Quase dois meses se passaram. Mais uma vez muitas mudanças tinham acontecido, nada de muito diferente. O mais importante que tinha acontecido nos últimos dias foi que Gabu não saia mais com a Karen. Sim, isso me deixou muito feliz.

Ally e Noah estavam cada vez mais juntos, todos já começavam a questioná-los, mas era sempre a mesma história de melhores amigos. Mas isso já começava a não convencer ninguém. Adam, Gabu, Will e eu estávamos cada vez mais amigos. Debby com seu foco nos estudos. Steffy e Jhulie eram as únicas que pareciam ser as mesmas de sempre.

Estávamos na semana das provas finais, só tinha mais duas semanas de aula.

Naquele dia, eu ia mais feliz pra escola. Sim, tinha um motivo especial: era aniversário do Gabu. Tudo que eu pensava era que naquele dia eu teria a chance de dar um abraço nele e mesmo que por pouquíssimos segundos, eu saberia como era me sentir nos braços dele. E isso me excitava muito!

Chegando a escola, fui logo para a sala, mas Gabu ainda não tinha chegado.

_Bom dia! – disse a Adam.

_Bom dia! – ele respondeu.

E logo sentei no meu lugar. Logo comecei a ficar nervoso, eu queria, mas não sabia ao certo se devia. Podia ser estranho ali.

_Math, posso falar com você?

Virei-me para olhar e era Victor ali parado me encarando.

Victor tem 1,75 de altura, pele morena clara, cabelos lisos e cheios, e analisando apenas seu rosto, não aparenta ter a idade que tem. Parece uma criança de 14 anos. Mas, olhando-o em pé ali a minha frente, ele parecia um gigante.

_Claro! – respondi e me levantei imediatamente.

Pela expressão dele, parecia ser algo sério. Comecei a temer o que ele queria me dizer, mas apenas o segui até o fundo da sala.

_É sobre a Debora! – ele disse.

_O que tem ela? – perguntei confuso.

_Na verdade, eu preciso de um conselho seu que é amigo dela.

_Conselho?

_É cara, eu to afim dela.

_Sério isso?

_Claro que é sério! Desde quando eu cheguei me senti atraído por ela, mas não sei o que fazer...

_Porque você não começa dizendo isso a ela?

_Você está louco? Não tenho coragem...

_Quer que eu diga então?

_Ah, você podia me dar uma forcinha...

_Você queria um conselho, não é? Então, eu sugiro que você mesmo se declare pra ela. A Debby é muito autossuficiente pra querer que outra pessoa faça isso além do próprio interessado.

_Verdade? Você acha melhor eu mesmo falar? – ele perguntou.

Nesse momento vi

_Eu tenho certeza! Conheço ela...

_Valeu, cara! – Victor disse satisfeito.

_Seja bom com ela! – brinquei.

_Deixa comigo!

Cumprimentamo-nos e ele foi pro seu lugar.

Virei-me novamente e Gabu estava com um baita sorriso no rosto e logo a sua frente estava Adam, provavelmente o cumprimentando pelo seu aniversário. Senti que era a hora e fui até eles.

Estendi a mão me aproximando do Gabu, pronto para puxá-lo para um abraço apertado. Mas assim que peguei em sua mão e disse feliz aniversário, Steffy chegou por trás dele o cutucando pela cintura, fazendo-o virar-se para ela. Lá estavam Steffy e Jhulie abraçando Gabu e o desejando parabéns.

Eu nunca estive tão frustrado em toda a minha vida. Como eu não percebi que Steffy e Jhulie estavam bem atrás dele? Elas tinham acabado com minhas chances. Eu ainda pensei em abraçá-lo assim mesmo, mas Gabu era um dos mais populares na sala, e todos viram quando Steffy o abraçou e todos vieram desejar feliz aniversário também.

Passei o resto das aulas triste, confesso! Triste com Steffy e Jhulie. Mas não era justo, elas não fizeram de propósito.

