– Annabeth! – gritou Percy, na beira do penhasco, com Rony, Alison, Thiago S e Scórpius, logo atrás.

Selena estava atordoada e em choque. Annabeth e Rose...Estavam...Mortas?

Por uma fração de segundo, o tempo pareceu parar. Então, barulhos de tiros, vindos do helicóptero, chamaram a atenção do grupo. A maioria das Caçadoras se dispersou em pequenos buracos na neve a seus pés, mas a garota de cabelo castanho avermelhado apenas olhou calmamente para o helicóptero.

– Mortais – ela anunciou – não têm o direito de testemunhar minha caçada.

Ela levantou a mão, e o helicóptero explodiu, sendo reduzido à poeira – não, não era poeira. O metal negro se dissolveu em um bando de pássaros – corvos, que se dispersaram na noite.

As Caçadoras foram na direção do grupo.

Aquela chamada Zoë parou assim que viu Thalia.

– Tu – ela disse com repugnância.

– Zoë Doce-Amarga. – A voz de Thalia tremeu de ódio. – Timing perfeito, como sempre.

Zoë examinou o resto deles e franziu a testa.

– Cinco meio-sangues, quinze bruxos e um sátiro, minha senhora.

– Sim – a garota mais nova disse. – Alguns dos campistas de Quíron, percebe-se e os bruxos de Dumbledore.

– Annabeth! – gritou Percy. – Você tem que nos deixar salvá-la!

– E a Rose! - Scórpius estava com os punhos cerrados.

A garota de cabelo castanho avermelhado virou-se na direção dos garotos.

– Sinto muito, Percy Jackson e Scórpius Metson, mas suas amigas estão além de nossa ajuda.

Percy tentou se levantar, mas uma garota o impediu.

– Você não está em condições de se lançar de penhascos – disse a garota.

Thiago S foi até Dominique, que segurava sua adaga, com firmeza. Seu olhar estava distante, como se a garota não estivesse ali.

Então, sem aviso, Parker a abraçou com força. Dominique caiu no choro, logo em seguida.

Selena se distanciou dos dois e foi até Harry, Rony e Hermione, que estavam juntos, tristonhos.

– Vocês estão bem? - perguntou, com a voz fraca.

Harry assentiu, da mesma forma que Rony. Hermione baixou os olhos. Parecia tão atônita e assustada quanto Selena.

– Deixe-me ir! – insistiu Scórpius, se debatendo, sendo segurado por Alison e gritando com a garota de cabelos avermelhados.

– Quem você acha que é? - rebateu Percy, tão irritado quanto Scórpius.

Zoë deu um passo à frente, como se fosse bater nos garotos.

– Não – a outra garota ordenou. – Não sinto desrespeito, Zoë. Eles são simplesmente distraídos. Eles não entendem.

A jovem garota olhou para os garotos, seus olhos mais frios e brilhantes que a lua no inverno.

– Eu sou Ártemis – ela disse, chamando a atenção de todos. – Deusa da Caça.

(...)

Selena não soube o que dizer na hora e imediatamente, preferiu ficar calada. Os garotos presentes (no caso Sirius e Grover) se ajoelharam e começaram a agradecer por terem sido salvos.

– Levante-se, menino-bode! – Thalia disse, com frieza. – Temos outras coisas para nos preocupar. Annabeth e Rose estão desaparecidas!

Marlene deu um tapa na nuca de Sirius e em seguida, a passos pesados, seguiu na direção de Dorcas e Rebeca.

– Você dá muita mancada - Thiago revirou os olhos, com Lupin ao seu lado.

– Uau – disse Bianca, chamando a atenção de todos . – Esperem aí. Só um minuto!

Todos olharam para ela. Ela apontou o dedo para todos eles em volta, como se ela estivesse tentando ligar os pontos.

– Quem... quem são vocês?

A expressão de Ártemis suavizou.

– Poderia fazer uma pergunta melhor, minha querida menina, poderia perguntar quem é você! Quem são seus pais?

Bianca olhou nervosamente para seu irmão, que ainda estava olhando com temor para Ártemis.

– Nossos pais estão mortos – disse Bianca. – Somos órfãos. Há um fundo bancário que paga por nossa escola, mas...

