Girls On Fire escrita por JessieVic


Capítulo 51
Capítulo 51


Notas iniciais do capítulo

Oi gente linda! Eu voltei! ;) O que posso dizer pra vocês, é que esses são tempos sombrios =/



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Tudo parecia acontecer em câmera lenta, era um borrão frente os olhos da latina que agora estava sentada próxima a ambulância, enrolada em um cobertor. Seu corpo tremia mas não era frio. Sentia medo. Mesmo depois de ver os rapazes que tentaram estuprar ela e a namorada entrarem algemados na viatura, ainda sentia tremores e seu coração disparado. Uma paramédica se aproximou dela com um sorriso calmo, mas demonstrando pressa.

- Aqui querida, me deixa te examinar... – ela tirou a coberta da latina e observava seu corpo – O dia está impressionante hoje...

- Eu estou bem... cuida da Jess pra mim... – ela falava se balançando pra frente e pra trás, balançava a cabeça em estado de negação e olhava aflita para a mulher.

- Sua amiga vai para o hospital, é melhor irmos pra lá também! Você precisa de descanso.

- É minha namorada. Eu quero ficar perto dela, me deixa ficar com ela... – ela tinha um choro histérico, não sabia o que estava acontecendo, mas sentia raiva dentro de si.

- Ela já está na ambulância, acompanhada pelo enfermeiro. Você vem na frente conosco...

Ela concordou, não tinha forças pra lutar. Acompanhou a mulher e seguiram para o hospital. Ela estava em estado de torpor. O tempo parecia ter parado. Ia o caminho todo pensando na ruiva, estava além de fragilizada, totalmente preocupada com ela.

Ao chegar ao hospital a encaminharam para uma salinha com várias cadeiras onde as pessoas sentavam para tomar soro. E do outro lado da parede haviam 4 macas, todas ocupadas. Era um hospital público, o mais próximo do local em que tinha ocorrido a abordagem dos rapazes.

A latina olhou ao redor. Algumas pessoas dormiam, outras gemiam de dor. Uma enfermeira se aproximou dela e notou seu olhar perdido. A encaminhou pra uma das cadeiras e vendo o estado das suas roupas percebeu que era a garota que tinham comentado no corredor. A que tinha sofrido uma tentativa de estupro. Devia estar junto com a ruiva que chegara um pouco antes, inconsciente. Tentou conversar com ela, acalmá-la, mas não conseguia. A morena soltava palavras desconexas e pedia por Jessie, a única coisa que ela conseguiu entender era que o nome da garota era Santana. A moça resolveu lhe dar um remédio calmante e ficou ao seu lado, segurando sua mão. Num momento de consciência ela lhe deu um olhar triste e entregou o celular pra ela.

- Por favor, liga pra Tracy, avisa ela... – a loira foi a única pessoa que ela pode pensar em ligar, uma adulta para ajudá-las nesse momento.

- É sua mãe? – a mocinha que parecia não ser muito mais velha que Santana perguntou e Santana apenas balançou a cabeça de forma negativa. As lágrimas voltavam a escorrer.

- Foi Deus... foi um anjo da guarda que nos salvou – ela olhava desesperada para a garota, segurando nas suas mãos, mas na verdade tentava dizer isso pra si mesma – Eu achei que ia morrer ali... de vergonha, humilhação...morrer por dentro – continuava a chorar, a voz falhava.

Começou a sentir uma sonolência, seu raciocínio parecia demorar pra aparecer, suas pupilas começaram a pesar e a moça simpática a levar até uma das camas com a ajuda de um enfermeiro de rosto preocupado.

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A ruiva abriu os olhos e um clarão branco invadiu suas pupilas. Sentiu seu corpo todo dolorido, olhou espantada para seu braço direito, agora engessado até um pouco acima do cotovelo, apoiado com uma tipoia em seu pescoço. Um dos seus olhos parecia ter a visão turva, tocou seu rosto e percebeu que estava inchado. Olhou ao redor com o coração acelerado e percebeu onde estava. Rapidamente os acontecimentos vieram a sua mente e ela começou a murmurar consigo mesma enquanto as lágrimas escorriam e fazia seu machucado no rosto arder.

- Não...não... não... de novo não... – seu corpo de balançava em soluços. Ela queria se levantar, fugir dali. Onde estava Santana? Mais uma vez tinha sido covarde, apagado num momento crucial, abandonado a namorada nas mãos daqueles animais nojentos. Começou a sentir ânsia de vomito, tentou-se se mexer na cama, levantar-se, mas seu corpo doía muito.

Uma enfermeira percebeu a agitação e se aproximou dela, tentando acalmá-la e fazê-la deitar-se novamente.