A hora do intervalo tinha chegado e fui junto com Jhulie e Setffy pra debaixo da árvore onde costumávamos ficar.

_Onde está a Debby? – Jhulie perguntou.

_Tratando de um assunto! – respondi com um sorrisinho.

_Que assunto? – Steffy perguntou curiosa.

_Não sei! – menti.

_E como sabe então?

_Foi só uma sugestão.

_A Ally também não apareceu hoje! – disse Jhulie.

_Ela tá estranha! – Steffy comentou.

_Como estranha? – perguntei.

_Distante! – ela respondeu.

O celular de Jhulie tocou.

_Ta – disse ela – Estou indo ai!

_Quem era? – Steffy perguntou.

_Minha prima! – Jhulie respondeu – Quer falar comigo.

_Quer que eu vá com você?

_Não precisa! Eu volto logo...

_Está bem!

E Jhulie saiu.

_Estranho! – comentei.

_O que?

_Você e a Jhulie se separando.

_Não estamos nos separando. Ela só foi falar com a prima dela!

_Estranho você não ir junto mesmo que ela dizendo que não precisava.

_Ei, eu sei respeitar o espaço das pessoas!

_Mesmo?

Ela me deu um soco de leve no meu braço esquerdo.

_Agora me conta da Debby! – Steffy insistiu na história – Ela tá ficando com alguém?

_Não sei! – dessa vez fui sincero.

A verdade é que eu estava torcendo pra Debby e Victor se entenderem. Era importante que a Debby se distraísse um pouco, e o Victor parecia mesmo gostar dela. Já fazia tempo que eu tinha percebido isso.

Mas o que de fato me fez torcer por eles, foi Victor decidir encarar sua timidez e se declarar pra ela. Eu queria ter essa coragem. Ele era uma inspiração pra mim naquele momento.

_E você, Math?! – Steffy perguntou – Como anda o coração?

_Confuso! – respondi.

_Porque confuso?

Parei um pouco pra pensar de devia mesmo falar com Steffy sobre o que eu estava sentindo. Então pensei que ela podia me ajudar já que era tão descolada com os garotos.

_Você arriscaria uma amizade por um amor? – perguntei.

_Tipo deixa de ser amiga da Jhulie pra ter um namorado?

_Não! Tipo você se apaixonar por amigo. Você contaria pra ele mesmo sabendo que ele pode deixar de ser seu amigo?

_Depende muito...

_De que?

_Da pessoa!

Então fiquei calado...

_Quem é ele? – Steffy perguntou.

Hesitei.

_O Gabu!

_O Gabu? – ela parecia mesmo surpresa – Nossa...

_A verdade é que tá acontecendo tudo de novo! – reclamei.

_Tudo o que?

_Quando eu comecei a gostar da Raica, eu me aproximei da Jhulie porque elas eram amigas, e eu queria que a Jhulie me desse uma ajuda. Agora, to gostando do Gabriel e me aproximei do Adam pra ele me dar uma ajuda. Mas a verdade é que ninguém nunca vai se apaixonar por mim.

_Não é verdade!

_Como você explica eu ter 16 anos e nunca ter beijado ninguém?

_Mas você vai gostar logo do Gabu...

_Não foi bem uma escolha!

_Eu sei! Mas é que... – ela silenciou-se por um momento e eu esperei pra ver o que ela diria – Seja sincero com ele!

_Tá me dizendo que eu devo contar?

_Você nunca vai saber o que pode acontecer se não contar...

_Tem certeza?

E ela balançou os ombros parecendo não saber o que me dizer.

Steffy tinha razão, eu não tinha nada a perder. A não ser a amizade do Gabu.

Espera! Perder a amizade do Gabu? Isso eu não queria... Eu preferia ser amigo dele a não ser nada. Eu não suportaria estar perto dele todos os dias sendo rejeitado, sem poder dizer um oi. Por outro lado, só tínhamos duas semanas de aula por vir. Então, tecnicamente eu não teria muito a perder mesmo.