Ela vacilou. Selena achou que ela podia dizer por nossas expressões que não acreditamos nela.

– O quê? – ela exigiu. – Estou dizendo a verdade.

– Vós sois meio-sangues – disse Zoë Doce-Amarga.

Selena pôde ouvir claramente quando Thiago S murmurou à Alison:

– O que ela tem de bonita, tem de estranha.

Zöe pareceu não ouvir (ou fingiu não ter ouvido) e continuou.

– Um dos vossos pais era mortal. O outro era um Olimpiano.

– Um atleta... olímpico? - questionou Bianca, confusa.

– Não – disse Zoë. – Um dos deuses.

– Legal! – exclamou Nico, animado.

– Não! – a voz de Bianca tremeu. – Isso não é legal!

Nico dançou em volta como se precisasse usar o banheiro.

– Zeus tem mesmo relâmpagos que fazem seiscentos pontos de dano? Ele ganha pontos de movimento extras por...

– Nico, cale a boca! – Bianca levou as mãos ao rosto. – Este não é o seu estúpido jogo Mitomagia, ok? Não existem deuses!

Selena deu um passo para trás, pensativa. Tinha certa pena dos Di Angelo. Quando descobriu que era semideusa, a garota conseguiu levar um pouco "na boa". Afinal, na época, ela já era bruxa e o que mais de anormal que surgisse era lucro.

– Bianca, eu sei que é difícil de acreditar. Mas os deuses ainda estão por aí. Confie em mim. Eles são imortais. E quando eles têm filhos com humanos normais, crianças como nós, bem... Nossas vidas são perigosas - disse Selena, calmamente.

– Perigosas – disse Bianca – como a das meninas que caíram.

Thalia se afastou. Mesmo Ártemis olhou triste. Scórpius estava em silêncio, com a cabeça baixa.

– Bom, ela não era bem uma meio-sangue - disse Selena, com ternura. - Era mais uma bruxa.

– Uma bruxa? Mas ela não tinha verrugas ou... - Nico parou, recebendo um tapa de Bianca na nuca.

– Assim você nos ofende, pirralho - Sirius revirou os olhos e recebeu um pontapé de Marlene. - HEY!

– Existe o mundo dos bruxos também - explicou Selena, pacientemente. - E nós pertencemos à ele - a morena indicou os amigos bruxos. - Mas isso não é muito importante agora. Pelo menos, não para vocês dois.

– Não se desesperem por Annabeth e Rose – disse a deusa, dirigindo-se à Scórpius e Percy. – Elas foram corajosas donzelas. Se elas puderem ser encontradas, vou encontrá-las.

– Então por que você não nos deixa ir procurá-las? - perguntou Rony, com Hermione ao seu lado.

– Elas se foram - disse Ártemis e virou-se para Percy. - Você pode sentir Annabeth, Filho de Poseidon? Algumas magias estão em movimento. Eu não sei exatamente como ou por que, mas a sua amiga desapareceu.

– Ei! – Nico levantou a mão. – E sobre o Dr. Espinheiro? Foi incrível como você atirou nele com flechas! Ele está morto?

– Ele era uma mantícora – disse Ártemis. – Esperemos que ele esteja destruído por agora, mas monstros nunca morrem verdadeiramente. Eles retornam de novo e de novo, e devem ser caçados quando reaparecem.

– Ou eles irão nos caçar – disse Thalia, de forma sombria.

Bianca di Angelo raciocinou.

– Isso explica... Nico, você se lembra do verão passado, daqueles caras que tentaram nos atacar em um beco em Londres?

– E aquele motorista de ônibus – disse Nico. – Com os chifres de carneiro. Eu disse a você que era real.

– É por isso que Grover tem observado vocês – disse Selena. – Para mantê-los seguros, se vocês mostrassem ser meio-sangues.

– Grover? – Bianca olhou fixamente para ele. – Você é um semideus?

– Bem, um sátiro, na verdade. – Ele tirou seus sapatos e mostrou seus cascos de bode.

Bianca parecia prestes a desmaiar.

– Grover, coloque os sapatos de volta – disse Thalia. – Você a está enlouquecendo.

– Ei, meus cascos estão limpos! - reclamou Grover.