- Cadê a Santana? Por favor, cadê ela? – ela soluçava e falava alto e algum dos outros pacientes que também estavam no quarto pareciam acordar – Eu a deixei sozinha... eu não podia – balançava a cabeça desconsolada enquanto chorava muito e tentava se levantar novamente.

- Meu bem, eu acabei de entrar no meu plantão... Vou ver se tem alguma Santana aqui... – ela via a ruiva tentar se levantar novamente, ela parecia em transe, murmurando palavras.

- Não...eu não podia...de novo... – balançava a cabeça olhando pra enfermeira que olhava espantada para a menina a sua frente. Parecia ser uma mulher linda, mas no momento estava com o rosto inchado, cabelos desgrenhados e parecia estar em choque.

Uma outra enfermeira entrou no quarto pois ouvira os gritos do corredor, olhou pra ruiva que a olhou esperançosa e perguntou por Santana.

- Eu não sei quem é... – ela deu de ombros, não parecia em seus melhores dias. Se aproximou da ruiva que agora parecia que ia ter um treco e injetou algo no seu soro e rapidamente ela sentiu seus olhos pesarem , ela tentava lutar contra isso, precisava se levantar, ver o seu amor, constatar se ela estava bem. Caiu num sono enquanto lágrima ainda escorriam dos seus olhos.

- O que aconteceu com ela? – a enfermeira que injetou o remédio perguntou pra outra.

- Pelo que vi na ficha, tentativa de estupro. Mas não sabemos nem o nome dela. Está sem documento e graças a você vamos ficar mais um tempo sem saber! Podia ter esperado um pouco mais ela se acalmar antes de já fazê-la dormir novamente!

- E deixar ela acordar todo mundo aqui? – ela não parecia muito preocupada – Vou procurar essa tal de Santana por aí, deve estar no andar de baixo talvez...

- Quem é ela? O que aconteceu? – a moça se compadecia olhando para o sofrimento que parecia estampado no rosto da ruiva enquanto ela dormia.

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Tracy entrou como um furacão no hospital. Tinha acabado de chegar em casa quando recebeu a ligação informando que as meninas estavam no hospital. Foi o mais rápido que pode. Sabendo apenas que Santana tinha pedido pra ligar. Na portaria, depois de esperar mais de 10 minutos em agonia a atenderam e informaram que a latina se encontrava no quarto 302. Uma enfermeira foi em direção a loira assim que ela chegava no quarto.

- Você é a Tracy?

- Sim... meu Deus moça, me diz o que aconteceu? Cadê a Jessie, e Santana?

- Santana está sob tranquilizantes, estava muito agitada e foi necessário intervir. Jessica é a ruiva que está na foto do celular? – ela mostrou o celular da latina que tinha em mãos e com uma foto das duas como fundo de tela.

- Isso... ela mesma... – Tracy ficava cada vez mais nervosa

– Ela está no andar de cima, na área da ortopedia... fraturou um braço pelo que me parece.

- Mas o que aconteceu? – a loira começava a se alterar e falava mais alto.

- Pelo que entendi as duas foram assediadas e sofreram uma tentativa de estupro. Por sorte algumas viaturas da policia passavam pelo local em direção a um acidente próximo e flagraram o momento. Já levaram os rapazes para a cadeia. Não sei se você viu, mas há um policial na recepção. Ele está esperando Santana acordar para colher seu depoimento.

- Eu quero vê-las... – Tracy falou de modo sério, sentindo as pernas falsearem. Mais uma vez Jessie passara por essa situação, temia por ela.

A enfermeira não quis contestar, apenas assentiu e levou a loira até o quarto da latina. Ela realmente dormia, com a respiração ritmada. Não parecia machucada, mas suas roupas estavam rasgadas.

- E a outra, quero ver a ruiva! – ela falou séria e viu outra enfermeira entrando no quarto.

- Alguma Santana está nesse quarto? – ela procurava ao redor.

- Sim... é essa aqui, porque? – Tracy respondeu pela enfermeira que observava.

- A amiga dela acordou lá em cima, está desorientada e gritando demais pedindo por ela! Tive que tranquiliza-la.

- Ela está bem? – a loira se preocupava cada vez mais. O hospital estava cheio, cada vez mais pessoas chegando, aquilo parecia uma bagunça e a falta de comunicação reinava. Entendia o pânico de Jessie ao acordar e não ver Santana ao seu lado, tinha quase certeza que sabia o que tinha passado pela sua cabeça – Eu posso vê-la?

