A noite no bar havia sido corrida como sempre. Só podiam definir a apresentação que tinha feito como um sucesso. As outras meninas as elogiaram e até brincaram que desse jeito nunca mais receberiam gorjetas durante suas danças.

- Quando dança uma a cada dia tudo bem, agora vocês duas juntas é muita concorrência pra gente né? – Hailey falou brincando enquanto varriam o bar, se preparando pra fechar.

- O que foi aquele beijo entre vocês duas? – Tracy falou divertida atrás da caixa registradora – Achei que vocês faziam o tipo discretas!

- Bom, eu faço né? – Jessie olhou feio pra Santana – Agora tem gente que não quer colaborar.

- Ai já pedi desculpas... tudo mundo gostou daquele beijo, inclusive a gente – ela deu de ombros – Algum problema pra você Tracy?

- Nenhum... – ela fez sinal com as mãos – O público realmente adorou, mas é bom que não se torne um ritual, senão vão ficar mal acostumados...Mas pelo visto Jessie não gostou...

- Já perdoei essa ousada – ela mostrou a língua pra latina que lhe olhava com cara de cachorro abandonado.

- Meninas, terminando aí estão liberadas... vou fazer mais umas conferências no estoque e no escritório e também vou. O Bob vai ficar comigo – indicou o segurança na porta. Um moreno alto, parecia um armário. Segurança tamanho padrão.

- Fazendo hora extra com o segurança do bar, Tracy? – a ruiva falou divertida – Seeei o estoque que você vai conferir...

- Shiiiu, olha como fala com a patroa! – ela deu uma piscadela para as meninas, fazendo elas acharem que a suposição da Jessica era mesmo verdade – Não tá fácil pra ninguém, os assaltos estão por toda parte, preciso de um segurança – ela tentava fazer um ar de inocente.

- Tá bom... minta pra si mesma porque a gente não acredita – Hailey ria.

As meninas saíram do bar já eram mais de 3 da manhã. Estavam felizes por mais um dia ter dado certo e a dança ter sido aprovada. Estavam fazendo o mesmo caminho de sempre, rumo a estação do metro, de mãos dadas e rindo quando perceberam que havia um tumulto na rua seguinte. Carros de polícia, pessoas ao redor. Chegaram mais perto e viram que a rua estava interditada até para pedestres. Um caminhão havia se chocado com um carro em alta velocidade. O motorista havia tentando desviar e acabou perdendo o controle do caminhão que agora estava tombado no meio da rua, enquanto o carro havia sido lançado praticamente dentro de uma das lojas.

Santana olhou pra ruiva que estava séria e pensativa.

- E agora, você sabe um caminho alternativo? Não conheço nada por aqui...

- Sei, mas... – a ruiva calou-se por um minuto. Os olhos negros, com as pupilas dilatadas pela escuridão. – Vamos rápido... Quanto mais rápido chegarmos é melhor!

A latina não entendeu nada, mas seguiu a ruiva que rumava para outro quarteirão. Andaram por três quadras e Jessie continuava calada. Apertava tanto a mão da latina que chegava a doer. Santana estava assustada com a namorada e não entendia sua mudança de humor repentina. De certo ficara impressionada com o acidente que acabara de ver.

Entraram em uma rua pouco iluminada. Poucos postes estavam acesos e alguns estavam piscando, como se a qualquer momento a luz fosse se apagar. Jessica respirou fundo e começou a  murmurar qualquer coisa. Parecia uma oração. Santana não aguentava aquela tensão. Pegou a ruiva e a puxou para mais perto de si pela cintura.

- Tá tudo bem? Você parece nervosa... – A latina estava preocupada.

- Esse lugar... Ele não me trás boas lembranças, só isso – forçou um sorriso triste e continuou andando, ainda abraçada à latina.

Avistaram então, a uns 100 metros na frente um grupo de homens encostados em um carro. Não teriam por onde passar e continuaram andando. Jessica se mostrava cada vez mais apreensiva. Chegando mais perto deu pra ver que estavam em 4 homens, tinham bebidas nas mãos e o som do carro ligeiramente alto. Santana não gostou nada daquilo, com certeza iriam fazer alguma gracinha com elas, como sempre acontecia quando havia um bando de homens babacas e alguma mulher passava.

Era uma noite fria, e elas vestiam um casaco sobretudo e meia calça preta, por baixo ainda tinham a roupa do trabalho. Uma saia curta e uma camiseta branca de decote avantajado. Involuntariamente ela subiu o seu zíper do casaco o máximo possível e observou se o de Jessie estava assim também quando se aproximava mais deles. A ruiva se soltou do abraço e não quis segurar a mão da latina. Quando essa lhe fez um olhar questionando a atitude, ela apenas balançou a cabeça com um olhar assustado.

Atravessaram a rua a passos rápidos, mas não adiantou muito... Acabaram chamando a atenção de um deles, que falou com os outros. Num momento estavam atravessando a rua atrás delas

- Hey lindinhas, não querem participar da nossa festa? – um deles dizia se pondo na frente das meninas fazendo-as parar.

