Vivo Por Ela escrita por MayLiam


Capítulo 5
Os olhos azuis


Notas iniciais do capítulo

Não pude postar ontem por conta da minha net revoltada, mas está aí e mais tarde postarei ELE II. Boa leitura!



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Acordo me sentindo cansada, minha mente está nublada com lampejos de conversas e imagens. Me prendo a imagem de um homem a minha frente.

-Elena? – reconheço a voz e minha vista ajusta-se.

-Stefan... O que...? Onde estou? – me mecho e meu corpo inteiro doi.

-Fique calma. – ele pede me fazendo repousar outra vez nas almofadas - Você sofreu um acidente, caiu no lago, ficou dias com muita febre e desacordada. Como está se sentindo? – estou confusa demais, minha cabeça doi.

-Você disse que eu caí no lago? – pergunto atordoada, e devagar sento na cama e me acomodo nas almofadas, estou sem forças.

-Sim. – diz simplesmente.

-E como...? – ele abre a boca pra responder, mas Sage faz por ele, nem havia a notado lá.

-O Kol, viu a senhorita cair e a tirou do lago. – diz meio inquieta, Stefan a olha enigmático e depois olha para mim.

-Quer alguma coisa? Senti fome? – nego, estou me sentindo muito enjoada.

-Eu preparei uma sopa, tente ao menos tomá-la senhorita Gilbert, foi recomendação do médico, fará bem, precisa estar forte. Passou muitos dias com febre alta e tosse, ainda inspira cuidados. – Sage diz em tom maternal e Stefan sorri compassivo para mim.

-Ao menos tente. – ele pede e assinto, ele acena para Sage que se retira.

-Como você soube?

-Recebi um telegrama de Damon – ouvir o nome me faz me remexer desconfortável. – Ele andou preocupado com você. Queixou-se muito do seu senso de perigo, cair num lago. – ele sorri, Stefan sempre acha graça do mau humor do irmão.

-Certamente acha que fiz de propósito pra chamar a atenção, como se ele fosse assim tão indispensável. – minha voz sai ríspida, embora fraca e Stefan abafa seu riso. – A quanto tempo está aqui? Ou melhor, a quanto tempo estou desacordada? Não me lembro.

-Recebi o telegrama do Damon a três dias. Faz uns cinco que está assim. – minha boca abre.

-Não lembro de nada. Apenas... – oh não!

-O que foi? Senti algo? – ele pergunta ao ver minha mão pressionada compra meu colo.

-Meu camafeu. – ofego e ele não entende nada. – O camafeu de minha mãe, que papai me deu, eu perdi no lago, por isso voltei, ele caiu e eu, eu o vi no gelo, deve ter caído quando escorreguei, eu voltei pra procurar. Oh Stefan o camafeu, meu camafeu... -  minha respiração se agita e eu começo a tossir, meu peito doi a cada tosse.

-Ei, ei, ei... Não pode se agitar. O médico disse que você tem que se fortalecer, o frio daqui já não lhe faz bem Elena. – ele me abraça e me aconchego em seus braços. – Sinto muito pelo seu camafeu, talvez dê pra achá-lo quando toda esta neve baixar, o lago não é tão grande assim. – o abraço mais apertado.

-É tão bom tê-lo aqui... – começo a soluçar – Stefan me leve com você, não quero ficar aqui.

-Ora Elena, eu adoraria, mas agora não posso, o médico disse que tem que repousar, está proibida de sair da cama, pegar vento e deve descansar e comer bem. Eu terei que voltar ao palácio amanhã, já estive muito tempo fora.

-Prometa ao menos que quando eu estiver melhor me levará com você, por favor, Stefan. – peço o encarando, ele corre o polegar e enxuga minhas lágrimas.

-Prometo, agora fique calma. – nesse momento Sage volta ao quarto com a sopa para mim.

-É bom comer um pouco, irá se sentir melhor. – ela diz com doçura.

-Vou deixar que coma sossegada, subirei para jantar com Damon. Sage, peça a Rebekah que leve nossos pratos. – Stefan se aproxima e me beija, depois se levanta e sai me deixando sozinha com Sage. Não estou com fome, mas tenho que comer.

...

-Você vai voltar amanhã? – pergunto a meu irmão.

-Sim. – ele diz secamente, está pensativo.

