Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 37
Capítulo 37 - Peça




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Capítulo 37 - Peça
   
    Após a revelação do novo casal do sala e daquela conversa irritante com Paula, Miguel seguiu sua semana normalmente. Comparado a uma semana atrás, sua vida escolar estava bem mais animada. O grupo Miguel, Leandro e Camila agora andava sempre junto com o grupo Danieli, Paula e Sandra. Com o namoro de Leandro e Sandra, os seis agora andavam mais juntos, muito embora Paula não demonstrasse muita simpatia por Miguel. A semana se passou rapidamente. Mais uma vez eles tiveram aula de Filosofia com o professor Platão que continuou a falar sobre o filósofo grego, embora não tenha se delongado muito. Ele também adiantou a Camila, quando ela foi perguntar algo para ele no final da aula, de que já tinha uma ideia para a peça deles, mas não falaria nada até sábado. O que poderia ser? Não se sabia. Mesmo assim, no próximo sábado, o grupo todo estava na academia novamente.
     - Ei, pessoal! - grita Leandro, de mãos dadas com Sandra, para Camila e Miguel que haviam acabado de chegar na academia.   
      - Ah, são eles - diz Camila sorrindo - Bom dia, gente. Então o Leandro resolveu mesmo continuar?
     - Agora que eu estou tomando conta dele, aí que ele vai continuar mesmo! - comenta Sandra, sorrindo.
     - Óia, então é ela que tá no controle do casal? - brinca Camila
     - Mas a última palavra é sempre minha! - argumenta Leandro
     - É. "Sim, senhora" - comenta Miguel
     - Pô, Miguel! Assim você não ajuda! - reclama o amigo
     - Hahaha. Essa é velha. Mandou bem, Miguel! - parabeniza Sandra
     Quando os quatro entram na academia, Danieli e Toni já estavam lá, aguardando o início da aula. Toni estava meio escondido, como sempre, mas Dani parecia estar conversando com ele. Quando o grupo chega, a ruivinha corre para recepcioná-los.
     - Que bom ver vocês por aqui de novo - ela comenta - Sinal de que estão levando esse curso a sério
     - Estamos sim - diz Camila - Toni! Você também chega bem cedo, né?
     - Bem, aproveito para fazer alguns exercícios antes de começar - diz ele enquanto bebia algum tipo de suco - Tomo um banho e vou para essa aula. Daí eu vou para outra aula de exercícios
     - Ele malha bastante, né? - comenta Danieli - Estava  conversando com o Toni até agora pouco. Ele diz que vem pra cá todo dia! Uau! É esforçado mesmo!
     - Ah, é que se tem uma coisa que eu gosto é malhar - diz o musculoso rapaz - É meu vício. Esqueço tudo quando tô me exercitando
     Miguel ouve isso com sua posição crítica de sempre. "Se esquece de tudo quando está malhando, é?", pensa ele, "Não duvido...alguns gostam de malhar, outros gostam de jogar online...Mas é claro que jogar online não dá músculo nenhum..."
    - É bom fazer algo que se goste, né? Eu mesma faria mais aulas de teatro, mas essa academia não oferece tantos horários assim
    - Você gosta mesmo dessas paradas, heim? - comenta Toni
    - Amo. Amo mesmo. Mal vejo a hora de começar Artes Cênicas - diz Dani, com um brilho intenso no olhar.
    Miguel admira o olhar dela por alguns instantes. Como era lindo aquele olhar puro e dedicado. O fato de ser um preguiçoso sem vontade de fazer nada o colocava ainda mais pra baixo em relação à ruivinha. "Ela nunca vai querer nada comigo", pensa o rapaz, "Mas ainda assim não consigo parar de admirar esse sorriso...Sua presença me faz bem e mal ao mesmo tempo".
    O garoto não tem muito tempo para ficar divagando. Logo o grupo já está de volta ao salão e aguardando mais alguma surpresa para aquela próxima aula.
