Lágrimas Do Tridente escrita por Icaro Pratti


Capítulo 9
Capítulo 9 - Habilidades


Notas iniciais do capítulo

Gente UMA SEMANA, omg, desculpem.. nunca demorei tanto! Talvez agora será um capítulo a cada 7/10 dias e o motivo? AULAS. Oh gosh, me perdoem mesmo... será que tem alguém comigo ainda? :S
Eu peço desculpas mesmo...

Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer para as duas maravilhosas meninas que recomendaram esta fic: LI BUENO E MYCA, sério, vocês me mimam demais, eu acho/
Estou aqui dedicando esse capítulo para vocês pois vocês merecem.

Agora, continuando... também gostaria de agradecer aos meus 30 leitores.. quase metade deles fantasminhas, but obrigado por estarem aqui! ;3

Agora chega de blablablá



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Minha visão ofusca e distrai-se com pensamentos envolvendo Maggs... Como isso pode ter acontecido? Sou o responsável pela morte de sua filha, não me perdoarei por isso jamais. Nem os mentores ou qualquer pessoa do alto escalão da Capital estão livres de ameaças e até atitudes do glorioso chefão, estamos em suas mãos.

Cada movimento, cada dedo mexido ou apontado pode ter um valor excepcional contra você. Ela está arriscando-se mais uma vez tentando colocar Annie para ser a grande estrela desta edição. Ela poderia perder outra pessoa tão próxima dela, que a ame de forma significativa e que sempre tenha ao seu lado e lhe dê um momento de alegria.
O choro incansável cessou-se, não há mais qualquer soluço. Volto meus olhos procurando pela caixa e não há mais caixa, Maggs saiu daqui e não quer dizer qualquer palavra. Eu entendo o que quer, um silêncio de um quarto nessas horas, tais lembranças remeteram-na a um passado que estava tentando esquecer.

Olho para meus punhos, cada um está sobre um de meus joelhos. Consigo entender como estamos em uma encruzilhada: de um lado meu amor por Annie e a incansável tentativa de ajudá-la; do outro, a tentativa permanente de me manter vivo. Não fui capaz de abrir os olhos para entender isso antes. Eu também estou cercado, é como se estivesse de volta naquela arena antes mesmo dela estar inaugurada para esta edição.

Agora todas as palavras que Maggs ajeitou para que dissesse para as câmeras fazem sentido, a melhor oportunidade que tenho é de afastar-me de Annie perante os pensamentos de Snow e vasculhar uma tentativa de salvá-la sem que eu saia morto de tudo isso. Se eu morrer eles não terão qualquer empecilho para matar Annie, será apenas um tributo a menos.

Olho para o relógio mais próximo, identifico as horas e sei que falta ainda um bom tempo para que o primeiro dia de treinamento acabe. O silêncio permanece incomodando meus ouvidos, cada passo dado é como se alguém estivesse assolando o chão e cada móvel que ouso me sentar torna-se um enorme barulho. Uma coisa incomoda minha mente, Maggs não deve se sentir culpada.

Começo a caminhar até a porta do seu quarto e me deparo novamente com aqueles soluços. Ela está chorando. Meu coração aperta e hesito antes de rodar a maçaneta e entrar no cômodo. Rodar a maçaneta tornou-se em vão no momento em que a porta devia estar trancada pelo lado de dentro. Aqueles soluços incansáveis cortam meu coração, estou desmoronado.

Consigo bater alguns dedos na porta por três vezes e tento convencê-la a abrir a porta com poucas palavras. Nada acontece. Decido não desistir de conversar com ela, que sempre esteve preparada para me ajudar com meus momentos de fraqueza, agora é mais do que minha obrigação. Eu sou o culpado disso tudo - repito incansavelmente.

A porta se abre no silêncio do corredor e posso sentir um último soluço. Levanto-me rapidamente e prendo-a entre meus braços. Ela apenas pousa sua cabeça e seus cabelos brancos sobre o meu peito, seus olhos inchados agora buscam calma. Tento dizer algumas poucas palavras. Agora ela não soluça mais, mas sua respiração ofegante e algumas tossidas em intervalos de tempo voltam a preocupar-me.

