Sam me deu carona de moto pra mim voltar pra festa de Jhulie, como havia prometido a ela que voltaria. Para o meu azar, Ally estava do lado de fora quando cheguei e ela me viu descendo da moto.

_Quem era aquele? – ela me perguntou vindo até a mim.

Na hora, tudo que pensei foi em agradecer por ela não tê-lo conhecido, por causa do capacete e o escuro da noite também.

_Um amigo que me viu passando e ofereceu carona! – respondi.

_Que amigo?

_Você não conhece! – disse – E como estão as coisas por aqui? – perguntei na tentativa de mudar de assunto.

_A Debby já foi embora, ainda bem!

_Vai me contar o que aconteceu com vocês?

_Vai me contar por onde andou?

_Por que essa curiosidade agora?

_Te pergunto o mesmo!

_É diferente...

E fui me dirigindo para dentro do salão onde estava acontecendo à festa.

_Não vai me contar? – Ally insistiu vindo atrás de mim.

_Aliás, por que estava aqui fora? – perguntei tentando mudar de assunto mais uma vez.

_O Noah tava de saída... Vim acompanhá-lo!

_O Noah? Ta ficando com ele?

_Claro que não!

_Então?

_Só estava sendo legal!

Nem sei se Ally disse algo mais. Já estávamos dentro do salão e a música estava mais alta do que quando saí.

Logo vi que muita gente já tinha ído embora. Eram apenas 23:45, mas como estava tendo um show na cidade, muitos vieram beber de graça aqui e depois irem.

_Porque demorou tanto? – disse Jhulie chegando por trás de mim.

_Ah! – disse virando-me para ela – Nem percebi o tempo passar.

_E o que estava fazendo?

_Eu tive que sair.

_Sua mãe ligou! – disse Steffy chegando ali.

_A minha? – perguntei assustado.

_Sim! Ela perguntou por você...

_E porque ela não ligou pra mim?

_Ela disse que não estava conseguindo falar com você!

_Droga! – disse conferindo meu celular e vendo suas ligações não atendidas – E o que você disse?

_Que você estava no banheiro! – ela respondeu – Mas eu acho melhor você retornar logo porque isso já faz quase uma hora.

_Valeu! Mas acho que é melhor eu ir...

_Mas você nem ficou aqui! – Jhulie reclamou.

_Me desculpa! Não quero ter problemas com minha mãe!

_Tudo bem!

Despedi-me somente delas duas, desejando felicidades novamente para Jhulie e me desculpando por não ter aproveitado muito sua festa e fui embora de táxi.

Cheguei em casa e minha mãe ainda estava acordada vendo tv, só a minha espera. Essa era uma das manias da minha mãe: não dormir até todos chegarem.

_Posso saber por que não me atendia? – ela perguntou friamente.

_Não ouvi o celular tocando com tanto barulho da música! – menti.

_E a Steffy não te falou pra me retornar?

_Sim, mas eu estou sem créditos!

_E ninguém lá podia te emprestar?

_Eu não quis incomodar ninguém, e também já estava vindo... Só demorei por que foi difícil achar um táxi disponível!

_Tudo bem... Só fiquei preocupada!

_Eu sei! Me desculpe, mãe!

_Ok! Vai dormir. Já está tarde!

_Já vou...

Ela subiu para o seu quarto e eu fui tomar banho antes de ir dormir.

Optei por um banho frio.

Enquanto a água caia em meu corpo, comecei a me sentir mal pelo que tinha feito! Eu não devia ter trocado um momento junto dos meus amigos, comemorando uma data importante pra isso. Mas o pior de tudo, me senti sujo. Como se tivesse traído o Gabu. Eu sei que isso é estranho, mas eu estava gostando dele. Todos dizem que isso deve acontecer com sentimentos, com uma pessoa especial de verdade. E não foi assim, foi apenas pra suprir as necessidades de ambas as partes. Antes não pensei, agora isso começou a me sacrificar por dentro. Por mais que tivesse sido bom, agora eu sentia como se fosse um erro.

Depois do banho, deitei em minha cama, ainda com as luzes acesas e peguei meu diário, que eu escondia debaixo do colchão da minha cama. Meu diário era mais que eu simples diário. Era como um livro onde eu depositava tudo que eu sentia. Todos os dias eu gostava de relatar o que tinha vivido e sentido. Era sempre um desabafo. Antes, eu fazia textos avulsos sobre essas coisas, mas quando fomos fazer as compras dos materiais escolares desse ano, resolvi comprar este diário. Foi o primeiro que tive.

Enfim, relatei a noite louca que tive, mas não quis ser tão emotivo quanto estava. Relatei como uma boa experiência pra mim, já que estava me ajudando a descobrir o que eu realmente queria. E quis contar os detalhes das minhas sensações, pra mim nunca esquecer como tinha sido mesmo que não foi como eu sempre sonhei ou com alguém que eu amasse. Depois, fiquei pensando se Sam tivesse armado alguma pra cima de mim. Por que não pensei nisso antes? Mas me acalmei um pouco quando imaginei que, quanto à isso, podia confiar no Sam. Ele não arriscaria uma coisa assim.

Logo após apaguei as luzes e fui dormir. Eu estava exausto!