– Bianca – disse Percy – nós viemos aqui para ajudar vocês. Você e Nico precisam de treino para sobreviver. Dr. Espinheiro não será o último monstro que vocês vão conhecer. Vocês precisam vir para o acampamento.

– Acampamento? – perguntou Bianca, confusa.

– Acampamento Meio-Sangue – respondeu Selena. – É onde os meio-sangues aprendem a sobreviver e outras coisas. Vocês podem se juntar a nós, e ficar durante todo o ano, se quiserem.

– Ótimo, vamos lá! – Nico disse.

– Espere – Bianca sacudiu sua cabeça. – Eu não...

– Há outra opção – disse Zoë.

– Não, não há! – Thalia disse.

Thalia e Zoë se encararam. Por alguma razão que Selena desconhecia, Thalia e Zöe pareciam se odiar.

– Temos sobrecarregado essas crianças o suficiente – anunciou Ártemis. – Zoë, vamos descansar aqui por algumas horas. Arrume as barracas. Trate os feridos. Recupere os pertences de nossos convidados na escola.

– Sim, minha senhora.

– E, Bianca, venha comigo. Gostaria de falar com você.

– E quanto a mim? – perguntou Nico.

Ártemis considerou o menino.

– Talvez você possa mostrar a Grover como se divertir com aquele jogo de cartas que você gosta. Tenho certeza que Grover ficaria feliz em entretê-lo por um tempo... como um favor para mim?

Grover tropeçou, tentando se levantar.

– Pode apostar! Vamos, Nico!

Nico e Grover saíram em direção à floresta, falando sobre bater pontos e classificação de armaduras e um monte de outras coisas nerds. Ártemis levou uma Bianca que parecia confusa ao longo do precipício. As caçadoras começaram a abrir suas mochilas e montar o acampamento.

Selena aproximou-se dos amigos.

– O que vai acontecer agora? - perguntou Dominique, com uma expressão sofrida em seu rosto. Definitivamente, a Dominique "Rainha da Beleza", havia ido embora.

– Não sei - Selena cruzou os braços.

– Será que Rose e Annabeth estão bem? - perguntou Rebeca, ansiosa.

Selena não respondeu. Não gostava de pensar nisso. Thalia se aproximou do grupo, à passos firmes.

– Que raiva dessas caçadoras! Elas acham que são tão... Argh!

– Estou com você – disse Percy, se aproximando deles. - Eu não confio...

– Nem eu - pronunciou-se Selena.

– Ah, vocês estão comigo? – Thalia se virou pra Percy e Selena, furiosamente. – O que estavam pensando lá no ginásio? Que vocês teriam capturado Dr. Espinheiro totalmente sozinho? Vocês sabiam que ele era um monstro! Se tivéssemos ficado juntos poderíamos tê-lo pêgo sem o envolvimento das Caçadoras. E Annabeth e Rose poderiam ainda estar aqui. Vocês dois pensaram nisso?

Selena sentiu sua cabeça latejar. Gostaria de ter dito coisas bem duras para Thalia, naquele momento, entretanto, a garota tinha razão. Percy e Selena foram precipitados demais.

Thalia não disse mais nada. Ela limpou uma lágrima de seu rosto, virou-se, e marchou ao largo, deixando-os com um boné pisoteado na neve, o boné dos Yankees, de Annabeth.

As Caçadoras armaram seu acampamento em questão de minutos. Sete grandes tendas, todas de seda prateada, em uma curva crescente de um dos lados de uma fogueira. Uma das meninas soprou um apito canino prata, e uma dúzia de lobos brancos apareceram do bosque. Eles começaram a circular o acampamento como cães de guarda.

As caçadoras andavam entre eles os alimentando e tratando, completamente sem medo. Falcões os observavam das árvores, os seus olhos cintilando na luz do fogo. Selena teve a sensação de que eles estavam de guarda, também. Mesmo o clima parecia se dobrar à vontade da deusa. O ar ainda estava frio, mas o vento morreu e a neve parou de cair, por isso era quase agradável sentar perto do fogo.

Quase... exceto pela dor em seu ombro e pulso, e a culpa a pesando no chão. Selena se sentia péssima. Não tinha protegido seus amigos. Tinha sido fraca. E mesmo tão irritada como estava com Thalia, Selena tinha uma sensação que a afundava de que ela estava certa. A culpa fora dela.