– Eu sou o culpado disso tudo – digo baixinho. – Não se culpe por isso.

– Não é isso Finn – diz entre novas lágrimas que escorrem pelo rosto. – Tenho medo de perder você agora – termina aos soluços novamente.

A minha percepção se conclui no momento que Maggs termina aquelas palavras. O medo e a perseguição que estou seguindo é algo evidente, também estou à beira da morte e se não fugir dela, serei encurralado. Estamos todos cercados, cada passo fora dos trilhos significa um sentimento perdido, tudo se encaixa, cada tentativa, cada escolha.

Algumas perguntas pairam no ar: quem seria essa pessoa que ela teme perder? Não consigo digerir qualquer ideia sendo que ouço a cada segundo um soluço de choro seguido de algumas fungadas de nariz. Ela está chorando e isso me parte o coração, ela é minha mãe, o amor que esses jogos malditos foram capazes de me proporcionar, ela fez de tudo para me salvar. A resposta é vaga, mas é a única que consegue refletir em minha mente: ela teme que me matem.

– Daqui a pouco vai chegar uma caixa, você saberá o que fazer. Faça no seu quarto – conclui deixando meus braços. – Quero ficar sozinha.

Não discutiria com uma decisão de Maggs jamais, ela optou por ficar sozinha nesse momento e devo respeitá-la, vê-la nesse estado destrói-me por inteiro. Quando ficamos sozinhos temos o tempo necessário para tentar digerir cada informação e pensar em tudo que está acontecendo.

Vou para o meu quarto e fico sentado na cama um bom tempo tentando analisar tudo, relembrar a fotografia, cada momento que eu e Maggs passamos juntos. Bons momentos, apesar de terem sido poucos. Uma música começa no quarto e acaba me assustando, só então percebo que coloquei minha mão sob uma espécie de controle do quarto, uma tecnologia que nunca me dei muito bem.

Caminho até o banheiro tirando toda minha roupa e hesito um momento antes de entrar debaixo do chuveiro. A água quente e com cheiro doce não me traz uma harmonia tão grande quanto à de estar em água do mar nadando por horas e horas e pulando por qualquer onda que entre em meu caminho. Começo a vasculhar os botões na tentativa de deixar aquela água gelada, sua quentura chega incomodar ao entrar em baixo.

Não consigo um efeito tão satisfatório, a água ainda queima um pouco minha pele, mas está menos quente, ou então meu corpo começou a adaptar-se à sua quentura. Sento-me com a água batendo em minha nuca e paro por uns instantes com a água que escorre pelo meu queixo e cai no chão silenciosamente, o cheiro diferenciado invadindo meu ouvido e o gosto de água doce atingindo minha boca. Tudo é tão diferente aqui...

Corri até ela e apertei sua barriga na lateral na tentativa de criar cócega, coisa que nunca fui muito habilidoso. Uma pequena risada deixava seus lábios e os cabelos caídos pelas costas estavam lindos como sempre, os olhos penetrantes e a expressão que tanto me conquistou.

– Já pedi para não fazer isso Finnick – bradou raivosa.

– Tenho uma surpresa para você; um presente... – sussurrei puxando-a para perto de mim.

Toda vez que estávamos tão perto um do outro com a possibilidade de sentir a respiração tão próxima, perdíamos o sentido e nos beijávamos ali onde estávamos, perto de alguns coqueiros próximos ao mar do Distrito 4.

– Vamos? – perguntei estendendo a mão para ela.

Logo seus dedos encaixaram-se aos meus, e começamos a caminhar para longe dos coqueiros e, consequentemente, para longe da praia. Um pouco distante das primeiras casas encontrava-se uma pequena mata, uma das poucas que restara. Uma pequena quantidade de animais ainda vivia ali, alguns eram vítimas de algumas caças irregulares, outros fugiam de toda aquela movimentação diferente.

