Heart Attack


Avalanche




Ela continuou neutralizada por tamanho choque. Como se não bastasse ter se distraído o bastante para ser vista nua, ainda deixara que a tal pessoa visse o que tentava esconder de todos...

A marca que mostrava um passado trágico, repleto de traumas e feridas violentas.

Porém já era tarde... O homem que se encontrava exatamente atrás de si vira o bastante para entender que a mesma continha o carimbo oficial de escravo, mostrando que sua vida pertencia a um Dragão Celestial.

Ela sabia que se encontrava numa situação extremamente delicada por ter tido seu segredo revelado... Porém, só havia um jeito de resolver tudo...

Matar a pessoa que acabara de ver sua vulnerabilidade, mas...

O que fazer numa situação onde a pessoa que acabara de descobrir sua origem, fosse, na verdade um Shichibukai como ela...?


O que fazer quando Trafalgar Law descobrira que a Imperatriz Pirata Boa Hancock não passava de uma escrava...?


A morena terminou de jogar as longas madeixas negras para trás, cobrindo perfeitamente a marca, e então... Se levantou adequadamente, envolvendo seu corpo com um fino tecido felpa que se encontrava numa outra pedra logo adiante.

Quando a mesma finalmente resolveu se virar, no mesmo instante encarou o semblante inquebrável do Cirurgião da Morte.

Ela sabia que mesmo o shichibukai tendo uma revelação tão inesperada como aquela, não seria o bastante para estilhaçar aquele olhar tão gélido como uma tempestade de neve no clímax do inverno.


Olhos vazios presos por debaixo de uma sombra perfeita... O olhar inexpressível lhe feria como agulhas, que pareciam penetrar lentamente sua pele até alcançar a espinha...


E embora o impacto soasse intimidante, o olhar inflexível de Hancock ardia impetuosamente, amaldiçoando a si mesma por ter sido vista por mais um homem...

Não que Luffy fosse o tipo de homem que mais odiara... Pelo contrário... Estava convencida que ele era tudo para ela, mas... O que esperar de alguém tão sinistro e conhecido como um dos piratas mais cruéis da Grandline...?

Trafalgar Law não era Luffy... E depois de tudo, o que ele faria...?

O moreno continuou encarando a feição impecavelmente perfeita da Imperatriz, e a fumaça densa apenas contribuía para que sua visão ficasse um pouco mais desfocada.

Ele podia jurar que as gotas que escorriam pelos longos fios negros pareciam diamantes que deslizavam como finas cascatas. O profundo mar negro de seus cabelos reluzia como fios de cristal...

O silêncio entre ambos permaneceu por um longo momento. Pareciam se comunicar pelos olhares, mas aquilo não seria o bastante... Até mesmo o cirurgião sabia que algo teria de ser dito, porém...

Hancock o fez primeiro.

- Essa foi a pior ocasião para reencontrar um shichibukai desde a última reunião com os anciões de Mariejoa...

A voz da morena vibrou de modo ecoante, pois seu timbre podia ser distinto de forma confina e aguerrida, se assim Law pudesse julgar.

Embora tivesse entendido tudo perfeitamente, ele não pôde deixar de conter um sorriso petulante. Seria aquela a hora de esmagar a pose ostentosa da Imperatriz...?

- Por mais que tentasse pensar sobre isso... Agora vejo uma explicação plausível para a lenda mais patética que ouvi a respeito de você e suas irmãs...

A voz extremamente calma que transpassava ousadia foi o ponto culminante para a ira contida da shichibukai.

Hancock expressou todo o ódio que reprimia diariamente contra todos os homens que vira em sua frente. E por mais que odiasse cada um deles em nível elevado, Trafalgar Law estava começando a ultrapassar o limite que ela mesma havia estabelecido.

- Você... O que pretende fazer...? – A voz da shichibukai fora entoada um pouco mais abaixo de seu tom natural. Era óbvio que estava prestes a ter de lidar com o maior problema até aqueles dias.

Law ficou em silêncio por um instante. Ele apoiou a Nodachi em seu ombro direito e fechou os olhos. Não estava interessado em subornar a Imperatriz para esconder o tal segredo tão tenebroso... Embora fosse cômico... Estava impaciente demais para suportar mais um empecilho em seus preciosos dias de folga que soavam maçantes e tragicamente marcados por certa ruiva...

- Eu não farei nada... Mas exijo que saia logo dessa terma... Estou exausto e quero descansar.

- O quê!? Acha mesmo que vou acreditar que não irá pedir nada em troca depois de ter visto o símbolo da maldição tatuado em minhas costas!?

