~Ato II - Sentimentos - 1º Capítulo

[...]

Essas feridas parecem não cicatrizar

Essa dor é tão real

Há tantas coisas que o tempo não pode apagar

[...]

–Evanescence [My Immortal]

A rosada desceu correndo as escadas da casa pulando pelo ultimo degrau indo direito à cozinha, pegou uma maçã e rumou para a porta da frente.

–Sakura, querida, onde vai? - perguntou a mais velha tentando acompanhar os passos da sobrinha.

–Vou na casa do Sasuke-kun. - falou ela saindo pela porta e correndo rua à fora. A loira riu alegremente de sua sobrinha voltando, em seguida, a sua leitura.

Desde a descoberta de sua Amnésia, Sasuke e Sakura se aproximaram muito, o suficiente para se considerarem grandes amigos. Pelo que parece, todo fim de semana, Sakura vai a casa de Sasuke para estudarem e, também, conversarem.

A Haruno chegou frente a enorme casa dos Uchihas, bateu duas vezes na porta sendo recebida pela senhora Uchiha: Mikoto.

–Bom dia, Mikoto-dono. - disse a mais nova recebendo um meigo sorriso da morena.

–Bom dia, Sakura-chan. O Sasuke está lá em cima, pode subir. - Sakura fez reverencia e subiu ao quarto dele. Bateu duas vezes a abrindo e encontrando o moreno deitado debruço com os fones de ouvido no máximo.

Ela sorriu graciosamente fechando a porta atrás de si delicadamente, andou a passos leves pulando em cima dele dando-lhe um susto o fazendo pular e arrancar os fones.

Ao vê-la sorriu.

–Sakura, que susto. - indagou ele segurando os braços dela que agarravam seu pescoço. A Haruno riu.

–Desculpe, mas você estava tão avoado que eu precisava te dar aquele susto. - afirmou a rosada sorrindo tímida. O moreno dá de ombros sentando-se ao lado dela lhe dando um beijo na bochecha.

–Vamos começar então? - perguntou Sasuke levantando-se e pegando seu fichário em cima do raque. A rosada assenti abrindo sua bolsa transversal retirando seu fichário rosa, debruçou ao chão abrindo-o na lição de física.

O Uchiha fez o mesmo ficando de frente a ela começando os estudos normalmente. Aquilo já havia virado rotina, mesmo que ter uma garota em seu quarto sem ter segundas intenções ainda era, para ele, difícil.

Porém, como ambos nutriam de uma amizade recente, mas forte, nunca poderia pensar nela dessa forma e, por isso, afastava todos e quaisquer pensamentos para com a Haruno. Suspirou alto antes de pegar em seu lápis e começar a escrever.

A rosada olhou-o com um sorriso bobo antes e voltar a escrever.

Passaram-se cerca de uma hora com ambos estudando e trocando conversas alheias ao assunto, e, assim, desceram para a cozinha pegar algo para comer já que eram quatro horas da tarde.

Sentaram-se na ilhota existente na cozinha forrada de mármore negro e brilhoso destacado pelo inox espalhado por ela. A Haruno mordeu um pedaço da torrada antes de se virar a Sasuke e começar algum assunto.

–Sabe, eu soube que vocês fizeram uma peça de teatro no final do ano passado como despedida do fundamental. - comentou ela fazendo o moreno arquear a sobrancelha.

–E? - disse o rapaz em sua frieza de sempre, algo que a Haruno já havia acostumado.

–Como é encenar uma peça? - perguntou ela enquanto viajava nas várias hipóteses que rondavam sua mente. Desde musicais igual ao dos filmes, até peças chorosas e emocionantes. O rapaz deu de ombros.

–Uma chatice. - falou ele tomando um gole de seu suco. - Além de decorar falas sem graças, tem de se vestir estranho e ainda encenar. - concluiu ele vendo o sorriso dela desfalecer.

Ele desvia o olhar enquanto a mesma encara suas pernas. Havia sido desiludida, como em muitas outras conversas com ele.

–Olha, eu não gosto, mas não quer dizer que para você não seja algo divertido. Ok? - indagou ele por fim tentando converter o que dissera. Não sabia ser delicado com as palavras, ainda mais com uma garota de tamanha inocência.

Sakura somente sorriu.

–Não se preocupe com isso. - assim, voltou a comer sua torrada enquanto fitava as orbes ônix do rapaz desviando o olhar logo em seguida. Segurou as bordas da baqueta e deu uma rodopiada sorrindo feito uma criança com um brinquedo novo.

O moreno somente a olhava com um sorriso de canto. Ela era linda, não podia negar, e também não poderia insistir em nada, ela era ingênua, inocente, frágil e, de certo modo, doente.

Sempre que se pegava pensando nisso achava mil e uma possibilidades de rebatê-las. Sua consciência o impedia de qualquer que fosse o pensamento, a visão, o desejo que pudesse sentir para com a amiga.