Logo chegamos a uma árvore de tamanho médio, havia encontrado ela poucos dias antes e era perfeita para o meu plano. Passei algumas horas incansáveis na tentativa de passar uma simples foto antiga para uma coisa concreta. Parecia um objeto de diversão no passado, mas que nunca vi durante minha vida, foi tudo muito confuso.

– É simples, mas parece que já fez muitas crianças felizes no passado – disse segurando um dos cipós que seguravam a pequena peça de madeira na extremidade.

Era uma coisa muito simples ao mesmo tempo que trabalhosa. Os nós aprendidos a dar com redes serviram para unir os cipós e na base algumas madeiras que encontrei jogadas pelo Distrito, alguns restos de móveis ou casa. Foi difícil tentar algo realmente resistente, mas estavam ali, lado a lado algo que usavam para ir para frente e para trás sem tocar ao chão.

Annie passou a ponta de seus dedos pelos cipós e pelos nós, analisando cada nó e cada encaixe feito. Forçou a pequena peça de madeira para baixo e logo se ajustou sentando-se na minha engenhosidade, segurei no cipó e antes de começar a empurrar, conectei nossos olhos e dei um beijo em sua testa.

– Confia em mim? – perguntei desdenhoso.

– Sempre – riu empurrando-me pelo peito para trás.

Levei minhas mãos até seus joelhos e empurrei-a para o alto e logo depois a soltei e corri para frente. O movimento feito por ela em cima do objeto era gracioso, sua gargalhada e seus cabelos ao vento, junto com a parte de trás do vestido que agora dançava ao vento. Quando começou a perder um pouco de velocidade, tornei a empurrá-la na altura dos joelhos, indo cada vez mais alto e cada vez mais risadas deixavam seus lábios hipnotizando-me.

– Pula – gritei quando ela estava atingindo o ponto mais alto.

Ela não respondeu ao comando e seus lábios estremeceram com o grito que foi capaz de assustá-la. Agora suas mãos estavam firmes nos dois cipós e pareciam agarrados de forma a não querer soltá-los mais. Fixou seus pés no chão na tentativa de parar, tinha medo até de arrastar os pés no chão e se machucar. Empurrei-a um pouco para trás e começou a movimentar-se rapidamente, começara a gritar comigo. Estava começando a ficar com raiva.

– Pule ou empurro mais forte – ria observando-a.

– Para Finnick Odair, AGORA! – esperneou-se firmando no cipó.

– Confie em mim! – fortifiquei conectando nosso olhar.

Os movimentos foram rápidos, logo ela fechou os olhos e soltou suas mãos do cipó. Ainda não havia coragem para se lançar, nem sabia o momento certo de fazer isso. Sua expressão era engraçada e não pude evitar um sorriso. Tão delicada, tão Annie, tão minha.

– Agora – estiquei os braços.

Ela se lançou para frente um pouco mais forte que imaginei, seu corpo se chocou com o meu e fomos lançados direto para o chão. Uma dor excruciante atingiu meu braço esquerdo, mas não importava. Ela caiu em cima de mim e logo começou a se levantar me dando murros na altura da barriga.

– Idiota, idiota, idiota. Finnick, seu idiota – repetia por diversas vezes.

Na tentativa de cessar aqueles gritos, apenas tampava os ouvidos e zombava de sua expressão. Os gritos não paravam, então fui estimulado a tomar alguma atitude. Puxei-a para perto de mim e juntei nossos lábios para mais um beijo. Suas mãos logo corresponderam e correram para minha nuca, estávamos juntos, juntos para sempre.

– Finn? – ouvi uma voz chamar.

Só então me dou conta de que ainda estou em baixo do chuveiro e que não havia sequer desligado a água. Uma enorme quentura atinge minha nuca que está vermelha pela frequência de água morna que veio a receber, o que incomoda um pouco quando estou me secando. Só então percebo que passei um bom tempo ali, não sei quantos minutos ou horas.