-O que foi?

-Elena...

-O que tem ela, piorou? – pergunto parando de comer.

-Não, mas... Ela está estranha. – me remexo desconfortável.

-Estranha como? – ele reluta um pouco, depois suspira vencido, por que estou olhando pra ele com expressão de: ‘me conta’.

-Antes ela estava bem conformada com nossa distância, não via problema em ficar aqui. Mas agora...

-Agora? – tenho certeza que contribuí com algo para isso. Formidável Damon. Parabéns!

-Ela não quer ficar aqui, estava me pedindo aos prantos pra eu levá-la comigo. Eu sei que ela está doente e tudo mais, e o médico disse que ela não pode, mas ela estava tão devastada, carente, vou levá-la comigo amanhã.- quase engasgo.

-Não diga asneiras, ela não pode e você sabe. Se tirá-la daqui vai estar apenas piorando a situação. – falo limpando minha boca com o guardanapo.

-Ela está ficando deprimida Damon. Está casa é enorme, ela quase não tem companhia, quase não reconheço minha Elena cheia de vida. Vou tirar ela daqui.

-Não, você não vai. – ele me encara furioso, mas não estou nem aí, ela não pode ir embora. – Não me olhe assim, ela está doente, e tem as recomendações médicas, depois que ela estiver melhor você pode levá-la para a China se quiser irmão.

-Eu sei, eu sei. – ele suavisa. – Mas se você visse como ela estava... – e por minha culpa, maldição!

-Ela ficará bem, Sage cuida muito bem dela. Estará melhor aqui, com uma pessoa de confiança nossa, do que na corte com você, e, considerando que você vive fora, a deixaria com estranhos lá. Aqui ela está em casa. – ele pensa um pouco e me olha. – O quê?

-Você poderia conversar com ela ao menos, não a fazer se sentir sozinha.- bufo.

-Por favor, ela tem Sage, Rebekah, os outros empregados.

-Você é meu irmão, e em toda Inglaterra não há conversa mais interessante que a sua. – ele abafa um riso.

-Muito engraçado. – ele sorri ainda mais e estou sorrindo junto. – Quando parte amanhã?

-No início da tarde.

-Foi um ótimo jantar. – digo tomando meu último gole de vinho.

-Sim, foi. – sorrimos.

...

Na manhã seguinte acordei com uma sensação ruim em meu peito, e logo que meus ouvidos ajustaram-se com a realidade pude perceber a agitação ao meu redor.

-Precisamos dar um banho...

-Como ela está?

-Senhor duque, por favor, nos deixe cuidar dela...

-O que ela tem?

-Duque , por favor...

Levanto, o que está havendo?

-Rebekah! – grito, ela sequer responde. – Rebekah! – tento outra vez, mas alto e nada, coloco meu roupão, não acredito no que vou fazer outra vez, mas preciso saber o que há. Desço até o corredor e fico de frente para o quarto dela, meu irmão espera no corredor.

-Damon? – olha-me confuso.

-O quê está acontecendo?

-Elena acordou com uma recaída, a febre voltou. Sage e Rebekah estão cuidando dela.

-Mandou chamar o médico?

-Sim, mandei. – ele continua a me olhar.

- O que foi?

-Sage me disse que você havia saído do quarto, e que foi você que tirou Elena do lago, no entanto, ontem quando Elena me perguntou quem a havia ajudado, Sage não me deixou contar, falou que foi o Kol. Você pediu isso? – afirmo com a cabeça. – Não acreditei quando ela me falou, mas então eu estou o vendo aqui no corredor.

-Está casa anda muito agitada desde que sua noiva chegou, toda minha paz está abalada, ela desestruturou toda minha rotina.

-Como se  fosse um roteiro empolgante Damon. – ele revira os olhos.

-Não seja esnobe, Stefan. Sabe que gosto de meu silêncio, para pensar, ler, refletir.

-Não sei pra quê. Não tem vontade de colocar o nariz fora de casa, para que lhe serve tanta reflexão, afinal?

-Vou ignorar seu tom zombeteiro, por que sei que está preocupado com sua querida.

-Desculpe!- ele suspira e ver sua angústia me angustia.

-Ela ficará bem, o médico está a caminho e Sage está com ela. Fique tranquilo. Vou voltar para o quarto.