Thalia estava remexendo na neve da beira do campo, andando entre os lobos sem medo. Ela parou e olhou para trás para Westover Hall, que agora estava completamente escuro, assomando na encosta além da floresta. Sete anos atrás, Thalia tinha sido transformada em um pinheiro por seu pai, para evitar que ela morresse. Ela se defendeu contra um exército de monstros no topo da Colina Meio-Sangue para dar a seus amigos Luke e Annabeth tempo para fugir. Ela voltou a ser humana há apenas alguns meses, e de vez em quando ela ia repousar tão imóvel que poderia se pensar que ela ainda era uma árvore.

Finalmente, uma das caçadoras trouxe a mochila de Selena. Grover e Nico voltavam de sua caminhada, e Grover ajudou Selena e Percy a consertarem seus braços e pulsos feridos.

– É verde! – exclamou Nico, com alegria.

– Fique quieto – disse Grover, pacientemente, à Selena. – Aqui, coma alguma ambrosia enquanto eu limpo isso.

Selena estremeceu enquanto ele limpava suas feridas, mas o pedaço de ambrosia a ajudou. O sabor era de bolo caseiro, dissolvendo em sua boca e enviando uma calorosa sensação pelo seu corpo inteiro. Entre isso e a mágica pomada que Grover utilizou, Selena sentiu seu ombro e pulso melhor dentro de dois minutos.

Nico remexeu através de sua própria mochila, que as caçadoras tinham embalado por ele. Nico colocou um monte de estatuetas na neve – pequenas réplicas de batalhas de deuses e heróis gregos. Selena reconheceu Zeus com um relâmpago, Ares com uma lança, Apolo com sua carruagem solar.

– Grande coleção – disse Percy, ao lado da garota.

Nico sorriu.

– Eu tenho quase todos eles, mais as suas cartas holográficas! Bem, exceto por algumas realmente raras.

– Você começou a jogar isso há muito tempo?

– Somente este ano. Antes que... – Ele juntou suas sobrancelhas.

– O quê? – perguntou Selena, curiosa.

– Eu esqueço. Isso é estranho.

Ele pareceu abalado, mas não durou muito.

– Ei, posso ver aquela espada que você estava usando? - ele se dirigiu à Percy.

Eu lhe mostrei Contracorrente, e expliquei como ela se transformava de uma caneta em uma espada bastando retirar a tampa.

– Legal! Será que nunca acaba a tinta? - perguntou Nico, curioso e animado.

– Hum, bem, eu realmente não escrevo com ela - Selena riu por ver seu amigo tão surpreso e ao mesmo tempo, perdido.

– Você é realmente o filho de Poseidon?

– Bem, sim - respondeu Percy.

– E você é filha de quem? - perguntou Nico, dirigindo-se à Selena.

– Hefesto.

Nico voltou seu olhar para Percy.

– Se você é filho de Poseidon, pode surfar muito bem, então?

Grover, com dificuldade tentava não rir. Selena e Percy se entreolharam.

– Caramba, Nico – disse o garoto. – Eu nunca tentei realmente.

– Provavelmente, há uma grande chance de você cair da prancha - brincou Selena, recebendo um olhar mortal de Percy.

Zoë Doce-Amarga foi até eles, depois de muitas perguntas que Nico lançara aos dois meios-sangues (perguntas extremamente constrangedoras).

– Percy Jackson e Selena Jayne.

Ela tinha olhos castanhos escuros e um nariz ligeiramente empinado. Com sua tiara prateada e expressão orgulhosa, ela parecia uma verdadeira filha da nobreza. Zöe estudou Percy com um olhar de desgosto, como se este fosse um saco de roupa suja que ela tinha sido enviada para buscar. Já à Selena, Zöe lançou um olhar mais suave.

– Venham comigo – disse ela. – Lady Ártemis deseja falar contigo.

Zoë os levou para a última barraca, que não parecia diferente das outras, e acenou para que Percy e Selena entrassem. Bianca Di Angelo estava sentada ao lado da menina de cabelo castanho avermelhado, que Selena ainda tinha problemas em pensar como sendo Ártemis.