    - Bem-vindos mais uma vez! - sauda o professor que já estava ali de prontidão. Daquela vez, o cenário estava ainda mais bagunçado do que da vez anterior. Podiam-se ver acessórios de todos os tipos e cores jogados pelos cantos, indo de brinquedos, manequins, objetos grandes, objetos pequenos, livros, cordas e até um esqueleto artificial, destes usados para estudar anatomia.
    - Nossa. Que bagunça - comenta Leandro - Tá ainda pior do que semana passada...
    - Isso é porque hoje vocês vão interagir com o cenário. Faremos algumas cenas de improviso com os objetos que temos...ou seja, os objetos não precisam necessariamente servir para o que eles servem
    - Como assim? Não entendi nada, prof! - reclama Toni
    - Quero dizer que essa vassoura... - diz Platão, pegando uma vassoura ali por perto - ...não necessariamente vai ser usada para varrer o chão...ela pode ser usada, por exemplo, como uma lança! - grita o professor, quase enfiando a ponta da vassoura na barriga de Toni, mas o rapaz desvia rápido.
    - Eu, heim? Que doido! - diz Toni, um tanto assustado.
    - Heh! Seus reflexos estão bons, heim?
    Toni não responde. Os outros aguardavam mais instruções.
    - Bem, esse é um dos exercícios de hoje. Como eu disse, essas primeiras aulas servem para treinar a expressão corporal e a criatividade de vocês...além, é claro, um pouco de reflexão também. Afinal, o que é atuar? O que é representar aquilo que não se é? Ser ou não ser, eis a questão...ei, vocês tão me ouvindo, né?
    A turma estava ouvindo, mas estavam mais interessados em ver a grande quantidade de objetos espalhados pelo salão.
    - A gente tá ouvindo, professor - diz Leandro, enquanto brincava com uma daquelas molas malucas - É que tem um monte de coisa legal aqui
    - Ah, tudo bem...podem olhar à vontade. Aproveitem e escolham um objeto para o primeiro exercício. Vocês vão inventar alguma cena improvisada com o objeto que escolherem.
    - Isso vai ser individual, prof? - pergunta Sandra
    - Pois é. Hoje vocês vão ter que se virar sozinhos. Nem todas as cenas são em grupo, sabiam?
    Miguel não gostou muito da ideia. O que ele poderia improvisar sozinho? Semana passada, Leandro ainda estava lá para ajudá-lo, mas agora...
    - Que pena...não vamos estar juntos, né amor?
    - Pois é - lamenta Leandro
    - É verdade - diz o professor em um súbito momento de animação - Temos um casal novo na turma. Parabéns para eles, turma!
    - Todo mundo já disse parabéns na escola, professor... - argumenta Leandro
    - Mas aqui não é a escola! Parabéns para os namoradinhos! - parabeniza o professor, batendo palmas.
    - Pois é...estamos namorando, né? - diz Sandra, toda tímida.
    - Nerds também amam...- comenta Leandro
    - Hahaha. "Nerds também amam"...já ouvi isso em algum lugar...talvez em alguma fanfic que eu li...- comenta o professor, mais para si mesmo do que para os alunos - Bem, não importa. Escolham algum objeto para usar. Pode ser qualquer coisa.
    - Qualquer objeto, é? - Miguel, por incrível que pareça, também estava gostando da brincadeira. Havia uma infinidade de coisas espalhadas por ali. O que ele poderia usar? Eis que ele viu um tipo de espada de brinquedo, jogada ali no canto. Miguel pega o brinquedo e começa a balançá-lo. Quando era pequeno gostava de brincar dessas coisas de guerreiro e espada. Meio que esquecendo do resto do pessoal ali, ele começou a fazer alguns movimentos com a espada, como que se lembrando da infância. Os outros não chegam a reparar nisso, mas o professor sim.