Ele sempre foi um galanteador, tendo todas as meninas em suas mãos em um simples estalar de dedos. Mas com ela era diferente, não acontecia isso, e nem deixaria acontecer. Sentia-se atraído por ela, como se sentia por qualquer outra garota, e estava convicto de que passaria como de todas as outras passaram.

Por isso a fez parar de rodopiar na banqueta, já que estava com um vestido branco rodado; depois de comerem foram ver televisão. Ela não ficava muito, dando 6 horas ela voltava à sua casa para não ficar tão tarde. Sasuke sempre insistia em levá-la, mas ela sempre negava dizendo que queria fazer as coisas por contas própria.

Não negaria.

Fazia, no máximo, dois meses que ela havia entrado na sua escola, e nesse meio tempo ela aprendeu a fazer diversas coisas que não deixavam-na fazer no hospital. Aquilo foi, de fato, uma vitória da Haruno.

Ela chega em casa subindo diretamente para seu quarto, jogou sua bolsa em qualquer lugar deitando em sua cama de barriga para cima. fechou os olhos e mergulhou no mundo dos sonhos.

*~*~*~*

–SAKURA! - gritou Ino quando a mesma passa pelo portão da escola, acompanhada de Sasuke. A Haruno sorriu indo a seu encontro.

–Vocês demoraram muito. - resmungou Temari desencostando da árvore e pegando sua mochila.

–Desculpem, eu perdi a hora. - afirmou Sakura tirando um riso de ambas loiras. Assim, os quatro foram para suas respectivas salas onde o professor já residia.

A aula passou rápida, já que aquela sala não levava a sério o ato de ''estudar''; logo o professor desistia de falar e deixava a sala reinar no ambiente. Ino se virou para a mesa da rosada com um sorriso malicioso nos lábios.

–Eae? Como foi esse fim de semana na companhia do Sasuke? - perguntou a Yamanaka imaginando mil e uma coisas que se pudessem fazer sozinhos na casa; isso porque não sabia da existência de Mikoto e vários empregados.

–Normal, Ino. Estudamos, conversamos, comemos... - falou a Haruno sorridente.

–Comeram é? - replicou ela sorrindo maldosamente. Hinata revirou os olhos dando um tapa na amiga.

–Você não presta, Ino. - disse a azulada agachando-se ao lado da mesa da Sakura.

–Por que não? Foi uma pergunta inocente! - vociferou ela tirando um riso cínico de Hinata.

–Inocente? Você? - indagou ela fazendo a loira bufar em desagrado.

A rosada somente ria das duas, mesmo não sabendo o motivo da ira da amiga. A aula terminou e todos saíram da sala rumo ao jardim. As três sentaram-se na mesa costumeira enquanto conversavam/discutiam sobre a falsa inocência da Yamanaka.

–Não tente me enganar, eu conheço muito bem a peça. - criticou Hinata ainda presa ao mesmo assunto de antes.

–Olha, a gente pode se conhecer faz tempo, mas não é sempre que eu falo as coisas com malícia. - retruca ela indignada com a falta de confiança da amiga consigo.

–Jura é?

–Palavra de escoteira! - falou ela colocando uma mão no peito e a outra erguendo. A Hyuga arqueia a sobrancelha.

–Você nunca foi escoteira. - grunhiu ela fazendo a loira dar de ombros.

–Tem uma primeira vez para tudo. - disse Ino observando o resto do pessoal chegar.

–Nossa, ainda estão discutindo? - perguntou Tenten encarando a face irritada de Hinata.

–Lógico, ela fica falando que eu sou maliciosa. - emburrou-se Ino.

–Mas você é! - falaram todos em uníssono.

–Você e a Temari. - afirmou Gaara.

–Eu o que? - Perguntou a mais velha sentando-se a mesa junto de Shikamaru.

–Você é maliciosa. - falou Ino enquanto tentava se safar da discussão com Hinata iniciando uma com Temari. A loira arqueia a sobrancelha.

–Não sou maliciosa, já passei desse nível faz tempo. - falou ela abrindo um sorriso cômico fazendo os rapazes rolarem os olhos.

–Que conversa mais sem sentido. - resmungou Neji encarando Hinata que somente fuzilava a Ino de canto de olho.

–Concordo plenamente. - disse Gaara apoiando-se em seu braço sobre a mesa.

–Vamos falar de algo mais útil como... - pensou Ino voltando ao assunto polêmico. -... as visitinhas da Sakura à casa do Emo-kun. - falou ela fazendo todos fitarem Sasuke ameaçadoramente.

–Olha lá o que você faz em, ela é uma criança. - rosnou Gaara recebendo um olhar gélido do moreno.

–Isso mesmo Sasuke, ela é nossa princesinha. - zombou Temari louca para ver o Uchiha explodir.

