Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 32
Capítulo 32 - Desafio




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         Mesmo para aqueles que estavam ali inicialmente apenas por estar, a aula terminou bem rápido. As meninas pareciam bem animadas e estavam dispostas a trabalhar bem na peça que o professor estava preparando. Enquanto Platão arrumava algumas coisas após o término da aula, elas vão até ele tentar tirar alguma informação nova.
         - Professor...o senhor já tem alguma ideia do que vai ser a nossa peça? - pergunta Camila sem esconder sua animação.
         - Hmm...para dizer a verdade até tenho...não vai ser nada pesado já que temos um número reduzido de pessoas, mas garanto que vai ser interessante - responde Platão, sem deixar mais pistas.
         - O senhor não pode já dar uma palhinha do que pode ser? - pergunta Sandra - Já tô curiosa!
         Ele faz que não com a cabeça e sorri
         - Se acalmem. Prometo que na próxima aula já trago alguma confirmação. Por enquanto, apenas se concentrem nos exercícios e tentem se adaptar ao universo do teatro.
         - Aaahh...vou morrer de curiosidade! O senhor podia falar pelo menos o que tá pensando! Vai, por favor! - insistia Sandra
         - Deixa de ser ansiosa! E para de chamar de senhor também...não sou tão velho assim
         Ela sorri. O grupo já estava saindo da sala. Miguel estava mais uma vez pensativo. Dani passa por ele, dá um sorriso ao que ele corresponde. Ao que parece, ele tinha assumido um compromisso nada fácil de cumprir. Antes de sair, porém, o professor chama por ele
         - Miguel - chama Platão - Posso falar com você um momento?
         - Claro - responde o garoto ajeitando os óculos.
         - A gente te esperar aqui fora, Miguel! - grita Leandro   
           - Beleza - diz ele com um sorriso discreto - Sim, professor. Pode falar?
         - Não é nada demais. Só queria dizer que você foi muito bem. Para ser sincero, esperava que você fosse um cara mais travado.
         Miguel sorri. O professor continua.
         - Sei lá. Já tive vários alunos e sei bem quais são mais tímidos e quais não são. Você parece ser do tipo mais tímido, não é?
         - Bem, eu não sou de falar muito mesmo... - diz ele, coçando a cabeça - Minha prima achou que fosse bom fazer algumas aulas de teatro...
         - Entendi. É verdade. Várias pessoas começam esse tipo de curso para se soltar mais.
         - Na verdade, ela achou que fosse bom fazer alguma atividade diferente. Algum esporte ou algum curso extracurricular. E, realmente, eu tava muito parado - o garoto explica
          - É. É sempre bom fazer alguma atividade extracurricular. E você escolheu teatro só por causa da sua prima?
          - Bem, já que o curso estava abrindo inscrições e nem era muito caro...achei que fosse interessante. Mas não sei se iria gostar ou não.
          - Hmm...bem, espero que você tenha gostado da aula
          - Sim, sim. O senhor é um bom professor
          - Não precisa me chamar de senhor. Pode me chamar de você mesmo. Caramba, será que sou tão velho assim?
          Miguel ri. Mas Platão continua.
          - Também reparei que você tem um pensamento rápido. Acertou direitinho a última cena
          - Ah, que nada...se todas seguiam o mesmo padrão, achei que podia ser aquilo...
          - Hehe. O pessoal costuma se focar muito na cena em si, mas eu queria que vocês vissem mesmo as ideias abstratas por trás. Isso é importante em teatro - explica o professor
          - Mesmo?
          - É claro. É difícil saber o que é o amor ou o que é a inveja. Mas são coisas que você consegue sentir. O ator precisa passar esse sentimento. É algo que você sabe o que é, mas não consegue explicar
          - Hmm...acho que entendo...eu acho
          - Tudo bem. É que eu me empolgo com essas coisas.
          - E o senhor...ops, você ainda é professor de Filosofia além de professor de teatro. Deve ser bem puxado
          - Nem tanto. Quando se gosta daquilo que faz, é uma maravilha. É cansativo, é algo que eu gosto bastante.
          Miguel sorri. O jeito de falar do professor Platão era bastante empolgante e cativante. Podia se ver claramente que ele gostava mesmo de ensinar.