- Você quem é? – a enfermeira olhou pra loira curiosa, com um pouco de desdém pelas vestes que ela tinha. Estava parecida com as duas meninas com short jeans, meia arrastão e botas. Deviam ser amigas do puteiro, ela pensou maldosa.

- Sou chefe das duas. Enquanto a mãe delas não está, respondo por elas. Quero as duas num mesmo quarto, se for possível.

- Não senhora, não é possível! – a garota falou de modo insolente – Caso não tenha visto estamos cheios. A outra garota está na ala da ortopedia

- Quero levá-las pra casa então, estão mais seguras lá!

- Santana precisa dar um depoimento antes de sair, o policial quer ouvir sua versão dos fatos. – a outra enfermeira tentou intervir vendo que as outras duas iam sair no tapa.

Tracy se encaminhou para o quarto de Jessica depois de quase sair na porrada com a enfermeira folgada que adorava dar tranquilizantes para todos. Sentiu seu coração apertar ao ver o estado em que a ruiva se encontrava. Ela parecia bem mais machucada que a morena. Só saberia o que tinha acontecido quando elas acordassem. Começou a chorar de pena da garota, lembrando que ela já tinha passado por isso de modo muito pior. Acordado numa maca de hospital ferida e descobrir que sua namorada foi encontrada morta num parque depois de estar dias desaparecida era algo que marcava alguém pra sempre.

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Santana acordou devagar e antes que as informações viessem a tona e ela começasse a entrar em pânico viu a enfermeira que havia lhe socorrido antes caminhar até ela com olhar tranquilizador.

- Liguei para a Tracy, ela está aqui com sua amiga em outro andar.

A latina começou a se lembrar e lágrimas ameaçavam escorrer quando ela percebeu que aquele pesadelo era real.

- Ela está bem? É minha namorada... eu preciso vê-la! – falava com a voz rouca, se sentia cansada, dolorida.

- Ela está, já foi atendida...mas agora está dormindo. Daqui a pouco eu te levo para vê-la, mas antes você precisa falar com um policial... ele está aqui te esperando acordar para colher seu depoimento sobre o que aconteceu hoje a noite. Sua versão dos fatos.

- Eu não quero falar, eu quero ver minha ruiva! – Santana começara a se exaltar.

- Ele disse que sua namorada estava inconsciente quando chegaram, só você pode contar o que houve. Aqueles monstros já estão pesos, eles só querem entender. Vou chamá-lo, vai ser rápido, prometo! – ela deu um sorriso cúmplice e Santana assentiu, vencida.

O policial entrou ao mesmo tempo em que Tracy chegou no quarto e respirou aliviada vendo a latina acordada. Correu até ela e a abraçou tentando confortá-la.

- Eu sinto muito... – ela olhava sincera pra latina que parecia impassível e tentava segurar o choro – Vocês não mereciam isso, ninguém merece isso...

Foram interrompidas pelo policial que soltou um pigarro tentando chamar a atenção para si.

- Com licença... você podem conversar depois, eu tenho mais o que fazer, hoje é uma noite corrida. Seu nome por favor moça.

- Santana Lopez – a morena respondeu séria e o rapaz deu um muxoxo quando ouviu o sobrenome latino.

- E a outra garota com você? Qual o nome?

- Jessica Paradiso – ela continuava séria, mas percebia que o policial já tinha criado seu julgamento sobre elas – Algum problema com nossos nomes? – ela ousou perguntar.

- Não... é de praxe o nome de vocês... pelo visto não são americanas... imigrantes.

- Senhor, o que importa a nacionalidade das meninas nesse momento? Acho que devemos focar no que aconteceu com elas.

- Pode nos deixar a sós senhora – o policial olhou Tracy de cima abaixo, parecia conhecê-la de algum lugar - É só com a moça aqui que preciso falar.

- Não, fico como responsável dela enquanto os pais não chegam. Quero ouvir também. – ela nem piscava e encarava o policial que deu um muxoxo e puxando uma cadeira começou a ouvir a história da latina desde que tinham saído do Coyote Ugly e anotava tudo num caderno. Era muito doloroso para Santana relembrar aquilo, dava calafrios lembrar que foi por um triz. Rever a cena na sua mente a torturava. Os rapazes estavam armados, elas corriam até risco de vida.

- Dançarinas numa casa noturna é isso? – ele falava com desprezo – Usam essa roupa sempre? – ele olhava para a camiseta rasgada de Santana que deixava boa parte do seu sutiã aparecer – Não é de se estranhar que foram assediadas!

- O senhor está tentando justificar o injustificável? – Tracy via onde aquilo ia parar.

- Isso é plenamente justificável. Duas garotas vestidas de forma vulgar andando sozinhas pela rua num horário desses... são presa fácil – ele balançou a cabeça com um risinho – São namoradas ainda por cima... provocando a sociedade...