Law fechou os olhos novamente, tentando medir o nível de estupidez da mulher.

- Como é barulhenta... Eu já pedi para sair... Não farei nada, se é o que está pensando...

Law virou de costas para a pirata e passou a fazer o mesmo trajeto de volta. Não estava mentalmente disposto a discutir sobre algo tão irrelevante.

Mas antes que pudesse chegar ao local pretendido, ele sentiu uma forte presença atrás de si e então percebeu o ataque da Kuja.

O cirurgião defendeu o vigoroso chute da morena com a espada e suspirou impaciente logo em seguida por perceber que a mesma estava disposta a travar um luta sem precedentes.

- O que pretende fazer...? Me matar por descobrir seu segredo insignificante...? – Ele respondeu audaciosamente enquanto encarava o olhar colérico da shichibukai que manteve a mesma posição do chute.

- Eu não deixarei que saia daqui antes de resolvermos isso! Se prepare Trafalgar Law!

O moreno a fitou desacreditado. Sabia que Boa Hancock possuía um tipo especial de Haki do armamento, mas era notório que não teria chances de vencê-lo.

- Então é isso que realmente quer...? Travar uma batalha aqui e nessas condições...? – Ele redarguiu indiferente.

- Não vejo outra forma de lhe calar... – Ela respondeu decidida.

- A minha palavra não basta...?

- Não acredito em nenhuma palavra dita por um homem. Vocês são todos iguais...

- Então quando despedaça-la por completo, creio que poderei descansar... – Law retirou a espada da bainha e a posicionou para um ataque. Aplicaria de uma só vez um golpe que a nocauteasse.

A shichibukai não disse mais nada. Apenas se concentrou em executar uma sequência de golpes.

– Room... – A auréola se expandiu e Law abriu por completo o círculo. Tudo o que o mesmo teria de fazer era apenas cortá-la. E então poderia voltar para o seu descanso... Porém...

Antes que pudesse desferir qualquer golpe com sua espada, Hancock estava perto suficiente para lhe atingir com uma série de chutes.

A primeira vista Law se espantou, pois não havia atentado para a velocidade e agilidade da pirata. Sempre a julgou como uma reles mulher fútil e desnecessária no meio dos shichibukai, porém nunca tinha observado qualquer luta onde ela estivesse presente.

Hancock manteve o ritmo pesado enquanto o cirurgião esquivava com certa dificuldade.

Ele se arrependeu por ter subestimado a Imperatriz.

No meio do conjunto de embates, a pirata finalizou com um golpe costumeiro em suas batalhas.


- PERFUME FEMUR!


E tal foi o bastante para refrear qualquer indício de contra-ataque que o cirurgião pudesse inesperadamente improvisar...

Por frações de segundo Law não teve sua face petrificada, porém a guimba de sua bainha não teve a mesma sorte.

Ele havia se agachado e num movimento instintivo defendeu com o objeto responsável por envolver sua Nodachi. O resultado do ocorrido foi ver o material tão resistente do objeto ser esfarinhado logo depois de virar pedra.

Uma gota de suor escorreu pela testa do cirurgião.

Hancock sorriu imperiosamente vitoriosa.

- Devia lhe advertir sobre minha habilidade...? Ou você se dará por vencido...? – E então ela sorriu luxuosamente ufana enquanto jogava as longas madeixas para trás, esbanjando seu típico aspecto soberbo e convencido. Os brincos em forma de Cobra que transluziam suntuosidade completavam a aparência esplêndida da Shichibukai.

Por um momento Law teve a imensa vontade de fazê-la em pedaços de verdade e ver seu sangue jorrando em meio às águas da terma. Como ele odiava mulheres daquele tipo...

- Em vez de declarar vitória antecipada, não deveria se concentrar na luta...?

- O quê-!?

Dois segundos foram o suficiente para Hancock ter seu corpo arremessado violentamente no chão.

Law estava decidido a cortá-la, porém teria de fazê-la ficar imóvel, pois sua velocidade não poderia ser subestimada.

A morena não conseguiu se movimentar e isso se devia unicamente por estar dentro do círculo do cirurgião... Seria impossível conseguir se desvencilhar daquele campo.

Law se aproximou e vendo que o corpo da Imperatriz ainda permanecia imóvel, ele se agachou e num impulso segurou o pescoço dela.

Hancock se espantou com o movimento e sentiu que aos poucos ele passou a apertar o enlace.