Eu tinha que escolher entre viver as melhores duas últimas semanas de aula ao lado de quem eu desejo desde a primeira semana de aula, ou continuar guardando meu segredo e nunca saber o que poderia ter acontecido.

_Obrigado! – disse a Steffy decidido.

Steffy não respondeu, sua expressão parecia confusa quanto ao que ela me disse.

Poucos minutos depois, Jhulie chegou e o assunto morreu. Claro que Steffy contaria sobre isso pra Jhulie, não existia nada que elas não compartilhassem.

No segundo horário de aula, notei que Debby não estava com uma expressão boa e Victor ainda não tinha voltado pra sala.

_O que aconteceu? – perguntei.

_Nada! – ela respondeu.

Eu fui para o meu lugar, deixaria pra conversar com Debby na volta pra casa.

Eu estava decidido a contar pra Gabu o que eu sentia por ele, mas deixei pra conversar com ele na última aula, pois era física e era a aula em que ninguém prestava atenção, e também, a professora diria quem teria que fazer a prova final.

A aula de filosofia, pela primeira vez, voou.

Claro, um momento decisivo na minha vida estava prestes a acontecer. Comecei a refletir se devia mesmo. Eu tinha medo da reação do Gabu, minhas pernas estavam trêmulas.

Foi então que percebi Will vindo em minha direção, parecia tenso. Tanto quanto eu.

_Não fala! – Will me disse.

_ O que? – perguntei.

_A Steffy me contou que você quer contar pro Gabu. Não faça isso!

_A Steffy te contou isso? Caramba, é impossível guardar um segredo aqui?

_Agradeça a ela por ter feito isso... Estou aqui como seu amigo te aconselhando a não contar. Ele é meu primo, meu primo homofóbico!

_Homofóbico?

_Sim! Se você não quer perder a amizade dele, não conte!

Senti-me envergonhado por estar falando sobre isso com Will, já que eles eram da mesma família. Mas isso não parecia ser um problema pra ele, aliás, tinha sido muito gentil da parte dele me alertar sobre isso.

Pra ser sincero, fiquei muito triste em saber daquilo. Aquela seria a primeira vez que eu estava preste a tomar uma atitude.

_Obrigado por me dizer! – disse.

Olhei para Steffy e ela me olhava com cara de piedade. Então, dei um pequeno sorriso de canto de boca pra ela achar que estava tudo bem.

_Aliás, - prossegui – vocês não estavam brigados?

_Ela me pediu desculpas só pra que pudesse falar comigo sobre você.

_Ela fez isso?

_Você tem sorte por ter os amigos que tem!

E ele saiu.

Olhei pra Gabu e ele estava sorrindo com Adam, provavelmente falando sobre jogos ou qualquer outra futilidade que ele gostava.

Eu estava muito triste. Eu realmente queria me declarar pra ele assim como o Victor fez com a Debby.

Aliás, o Victor não voltou mesmo pra sala. Será que as coisas não tinham sido boas pra ele também?

_Apenas quatro alunos dessa turma terão que fazer a prova final! – anunciou a professora.

A turma toda comemorou.

_Christian – ela continuou, agora dizendo quem seriam estes – Matheus, Noah e Paula.

Mais uma vez comemorações.

Já eu estava decepcionado. Embora eu já sentia que isso iria acontecer, eu ainda tinha a esperança de pelo menos ficar na media. Mas a pior parte é que Chris também faria a prova comigo. Isso não podia ser verdade.

A aula estava quase no fim. Eu ainda queria me arriscar e contar pro Gabu, era minha última chance. Ele não tinha ficado em nenhuma matéria e a partir de agora só começariam a frequentar as aulas quem faria prova de alguma matéria. Mas eu não tive coragem. A coragem escorria pelos meus olhos, me deixando fraco. A  coragem escorria pelos meus olhos e molhavam minha face entristecida.

Eu era um covarde!