- Não estávamos com essas roupas... vestíamos sobretudos e só passamos por aquele caminho devido ao acidente que nos impedia de passar pelo caminho usual. E mesmo se estivéssemos peladas, não é por isso que estamos pedindo pra sermos – ela titubeou pensando na palavra que doía – estupradas. Somos namoradas sim e não mexemos com ninguém! – Santana queria começar a chorar, mas não ia dar esse gostinho praquele homem que parecia tão nojento quando os que as tinham atacado.

- Claro que não, mas o mundo é assim! E mulheres devem ficar em casa nesse horário. Olha o que acontece com as espertinhas que querem ser diferentes! – ele falava insolente – Deviam agradecer por não terem ido mais longe!

- Como se muitas mulheres não são atacadas e molestadas em plena luz do dia, as vezes por um membro da própria família e não precisam estar vestidas de forma “vulgar” pra isso. Não justifique a selvageria! – a loira já estava ficando nervosa vendo o descaso com que o policial tratava aquela situação por julgar que eram “vadias”.

- Creio que a senhora está se metendo demais! Por que não cuidou delas quando devia? Essas meninas tiveram muita sorte! – ele foi se levantando.

Santana o olhava incrédula, mas nem tinha forças para discutir o machismo que presenciava. De vítima foi colocada como culpada por ter sido molestada covardemente por 4 homens bêbados e preconceituosos.

- E eu creio que não cabe a você julgar as meninas, apenas recolher a visão dos fatos e não opinar sobre eles! – a loira estava prestes a voar no pescoço daquele folgado.

- Estou apenas relatando o que já vi na minha profissão. Garotas que se vestem assim não duram muito – ele deu de ombros – Entraremos em contato caso haja mais informações. Os rapazes estão presos, mas lembrem-se que existem outros a solta. O exame de corpo de delito já foi feito. Se cuidem!

Ele foi saindo deixando as duas mulheres indignadas, sem palavras por tamanha besteira que tinham que ouvir. Era mais fácil culpa-las do que ver onde realmente estava o problema.

- Tracy... Eu espero que eles não soltem aqueles filhos da puta! - Santana deixou o choro escapar agora, olhava para a chefe com olhos de piedade – Me deixa ver a Jessica... tá doendo muito... eu preciso abraçá-la.

- Eu vou processar esse homem! Que injúria! Falar esse tipo de coisa pra uma vítima! Ele não vale a farda que veste! – ela parou olhando pra latina que a olhava contendo o choro – Precisamos de um advogado pra ficar de olho nisso. Isso que dá não entendermos nada de justiça e não termos dinheiro! Temos que aguentar desaforos dia-a-dia! – ela pausou indignada e viu a latina continuando a encará-la com lágrimas prestes a cair - Tá bem, vamos subir! Acho que ela ainda está dormindo...

- Tracy... isso já aconteceu com ela antes? – Santana se levantava da cama devagar, sentia seu corpo dolorido. Encarou a loira – Na hora que os rapazes começaram a investir ela mudou totalmente... ficou muito raivosa e disse que “Dessa vez não iam fazer mal pra namorada dela”.

- De modo parecido... mas como hoje, pra ela, as coisas não chegaram as vias de fato! Essa menina tem o santo forte...

- E a namorada dela, a Lola? – elas rumaram para o elevador com consentimento da enfermeira que deu um aceno de cabeça da porta. Santana já estava liberada pelo médico que a examinou.

- Ela não teve a mesma sorte... – ela respirou fundo – Acho que é melhor a Jessie te contar isso. Não quero me intrometer nesses assuntos dela. Como você já percebeu, ela evita ao máximo falar nisso.

Santana apenas assentiu. Não tinha forças para discutir nada, mas não achava que a ruiva seria capaz de falar sobre isso tão cedo, diante desses novos fatos. Se sentia tão preocupada por ela. Chegaram na porta do quarto e viram que por sorte a ala estava vazia, só Jessica ocupava um dos 3 leitos. A latina olhou de longe a garota com os olhos semi abertos olhando pro teto com ar confuso, parecia acordar agora. Viu seu braço engessado e sentiu o coração apertar. Tracy parou na porta e indicou pra que ela continuasse sem ela. Caminhou devagar, com lágrimas nos olhos e sorriu fraco quando a ruiva virou a cabeça e a notou no quarto. Seus olhos pareceram se iluminar.

- San... – ela fez um biquinho tentando conter o choro, mas desabou em lágrimas ao ver que sua latina estava bem.


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Notas finais do capítulo

E aí? Sentiram minha falta?