Os olhos negros azulados da Shichibukai se alargaram em resposta e ela sentiu um forte arrepio ao constatar que ele se preparava para acertá-la com a lâmina de sua espada.

Law ergueu a espada para o alto, pronto para cortar o pescoço dela, mas antes que pudesse fazê-lo, Hancock reagiu.

- NÃO!!!

O cirurgião manteve a espada estendida para o alto e atentou para o novo semblante da pirata.

Era formosamente terna, meiga e bela.

Ele arqueou uma sobrancelha em resposta. Há poucos minutos atrás ela estava furiosa... E agora estava sorrindo gentilmente...?

- Você sofre de transtorno bipolar...? – Law contestou desconfiado daquela reação grotesca, porém a morena respondeu polidamente graciosa.

- Você não fará nada comigo... Não é mesmo...? Eu tenho certeza... – Ela fechou os olhos e continuou sorrindo graciosamente enquanto suas bochechas ruborizavam na medida em que seus gestos transpassavam cada vez mais delicadeza.

- Por que está tão convencida de que não farei...? – O cirurgião retorquia com seu peculiar jeito insensível. Se perguntava o que aquela mulher pretendia. E para a sua surpresa, ela revelou logo em seguida o por quê.


– Por que eu... Sou linda...


E finalmente Hancock exibiu a típica feição incrivelmente linda que arrebatava qualquer homem que cruzasse seu caminho. Era impossível até mesmo para Trafalgar Law, um homem tão arrogante, cruel e impiedoso resistir. Todos eram atingidos pela beleza estonteante e impecavelmente avassaladora da imperatriz. Ele não teria outra escolha a não ser se render aos seus encantos e mostrar sua real fraqueza diante da sublime figura que formava Boa Hancock.

Mas para a surpresa da morena, vários segundos se passaram e ele continuou a fita-la friamente imparcial.

Aos poucos um sorriso de canto audacioso pôde ser visto.

Hancock ficou com um ponto de interrogação estampado na testa.

- Como uma mulher como você consegue se rebaixar ao nível de um inseto por agir da forma mais ridícula e medíocre que já existiu...? Será que não tem vergonha de si mesma...?

Os olhos da Imperatriz arregalaram totalmente em reposta.

O que ele havia lhe dito mesmo...? Aah sim... Ele alegou que ela era igual a um inseto... E sua postura era a mais ridícula e medíocre de toda a existência humana...?

Céus... Quando foi a última vez que alguém havia lhe agredido verbalmente de forma tão violenta como aquela...? Ahh sim... Luffy havia dito que ela lhe enojava quando a mesma se recusou a transformar Margareth e as outras novamente.

Mas as palavras de Trafalgar Law foram muito piores... E ela se perguntava o porquê, mas... Antes que tentasse entender, automaticamente ela resolveu usar seu mais absoluto artifício, pois era impossível haver outro homem como Luffy, e então... O que estivesse preso no lugar mais obscuro do cirurgião viria à tona e sua real essência seria revelada, mostrando se suas palavras maçantes eram verdadeiras ou não.

Hancock tinha certeza que dessa vez ele não escaparia.

Ainda nocauteada no chão com Law por cima de si, ela elevou os braços e fez um símbolo com a forma de um coração através dos dedos.


- MERROW MERROW MERROW!!!


Vários corações que pareciam ser reproduzidos como hologramas foram soltos pelas mãos da pirata.

Law apenas reagiu à luz dos raios rosados em forma de coração e por instinto fechou os olhos.

Hancock sorriu maliciosamente de canto ao perceber que o cirurgião havia se afastado e então a mesma se levantou, mas fazendo com que suas mãos permanecessem naquela posição, lançando uma série contínua de corações no ímpeto de transformá-lo em pedra.

Mas mais uma vez os segundos se passaram e depois de um tempo o shichibukai abriu os olhos, percebendo que os poderes da Princesa Cobra não surtiam efeito.

Ele arqueou uma sobrancelha em resposta, não entendendo o que estava acontecendo.

Porém a reação mais assombrosa foi a de Hancock, que estava completamente desacreditada que mais uma pessoa resistira ao seu charme irreversível.

Como aquilo era possível...?

A imperatriz desfez a posição com as mãos e seus braços ficaram imóveis. Ela estava totalmente tensa e abismada pelo ocorrido.

- Você também conseguiu resistir aos meus poderes... Mas por quê...? Todos os homens não resistem à minha beleza, no entanto você... – Os olhos da morena continuavam mais abertos que o comum.

