Roma, Itália.

29 de abril de 1503.

Kathryn soltou um longo suspiro. Mais uma vez teria de deixar sua confortável e aquecida cama para ir até o centro da vila fazer compras para sua tia. Ela não se incomodaria de fazer isso, se não tivesse de o fazer em plenas cinco horas da manhã. Revirou os olhos ao ouvir mais um longo sermão que sempre recebia nas manhãs de domingo, e não demorou a pegar a cesta de vinho e a capa vermelha herdada de sua avó. Ela se sentia estranha ao usar essa vestimenta, graças a história que a pouco tempo lera, mas segundo sua tia, "aquilo não era evasiva para deixar de ir ao mercado". O que poderia fazer então, se dependia da tia, vivendo na sua casa e usufruindo de suas coisas? Voltou a suspirar, colocando o capuz e andando pelas ruas, sentindo o vento frio ricochetear sua pele.

A morena andava diretamente para frente, mas, pelo canto do olho, olhava para as janelas das casas, cobertas por cortinas acizentadas derivadas da classe alta romana. Ela gostava de imaginar como seriam as casas da parte norte da cidade. Na parte pobre da cidade. Sua imaginação sempre voava longe quando pensava na vida e no mundo que as pessoas longe dali viviam. Segundo alguns homens de sua época, mulheres não deviam pensar. Mas era o que Kathryn vivia fazendo. Pensando. Imaginando. Lendo e escrevendo. Graças ao seu pai.

Um dos melhores homens que já conhecera. O único que sabia exatamente os valores reais da vida que levava, honesta, tranquila. Kathryn não gostava de admitir, mas sentia seus olhos marejarem a cada pensamento que voltava para seu curto passado com o pai. Tinha que se concentrar. Fechou os olhos e os abriu rapidamente, e se viu em meio ao centro já movimentado da vila. As vezes isso acontecia. Ela pensava tanto, imaginava tanto, que mal via o que ocorria em volta, mas percebia o que fazia. Mordeu o lábio inferior ao perceber que o sol agora já se mostrava completamente, ao contrário de quando saíra de casa. E então começou sua pequena jornada, andando e procurando seu primeiro destino: o banco.