         - Só é uma pena que poucas pessoas começaram esse curso. Realmente só vocês se inscreveram
         - Deve ser pelo horário mesmo - comenta Miguel - Acho que o pessoa prefere mais academia do que sábado de manhã
         - Imagino. Bem, mas tudo bem. Como eu falei, estou bolando uma peça para poucas pessoas. Acho que vai ser interessante
          Esse era o ponto que Miguel temia. Iniciar exercícios de expressão corporal era uma coisa. Mas uma peça, peça de teatro mesmo, era algo mais difícil.
         - Quando o senhor...você... fala peça...vai ser algo formal mesmo? Com palco, figurino e tudo mais?
         - É claro. Comigo é tudo profissional
         Miguel fica tenso por alguns instantes. Uma peça profissional incluiria também...uma plateia de verdade? Isso não seria muito fácil. Não seria nada fácil. Nas poucas vezes que Miguel teve que falar em público, o sentimento de nervosismo era muito grande. Apesar de nunca ter dado um vexame nessas poucas vezes, o estresse antes da apresentação era muito grande. É incrível como algumas pessoas conseguem ser naturais. Ou será que elas também ficam nervosas mas sabem disfarçar bem? De qualquer forma, aquele parecia um compromisso que Miguel não podia escapar.
         - Então vai ser uma apresentação para uma plateia real...mesmo? - pergunta Miguel, já deixando transparecer sua tensão
         Platão faz que sim com a cabeça, mas tenta tranquilizar seu aluno.
         - Não se preocupe. Não vai ser nada muito longo, mesmo porque não temos muito tempo só com uma aula por semana, não é?
         Mesmo que não fosse algo longo, ainda assim seria para uma plateia. Miguel ainda não estava tranquilo.
         - O importante... - diz o professor novamente - ...é que vocês ensaiem bem. Com treino e ensaio tudo dá certo
         Treino e ensaio...se Miguel realmente iria assumir aquele compromisso, todo treino e ensaio seria pouco para ele. Miguel morde levemente os lábios, mostrando um certo temor. Platão percebia claramente o receio do aluno.
         - Bem, se você não se sentir pronto...também pode ajudar em outras coisas na peça. Eu seria o diretor e, com o material que temos aqui na academia nem vamos ter tanto trabalho com figurino e cenário. Mas seria uma pena...estava pensando numa peça onde todos participariam
          Embora o garoto realmente quisesse fugir dessa situação o quanto antes, ao ver o professor comentar que seria importante todos participarem ele sente um certo remorso. Seria correto sair dessa e acabar com os planos do professor desse jeito? A própria Danieli ficaria chateada com isso. Ela, que estava disposta a frequentar essas aulas de sábado só para dar todo esse apoio aos amigos! Esse era um momento em que podia ser útil e podia marcar pontos com a Dani! Mas espere um pouco, e se o Leandro e o Toni desistirem? Será? Bem, se for pela Camila, o Toni não desiste. Quem pode desistir é o Leandro...mas com jeito daria para convencê-lo a ficar. A decisão era de Miguel mesmo. Ele podia desistir da peça e só fazer as aulas ou encarar o desafio e marcar pontos com a Danieli. Mas ator é o tipo de coisa que estava anos-luz de distância do jeito daquele rapaz. Será que daria certo? Bem, o jeito era tentar...
         - Não, não, professor. Eu não vou desistir de atuar. Se...for algo simples...acho que dou conta - diz Miguel, mesmo que suas palavras não estivessem inspirando muita confiança.
         - Heheh. Sabia que podia contar com você. Não se preocupem. É só a peça da turma. Ninguém espera que vocês sejam profissionais dos palcos. Mas...a gente vai fazer nosso melhor! - conclui o professor bastante animado e em tom empolgante.
          Miguel sorri, levantando as sombrancelhas. O que ele podia fazer? Agora, era ter coragem e continuar nesse desafio.
         - Como eu disse, relaxe - diz o professor dando uns tapinhas no ombro do rapaz - Agora, vai nessa e aproveita seu sábado. A gente se vê na aula de filosofia essa semana!
           É verdade. Ele até tinha esquecido que Platão também era seu professor de Filosofia. Se bem que, com um nome desses, é difícil de esquecer. Miguel sai da sala, enquanto o professor termina de arrumar a sala. O rapaz se despede com um aceno ao que o professor corresponde com um sorriso simpático. Ao sair, ele vê todos seus colegas em uma rodinha no corredor, com exceção do Toni.