–Do que vocês estão falando? - perguntou Sakura pela primeira vez tirando alguns risos pela mesa.

–Nada minha linda bonequinha, conversa de pervertidos. - brincou Temari fazendo a rosada tombar a cabeça para o lado em dúvida.

–São um bando de idiotas, isso sim. - vociferou Sasuke suspirando.

–Ok, ok, eu havia me esquecido que você é um anjo.

–É, só se for um anjo com tridente e cauda. - zomba Shikamaru com a voz abafada pelo sono. Todos riem.

–Você só acorda pra isso! - resmungou baixo o moreno cruzando os braços na altura de seu peitoral.

–Bom, fora isso, vocês souberam que a diretora quer fazer um show para comemorar os 30 anos da escola? - Disse Ino entusiasmada.

–Eu soube, mas o que eu queria saber mesmo é como a escola pode ter 30 anos se ela aparenta ter mais ou menos isso? - pergunta-se Tenten em voz alta.

–Plásticas e silicone minha cara. - zombou Temari tapando a boca logo em seguida. Haviam se esquecido de Sakura.

–Como assim? - falou Sakura com a curiosidade em alta.

–Nada não. Só uma brincadeirinha nossa. - reverteu Hinata encarando Temari ameaçadoramente.

–Voltando, acho que será Teatro e música. Sempre é isso. - falou Gaara. Todos ali resmungaram.

–Teatro não. Pelo amor de Deus. - gritou Ino ao vento.

–Por que não? Parece ser tão divertido. - pronunciou Sakura empolgada com a ideia.

–Depende muito da peça, Sakura. - falou Neji.

–Isso mesmo, as vezes eles nos colocam para fazer coisas idiotas como: Romeu e Julieta, A Bela e a Fera, Hamlet... - falava Ino em tom de desagrado.

–Mas essas peças são lindas, Ino-chan. - disse Sakura com os olhos radiantes. - Poder colocar aqueles vestidos, encenar uma cena romântica... - iludia-se a rosada.

–Bom, se for teatro mesmo, eu faço com você Saky - indagou Gaara fazendo o sorriso da rosada aumentar.

–Sério? - o ruivo assenti. Sasuke olha-os desgostoso.

–Bom, se os dois vão, porque não né? - falou Ino meio corada olhando, de canto de olho, o ruivo. Suas intenções eram outras.

Temari e Tenten suspiram assentindo a ideia. A loira cutucou o Shikamaru que a olha e, logo após, aquiesceu. Os outros ainda ponderavam.

–A gente nem sabe se vai ser isso mesmo. Qual o problema em nos comprometermos? - disse Neji confirmando-se.

Hinata somente assentiu para a rosada enquanto todos encaravam o moreno. Ele suspirou pesado fitando a rosada nos olhos. Ela sabia que ele odiava teatro.

–S-Se você não quiser não precisa, eu sei que você não gosta. - murmurou Sakura com medo do amigo ficar com raiva de si. Ela somente fecha os olhos e assenti.

Assim, todos acabaram comprometendo-se com um suposto teatro.

O resto do dia passou, dando o horário da saída e o grupo dispersar-se pelas ruas da cidade.

*~*~*~*

–AINDA NÃO ACREDITO NISSO! - gritava Karin no pequeno beco atrás da escola junto de sua amiga.

–Calma, Karin. - falou Taiuya irritada com a barulheira que a ruiva fazia.

–CALMA? COMO EU POSSO TER CALMA? - vociferou a Uzumaki revoltada.

–Então, ao menos, abaixe o tom da voz. - criticou Taiuya massageando as têmporas. Karin respirou fundo e voltou a sibilar.

–Pois bem, vou falar mais baixo, eu odeio a Haruno. Odeio, odeio, odeio, odeiooooo! - resmungou ela dando pequenos pulinhos no lugar.

–Não há o que fazer, todos já perceberam que Sasuke tem uma quedinha por ela. - afirmou Taiuya desinteressadamente.

–Eu sei disso. Mano, ela já tinha conseguido roubar meu primo de mim e, agora, vai tentar roubar o homem por quem estou apaixonada? - indignou-se a ruiva andando em círculos no mesmo lugar.

–Ela é bonita. E agora que está toda inoscentezinha todos se acercaram a ela. - balbuciou a outra enquanto recostava na parede úmida e carcomida.

–Por isso que eu tenho uma ideia.

–Ah não! Outra? - resmungou Taiuya.

–Sim, outra. E dessa vez não podemos falhar.

–Se você diz. Posso ir para casa agora? - falou a amiga que somente irritava-se com a obsessão de Karin. Isso acontecia desde que conhecera Sakura aos 7 anos.

–Vai, vai.

Assim, ambas saíram do pequeno beco iniciando mais um de seus planos, desta vez sem falhas.

Será?