-Tudo bem. – suspira vencido e senta-se na poltrona mais próxima, odeio o ver desta forma. É meu irmão mais novo.

-Prometo que vou cuidar dela, não se preocupe, darei a atenção para que não se sinta tão só. – ele me olha, olhos brilhando.

-Faria isso? – dou de ombros.

-É sua noiva e você parece gostar muito dela.

-Sim, a amo. – paraliso, nunca o ouvi falar isso sobre mulher alguma antes.

-Ama? – minha voz sai mais surpresa do que eu queria.

-Sim, como nunca antes a nenhuma Damon. – engulo.

-Bem, então mais um motivo forte para que eu faça. Cuidarei dela.

-Obrigado irmão.

-Que seja Stefan. Não esqueça de subir antes de partir, quero me despedir de você. – falo e volto ao meu quarto.

Ele a ama. Nunca pensei que fosse tão forte assim. Deve ser por que é com ela. Quem não se apaixonaria por uma jovem tão vigorosa, opiniosa, bonita. A um tempo atrás Elena seria exatamente o tipo de mulher que me faria morrer de amores, mas o Damon de anos atrás já não existe, nesse Damon ela só desperta proteção e atenção, nada mais. Absolutamente nada mais.

...

O fim da tarde chegou, o médico já havia consultado Elena, Stefan já partira e Damon estava em seu quarto, lendo em sua cama, quando Rebekah entra lhe trazendo o jantar.

-Senhor duque... – diz o servindo.

-Como ela está? – a moça paralisa sempre ao ouvir o duque perguntar sobre a noiva do irmão. Suspira.

-Está com a febre mais baixa, e até conseguimos a fazer comer algo.

-Bom. Que continue assim. – diz simplesmente voltando sua atenção outra vez a leitura.

Rebekah andava a semana com questionamentos inquietos em sua mente, e finalmente, tomara coragem para buscar as respostas.

-Duque... – disse quase sem voz aproximando-se da cama.

-O que há? – pergunta Damon, revirando os olhos, por ela ter interrompido sua leitura.

-Pensei que não pudesse expor-se ao sol. – Damon olha a jovem confuso. – Estava nevando, era um denso dia de neve, mas ainda sim, dia. Lembro como nunca quando voltou do hospital e disse que não poderia sofrer sequer uma mínima exposição solar. – Damon bufa.

-Que tipo de exposição solar você espera encontrar num dia neve Rebekah? Que pergunta idiota.

-Só achei que talvez, sua fotosensibilidade não passasse de um trauma. O senhor ficou muito tempo aqui, trancado, talvez com o tempo só tenha acreditado na própria desculpa. – Damon fecha o livro impaciente.

-Não há desculpa alguma, não posso me expor ao sol e ponto final. Agora para de interromper minha leitura e volte aos seus afazeres.

-Sim, duque.

-Não quero mais ser incomodado Rebekah, retire a mesa amanhã, no café.

-Como quiser, com licença. – Rebekah suspira vencida ao fechar a porta, mas a ideia não a abandona, talvez, só talvez, o duque tenha passado tempo demais trancado e acabou acreditando que a luz o faz mal, talvez ela o pudesse mostrar que não é bem assim.

...

Os dias se passaram, e a rotina na mansão voltou ao seu curso normal, não fosse por Elena, que ainda permanecia de cama. Era uma tarde chuvosa e ela acabara de receber notícias de Stefan.

“Mais uma viagem com o rei.”

Ela pensou tristonha, não podia e nem queria sair de seu quarto, vez ou outra se repreendia, por estar tendo uma atitude semelhante a alguém que tanto detestava, mas tinha que admitir, que era uma ótima maneira de evitar aborrecimentos.

-Senhorita Gilbert... – Rebekah chama da porta e Elena acena para que entre. – O senhor duque, pediu que lhe trouxesse isso. – ela estende para Elena um pedaço de papel.

-Deixe na mesinha de canto. – ela fala em desdém.

-Ele está esperando sua resposta senhorita. – Elena suspira vencida, então pega o papel das mãos de Rebekah e encosta-se nas almofadas para ler.

