Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 22
Capítulo 22 - Natural




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    Lá pelas duas e meia da tarde, Miguel (que nem o uniforme tinha tirado ainda) e Camila se preparavam para voltar à escola. A garota estava realmente animada para seu primeiro treino. Já Miguel, sem nenhum interesse por esportes, apenas ficava feliz pelo entusiasmo da prima. "Ela realmente gosta disso", pensou Miguel enquanto esperava Camila tomar um copo de água. Mas os pensamentos do rapaz logo se concentraram nas novas vestes da moça. Camiseta e um shortinho curto que mostrava boa parte das pernas. E não é que ela realmente cuidava do corpo? Miguel se pega olhando para as pernas de Camila, mas logo censura as atitudes. "Ah...que droga!", pensa ele chacoalhando a cabeça, "De novo".
    - Que foi, Miguel? Viajando de novo? - pergunta Camila, já pegando a mochila.
    - É, pois é. Só pensando numas coisas - responde o rapaz, tentando disfarçar o máximo que podia.
    - Sei. Então, você vem comigo?
    - Vou, vou sim. Eu não falei que vou?
    - Falou. Mas, sei lá, vai que você perdeu a vontade?
    - Eu não sou assim. Se eu falei uma coisa, eu cumpro.
    - Ooooh, que fofo! É assim que tem que ser!
    - Sei..
    - Continue sempre gentil assim quando se casar com a Dani, viu?
    - Ai, para com isso, vai
    Camila ri. Aquele assunto ainda ia render muito.
    - Ai, ai. Só rindo mesmo. Ainda acho que você devia se valorizar mais e tentar falar o que sente para ela - diz a garota, já no caminho para a escola
    - Nem pensar. É melhor deixar as coisas como estão
    - Tudo bem, tudo bem. Não vou mais te encher o saco, tá bom? Senão a gente vai acabar discutindo de novo
    Não tinha como. Miguel estava convicto de que não teria a menor chance com Danieli. Não apenas por ele ser um pessimista assumido e já definir que ela nunca iria corresponder, mas também pelo fato de seus sentimentos por ela serem de uma natureza que ele não conseguia explicar. Ele a amava, mas ao mesmo tempo não conseguia vê-la como alguém que se agarra e se beija. Ele poderia contar isso mais em detalhes para Camila...e o faria se soubesse como expressar esse tipo de coisa em palavras. Ela estava ali, andando toda animada do seu lado. Será que ela entenderia? Bom, ela quer ser psicóloga e é até capaz de entender. O problema é que, nesses poucos dias em que a prima veio para a casa de Miguel, dificilmente ele conversou com ela algo além dos próprios problemas. Seria interessante ouvir um pouco da vida dela também? Miguel reconhecia que tinha mesmo um lado egocêntrico. É isso. Chega de falar nos próprios problemas.
    - Mas, parando um pouco de falar de mim...o que você está achando de morar aqui? - pergunta Miguel em tom gentil
    Camila fica contente com a pergunta do primo. Enfim parou de pensar só no próprio umbigo? Agora sim
    - Ah, tô adorando! Gostei bastante dessa escola, eles tem bastante coisa. E tendo handebol então...aí que melhora tudo
    - Você gosta mesmo de handebol, né?
    - Você sabe que eu jogava desde a sexta série! É meu jogo preferido!
    - Eu sei...tem até uniforme pra isso, né?
    Camila olha para sua roupa.
    - Não é bem um uniforme. Mas para treinar já tá mais do que bom
    - Hmm...É que é bem curto, né? - diz Miguel um pouco encabulado. Milésimos de segundo depois ele já se arrependeu. Não precisava ter citado o shortinho dela.
    - Olha, só? Tá com ciúme de novo, é?
    - Não, não é isso. Só comentei - responde o garoto. "Saco. Pra que eu fui falar?"
    - Ah, não é tão curto assim...em handebol ou vôlei é normal usar roupas assim, não?
    - Deve ser
    - Vai dizer que nunca ficou reparando nas meninas do vôlei?
    - Eu?
    - Não vai mentir. Pensa que eu não vi o que você tava olhando no dia da matrícula?
    Miguel não responde nada
    - Hahaha. Relaxa. Afinal, você também é homem - diz Camila de forma bem-humorada
    - Também não é assim. Parece até que sou algum tarado
    - Não um tarado. Só tô falando que na sua idade isso é normal. Olhar para as meninas é natural.
    Miguel olha para o rosto dela. Era mesmo natural?
    - Desde que você seja discreto, claro, né?
    Claro.Mas cantadas de pedreiro e grosserias não faziam o estilo de Miguel mesmo.
    - Faz parte do ser humano. Vocês meninos olham a gente. Nós, meninas, também olhamos vocês
    É verdade. As meninas também deviam ter suas vontades. Será? A Danieli também? Ela também se sentia atraída por caras fortes e musculosos que nem o Toni? Não, isso não. Miguel se recusava a acreditar que sua amada Danieli também tivesse esse tipo de desejo. Não, Dani, por favor, não!
    - É muito natural, Miguel - continua Camila - É por isso que eu continuo batendo na mesma tecla....você devia aceitar os seus sentimentos e falar com ela. Nada mais natural do que um rapaz gostar de uma moça, não?
    Miguel fica em silêncio.   
    - Ops. Desculpa. Não quis voltar nesse assunto.
    Nisso, eles chegam na escola. Camila se despede de Miguel e diz que estará de volta em casa lá pelas seis da tarde. O rapaz acena timidamente e espera ela entrar na escola. Ao dar meia-volta e iniciar seu caminho de volta, ele começa a pensar no que Camila falou. "Nada mais natural do que sentir desejo por uma menina...", pensa ele, "Mas, nesse caso, eu não sinto desejo...eu só sinto...vontade de ficar perto dela. Só isso". Miguel lembrou mais uma vez da aula sobre Platão. "Quando se abandona as paixões dos sentidos e se ama apenas as ideias...Era isso..ou algo parecido com isso...cara, preciso pensar. Nunca pensei que ia dizer isso, mas preciso estudar Filosofia". O rapaz ia pelo caminho, mergulhado em seus devaneios. Sua concentração era suficiente apenas para não ser atropelado no cruzamento. Foi aí que se lembrou do porque acompanhou Camila. "Putz, o pão!", lembrou Miguel. O garoto dá meia-volta e vira no quarteirão que tinha acabado de passar para seguir até à padaria.
    O bom daquele bairro é que nada era muito longe. Escola, padaria, mercadinho. Tudo ali aos arredores. Antes de entrar na padaria, Miguel observa de relance a banca de jornal em frente ao local. Do lado da banca, havia uma grande exposição de revistas adultas. "Desejos naturais..", pensa o rapaz. Ele não podia negar tinha suas vontades. Mas aquilo era realmente bom? Aquele desejo era mesmo bom? Miguel se lembrou do shortinho curto que Camila estava vestindo. Seria possível? Esse tipo de desejo pela própria prima não podia ser nada bom! Por outro lado, seus sentimentos puros por Danieli geravam um contraste absurdo.
    Enfim, Miguel entra na padaria e pede meia-dúzia de pãezinhos. Enquanto esperava, ele olha ao redor e reconhece uma figura no meio das poucas pessoas ali presentes.
    "Aquela garota? É a..."


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