as costas.

-# Você não quer saber e tem medo de pensar nisso. Você...

Virou-se e silenciou-a com um olhar tão duro como ela ainda não testemunhara. Nem mesmo na primeira noite em que a tinha beijado, quando estava sozinho e procurava em briagar-se após a morte de Rey.

Darien se adiantou com movimentos vagarosos de quem procurava controlar a ira.

-# Não sou um marido prepotente, mas a minha tolerância não chega a ponto de aceitar ser chamado de covarde. Por tanto, minha querida esposa, aconselho-a a escolher suas palavras com cuidado.

-# E o senhor, meu marido, deveria dosar melhor as suas atitudes. Não sou uma tolinha qualquer. — Estremeceu de indignação. — E não admito que me trate como se eu não tivesse cérebro.

-# Ora, pelo amor de Deus! Quando eu a tratei dessa ma neira? Por favor, esclareça o fato, pois estou muito curioso.

Ela começou a gaguejar, incapaz de responder pronta mente ao desafio.

-# Para começar, não gosto que se dirijam a mim com superioridade.

-# Então será melhor não me provocar — advertiu-a com escárnio.

-# Não acredito no que estou ouvindo! — Serena avançou com olhar ameaçador. — É você quem me insulta o tempo todo.

-# Eu não fiz nada disso. Em um minuto penso que esta mos maravilhosamente felizes juntos, e no seguinte você me acusa de sei lá quantos crimes hediondos e...

Interrompeu-se ao sentir um beliscão no braço.

-# Você pensou que éramos muito felizes? — ela sussurrou.

Darien fitou-a, verdadeiramente surpreso.

-# Claro que sim. Digo isso o tempo inteiro — ele insistiu, revirando os olhos. — Ah, é verdade. Tudo o que eu disse, tudo o que tenho feito... nada tem significado. Você não quer saber se estou feliz a seu lado, mas está obstinada em des vendar os meus sentimentos.

-# E seria muito difícil nomeá-los?

A pergunta teve o efeito de um choque. Toda a energia se esvaiu e as palavras irônicas desapareceram, deixando-o imóvel, sem dizer nada, como se estivesse diante de uma aparição.

-# Serena, eu... eu...

-# Você o quê? O que está pretendendo me dizer?

-# Por Deus, isso não é justo!

-# Você é incapaz de dizer o que desejo ouvir — alegou ela, apavorada.

Até o momento, imaginara que o marido, embora com o coração empedernido pelo sofrimento anterior, acabaria por entender que a amava. E essa esperança ínfima se desfez numa fração de segundo, dilacerando sua alma.

-# Meu Deus, uma mentira não deve ser mesmo dita.

Darien comprovou o vazio no olhar da esposa e entendeu que a havia perdido.

-# Eu não queria fazê-la sofrer — declarou de maneira pouco convincente.

-# Tarde demais para lamentar... — disse ela caminhando devagar até a porta.

-# Espere!

Ela se deteve e se virou.

-# Eu lhe trouxe isto — ele comentou, estendendo o pacote que havia trazido.

Serena segurou o embrulho e, enquanto Darien saía da sala, desatou o papel do presente com mãos trêmulas. Le Morte d'Arthur, o livro que ela tanto cobiçara na livraria dos homens.

-# Ah, meu amor — falou para si mesma —, por que agiu com tanta gentileza? Por que não permitiu que eu continuas se a odiá-lo?

Horas depois, limpando o livro com um lenço, desejou que as lágrimas não tivessem arruinado para sempre a linda capa do volume.

7 de junho de 1820,

Lady Rudland e Hotaru chegaram hoje para esperar o nascimento do herdeiro, como o clã dos Bevelstoke diz. O médico é de opinião que o parto não acontecerá antes de um mês, mas lady Rudland afirmou que não preten dia arriscar-se.

Certamente não lhes passou despercebido que Darien e eu não estamos mais no mesmo quarto, embora não seja incomum casais ocuparem aposentos diferentes. Porém elas devem ter suposto uma separação, pois da última vez em que as duas estiveram aqui, Darien e eu dormíamos juntos. Há duas semanas levei meus per tences para outro cômodo.

Minha cama é fria e odeio deitar-me nela.

Nem mesmo estou animada pelo nascimento de meu filho.


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