Não tinha como saírem deles sem responder, agora estavam cercadas. A latina olhava pra Jessica que já tinha os olhos marejados e parecia nem respirar.

- Não, obrigada! Estamos cansadas e com pressa! – Santana falou firme. Pegou na mão da ruiva que parecia paralisada e forçou passagem entre os dois que estavam a sua frente. Eles não permitiram.

A latina começou a ficar assustada. E agora com a voz mais leve falou em tom de súplica

- Por favor, queremos chegar logo em casa – ela tinha vontade de chutar a bunda deles e sair correndo, mas estavam em 4, de certo elas perderiam.

- Ahhh mas pra quê tanta pressa? Queremos fazer amizade com vocês.

Um dos caras passava a mão por um dos braços de Jessica que prendeu a respiração. Santana, sem pensar deu um tapa na mão do cara tentando tirá-la de lá enquanto dizia entre dentes : “Não toca...” e todos pareceram se exaltar.

- Huuum, o que foi? Não vai me dizer que ela é sua namorada?

- E se for, tem algum problema? – ela agora apertou mais forte a mão da ruiva e os caras sorriram. Um sorriso de maluco. E Santana sentiu o coração apertar.

-Nossa, como você é brava hein? Adoro assim... vem aqui que eu vou te curar. – Um deles a puxou bruscamente para si e ela não teve força para evitar. – Vocês lésbicas só precisam de um cara de saibam comer vocês do jeito certo...

Dois caras observavam rindo enquanto um deles forçava a abertura do sobretudo da latina que se debatia nos braços do mais brutamonte que a segurava.

- Eu de você não ousaria... – ela tentava impor alguma autoridade, mas eles só riam da cara delas, gostavam das garotas que tentavam se fazer de duronas.

- Huum que delícia... olha essa bundinha... – um deles apertou a bunda da latina com força, ela se viu rodeada.

Jessica estava no canto, os rapazes estavam distraídos com Santana porque ela queria se fazer de valentona. Mas num piscar de olhos, a ruiva pareceu despertar do transe que estava, paralisada pelo medo.

- Ninguém vai fazer mal pra minha namorada! – falou enquanto pegava uma pedra de calçada que havia encontrado solta perto de si. Os caras se viravam pra ela – Não dessa vez seus filhos da puta! – Jogou a pedra com todas as forças que podia e acertou na cabeça do cara que tentava tirar a blusa da latina e de repente todos voltaram sua atenção pra ela. O cara começou a gritar muito bravo, sua cabeça começara a sangrar.

- Sua puta! – ele foi pra cima da ruiva parecendo um touro bravo e desferiu um soco forte no rosto dela, que a fez desequilibrar-se no chão cheio de pedras soltas, caindo com força no chão. Sentiu uma dor imensa no braço direito ao tentar aparar a queda com ele, sentia seu rosto ferver pela pancada que tinha levado abaixo do olho.

Santana observou atônita que agora 3 dos rapazes foram pra cima da sua namorada, a puseram em pé a puxando pelo braço e ela soltou um gemido baixo com um olhar de dor e seu rosto começara a sangrar, durante o soco, o anel do cara tinha feito um corte na bochecha dela.

- Você tá com pressa? Quer que chegue sua vez primeiro é , vadia? – o que tinha levado a pedrada perguntava pra Jessie que estava com os olhos marejados de dor e medo – Então vamos brincar com você primeiro. Sua namorada vai assistir tudo – ele já passava a mão pela lateral da cintura dela enquanto um outro segurava seus braços pra trás – Vamos acabar com você, te deixar arrombadinha e depois vamos fazer a mesma coisa com ela! Pra vocês verem que nós somos os melhores! - Puxou o sobretudo abrindo-o de forma brusca e deu um sorriso quando viu o que tinha por baixo - Lésbica maldita... tão gostosa e fica desperdiçando com outra mulher... – passava a mão na sua bunda agora enquanto os outros riam – Sua doente...

- Doentes são vocês! – a ruiva cuspiu na cara dele e levou um puxão de cabelo.

- Fica quietinha que é melhor pra você... – um dos rapazes mostrou uma faca escondida no cós da calça que vestia.

A latina não sabia o que fazer, sentia seu coração tão apertado que chegava a doer vendo a agonia nos olhos de Jessica que parecia em estado de choque diante da situação, ela apenas observava com aflição os caras lhe tocarem e dava um olhar tão triste pra Santana que ameaçou ir pra cima dos dois que estavam distraídos com a ruiva, mas eles estavam mais atentos agora, não queriam levar outra pedrada, foram pra cima dela,  seguraram seus braços por trás e ela ficou lá, presa e esperneando tentando se desvencilhar.

- Hum quer ver sua namoradinha ser curada hein gostosa? – um deles tentou beijá-la e ela mordeu seu lábio com violência.

- Ahhh vocês estão mortas hoje! – ele falou cheio de raiva sentindo o corte em sua boca enquanto dava um tapa na cara dela.

