Uma parte do meu problema já havia sido resolvido no dia anterior. Agora eu deveria encará-lo, de novo, para que eu não brigasse mais com Percy. 

Antes de o ensaio começar, chamei Jason. Ele parecia achar engraçado o fato de eu estar querendo conversar com ele a sós, e provavelmente estaria achando que eu gostava dele, por isso foi direto ao ponto. 

-Por favor, Jason, não faça nenhuma gracinha hoje, está bem?

Ele franziu a sobrancelha. 

-Que tipo de gracinha?

-Qualquer uma. Lembre-se: só estou perto de você porque isso vale a minha nota. Não é porque você é a minha alma gêmea na peça que você é a minha na vida real. 

Ele não pareceu afetado.

-Você está me dando mole, e é eu quem tenho que parar? - então ele sorriu. - Não venha com essa conversa, Annabeth. Você sabe que o Percy não é pra você. 

-E eu não sou pra você, Jason. Suas chances são mínimas porque garotos como você não são o meu tipo. Só entenda, tá?

Ele deu de ombros e saiu. Era obvio que ele não tinha entendido mais o aviso já tinha sido dado. Eu me recusava á deixar minha bondade escassa fazer Percy ficar bravo comigo outra vez - ou com ciúmes. 

Voltei para perto deles. Bianca treinava animadamente com Piper, o que não me fez gostar muito, porque eu já tinha que aceitar o fato do meu namorado ter que correr atrás dela na peça. 

"Maldita Jane Austen!", eu pensei. 

Todos se sentaram em seus lugares e começamos á nos preparar para a peça. Ninguém conseguia falar sem gaguejar, ou coisa parecida, o que era engraçado, pelo fato de que nós teríamos que apresentar para várias séries. 

No meu ato, tudo ocorreu perfeitamente. Jason não ficou indiferente e nem nada, mas eu sim, então depois de algumas falas ele respeitou o meu espaço. 

Mas acho que a cena final foi a mais difícil de ver. Percy estava andando com Piper para lá e para cá, e ele faz o segundo pedido de casamento. Então, a desgraçada faz o mais ridículo de tudo: dá um selinho nele. 

Bianca correu para o meu lado, da mesma hora, antes que eu pudesse dar mais passos do que eu já tinha dado. Como a Piper ousava? Percy era meu namorado. E nem ao menos a peça fala sobre algum beijo! 

Terminou a peça. Todo mundo voltou para o seu lugar, na platéia, cansado, esperando que a professora dissesse o que precisava melhorar e cortar. Percy veio sentar do meu lado, mas eu não consegui olhar para ele. Aquela cena ridícula ficava rodando e rodando na minha cabeça. Eu estava, definitivamente, me corroendo de ciúmes. E eu queria bater na Piper. 

Fomos liberados mais cedo pois a professora precisava fazer uns reajustes. No final ela disse: beijos são desnecessários, gente. Tive a impressão de que Percy olhou para mim nessa hora, mas eu continuei com a expressão neutra. Eu aposto que ele nem iria pedir desculpas. 

-Ei, Bianca - eu chamei ela. Ela veio correndo em minha direção, e, antes que Percy pudesse se juntar á mim, saí com ela. 

-Eu não acredito que aquilo mesmo aconteceu - ela disse, antes que eu dissesse qualquer coisa. 

-Nem eu! O que eu faço? 

-Espera ele te pedir desculpas. Se ele não o fizer, você conversa com ele. Só tenta não ficar com raiva, tá?

Assenti com a cabeça. Como não ficar com raiva?

Enquanto eu pegava minha bolsa, uma coisa começou á ecoar em minha mente. Aquilo que a Rachel falou, na cafeteria. O que aquilo significava, mesmo? 

Eu sabia que não podia dar muita confiança, mas o que eu poderia fazer? Eu estava desolada e com ciúmes. E esperava desesperadamente que Percy pedisse desculpas antes que eu colocasse na minha cabeça que ele não se importava. 

"Espero que você goste de ser traída, Annabeth."

Senti um arrepio. Percy veio até mim. 

-Sobre aquilo... - ele parou e olhou para mim. 

-Sim? - eu perguntei, tentando manter a calma. 

-Eu não queria que acontecesse. Sinto muito - ele disse, um pouco frustrado. 

-Ah, sim. - eu concordei. - Mas se eu preciso ser indiferente com Jason, você poderia fazer o mesmo, né? Porque acho que desse jeito nosso relacionamento nunca vai pra frente. 

Me arrependi de dizer aquilo na hora. Ele poderia ter várias reações: concordar, brigar comigo, terminar tudo. 

-Desculpe - eu sussurrei. - Você deve saber o que eu estou sentindo agora, né?

Ele concordou. Por um momento, sua expressão adquiriu certa tristeza, mas logo ela voltou ao normal. Ele pegou minhas mãos e olhou diretamente nos meus olhos. Uau. Até brava com ele eu me sentia contente. Ele se importava. 

-Eu sinto muito, muito mesmo - ele disse. - Faço qualquer coisa pra te deixar bem de novo. 

Eu dei um beijo em seu rosto. 

-Tudo bem.

-Tem certeza?

-Absoluta. 

Então eu abracei ele, bem forte. Eu estava insegura demais, deveria parar com isso. Ele era meu, né? E Piper poderia ter as fantasias dela pois nunca passaria disso. 

Nós fomos para a minha casa. Fizemos todos os nossos afazeres (cuidar do jardim, dar os remédios pra minha vó, etc.) e fomos para a casa de madeira. 

Seria uma ótima tarde pra ficar lá. Quero dizer, com tantos problemas acontecendo e o meu relacionamento desandando... Um pouco de paz até que ia bem.

Comemos alguns biscoitos e nadamos naquele lago. Ele não era profundo, vinha até os meus ombos, então deu até pra aproveitar. Era como se Percy não fosse mais o meu namorado, mas sim o meu melhor amigo de antes. 

E eu gostava desses dois lados dele. Ser meu namorado e o meu amigo. 

Eu sabia que aquele lugar era o nosso lugar. Onde aconteceu nosso primeiro beijo, onde ele me levou quando começou á confiar em mim. 

A casa de madeira tinha algo muito especial. Força dos deuses? magia? Mil possibilidades. Ou fosse só a gente mesmo, que fazia tudo aquilo tão especial e bom.