    - Olha só...parece que o Miguel já escolheu um objeto... - diz Platão, chamando a atenção para Miguel
    - Hã? Eu? N-Não..só estava olhando
    - Não tenha medo. Eu vi que você parece se dar bem com isso aí. Pode fazer uma cena de luta com espadas. Não quer ser o primeiro? A cena não precisa ter falas
    Não precisa ter falas...não falar não era o único problema dos tímidos. Mas, Miguel tenta fazer mais alguns movimentos, tentando ao máximo esquecer que estava sendo observado.
    - Haha. Legal - diz Danieli - Ele deve ser bom em esgrima
    - É. Quem sabe esse não seja o seu esporte? - comenta o professor
    Miguel fica encabulado. Não. Esgrima ele não faria. Qualquer tipo de esporte era considerado arriscado para Miguel.
    - A propósito - Platão continua - Miguel poderia ser um bom príncipe para a peça que eu estava pensando
    - P-Príncipe?! - repete Miguel, surpreso - Não seria o personagem principal, seria?
    - Seria - responde prontamente o professor - É verdade...eu preciso falar para vocês a ideia que eu tive para a peça
    "Príncipe...caramba, eu esperava ser desafiado, mas aí já é demais..ai, ai, ai...", pensa o tímido garoto, já começando a ficar nervoso.
    - Que peça seria, prof? - pergunta Camila
    - Calma, minha linda, eu já te mostro - diz o professor, enquanto corria para a sua mala buscar um papel com a prévia do roteiro - Aqui está: "O Príncipe Pensador"
    Todos olham com cara de estranhamento para o título. Como assim, "O Príncipe Pensador"?
    - A história é simples! - diz o professor com um entusiasmo indescritível - Um príncipe, entediado com sua vida no palácio e cheio de perguntas, resolve sair pelo mundo em uma aventura pelo auto-conhecimento.
    - Pelo quê? - pergunta Toni
    - Auto-conhecimento. Ele queria conhecer a si mesmo - explica Camila
    - Exatamente. Em plena Idade Média, o príncipe começa a reparar nas diferenças sociais. Como existiam tantos camponeses pobres enquanto ele tinha tudo do bom e do melhor em seu palácio. Inconformado, ele renuncia a todo seu luxo e resolve se tornar um defensor dos pobres camponeses.
    - Já vi isso em algum lugar... - comenta Sandra
    - Seria...Robin Hood? - repara Leandro
    - Não, não. Claro que não. Robin Hood roubava dos ricos e dava aos pobres. Eu falei que ele vai roubar alguma coisa?
    - Não, não falou
    - Então...na verdade, esse príncipe se torna um revolucionário que viaja pelos reinos pregando o quanto o reino era injusto e que os nobres deveriam ser mais caridosos com os pobres...até o dia em que ele conhece uma princesa que também apóia os mesmos ideais e resolve segui-lo, também abandonando seu título e tornando-se uma revolucionária
    - E depois? - pergunta Camila
    - Bem, os nobres não ficam muito satisfeitos e mandam prendê-los. Mas eles pelo menos eles vão presos juntos!
    - E?
    - E o que?
    - O que acontece depois?
    - Nada. A história acaba aí
    - Acaba aí? Mas é só isso? - reclama Leandro
    - Como assim "só isso"? O que você acha que dá pra fazer com seis pessoas?
    - Tá, mas...a história podia ter um pouco mais de emoção
    - É uma peça para crianças. Considerando o contexto histórico da época o certo era a igreja mandar os dois para a fogueira por heresia, afinal, a influência religiosa era muito forte. Eles diziam que as pessoas nasciam pobres por vontade divina e o príncipe pensador com certeza questionaria isso. Mas, queremos apenas que as crianças pensem sobre as injustiças sociais no dia de hoje. No fim eu até vou fazer um discurso rápido sobre isso. Mas não vai ser nada complicado. Deixarei as relações com questões marxistas da peça...hmm..como lição de casa para vocês
    - Ah, sabia que rolaria uma coisa dessas - comenta Leandro
    - Que raio de marxismo é isso que ele falou?  - pergunta Toni
    - São as ideias do Marx...a gente chegou a ver isso em História, não vimos? - explica Camila
    - Putz! Sempre durmo nessas aulas! - responde Toni
    - Haha. Você sempre dorme! - diz Camila, sorrindo.