“Cara senhorita Gilbert,

Devo admitir que começamos com o pé esquerdo. Se tem coisa que minha família preza são os bons costumes burgueses, e anfitrianismo é um deles. Certamente não tenho sido um bom anfitrião, mas agora tenho uma promessa a cumprir. Prometi cuidar da senhorita e protegê-la para que incidentes como o ocorrido não repitam-se. Quero, muito humildemente lhe oferecer minhas desculpas, e que por favor, se esforce para que fique bem. Meu irmão me demonstrou sentimentos nunca antes revelados a mim pela senhorita e isso me fez ver que o maior bem dele será vê-la bem. Espero que possamos estar pelo menos convivendo em harmonia, não quero que sinta-se mal nesta casa, que muito em breve chegará a ser sua também. Façamos uma trégua, em nome de nossa futura relação familiar.

Atenciosamente, D. Salvatore.”

A surpresa na face de Elena é incamuflável, ela está perplexa, atordoada e até aliviada.

-Pegue o pincel para mim senhorita Mikaelson. – Rebekah obedece, Elena apoia o papel nas almofadas e escreve uma breve resposta, devolvendo o papel para a moça.

-Obrigada senhorita. – diz saindo do quarto e deixando Elena ainda anestesiada e surpresa, certamente ela não esperava por tal bilhete, foi algo surpreendente e até mesmo confortador.

Rebekah regressa ao quarto do duque, que já a esperava, com certa ansiedade, ela apenas entregou o papel de volta e o duque abriu. E então Rebekah viu a algo que por anos não via, algo que achou que nunca mais voltaria a face do duque, um sorriso, um curto e abafado riso. Mal sabia ela que aquele riso havia sido criado por uma simples frase, uma direta e até irônica frase.

“Será um prazer, caro duque.”

...

Uma semana se passou, e desde então as correspondências entre eles continuavam, cada vez menos ofensivas, mas nunca sem deixar a ironia de lado, ambos sorriam com as retóricas do outro, ambos surpreendiam-se pela força das palavras às vezes. Elena estava terminando de ler mais um bilhete, quando Sage lhe trouxe um lanche.

-A senhorita está mais corada. Na verdade o rubor de sua pele está espantoso. – Elena mexe-se inquieta e Sage sorri, pensando que talvez o tom na pele da jovem tivesse algo a ver com o as palavras manuscritas no papel em suas mãos.

-Acho que amanhã poderei descer e fazer minhas refeições na mesa, me sinto muito melhor.

-Sim, acho que já pode descer, porém não sair. O médico mantém as recomendações de nada de friagem. – Sage tem sido uma mãe para Elena, ela adquiriu uma confiança nela.

-Sage, eu tenho tido sonhos estranhos. – Elena começa.

-Mais sonhos?

-Na verdade é sempre o mesmo. Eu já lhe falei. Os olhos, aqueles olhos azuis. – Sage engole e tenta disfarçar.

-Fale sobre o sonho. – ela pede ajeitando a badeja perto de Elena, a jovem toma um gole do chá e então começa a falar.

-Estou com frio, muito frio, meu corpo inteiro doi, e está muito molhado, estou sozinha e está escuro, acho que estou dentro do lado. Alguém pula, sei que é um homem, você disse que Kol me tirou, mas...

-Mas?

-Os olhos, aqueles olhos. São de um azul claro, mas tão profundamente escuros, cheios de segredos, mistérios e estão aflitos, temerosos, os olhos me seguram, me aquecem, eu não sinto medo, olho pra eles o máximo que posso, mas meu corpo quer ceder, me sinto cansada, não consigo ver o rosto, quero ver mas... E então eu vou afundando, um sono pesado, é aí que acordo e nada consigo ver, eles vão ficando longe e longe e então tudo fica escuro. É frustrante, não consigo ver quem é.

-Você ficou muito impressionada e passou muitos dias com febre alta, talvez ainda esteja só assustada. Agora coma, e descanse um pouco antes do jantar, vou lhe preparar um banho quente mais tarde.

Elena fica pensando, esteve pensando por dias e se perguntando o por quê de tal sonho. Mas o mais importante, de sua mente não sai a imagem daquele olhar, um olhar que conseguiu aquecer seu coração e foi de tão breve, mas tão estupidamente intenso. Ela daria qualquer coisa para ver aquele olhar novamente. Não em sonho, em sua frente. Perto, real.


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Notas finais do capítulo

Até mais tarde!