- Beleza...? Mas que beleza...? – Law fitou Hancock da cabeça aos joelhos com desdém. Se o ponto fraco daquela técnica se resumia em se sentir fisicamente atraído por ela, então ele tinha a plena certeza que estava seguro.

- Você não...-

- Seus métodos são realmente dispensáveis Boa Hancock... – A voz do moreno se despontou em desprezo. Era possível notar o quanto ele a repudiava apenas pelo olhar frio e inexpressivamente insensível.

- Como ousa falar comigo nesse tom...? – Ela o encarou ainda mais furiosa do que antes, porém sentindo extremo pesar por ser rejeitada novamente.

Ela só havia sentido tal coisa quando confrontou Luffy em Amazon Lily.

- Posso usar o tom que bem quiser, afinal... Você é só uma pirata qualquer... Ou por acaso se acha uma Deusa...? Sinto dizer, mas isso está totalmente longe de acontecer, ou melhor... Eu diria que é impossível... – E mais uma vez um sorriso ousado brotava nos lábios do cirurgião enquanto o mesmo a confrontava com seu olhar penetrante e demasiadamente áspero.

Hancock se sentiu extremamente atingida pela petulância e coragem do mesmo dizer palavras que soavam como espadas que pareciam perfurar seu coração pouco a pouco.

Ela segurou a imensa vontade de chorar... Mas involuntariamente uma pequena lágrima escorreu pelo canto direito de sua face.

- Maldito... Além de descobrir sobre essa marca amaldiçoada, ainda resolve me humilhar...? – A morena disse baixo, como se quisesse jogar toda a raiva para fora apenas para si, mas Law ouvira tudo, ainda que a mesma quisesse esconder.

- Eu não pretendo revelar seu segredo, tampouco tirar proveito dele com algum propósito... Mas...

Hancock havia fechado os olhos para tentar refrear as lágrimas, porém ele já havia se aproximado e estendido a mão na direção do rosto dela.

A imperatriz abriu os olhos rapidamente quando sentiu o polegar do cirurgião tocar-lhe a face delicadamente no intuito de conter as lágrimas que haviam descido sem sua permissão.

Ela o encarou surpreendida. Por que depois de tudo ele estava sendo gentil...?

- Se for de consolo, o Chapéu de Palha chegará a essa ilha nos próximos dias. Se quiser revê-lo essa é a hora perfeita, não acha...? – E mais uma vez ele sorriu. Um sorriso solidamente fascinante. Expressava seriedade e conforto.

A morena piscou várias vezes, tentando discernir a mensagem. Depois de descobrir sobre seu maior segredo, lutarem, discutirem, e depois ser humilhada, com palavras horríveis, ele lhe consolava enxugando as lágrimas e lhe presenteava com a mensagem de que Luffy ancoraria naquela ilha...?

O quão misterioso Trafalgar Law poderia ser...?

Ainda processando todo o ocorrido, a imperatriz ficou em silêncio, apenas observando a reação tão enigmática do cirurgião. Um tanto curiosa, ela passou a prestar atenção em todos aqueles traços tão exímios e então finalmente se dado conta de que o mesmo parecia ter lados ocultos que dificilmente eram notados por qualquer um e muito menos exibidos para qualquer um...

A morena cogitou a possibilidade de no fundo ser uma das poucas que havia visto aquele lado tão distinto... Ou talvez...

Que fosse a única...

Misteriosamente ela se sentia aliviada por concluir sobre tal... Ou talvez você a sensação horrível de se sentir rejeitada por ele e...-

- Até quando vai ficar olhando pra minha cara desse jeito...? – Law quebrou o silêncio de modo inconveniente.

- Aah, e-eu estava assimilando a mensagem de que verei Luffy novamente e... - A Imperatriz esquivou o rosto, tentando disfarçar a vergonha causada por sua indiscrição.

- Que seja... Eu vou indo...

- Espere! Não pense que ficarei de braços cruzados depois de ver meu segredo sendo revelado por um pirata tão traiçoeiro como você! – Hancock voltava a se referir ao mesmo com sua pose e voz imperiosa, apontando o dedo na direção onde o cirurgião se encontrava.

- Faça como quiser... Eu não me importo... – E então o moreno se ausentou da terma ao qual havia reservado para descansar.

Hancock continuava se sentindo estranha depois de tudo, mas desconfiada se o mesmo guardaria seu segredo.

Ela ficaria na cola dele pelos próximos dias, apenas para ter certeza.





...





Nami e John se encontravam na costa da ilha ambos sentados em duas cadeiras de praia tomando sol. Os dois estavam em frente ao Quebra Gelo e vestidos adequadamente para a ocasião.