–

Segunda-feira

_Onde você esteve? – Debby perguntou assim que me viu quando estávamos indo pra escola.

_Bom dia! – disse a ela, sorridente.

_Bom dia! – ela respondeu ironicamente – Agora conta.

_Fui ver uma amiga que precisou de mim.

_Isso foi o melhor que conseguiu inventar?

_Se não acredita, não posso fazer nada!

_Tá! Se não quer contar, não precisa!

_Ótimo!

_Sabia... Me conta vai!?

_Eu já contei! – disse sorrindo, tentando ser convincente.

_Eu sei que não foi isso!

_E você, por que foi embora mais cedo que todos?

_Tive uns probleminhas...

_Hum!

_Não foi nada, minha mãe ligou...

_Mães...

Debby não insistiu no assunto, o que me pareceu estranho, porém fiquei mais aliviado assim. Eu ia perguntar mais sobre o que aconteceu entre ela e Ally na festa, mas imaginei não ser conveniente para o momento, então deixei passar.

Já na escola, a primeira aula era literatura, a que eu menos gostava e consequentemente a que eu menos prestava atenção. Logo, lembrei-me que Gabu não tinha me devolvido as folhas que eu o tinha emprestado na sexta-feira.

_Gabu? – chamei-o – Já terminou com minhas folhas?

_Pô cara! – ele respondeu mexendo rápido em suas coisas – Quase me esqueci de devolver, foi mal!

_Sem problemas.

_Valeu! – disse ele me entregando.

Enquanto eu organizava as folhas no meu fichário, meu celular toca. A música que estava definida como campainha era Inside Out da Britney Spears. Tomei um susto e o peguei rápido para desligar.

_Eu amo essa música! – disse Will virando-se para trás.

_Matheus – chamou a professora – você sabe que não é permitido o uso de celulares na sala.

_Eu sinto muito, professora! – respondi – Não vai acontecer novamente.

Guardei o celular rapidamente, mas acabei me arrependendo, na hora do susto eu só pensei em desligá-lo, depois fiquei na curiosidade em saber quem era.

Foi então que percebi Will levantando-se e vindo em minha direção. Ally não tinha aparecido na escola hoje, então a cadeira a minha frente estava vazia, ele então se sentou ali.

_Você é fã de Britney Spears? – Will perguntou a mim.

_Sim.

_Eu também! Acredita que já vi ela enquanto eu tava viajando pela Europa?

_Sério? E ai?

_Eu disse “Oi Britney!” e ela acenou. Cara, eu me odiei por não ter nem um celular ali pra tirar uma foto com ela.

_Nossa, eu morria!

_Eu quase! – e rimos.

Na hora, eu pensei que talvez ele estivesse apenas querendo me impressionar, ou fazer inveja. Mas não tinha como eu saber, ele estava sendo legal e parecia sincero.

_E o que você foi fazer na Europa? – perguntei.

_Ganhei as passagens de presente de aniversário do meu pai! – ele respondeu.

_Caramba, que legal!

_Meninos! – disse a professora – sem conversa.

Will voltou ao seu lugar sem dizer uma palavra sequer. Por um momento, pareceu até ter medo da professora Liah. Foi então que me fez lembrar da semana passada no estacionamento. Eu já estava quase me esquecendo de saber mais sobre isso. Então fiquei confuso, se eles tivessem mesmo saindo juntos, Will não iria agir assim na sala.

No mesmo momento senti uma agonia dentro de mim. Do nada comecei a me sentir mal e, por ventura, lembrei-me do meu diário. Eu não tinha certeza se o tinha escondido ou não. Eu estava com tanto sono que acho que acabei dormindo e deixando-o em qualquer lugar. Fiquei então ansioso para voltar logo pra casa e tirar essa dúvida da minha cabeça.

A próxima aula era de filosofia.

_Pessoal – disse o professor – antes de começar a aula de hoje, tenho um comunicado a fazer. A turma de vocês e mais uma foram escolhidas para fazer uma viagem até a cidade de Henthor na sexta-feira pra conhecer uma exposição natural que está acontecendo na cidade. Então, quem tiver interessado, depois vou dar uma lista e vocês assinam.

O pessoal da turma parecia muito interessados em ir. EU já disse logo que minha presença era garantida. Sempre gostei dessas viagens com a turma.

Olhei para Adam e o ouvir perguntando a Gabu “Você vai?” e sua resposta foi “Claro!”. Foi o suficiente pra me fazer querer ainda mais ir nessa viagem.

Cheguei em casa animado pra falar com minha mãe da viagem. Naquele dia, ela estava de folga. Logo que passei pela porta da frente pude perceber que ela tinha feito uma limpeza completa na casa.

_Mãe! – disse empolgado – minha turma foi escolhida pra ir pra Henthor.

_Mas você não vai! – ela respondeu fria.

_Por quê? – perguntei confuso.

Então percebi que ela segurava meu diário em suas mãos. Meu corpo se estremeceu, minha voz não saía, minhas pernas não paravam de tremer e meu rosto estava a suar.

_Como você pôde? – ela perguntou.

Eu não conseguia olhar nos olhos dela. Lágrimas começaram a percorrer por meu rosto sem cessar.

_Eu confiava em você! – ela continuou – Você me apunhalou pelas costas.