O corpo de Jessie estava parado, mas seu coração e seus pensamentos iam a mil por hora. Porque aquilo estava acontecendo? Ela não iria perder sua Santana como tinha deixado acontecer com Lola. Poderiam fazer o que bem quisessem dela, preferia morrer a ter que sofrer com a ausência do seu amor mais uma vez. Resolveu deixar ser tocada, talvez assim se distraíssem e se esquecessem da sua namorada.

O grandalhão que havia lhe dado um soco agora tentava abrir sua saia e ela ouvia Santana gritar por socorro, mas rapidamente levou outro tapa e sua boca foi abafada pelas mãos do que a segurava com total violência.

- Vai logo cara,  to com pressa! – o que segurava a ruiva falava pro outro – Também quero comer essa gostosinha! – ele rebolava atrás de Jessie que sentiu o membro do rapaz duro sobre seu bumbum e se encheu de pânico.

- Calma, a noite é uma criança... vamos comê-las até lamber os beiços – ele deu um sorriso nojento enquanto apertava os seios da ruiva que não tinha como se defender.

Ela entendeu que não adiantava mais lutar, seria só mais motivo pra apanhar e lhes causar mais raiva. Sua braço doía tanto que era difícil raciocinar. Ela e Santana não quebravam o contato visual e uma consolava a outra enquanto davam a situação como perdida. A ruiva se concentrou na correntinha pendurada no pescoço da latina, olhou para a sua, fechou os olhos mentalizando “Meu Deus, o Deus que eu sempre orei e confiei, por favor, não nos faça passar por isso. Me proteja, proteja minha namorada, que mal fizemos para o mundo, Senhor? Por favor, por favor não nos abandone agora”.

O grandalhão rasgara sua meia calça e passava a mão sobre sua calcinha tentando afastá-la e Santana se sentia uma inútil com os braços  presos nas costas enquanto sentia um dos caras tentar  buliná-la por baixo da saia e o outro que passava a mão pelos seus seios e tentava alisar seu rosto, mas ela se sacudia, tentando se desvencilhar.

A situação parecia perdida e o turbilhão de emoções e pensamentos fez o cérebro de Jessie dar um pane. Ela apenas olhou com agonia pra Santana, os olhos pareciam sem brilho, sem esperança e desmaiou. Seu corpo ficou todo mole. Tinha apagado. A cabeça pendendo sob o pescoço, as pernas sem força.

- Mas que merda é essa? – o que a segurava sentiu o seu peso aumentar sobre ele, sacudia a garota que estava inerte em seus braços.

- Segura ela, segura logo que vou arrebentar essa vadia, viva ou morta! – ele colocava o membro enrijecido pra fora.

- Deixem ela em paz... façam o que quiser comigo, não veem que ela não está bem? – Santana gritou em desespero ao ver a namorada desmaiada.

- E quem se importa se ela está bem? – o rapaz que segurava a ruiva a soltou bruscamente e ela caiu com um baque no chão cheio de pedras e Santana começou a chorar com aflição de assistir aquilo e se sentir impotente – Vamos acabar com vocês duas mesmo, não importa a ordem!

- Vai, abre as pernas dela Herman – o cara foi perto do outro que já agachava se posicionando em frente a ruiva levantando sua saia – Ela vai acordar rapidinho quando sentir nosso pau dentro dela!

- A gente vai resolvendo essa aqui... – o que segurava Santana puxou com força a blusa da latina pelo decote a rasgando. Viu o sutiã e já foi direto com as mãos pro seu peito, tentando o puxar pra fora. Ela se debatia, tentava chutar qualquer coisa que estivesse ao alcance e levou mais um tapa no rosto.

Um clarão de repente iluminou o local e o barulho de sirenes que começou a soar, pareceu música aos ouvidos de Santana que não resistiu e começou a chorar mais desesperadamente. O choro que estava contendo todo o tempo pra não demonstrar pânico para os agressores vinha forte agora. O rapaz que a segurava a soltou com um empurrão assustado e ela se deixou cair ao chão, não sentia firmeza nas pernas. Seu rosto ardia, seu corpo estava dolorido e sua camiseta rasgada. As lágrimas escorriam quentes pelo seu rosto.

Passaram correndo tropeçando sobre o corpo inerte da ruiva, tentaram fugir de qualquer maneira, mas dois policiais já saltavam de um dos carros e outros três desciam da outra viatura e com um revolver nas mãos  os renderam a poucos metros perto dali.

Um policial correu até Santana que parecia em estado de choque, estava agachada ao lado da ruiva e chorava deslizando a mão pelo seu rosto, tentando despertá-la e limpar o sangue espalhado por ele com um pedaço da sua blusa já rasgada.

- Me ajuda, me ajuda... – ela falava baixinho sob soluços, olhando suplicante para o policial que com um aceno de cabeça aferiu a pulsação de Jessie.

- Vou chamar a ambulância! Mantenha a calma!