Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 45
Capítulo 45 - Realidade




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    Aquela segunda-feira parecia seguir a mesma rotina de sempre. Miguel iria ensaiar com Dani mais uma vez, embora ele já estivesse decidido em deixar as coisas como estavam ainda não podia evitar de passar mais tempo junto com ela. A sensação de calma e paz que a presença dela trazia para o rapaz era enorme e ele não queria perder isso de forma alguma. Já estava decidido em deixar tudo como estava. Para que arriscar perder o que já tinha? O conformismo já havia entrado de vez na cabeça de Miguel, mas isso não significa necessariamente que nada iria mudar. Não mesmo.
    - Quem pediu coxinha? Tá pronta! - diz o tio da cantina, em um raro momento onde Miguel comprava um lanche no intervalo.
    - Obrigado - diz ele timidamente, enquanto esbarra acidentalmente em uma pessoa atrás dele
    - Ai
    - Opa. Foi mal e...ah, você
    - É. Eu - diz Paula, também em um raro momento comprando algo na cantina.
    - Desculpa. Tá muito cheio aqui! - ele se desculpa mais uma vez, e, de fato, o lugar estava bem apertado e cheio de gente. Deviam fazer um sistema melhor para as cantinas...
    - Tudo bem. Eu só queria comprar uma bala. Minha garganta está péssima
    - Ah, tá
    - Mas e aí? - diz ela, enquanto escolhia umm marca de bala - Ouvi dizer que você está melhorando como ator?
    - Bem, pode-se dizer que sim
    - Queria muito ver isso...Ah, Halls preto, por favor
    - Comparado como eu estava no começo estou muito melhor. Posso garantir
    - Imagino. Com treino todo mundo fica bom, não é?
    - Estou treinando bastante
    - Mas pegar o protagonista da peça...aquele que tem mais falas...de vez em quando até que você é bem corajoso
    - Na verdade...fui meio que convencido a pegar esse papel
    - E é claro que você não conseguiu sair da situação, não é?
    O humor de Miguel já estava piorando. "Essa garota...", ele pensava.
    - Aproveitando que estamos só nós aqui...como está sendo ensaiar com a Dani?
    - Normal. Ela é muito boa nisso
    - É sim. Atuar é o que ela faz de melhor
    Miguel concorda
    - Vocês ensaiam na Praça da Sonhadora, não é?
    - Você conhece?
    - É um lugar meio isolado desse bairro...mas tem um monte de casais que vão lá pra ficar se agarrando
    Miguel fica um pouco corado, mas, de fato, o que não faltavam lá eram casais
    - Não que isso vá influenciar alguma coisa no relacionamento de vocês - diz a moça, colocando uma das balas na boca - A menos que você já tenha tentado alguma coisa
    Miguel fica vermelho. O que podia dizer numa situação dessas? Óbvio que ele nunca tentou nada com a ruivinha e, o pior, Paula sabia disso muito bem.
    - Não. Não tentei nada. Que ideia você tem de mim
    - Calma. Não tô falando nada! Eu, heim? Mas já que você diz tanto que gosta dela, imaginei que estivesse começado a investir
    - Bem, isso é meio complicado
    - Imagino. Ainda mais para você que não tem a menor ideia de como lidar com ela, não é?
    - Ei, também não é por aí
    - Ah, não? Então me diz...qual o livro preferido dela?
    Miguel fica em silêncio por alguns instantes. Acho que nunca tinha conversado isso com a Dani...
    - Hã...o quarto do Harry Potter?
    - Brumas de Avalon. A coleção toda. Se você tivesse dito Senhor dos Aneis chegaria mais perto
    - Tá. Tudo bem. Nunca conversei isso com ela. Confesso
    - Sobre o que exatamente vocês conversam?
    - Bem, por enquanto só estamos ensaiando a peça mesmo...mas acabamos comentando mais sobre a escola mesmo e..
    - Sei...isso porque vocês não tem muita coisa em comum
    - Bem, nós...mas..afinal, porque você me detesta tanto? - diz Miguel, de certa forma, perdendo a compostura - Parece que tudo que você fala é com a intenção de me desmoralizar
    - Credo. Não é nada disso. Eu não te detesto. Mas também não te adoro
    Miguel fica em silêncio. A garota continuava falando.
    - Só não acho que você seja a pessoa certa para a Dani e nem que ela seja a pessoa certa para você.
    - Tsc. Isso é o que você acha...
    - Exatamente
    O rapaz não conseguia engolir aquela garota. Ele admitia que era uma pessoa muito sincera, mas parecia descontar tudo em cima dele. Por que tanta antipatia?
    - Tudo bem. Pode ficar tranquila. Acho que nunca vou ter nada com ela mesmo...
    - Nossa. Também não precisa ficar todo deprimidinho. Isso é só a minha opinião
    - Não é questão de ficar deprimido...mas e se eu disser que gosto dela e perder a amizade que tenho com ela? E aí?
    - Amizade, é? Então tá...você acaba de dizer que não quer mais nada com ela
    - Bem, nem tanto assim...eu ainda gosto dela e...gosto de ficar perto dela...mesmo que seja como amigo
    - Nossa, você é esquisito
    Miguel sabia disso. E sabia que não devia ter contado isso para aquela menina. Mas agora já era tarde
    - Esquisito ou muito masoquista...ninguém em sã consciência ia aguentar essa situação por muito tempo.