O interior da tenda estava quente e confortável. Tapetes de seda e almofadas cobriam o chão. No centro, um braseiro de ouro parecia queimar sem combustível ou fumaça. Por trás da deusa, em um aparato de carvalho polido, estava o seu grande arco de prata, esculpido para se assemelhar aos chifres de uma gazela. Selena ficou maravilhada com a arma. Penduradas nas paredes estavam peles de animais: urso preto, tigre, e vários outros que Selena não reconheceu de imediato.

– Juntem-se a nós, Percy Jackson e Selena Jayne – disse a deusa.

Selena se sentou ao lado de Percy, em frente à ela no chão da tenda. A deusa a estudou, o que deixou Selena desconfortável. Para uma menina ela tinha os olhos de um velho.

– Vocês estão surpresos com a minha idade? – perguntou Ártemis.

– Uh... um pouco - respondeu Percy, parecendo nervoso.

– Eu poderia aparecer como uma mulher crescida, ou como fogo resplandecente, ou qualquer outra coisa que eu quisesse, mas é isso que eu prefiro. Esta é a média de idade das minhas Caçadoras, e de todas as jovens donzelas para quem eu sou patrona, antes que elas se extraviem - respondeu Ártemis.

– Se extraviem? – perguntou Percy, confuso.

– Cresçam. E convivam com rapazes. Tornem-se tolas, preocupadas, inseguras. Esqueçam de si - explicou a deusa.

– Ah - Percy encarou Selena como quem dissesse "Você se extraviou! Lalalalalala!".

Zoë se sentou à direita de Ártemis.

– Você deve perdoar minhas caçadoras por não recebê-lo bem – disse Ártemis, dirigindo-se à Percy. – É muito raro que tenhamos rapazes neste campo e hoje, temos vários deles. Meninos são geralmente proibidos de ter qualquer contato com as Caçadoras. O último a ver este acampamento... – Ela olhou para Zoë. – Qual foi?

– O rapaz no Colorado – disse Zoë. – Tu o transformaste em uma lebre-antílope.

– Ah, sim. – Ártemis acenou com a cabeça, satisfeita. – Gosto de fazer lebres-antílopes. De qualquer forma, Percy, eu o chamei aqui para que você possa me dizer mais sobre a mantícora. Bianca tem relatado algumas das...hmmm, perturbadoras coisas que o monstro disse. Mas ela pode não tê-las entendido. Gostaria de ouvi-las de você.

Antes que Selena e Percy dissessem alguma coisa, Harry entrou na tenda, com uma Caçadora o guiando.

– Ah sim, Harry Potter, acomode-se - falou Ártemis, indicando um lugar ao lado de Selena. A garota se sentiu desconfortável quando o garoto sentou-se ao seu lado, roçando seu braço no dela. Zöe lançou um olhar de desgosto para Harry.

Sob o olhar da deusa, Percy e Selena contaram o que havia acontecido, exatamente. Harry contribuiu com alguns detalhes, mas na maior parte do tempo, ficou em silêncio.

Quando terminaram, Ártemis pôs a mão sobre seu arco pensativamente.

– Eu temia que essa fosse a resposta - disse.

Zoë sentou mais a frente.

– O cheiro, minha senhora?

– Sim.

– Que cheiro? – perguntou Selena.

– As coisas que estão em movimento não são caçadas por mim faz milênios – murmurou Ártemis. – Presas tão antigas que quase me esqueci delas.

Ela encarou Percy e Selena, atentamente.

– Nós viemos aqui hoje à noite monitorando a mantícora, mas ele não era o que eu procurava. Diga-me uma vez mais, exatamente o que o Dr. Espinheiro disse.

– Hum, “Eu odeio bailes colegiais" - respondeu Percy.

– Não, não. Depois disso.

– Ele disse que alguém chamado o General iria explicar as coisas para nós - respondeu Selena.

O rosto de Zoë empalideceu. Ela se virou para Ártemis e começou a dizer algo, mas Ártemis levantou a sua mão.

– Vão em frente – disse a deusa, encarando os meios-sangues.

– Bem, então Espinheiro estava falando sobre o Grande Turbilhão... - falou Percy.