A navegadora trajava um biquíni com estampas de conchas, enquanto o moreno vestia uma típica sunga box preta.

- Topa ir comigo no Parque de Diversões amanhã...?

- Sério que aqui tem um Parque!? – Nami perguntava animada enquanto retirava os óculos de sol dos olhos. A ruiva havia se empolgado no mesmo instante, pois havia muito tempo que não se divertia num parque.

- Sim! A maior montanha russa da Grandline está nesse parque...

- Jura!!? Eu adoro montanhas russas! Não podemos ir hoje!!? – Os olhos da ruiva brilhavam.

- Não... Hoje eu pensei em outro tipo de divertimento... – John fazia uma careta única, no ímpeto de que Nami captasse a mensagem.

E na mesma hora ela adivinhou.

- Campeonato de bebida!? Mas não tem ninguém pra gente desafiar...

- Claro que tem! A tripulação inteira do Newgate está aí de férias... Vamos desafiar os coroas...

- Eu não sei... Eles estão ocupados decidindo as próximas rotas... Não sei se eles topariam e-

- É claro que a gente topa... O que faz você pensar que não temos cara pra enfrentar um jogo assim!? Somos muito mais experientes que vocês! – Bay chegava ao local acompanhada de Marco, Izou, Vista e Jozu.

- Campeonato de bebida...? Há quanto tempo não fazemos isso...? – Vista indagava animadamente aos companheiros.

- Desde a morte do Thatch... – Marco replicava num tom melancólico.

- É e se ele estivesse aqui também toparia participar... E também não existem motivos pra não fazermos... Aposto que quem vai cair primeiro vai ser você... – A azulada apontou na direção de Marco.

- Queria entender por que você sempre me rebaixa ao pior nível... – O loiro sorriu marotamente.

– Eu realmente espero que um dia você entenda... – E então a pirata transpassou um olhar enigmático, porém provocante para a fênix.

Nami e John olharam um para o outro com os olhos espantados. Era óbvio que havia uma mensagem oculta naquela frase e os dois continuaram se encarando perplexos apenas para terem certeza se ambos tinham entendido o mesmo significado.

Marco correspondeu a pirata com um sorriso ardiloso, porém discreto.

- Sem querer atrapalhar o clima amoroso de vocês dois, mas vocês vão ou não participar...? – Izou tentava quebrar a atmosfera onde os demais não estavam incluídos.

- Eu topo. – Marco finalizou.

- Eu já estava dentro antes mesmo de vocês decidirem... – Bay completava.

- Se preparem, por que o mestre da manguaça vai vencer! – Jozu replicava vitorioso.

- Eu não teria tanta certeza se fosse você... Se esqueceu de quem nunca fica bêbado mesmo depois de dezenas de canecos...? – Vista provocava o companheiro.

- Ahahahaha, acho melhor vocês se aposentarem, por que a mamãe aqui está muito mais acostumada com essas coisas do que imaginam! – A ruiva levantou os braços, fazendo pose de vitória.

- Quem...? Você Nami...? Já perdeu a conta de quantas vezes perdeu pra mim quando estávamos no East Blue...? Não vem com essa sua amadora! – John rebaixava prazerosamente a amiga.

- Vocês querem parar de falar e agir...? Vamos pegar todo o sakê do estoque e ver quem será o vencedor... – Izou retorquia a todos enquanto fazia um gesto para todos se dirigirem ao navio e começarem a competição.





...





Enquanto todos carregavam as garrafas de sakê para o convés, Bay esbarrou em Law. O cirurgião basicamente trajava uma camisa de manga comprida escura, calça jeans, sapatos e seu típico gorro

- Aah Trafalgar, já que está por aqui não quer participar do campeonato de bebida que vamos fazer!? Vai ser divertido.

- Campeonato de bebida...? Um jogo onde ganha aquele que ingerir a maior quantidade de álcool, mas sem cair...? Muito divertido, mas não... Obrigado. – Respondeu incivil.

- É, eu já sabia que você não participaria. Você é mala demais pra aguentar uma competição assim. – A azulada finalizou.

- Essa é a típica desculpa que perdedores dão para escapar de uma competição de bebida. Mas não ligue Bay. Já temos bastante adversários, o que vai deixar tudo mais divertido... – Nami se intrometia na conversa e logo ia humilhando o cirurgião da pior forma. A ruiva havia vestido uma blusa larga por cima do biquíni, mas deixando as alças da parte de cima à mostra e um short jeans curto.

Law apenas a encarou indiferente, como sempre.