Maggs entra no quarto acompanhada de um Avox que não havia visto antes. Uma caixa em suas mãos é colocada sobre o colchão, é algo que ela havia comentado cedo ao qual não me recordo.

– Descanse um pouco – diz retirando alguns travesseiros e lençóis do armário.

Apenas assinto com a cabeça e me deito na cama espaçosa, enquanto Maggs caminha até a janela e fecha as cortinas para que nenhuma luz entre mais. Fico um tempo remexendo antes de conseguir me ajeitar aos lençóis. Penso em como poderia ser cada momento de Maggs com sua filha, cada momento feliz, ajudando-a a cozinhar, limpar a casa, correr pelo parque, ir para o mar do Distrito 4. Algumas lágrimas ocasionais deixam meu rosto e algumas fungadas no nariz.

Levanto e vou até a janela, abro as cortinas e avisto um sol que se põe. Não há mar e não há reflexo nas águas, muito menos ondas que se desfaçam na areia, apenas construções, ruas, poluição. Aqui não há vida. Fecho as cortinas e volto a atenção para a caixa, tomo a iniciativa de abri-la e surpreendo-me com tudo que encontro ali dentro.

Arcos e flechas, alvos, facas, dardos... Maggs quer que eu treine Annie, não faria sentido nos esforçarmos aqui de fora com patrocinadores se ela não souber como agir lá dentro. Temos que prepará-la para tudo. Tento imaginar Annie segurando cada uma dessas facas e atirando em alguém que a ameace. Impossível – repito diversas vezes.

Caminho até a sala de jantar e vejo que a mesa já fora servida, apenas Alfred está à mesa, o que significa que todos já lancharam e agora estão em seus aposentos. Sento-me ao lado dele e tento confraternizar o máximo possível, rir de suas piadas sem deixá-lo sem graça, como algumas coisas e rapidamente estou cheio. Alfred começa a mostrar algumas fotografias, falar das expressões e de como está famoso entre seus amigos. Todos querem saber de todos os acontecimentos com os tributos desse ano.

Tento despedir-me dificilmente, sempre sendo chamado para mais uma longa história. Quando consigo sair para o meu quarto vejo através da janela que a noite já instaurou por toda a Capital, o brilho das estrelas e da lua faz com que a iluminação seja perfeita. Relembro de cada momento, quantas noites passadas na praia apenas para observar o luar... Que saudade – suspiro caminhando pelo corredor.

Quando estou aproximando da minha porta, Maggs sai do quarto de Annie acompanhada com ela e acena para mim. A partir de agora está tudo em minhas mãos. Os olhos de Annie se encontram com os meus e ela abaixa o olhar para o chão. Faz quase um dia que tudo aconteceu, não foi tão fácil para ela esquecer, nenhuma palavra trocada, apenas o silêncio.
Preciso acabar com toda essa sensação agonizante logo e vai ser hoje, tenho a primeira chance de mostrá-la que está tudo bem. Parece que ela não quer entender isso. Abro a porta e Annie entra em seguida, ainda em silêncio, apenas consigo ouvir o barulho do trinco da porta fechando e a respiração de cada um de nós.

– O que vamos fazer? – ela quebra o silêncio pausadamente.

– Treinar – digo abrindo a caixa com os utensílios.

A porta se abre novamente sem que Annie diga qualquer palavra. Maggs apenas aponta para algumas caixas brancas e leva o dedo indicador até os lábios. Silêncio. Ela vai até a caixa e conecta-as em uma espécie de motor e logo um zunido incomodante começa a interromper o silêncio.

– Pronto, também tenho minhas artimanhas – alegrou-se deixando o quarto.

Agora a respiração não podia mais ser ouvida, o simples zunido daqueles pequenos aparelhos incomodava o ambiente. Não havia entendido muito bem para que servissem, mas algumas funções deveriam ter. Pego a caixa e despejo todo o seu conteúdo sob a cama e a expressão de Annie muda assim que avista todas aquelas armas. Ela não está tão preparada para isso.