– Agitação – corrigiu Bianca.

– Sim. E ele disse “Em breve teremos o mais importante monstro de todos, o que deve provocar a queda do Olimpo” - completou Selena.

A deusa ficou tão imóvel que poderia ser uma estátua.

– Talvez ele estivesse mentindo – disse Percy.

Ártemis balançou a cabeça.

– Não. Ele não estava. Eu fui demasiada lenta para ver os sinais. Devo caçar esse monstro.

Zoë parecia estar se esforçando muito para não ter medo, mas ela assentiu.

– Vamos partir imediatamente, minha senhora.

– Não, Zoë. Devo fazer isso sozinha.

– Mas, Ártemis...

– Esta tarefa é muito perigosa mesmo para as Caçadoras. Você sabe onde devo iniciar minha busca. Você não pode ir lá comigo.

– Como... como desejar, minha senhora.

– Vou encontrar essa criatura – jurou Ártemis. – E vou trazê-la de volta para o Olimpo no solstício de inverno. Isso será toda a prova de que preciso para convencer o Conselho dos Deuses do quanto estamos em perigo.

– Você sabe o que o monstro é? – perguntou Harry, pronunciando-se finalmente.

Ártemis apertou seu arco.

– Rezemos para que eu esteja errada.

– Deuses podem rezar? – perguntou Percy. Selena conteu o riso e percebeu que Harry fazia o mesmo.

A cintilação de um sorriso brincou pelos lábios de Ártemis.

– Antes de irem, Percy Jackson e Selena Jayne, eu tenho uma pequena missão para vocês dois.

– Envolve ser transformado em uma lebre-antílope?

– Infelizmente, não. Quero que escolte as Caçadoras de volta para o Acampamento Meio-Sangue. Elas podem ficar lá em segurança até que eu retorne.

– O quê? – Zoë disse abruptamente. – Mas, Ártemis, nós odiamos aquele lugar. A última vez que ficamos lá...

– Sim, eu sei – disse Ártemis. – Mas eu tenho certeza que Dioniso não vai guardar rancor apenas por causa de um pequeno, ah, mal-entendido. É o seu direito utilizar o Chalé Oito sempre que necessitarem. Além disso, soube que eles reconstruíram os chalés que você queimou.

Zoë murmurou algo sobre campistas insensatos. Selena franziu o cenho, tentando entender o porque das Caçadoras não gostarem do Acampamento Meio-Sangue.

– E agora há uma última decisão a ser feita. – Ártemis se virou para Bianca. – Você fez a sua escolha, minha menina?

Bianca hesitou.

– Eu ainda estou pensando nisso.

– Espere – perguntou Percy. – Pensando sobre o quê?

– Elas... Elas me convidaram para me unir à Caça.

– O quê? Mas você não pode! Você tem que vir para o Acampamento Meio-Sangue para que Quíron possa treinar você. É a única maneira para você aprender a sobreviver.

– Este não é o único caminho para uma garota – disse Zoë.

Selena encarou Percy, como quem dissesse "Resolva isso, Cabeça de Alga".

– Bianca, o acampamento é legal! Ele tem um estábulo com pégasos e uma arena de combate e... Quero dizer, o que você ganha ao aderir às Caçadoras? - perguntou Percy.

– Para começar – disse Zoë, – imortalidade.

Percy voltou seu olhar para ela, em seguida, para Ártemis. Harry encarou Selena, parecendo tão confuso quanto Percy.

– Ela está brincando, certo? - perguntou, ao mesmo tempo que Percy o fez. Selena deu de ombros.

– Zoë raramente brinca sobre o que quer que seja – disse Ártemis, encarando Harry e voltando seu olhar para Percy. – Minhas Caçadoras me seguem em minhas aventuras. Elas são minhas servas, minhas companheiras, minhas irmãs-em-armas. Uma vez que juram fidelidade a mim, elas se tornam realmente imortais... a menos que caiam em batalha, o que é pouco provável. Ou quebrem seu juramento.

– Qual juramento? – perguntou Harry.

– Para esquecer o amor romântico para sempre – disse Ártemis. – Para nunca crescer, nunca se casar. Para ser uma donzela eternamente.

– Como você? - perguntou Percy.