- Nami, você vai cair no vigésimo caneco! Quantos anos faz que você não bebe como louca!? – Do outro lado do convés John gritava de forma provocativa para a ruiva.

- Olhe aqui, eu enchi a cara quando estive na Ilha dos Tritões! E se o Zoro estivesse aqui, iria acabar com essa sua pose! Ele é o único que é pau a pau comigo! – A navegadora gritava de volta enquanto corria na direção do amigo.

Law se sentiu extremamente incomodado depois das últimas palavras da ruiva.

Primeiro: O tal do John participaria e ainda por cima parecia ser experiente naquele jogo estúpido.

Segundo: Nami estava reconhecendo o Ex Caçador de Piratas Roronoa Zoro como um adversário à altura, o que tornava tudo ainda mais irritante, pois ele sentia que de alguma forma ela possuía uma ligação estranha com o mesmo.

Terceiro: ...Não havia terceiro, porém ele já havia tomado sua decisão.


Todos já haviam feito uma roda no convés e todas as garrafas estavam no meio.

Bay se levantou e quando pensou em declarar o início da guerra, percebeu Law se sentando ao lado da ruiva.

- Você decidiu participar...? – A azulada indagou enquanto arqueava uma sobrancelha, incrédula.

– Sim. – Law respondeu ríspido.

Nami olhou para o lado e tentou entender por que o cirurgião repentinamente havia decidido participar. Mas não tinha importância, pois a ruiva só estava pensando em ganhar.

- EU DECLARO O INÍCIO DO CAMPEONATO! – Bay dava início a competição e todos abriram as garrafas para despejar o sakê nos canecos.



Placar:

Marco: Vinte canecos = Já estava extremamente sonolento.

Bay: Vinte e dois canecos = Estava cantando e dançando no meio da roda junto do seu bando.

Jozu: Vinte e cinco canecos = Disse que iria ao banheiro, mas parece ter se perdido no caminho.

Vista: Vinte e sete canecos = Ainda estava lúcido e era o único que parecia estar bem mesmo depois de ingerir muito sakê.

Izou: Vinte e nove canecos = Agia como um bêbado normal, contando histórias das aventuras envolvendo o falecido capitão.

John: Trinta canecos = Fazia Streap-Tease para as enfermeiras do navio.

Nami: Trinta e três canecos = Agia perfeitamente normal como de costume quando ingeria altas doses de álcool, porém sorria como uma hiena e estava intimando a todos que perdessem a lhe pagar mil berries cada.

Law: Dezoito canecos = Havia ido até a popa do navio e caído no mar quando se encostou na borda de aço, porém os companheiros de Bay o socorreram a tempo. Mas no mesmo momento o cirurgião que parecia enxergar unicórnios rosa em sua frente, abriu o círculo e começou a cortar todos em sua frente de forma descontrolada.

- Hey Nami vai lá e dê um jeito no seu namorado! Ele está cortando os meus homens!!!

- Ele não é meu namorado Bay!!! – Nami protestou exaltada.

- É ótimo saber sobre isso... – Automaticamente John havia se aproximado, quase se jogando em cima da ruiva.

- Sei... Essa sua pose pode enganar quem está envolta, mas não a mim... Agora me dá licença... Vou conter os estragos desse idiota... – Nami se levantou da roda onde todos praticamente já haviam caído e passou a caminhar para trás do navio.

Ao avistar o cirurgião com o círculo aberto, gritou desvairadamente.

- SE VOCÊ NÃO PARAR AGORA, EU VOU ENTREGAR AQUELA FOTO NAS MÃOS DO LUFFY!

E o olhar do cirurgião se estendeu quando Nami mencionou “aquela foto” e “Luffy”.

– Se fizer isso... É uma mulher morta... – Law replicou apático, mas ele estava tão tonto que ameaçou um homem de longos cabelos castanhos e barba comprida, achando que era a ruiva quem estava em sua frente.

- Eu estou aqui seu idiota... – Nami se aproximou, cruzou os braços e o observou atentamente. Ele estava pateticamente ridículo ao reagir tão descontroladamente.

- Eu vou ganhar essa competição idiota e então você-

- Cala essa boca e vem logo... Você está tão bêbado que precisa de um banho frio urgente...

E então a ruiva enlaçou a cintura do moreno no intuito de guiá-lo até o quarto onde o mesmo estava hospedado. Lá havia um banheiro, então ela o jogaria debaixo do chuveiro e faria um café logo em seguida.


Nami havia chegado ao quarto do cirurgião com muita dificuldade, pois o mesmo estava cambaleando a ponto de quase jogá-la no chão.