    - Mas eu não posso evitar, eu...ainda gosto dela
    - Você só gosta de você mesmo e eu já te disse isso uma vez.
    - Esquece. Você não vai entender. Acho que ninguém entenderia
    - Não entendi e nem faço questão de entender. Mas, se você está mesmo querendo deixar as coisas como estão..
    - Hmm?
    - ...então não se importa se a Dani arranjar um namorado, não é?
    - Que? Como assim? Do que você tá falando? Tem alguém gostando dela?
    - Não, eu não disse isso. Mas, pelo que você me falou, vai querer manter sua paixãozinha platônica em segredo até morrer, não é? E você acha que a Dani vai adivinhar isso e ficar solteira para sempre só porque você quer?
    Miguel não tinha pensado nisso. Ou se tinha pensado, sua mente fez questão de esquecer a possibilidade. É claro. Nada impediria que Danieli arranjasse um namorado. Nada mesmo.
    - B-Bem...é claro que ela não vai ficar solteira para sempre - o rapaz tenta argumentar - Mas isso não precisa ser no colégio, precisa?
    - Estamos no segundo ano do ensino médio...vocês ainda tem chance de conviverem no colégio por mais um ano e meio...e considerando que boa parte dos relacionamentos acontecem nessa parte da adolescência...as chances de aparecer alguém são altas
    - Você...está falando isso só pra me irritar, né?
    - Ah, vá, garoto! Você acha que tudo que eu falo é pra te irritar! Só estou te falando a realidade! Apesar de ela ser uma menina tímida e sem muitos amigos fora da escola, simplesmente não tem nada que impeça alguém além de você de gostar dela. Se olhasse mais as pessoas ao seu redor e menos para o seu próprio umbigo já teria pensado nisso há muito tempo!
    Miguel não podia falar nada. Não podia falar nada simplesmente porque ela estava certa. É importante proteger o rei do xeque, mas perder a rainha à toa no jogo é um erro grave. Mas Miguel ainda tinha alguma esperança, não tinha?
    - Paula, por favor...você sabe se tem alguém gostando da Dani?
    - Além de você, não, não sei
    - Tudo bem, tudo bem...não tem problema...enquanto não tiver ninguém gostando dela, tá tudo bem
    - Desculpa se te deixei mais nervoso. Quer bala?
    - Não, não. Valeu
    Miguel se retira dali, praticamente engolindo sua coxinha. Estava com a mente totalmente tensa. Não. Não podia. Não podia deixar ninguém chegar perto da Dani. Mas como iria impedir? Não teria como! A vida é dela! Por um momento via qualquer moleque solteiro à sua volta como uma ameaça em potencial. E agora? Tudo bem. Tinha que manter a calma. Afinal, com tanta menina bonita naquele colégio por que iriam gostar justo da Dani? Não podia sofrer por antecipação...pelo menos tinha que se esforçar para não sofrer
    Nisso, em meio a tanta turbulência psicológica, Miguel esbarra em um rapaz que segurava um copo de suco, que por sua vez também andava distraído.
    - Opa. Foi mal - diz Miguel
    - Que é isso? Foi mal digo eu...sujei sua camisa
    - Não foi nada. Isso passa
    - Poxa, desculpa mesmo. Tava distraído aqui
    Era outro menino de óculos, só que mais baixinho que Miguel e tão magro quanto ele. Não tinha tantas espinhas como o Miguel, mas era um pouco mais corcunda.
    - Ô, não quer passar um pano molhado nisso aí, não? É só ir lá na cantina que a tia passa    
    - Relaxa. Já falei que não foi nada
    - Beleza. Você é da sala A, não é?
    - Sou.
    - Sou o Mateus da sala B.
    - Ah...prazer. Miguel - Miguel cumprimenta o rapaz. Ele parecia ter se identificado com Miguel, embora nosso heroi sequer tivesse reparado na existência dele. Afinal, para alguém como Miguel, perguntar se ele conhecia alguém de outra sala era o mesmo que perguntar se um terráqueo conhecia alguém de Marte.
    - Acho que lembro de você...a gente não jogou xadrez junto ano passado? Quando juntaram nossas salas numa aula de Educação Física. Eu tinha machucado o joelho aquele dia e tal...
    - Aah...acho que lembro... - Miguel tinha se oferecido para jogar xadrez com o colega que ficou de fora para fugir dos exercícios da Educação Física. Lembra que aquele carinha jogava bem, tanto que a partida nem tinha acabado quando tocou o sinal - Então era você aquele cara
    - Pois é. Nunca mais te vi desde aquele dia
    - Ah, é que eu só assisto às aulas e vou embora. Nem faço nada aqui à tarde
    - Sério? Eu também não. Hehe.
    Nisso o sinal toca. Miguel se despede do conhecido.
    - Bom, tô indo nessa. A gente se vê
    - Falou. Desculpa mesmo pelo suco aí
    - Não foi nada. Até
    Aquele garoto parecia ser gente boa. Ele e Miguel poderiam até ser grandes amigos se estudassem na mesma sala. Enquanto Mateus termina de tomar o restante de suco no copo, Danieli e Paula passam por perto dele, conversando e sorrindo. Mateus olha atentamente para a ruivinha, admirando seu sorriso. "Que linda...", pensa ele, jogando o copo no lixo logo em seguida.


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