           - Aí, Miguel! O que foi que você fez para o professor te chamar? - diz Leandro já levando para o pior lado.
           - Não foi nada demais...ele só achou que eu fui bem mesmo parecendo que ia travar - responde Miguel, sorirndo discretamente.
           - Claro que foi. Começar é difícil para todo mundo, mas você foi muito bem para uma primeira aula - diz Dani. Miguel chega a ruborizar um pouco, mas nada que fosse possível perceber.
           - E o Toni? - pergunta Miguel - Já foi embora?
           - É. Ele tinha aula de musculação agora. Ele também já frequentava essa academia, vocês sabiam? - diz Danieli, bastante animada por sinal
           - Sim, sim. Ele já tinha contado - responde Camila - Só não sabia que ele também gostava de teatro ou coisas assim...ele não parece ser desse tipo
           - Ah, se ele gosta. Qual é o problema? - comenta Sandra
           - Problema? Nenhum, nenhum - responde a prima de Miguel - O Miguel também não é do tipo que gosta disso, mas está aqui, né? Conhecer coisas novas é sempre bom
           - Concordo plenamente - diz Danieli - Mas digam, vocês gostaram da aula?
           - Muito boa - responde Sandra - Ele também é animado assim nas aulas de Filosofia?
           - Bastante - diz Miguel - Dá pra ver que ele adora o que faz
           - Eu também gostei - diz Camila - Será que a gente vai fazer mesmo uma peça juntos?
           - Espero que sim - diz Dani com ânimo - Vou frequentar a turma de vocês também! Estou curiosa para saber como vai ser essa peça
           - Sério? Não vai ficar puxado? Você já não frequenta outra turma durante a semana? - pergunta Camila
           - Sim. Mas a de vocês é bem mais light. Deve ser uma peça bem bonitinha - responde Dani - Vocês vão todos continuar, não é?
           - Pretendo - diz Miguel
           - Bem.... - Leandro começa a dizer alguma coisa até que Sandra o interrompe.
           - Vai, vai sim, não vai, Leandro? - diz a garota em um tom irônico ameaçador - Afinal, a gente precisa de você para essa peça. E se você tirar o corpo fora...já sabe
           - Tá, tá bom. Eu continuo
           - Você não gostou da aula, Leandro? - pergunta Dani
           - Sim, sim. Gostei. É melhor do que eu imaginava - o garoto responde sem muita moral para dizer o contrário. Mas, de fato, ele tinha gostado da aula, embora achasse que Platão não explicava tão bem assim
            - Que ótimo! Todos vocês vão continuar! O Toni também vai, não vai? - diz Dani, realmente com muito ânimo
            - Acredito que sim - responde Camila - Ele estava comentando que gostou da aula
            "É claro que vai", pensa Miguel consigo mesmo, "Enquanto você estiver aqui, Camila...é claro que ele não vai sair". O garoto ainda estava encafifado com essa história do Toni. Ele realmente estava querendo conquistar Camila do jeito mais difícil. Justo ele que se gabava de pegar qualquer menina com poucas palavras. Mas nesse caso era diferente. Miguel realmente via que Toni queria que Camila gostasse dele por outras qualidades e não apenas por ser o cara que todas as meninas querem ficar. E também não era isso que ele queria com Danieli? Um relacionamento mais profundo e compromissado? Por alguns instantes, Miguel olha Danieli, ali, conversando com Sandra e Camila que havia se tornado sua nova amiga. Ela parecia contente. Não podia dizer que Danieli era extrovertida, mas ela parecia gostar muito dos amigos. Será que ela também já o via como amigo? Ou apenas um conhecido da sala? Miguel ainda tinha dúvidas se já podia se considerar amigo da ruivinha. Se sim, seria um bom sinal.
             - E agora? O que vocês vão fazer? - pergunta Sandra
             - A gente podia tomar alguma coisa - sugere Camila - Estou com sede
             - Claro. Tem uma cantina no terraço. Vamos lá! - diz Danieli.
            "Vamos lá", pensa Miguel, enquanto admirava o semblante sorridente de Danieli.


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