Quando os dois chegaram ao local, Nami o empurrou para dentro do Box e abriu o chuveiro.

A água gelada aos poucos passou a encharcar por completo a roupa do cirurgião, com exceção dos sapatos e do gorro que Nami havia retirado antes de jogá-lo no banheiro.

- Agora fique aí e refresque essa cabeça oca! Por que entrou num campeonato de bebida se não estava acostumado a beber tanto!? Você pode até ser um adulto, mas agiu como um moleque inconsequente! – Enquanto Nami o repreendia, Law a encarava com uma carranca horripilante. Quem era ela pra agir como sua mãe...?

- Agora se me der licença, vou fazer um café pra ver se você desperta e- Quando Nami virou as costas para sair do banheiro, Law agarrou seu braço e a puxou para dentro do box.

Ele havia a puxado tão forte, que seu corpo colidiu com o dele de forma violenta.

A água do chuveiro passou a ensopar os cabelos e a roupa da ruiva.

Nami se espantou com o ocorrido e reagiu da pior forma possível.

- O que você está fazendo!? – Ela tentou empurrá-lo, mas ele agarrou seus pulsos e a jogou contra a parede.

Nami arregalou os olhos quando percebeu que ele estava perto... Muito perto...

O olhar dele se semicerrou e por um momento o cirurgião se sentiu preso num sonho... Um sonho ao qual se encontrava perto o suficiente para massacrar a imensa vontade de sentir o cheiro dela...

Ele já estava cansado de conter o anseio de tê-la tão perto e não poder tocá-la... De vislumbrar seu rosto e não ter concessão de sentir a textura de sua pele... Ou de reprimir o desejo de acariciar as mechas ruivas tão macias que deslizavam perfeitamente entre seus dedos...

- Por favor, me largue... – Ela implorou com a voz embargada, temendo que algo impensado pudesse acontecer... Mas Law não estava disposto a deixa-la ir... Não antes de dizer o que estava guardado...

O cirurgião sentiu que seu coração lutava desesperadamente por sobrevivência a cada batida. Sua visão estava um tanto desfocada e sua mente girava em círculos contínuos...

Ele vinha tentando negar... E sentia que estava se tornando cada vez mais tolo para ela... Mas não havia mais importância... Ele despejaria tudo de uma vez... Ainda que se arrependesse depois... Ainda que o álcool tivesse drenado por completo sua sanidade...

– Nami-Ya... Por favor me ouça...

A navegadora sentiu um impetuoso aperto no peito. O que ele estava planejando...? O que ele queria lhe dizer...?

- E-eu não quero ouvir... – Replicou um pouco desesperada enquanto fechava os olhos e tentava desviar o rosto para o outro lado.

Mas ele elevou as mãos na direção de sua face e delicadamente lhe obrigou a lhe encarar.

A respiração de ambos engatou e mesmo a água fria do chuveiro molhando por completo seus corpos não era suficiente para lhes tirar daquela situação tão inesperada.

O tecido fino da camisa dele contornava as linhas de seus músculos, mostrando parte da tatuagem no peito.

Os cabelos negros totalmente encharcados transformaram o aspecto masculino em algo distinto, ao qual a navegadora não estava acostumada a ver. Os olhos dele mostravam um fulgor desigual.

Nami sentia que ele lhe acertaria com seu melhor golpe...

- Por que você está sempre fugindo... Quando estou prestes a dizer algo tão importante...?

Quando o cirurgião terminou de dizer aquela frase, Nami sentiu uma corrente elétrica percorrer por todo o seu corpo, restando apenas braços e pernas trêmulas como se tivesse sofrido a explosão de uma bomba atômica.

Ela continuou a encará-lo com os olhos mais abertos que o comum, porém em silêncio...

- Eu não me arrependo... De tudo o que descobri e que jamais sonharia em conhecer se não tivesse evitado me prender naquele abismo sombrio... Mas...

Ele manteve as mãos segurando o rosto feminino de forma amena... E continuou o que havia deixado inacabado.

- Você me resgatou da minha prisão interna e sinto que devo tudo a você... – A voz calma não parecia mais ser entoada com seu típico jeito frio. Dessa vez ela ressoava quente... Tão quente a ponto de abalar as estruturas emocionais da ruiva...

Como uma avalanche...

- Você não precisa me dever tudo... Um bilhão de berries já está de bom tamanho... – Ela descontraiu com um riso extrovertido, mas apenas para escapar daquela situação tão embaraçosa. Ainda que Nami pressentisse aonde Law queria chegar, ela estava disposta a continuar fugindo... Fugindo para uma fuga segura...