– O que fez hoje no treinamento?

– Tentei aprender a fazer fogueira e algumas coisas de nós... Mas sabia até mais que o professor – suspirou.

– Pensei que seria isso, evite mostrar suas habilid..

– Que habilidades? – interrompe-me

– Não diga isso – tento acalmá-la. – Você é Annie Cresta e o Distrito 4 tem o orgulho de tê-la como representante.

Ela não responde ou expressa qualquer coisa, apenas assente com a cabeça e senta-se na cama começando a passar a mão por algumas armas. Sua expressão muda quando pega uma das facas nas mãos. Annie não se sente em um ambiente formidável em contato com elas. Pego o alvo e tiro alguns lacres prendendo-o na parede, começo a juntar todos os dardos possíveis e guardá-los em um canto, pego quatro e mantenho-os na mão esquerda.

– Vamos? – perguntei estendendo a mão para ela.

Por mais que o tempo passe, minha última frase causou um efeito catastrófico dentro de mim. Relembrou-me de quantas vezes usei essa frase e esse gesto para guiá-la ao meu lado, quantas vezes isso foi necessário e quantas vezes repetimos as mesmas coisas. Ela juntou seus dedos aos meus e logo estava ao meu lado.

Segurei três dardos na mão esquerda entre os dedos e mostrei-a, o outro coloquei preparado entre o polegar e o indicador da mão direita. Mostrei o movimento algumas vezes antes de fazer o movimento real lançando o dardo, que mediam aproximadamente dez centímetros. O primeiro passou perto do alvo, o segundo acertei no centro e o mesmo fiz com os outros ao final. Alguns anos como pescador haviam me proporcionado uma boa mira adquirida com o tempo, cada erro significava um peixe perdido. Estava mais acostumado com lanças ou o tridente, mas a mira havia tornado-se uma coisa estupenda. Bastava conhecer o material e pouco tempo depois estaria dominando-o.

Tentei colocar Annie na posição algumas vezes e mostrá-la como fazer com os dardos, movimentos dos braços e posição com os pés. O resultado não fora satisfatório. Apenas um dos dardos conseguira se prender à extremidade do alvo, os outros batiam e caiam no chão. Levaria tempo para domar aquilo e tempo é o que não temos.

Apresento-lhe as facas e peço para que dispare contra os alvos. Tento mostrar alguns movimentos que fariam com que as facas fossem mais rápidas e até lanço uma delas. Lanço errado, propositalmente, tentando mostrar que também posso errar. Ela dá uma risadinha assim que vou buscar a faca lançada errada e depois se prepara para lançar uma.

– Raiva – digo antes de ela lançar a faca.

Ela firma os pés no chão e consegue uma boa colocação da faca ao alvo, ao menos ficou presa. Sua expressão melhora bastante quando posso vê-la tirar a faca e perceber que em pouco tempo está muito mais avançada. Ela volta para a cama, deixa a faca e pega uma enorme zarabatana.

– Esse você tem que tomar cuidado – alertei enquanto caminhava com a zarabatana. – Se você puxar em vez de assoprar, a arma pode voltar-se para você.

Sua expressão mudara para espanto assim que falei, um simples erro poderia distraí-la e acabar por matá-la. Ela treinou novamente com os dardos nas mãos deixando a zarabatana de lado. Suas tentativas incansáveis renderam boas melhoras enquanto conseguíamos avistar a noite bela da janela, tentando pensar como estaria meu Distrito nessa hora.

– Cansei – ouço-a suspirar e sentar-se na cama.

– Está bom por hoje – distraí-a enquanto comecei a juntar tudo colocando na caixa.