    Miguel não gostou nem desgostou do enredo. Mas só o fato dele ter que ser o principal já não o agradava.
    - Você nunca disse que a peça seria para crianças - repara Sandra
    - Crianças não são tão exigentes. Fazemos uma história bonitinha, colocamos uma moral no final para eles refletirem (bem professor de filosofia mesmo) e pronto! Temos uma peça!
    - Hmm...parece interessante - comenta Dani - Quantas cenas ela vai ter?
    - Não muitas. Vai ser basicamente isso o que eu falei. Não deve dar nem uma hora de apresentação. Mas e aí, Miguel? Você topa ser o príncipe da peça?
    - Olha o primo! Já de protagonista! - brinca Camila
    - Manda ver, Miguelito! Você consegue!
    - B-Bem, eu... - gagueja Miguel - Não sei se daria conta de ser um personagem tão importante e..
    - Vai, Miguel, aceita. Só vai ter criança na plateia mesmo. Não é, professor? - coloca Sandra, dando apoio para o rapaz
    - É. E pode apostar que não vão ser muitas
    Vendo toda a pressão e expectativa dos colegas, Miguel não vê muita opção
    - Tá, tá. Tudo bem. Eu posso tentar...mas se eu sentir que não vai rolar...eu mudo de papel na hora
    - Pode ser. Vamos tentar primeiro com o Miguel como principal. Já os outros...a gente ainda pensa num papel para eles...a menos que...algum de vocês já quer ser a princesa. Leandro?
    - Hã? Epa, peraí, pô, professor, pega leve! Só porque eu usei peruca na outra aula não quer dizer que eu sempre vá fazer papel de mulher!
    - Mas ficou uma gracinha - lembra Sandra rindo
    - Ora..
    - Bem...se ninguém se importar...eu posso ser a princesa - diz Danieli tomando a iniciativa.
    - Muito bem. Miguel será o príncipe pensador e Danieli a princesa. Podemos marcar a apresentação para o fim do semestre, no começo das férias, o que acham?
    - Mas já vai marcar a estreia? - pergunta Camila
    - É bom já ter um cronograma.    
    - Você é bem rápido, heim, professor? - repara Toni
    - Imagina. Bem, só o Miguel fez a cena. Vocês ainda estão me devendo alguma coisa. Já pensou em alguma coisa Leandro?
    - Quase. Tô vendo o que posso fazer com esse pneu de bicicleta
    Tudo estava caminhando bem rápido. Mas...Miguel como protagonista? Como assim?
    "Aceitei por impulso, mas estou com muito medo...tudo bem, tudo bem. Não é nenhum papel constrangedor, nem nada. Mas é o principal! Tá certo, só terão crianças na plateia, mas mesmo assim...", pensa o rapaz, cheio de receios.
    "A vantagem", pensa ele, "É que a Danieli vai ser a princesa. Espera. Isso..isso é muito mais grave do que eu pensei. Será...será que eles se beijam na peça?"
    Ele olha para Danieli que retribui com um sorriso
    "Isso é realmente muito sinistro...", pensa Miguel, com um suor frio escorrendo pelo seu rosto.


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Notas finais do capítulo

Reparem que a classificação indicativa dessa fic mudou para 13+
É que o Miguel tem tido uns pensamentos meio calientes ultimamente...e a psicologia da história deve ser bem chatinha para quem for mais novinho.
(Minha próxima história será para todas as idades. Prometo! XD)