A deusa concordou.

Selena pensou por um instante. Talvez, só talvez, ser uma Caçadora fosse legal. Ser Imortal, seguir algo diferente, esquecer Profecias malucas e as guerras em dois mundos.

– Então você só vai pelo país recrutando garotas meio-sangues... - falou Percy.

– Não só meio-sangues – Zoë interrompeu. – Lady Ártemis não discrimina por nascimento. Todas que honram a deusa podem aderir. Meio-sangues, ninfas, mortais...

– Qual é você, então? - perguntou Percy.

Raiva lampejou nos olhos de Zoë.

– Isso não te diz respeito, rapaz. O ponto é que Bianca pode aderir se ela quiser. A escolha é dela.

– Bianca, isso é loucura – disse Percy. – E com relação ao seu irmão? Nico não pode ser um caçador.

– Certamente não – concordou Ártemis. – Ele vai para o acampamento. Infelizmente, isso é o melhor que meninos podem fazer.

– Ei! – protestaram Harry e Percy.

– Você pode vê-lo de vez em quando – Ártemis assegurou a Bianca. – Mas você estará livre de responsabilidade. Ele terá os conselheiros do acampamento para cuidar dele. E você terá uma nova família. Conosco.

– Uma nova família – Bianca repetiu sonhadoramente. – Livre de responsabilidade.

– Bianca, você não pode fazer isso – falou Percy. – É loucura.

Bianca olhou para Zoë.

– Vale a pena?

Zoë acenou.

– Sim.

– O que tenho que fazer?

– Dizer isso – Zoë explicou a Bianca – Eu me submeto à deusa Ártemis.

– Eu… eu me submeto à deusa Ártemis.

– Eu abandono a companhia dos homens, aceito eterna virgindade, e me junto à Caça.

Bianca repetiu as linhas.

– É isso?

Zoë concordou.

– Se Lady Ártemis aceitar tua submissão, então é obrigatório.

– Eu aceito – disse Ártemis.

As chamas no braseiro se alegraram, lançando um brilho prateado sobre a sala. Bianca não parecia diferente, mas ela respirou fundo e abriu seus olhos amplamente.

– Eu me sinto... mais forte.

– Bem-vinda, irmã – disse Zoë.

– Lembre-se de seu juramento – disse Ártemis. – Agora é a sua vida.

– Não se desespere, Percy Jackson – disse Ártemis. – Você ainda vai poder mostrar aos Di Angelo seu acampamento. E se Nico assim escolher, ele pode ficar lá.

– Ótimo – disse ele, tentando não ser ríspido.

– Selena Jayne - Zöe voltou seu olhar para a garota, que permanecia em silêncio, pensativa. - Gostaria de se unir-te à nós?

Selena pensou por um instante. Harry a encarava, meio desesperado. Percy parecia prestes a gritar "Nem pensar, Queimadura!".

– Não - Selena sorriu. - Eu...Prefiro continuar sendo uma meio-sangue.

– Mas... - Zöe parecia decepcionada. Pelo jeito, ao ver o arco nas costas de Selena, a Caçadora teve esperanças de reunir outra meio-sangue.

– Não insista, Zöe - Ártemis encarou Selena. - Ela já tem seu destino.

Zöe ficou em silêncio. Percy se pronunciou, parecendo mais trânquilo.

– Como se supõe que cheguemos lá?

Ártemis fechou os olhos.

– A alvorada está se aproximando. Zoë, levante acampamento. Você deve ir para Wimbledon com rapidez e segurança. Vou convocar uma carona do meu irmão.

Zoë não pareceu muito feliz com essa ideia, mas ela concordou e disse a Bianca para segui-la. Quando ela estava saindo, Bianca parou na frente de Percy.

– Eu sinto muito, Percy. Mas eu quero isso. Eu realmente, realmente quero.

Bianca saiu da tenda. Selena encarou Ártemis. Percy se pronunciou novamente, meio mal-humorado.

– Então, vamos pegar uma carona com seu irmão, hein?

Os olhos prata de Ártemis cintilaram.

– Sim, garoto. Bianca di Angelo não é a única com um irmão irritante. Está na hora de vocês conhecerem o meu irresponsável gêmeo, Apolo.