Ela saiu do quarto silenciosamente, não disse qualquer palavra, mas pude ouvir o barulho de sua porta abrindo pelo corredor, pois deixara minha porta aberta. Comecei a reunir todos os objetos e guardá-los arrumados, cada um em seu devido lugar de forma que na próxima vez que os despejasse não corresse qualquer perigo. Segurei uma adaga nas mãos e um calafrio percorreu meu corpo.

Um zumbido me acordara na noite, pulei dos galhos da árvore e pude ver que uma dádiva havia chegado para mim. Era enorme, não havia visto uma dessas em qualquer outra edição. Hesitei antes de tocá-lo, poderia ser uma armadilha e estaria acatando as ideias de alguém. Dei um chute e o objeto abriu-se deixando cair reluzente entre o gramado e algumas folhas uma arma que brilhava ao luar.

Aproximei-me cautelosamente até o objeto e ajustei-o entre meus dedos. Eles se ajustavam perfeitamente em mim e me sentia de volta ao Distrito 4, com uma coisa que utilizei bastante nos meus últimos anos. Entendo o que minha mentora supõe que eu faça. É hora de caçar carreiristas. Corri começando a gritar pelas árvores e o tridente preso em meus dedos.

Tudo tão silencioso e o Tridente é coroado, as mulheres se enlouquecem com a vitória daquele que está sendo dito como o menino mais lindo de Panem. Minha mentora apenas segue acompanhando-me em meio às fãs eufóricas. Estou de volta ao distrito 4 e não há mais gritos, não há mais fãs. Estou na minha terra, de onde nunca deveria ter saído.

– Posso entrar? – a voz doce invade meus ouvidos.

Viro meu olhar para porta, lá está Annie, tomada banho e com o cheiro doce e delicado de uma simples menina do Distrito 4. Ela senta-se na ponta da cama e logo começa a mexer em seus próprios cabelos, enrolando-os com o dedo indicador e soltando-os.

Termino de arrumar a caixa e posiciono-a no colo e depois nos braços. Os ferimentos que estão escondidos pelos curativos ardem serenamente, mas nada que me apavore. Apenas mantenho a caixa e começo a caminhar para a porta segurando-a firme.

– Deixe-me dormir aqui? Tenho medo de dormir lá – surpreendeu-me.

Volto meus olhos de encontro aos seus e vejo aquela mesma carinha doce de sempre, com os cabelos caídos ao redor do corpo. Não posso negar nada para ela, apesar de que não há qualquer diferença significativa entre os quartos. Saio do quarto e levo a caixa até o quarto de Maggs, onde ela deixará bem escondida para o próximo dia. Ela não pergunta nada, apenas pede para desligar os aparelhos, o botão preto é que os desliga.

Volto para meu quarto abrindo a porta e caminhando até os aparelhos. Fico alguns incansáveis minutos procurando o botão preto entre os milhares de botões coloridos. Logo que o encontro, o zunido não está mais presente e posso ouvir a respiração de Annie que agora está deitada no meu travesseiro e com os olhos fechados, seu rosto com a mesma expressão dócil que me conquistou.

– Boa noite – sussurro caminhando para a porta e silenciosamente abrindo-a.

Posso vê-la remexer na cama assim que o trinco faz um barulho e tento distrair-me de que não acordei.

– Finnick – exclama antes de terminar de fechar a porta.

– Que foi? – perguntei voltando meu rosto para dentro do quarto.

– Vai me deixar aqui sozinha? Não disse que tenho medo? – perguntou chorosa.

Não disse qualquer palavra, não havia entendido o real significado da colocação de Annie. Pensei que seria uma breve troca de quartos para hoje, não que dormiríamos aqui, juntos. Voltei para dentro do quarto e não disse nada, apenas deitei-me ao seu lado e passei a acariciar seus cabelos.

– Boa noite – respondeu-me tocando seus lábios na minha bochecha.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... meu projeto para a fic serão de 28 capítulos ao total.. tenho o que vai acontecer em cada capítulo e alguns tem surpresas inesperadas... a porção de capítulos pode aumentar ou diminuir dependendo do meu entusiasmo... me façam feliz >