- Pare de fugir... E enfrente essa realidade junto comigo... – Ele repreendeu a reação covarde da ruiva mais uma vez com um semblante intransigente, porém...

Ela correspondeu com feição de dúvidas... Incerteza e Insegurança... E aquela feição lhe feria os olhos...

Mas ele sentia que os pensamentos dela estavam transparentes demais...

- Você não vai dizer nada...? – Ele inquiriu melancolicamente.

- O que quer que eu diga...? – A ruiva replicou assustada. Ela só queria esquecer de uma vez que um dia sentiu aquelas fortes sensações pelo cirurgião... Queria matar por completo o anseio de decifrá-lo e de estar tão perto...

- Não importa o quanto eu me esforce... Você não sabe como me sinto... – Seu olhar expressou seriedade. Uma sólida convicção notória. Mas aquilo não seria o bastante...

- Eu já te pedi antes... Então por favor... Não me pressione... – O olhar dela escapou na direção do chão. Não conseguia encará-lo... Não quando parecia que aos poucos um homem tão frio e cruel como Trafalgar Law parecia abrir seu coração... Embora fosse digno de presenciar... E lindo... Se fosse visto por outros ângulos, Nami sentia que ainda não estava pronta para lidar com algo que nem mesmo ela sabia o que realmente significava... Embora tivesse a imensa vontade de libertar tudo o que estava trancando em seu coração, por que sua mente lhe implorava desesperadamente por tal...

Mas ainda não se dando por vencido, ele tentou novamente...

Law levou os lábios até o ouvido da ruiva e então passou a sussurrar palavras incríveis que ela jamais sonharia em ouvir de um homem...

- Nami-Ya... Renuncie todos esses sentimentos de dúvida... E então eu lhe prometo que... – Ele hesitou em completar a frase, apenas para enfatizar perfeitamente as últimas palavras que ecoariam no ouvido dela...


– Te darei o paraíso...


Nami não teve como conter as fortes batidas de seu coração após ouvir tal declaração.

Ela semicerrou o olhar e o fitou intensamente.

Automaticamente seu rosto tomou uma leve cor avermelhada e uma forte compressão pôde ser sentida na medida em que encarava os olhos cinzentos. Ela sentia frio... Mas não por causa da água gelada, mas sim pelas palavras recém-ditas que lhe estremeceu por completo.

Aquilo havia sido o golpe de misericórdia que havia levado... Ela sabia que ele lhe abateria da pior forma possível... Mas antes de ter certeza, precisava da prova mais concreta...

- E por que eu deveria renunciar...? – Instigou apenas para ter certeza... Apenas para acreditar se o que desconfiava era de fato real.

Law sentia as paredes do banheiro se mexerem e uma forte sonolência tomou conta de si, mas antes de cair ele formou sílabas que formaram palavras, que formaria o sentido de tudo aquilo...


– Por que eu... Te am-


E quando Nami deu por si, antes que ele pudesse terminar a frase, seu corpo cambaleou para frente e ela sentiu a cabeça dele tombar em seu pescoço.


A navegadora ficou completamente desacredita ao perceber que no momento crucial daquela conversa, o álcool lhe tirou de cena de forma certeira.





...





A noite havia chegado e a escuridão preenchia os céus, realçando ainda mais o brilho das constelações estelares que podiam ser facilmente vistas pela janela do quarto onde a Princesa Cobra respousava.

- Hebihime-Sama!!! Trouxemos frutas frescas como sobremesa!

- Deixe em cima da mesa e saia... – A Imperatriz respondeu desanimadamente.

Mesmo depois de pedir para deixar as frutas em seu aposento, a servente das Kuja reparou que a shichibukai nem havia tocado o jantar que lhe fora preparado.

- Está se sentindo bem...? – Ela perguntou preocupada.

- Está tudo bem. Só não estou nos meus melhores dias... – Redarguiu deprimida.

- Certo. Se precisar de algo é só chamar.

E então a servente se retirou do quarto.

Hancock suspirou abatida. Aquele dia estava sendo um dos piores desde que escapara de Mariejoa.

Ela concluía que havia tido experiências ruins e que dificilmente poderiam ser apagadas. Mas embora se sentisse alegre por que reencontraria Luffy...

Por que no fundo... Aquele misterioso abatimento parecia lhe corroer lentamente...?

E por que quando pensava sobre tal, a primeira pessoa que lhe vinha à cabeça era Trafalgar Law...?