Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 17
Capítulo 17 - Idealização




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    "Existem coisas perfeitas na realidade?" Era uma pergunta simples, e, porque não dizer, bastante ingênua. Provavelmente, todos responderiam que não, não existe nada perfeito. Mas o importante não era a resposta em si e sim a justificativa. Mesmo assim, grande parte dos alunos considerou essa atividade bastante tediosa. Com exceção talvez de, sim, Miguel, que, em estava em um dos poucos momentos de interesse em sua vida.
    - Putz...que coisa mais sem graça! - comenta Leandro - Juntar a gente em duplas para responder uma pergunta besta dessas. Claro que não existe nada perfeito na realidade!
    - Será? Se você acredita em Deus e que Ele existe, então Deus seria perfeito, não? - questiona Miguel
    - Mas não acho que esse é o ponto da questão. Acho que ele deve estar falando de coisas que você consegue observar
    - Só de coisas observáveis...Mas só o que é observável é real?
    Nisso, o professor aparece do nada próximo às carteiras deles
    - Isso! É mesmo esse tipo de coisa que eu quero que vocês discutam! - exclama o professor Platão, bastante animado
    - Ah, professor.. - diz Miguel de maneira quase imperceptível.
    - A nossa realidade se resume apenas a coisas observáveis e imperfeitas? Será que a perfeição não pertence a esse plano de realidade? É isso que vamos discutir mais tarde!
    - Ah, beleza! Vamos ter uma discussão boa aqui! Pode deixar, prof! - diz Leandro, tentando manter a mesma animação do professor
    - É isso aí! Filosofia é discussão mesmo! Manda a ver! - diz o professor, aparentemente satisfeito com o diálogo que estava ouvindo dos alunos e saindo para ver outra dupla dando um tapinha nas costas de Leandro.
    - Bom, ele parece ser gente boa - o rapaz comenta com Miguel - Espero que pegue leve nas correções também
    - Relaxe...Filosofia sempre foi uma matéria fácil, não?
    - É, mais ou menos. Mas e aí? O que você respondeu?
    - Ainda não respondi nada, mas acho que não. E você, o que acha?
    - Ah, cara. O que você colocar, tá bom
    Miguel apenas sorri e continua
    - Agora...só precisamos de uma justificativa
    - De preferência alguma coisa bem enrolada
    - Eles costuma gostar disso, né?
    - Sim
    - Tudo bem...Deixa eu pensar em alguma coisa
    Miguel nunca se importou muito de fazer praticamente todo o trabalho nesses tipos de atividade em grupo. Agora, principalmente, sentia que seria até bom não ter nenhuma outra influência em sua resposta: parecia inspirado!
    "Existem coisas perfeitas na realidade?", Miguel observa a pergunta mais uma vez.
    "Coisas perfeitas...o que seria uma coisa perfeita?". observa o garoto pensativo, "Algo sem defeitos? Existe alguma coisa nesse mundo sem defeito nenhum?". Por mais que pensasse, não conseguia pensar em nada observável no universo que não tivesse alguma limitação. Para ele, a resposta seria "Não, pois não consigo imaginar nada nesse universo real que não tenha pelo menos algum defeito ou limitação". Talvez essa resposta servisse. Mas, como estava ali, isso era naquele universo, naquela realidade palpável. Ele não poderia imaginar algo perfeito fora da realidade? Sim. Poderia. Em sua mente, Miguel simplesmente poderia eliminar as falhas e defeitos, criando assim um mundo imaginário perfeito. Mas qual a vantagem disso? Não seria real. Não seria real, mas seria perfeito.
    Aquilo estava começando a ficar complicado. Miguel olha para frente e vê Danieli bastante concentrada em sua tarefa. "Ai, ai", pensa Miguel, olhando para o papel, olhando pela janela, olhando para Leandro na sua frente desenhando na folha. "Esse mundo é cheio de problemas mesmo", pensa o garoto, "Se um dia eu tomasse coragem, me declarasse para a Danieli e, por algum milagre, ela me correspondesse, o que aconteceria depois? Eu não teria que arcar com todas as responsabilidades depois? E se a família dela não gostar de mim? E se a minha mãe começar a me encher? E se, no fim, ela descobrir que eu não sou a pessoa certa? E se eu descobrir que, na verdade, ela não é nada do que eu pensei? Será que isso tem que se tornar real? Será? Pra começo de conversa, nem sei se ela já tem namorado!" Miguel se fazia perguntas e mais perguntas. Sabia desde o começo que sua atração por Danieli não era necessariamente algo físico e carnal. Era algo simplesmente sublime, que ele não sabia como explicar. Essa angústia e sensação de inferioridade em relação à garota eram doloridos para Miguel. Mas, ao mesmo tempo, contemplá-la à distância, como uma deusa ou uma princesa, era um sentimento até prezeroso. O que seria isso? Masoquismo? Gostar de sofrer? Estava sofrendo, mas ao mesmo tempo, não estava sofrendo. Como explicar?
    - E aí, gente? Já acabaram? - exclama o professor Platão, interrompendo os devaneios de Miguel
    Aparentemente, todos já tinham respondido. Não era uma pergunta para se levar muito tempo.
    - Já escreveu, Miguel? - pergunta Leandro
    - Estou escrevendo... - responde Miguel, limitando-se a escrever a resposta que pensou no início ("Não, pois não consigo imaginar nada nesse universo real que não tenha pelo menos algum defeito ou limitação"). É claro que tinha pensado bem mais que isso, mas não dava tempo de colocar e organizar tudo que pensou no papel.
    Miguel entrega seu papel na mesa do professor. Voltando-se para sua cadeira ele vê Camila e Toni conversando. A prima de Miguel parecia estar se divertindo, sorrindo o tempo todo. Miguel sentiu um arrepio. "Essa vida não é nada perfeita, não mesmo", pensa consigo. Imaginar que alguma coisa estivesse rolando entre sua prima e aquele cara era motivo suficiente para Miguel querer dar cabo da própria vida! Ciúmes dela? Com certeza, um pouco. Afinal, era sua melhor amiga. Medo dele? É claro! Já viu o tamanho daquele cara? Raiva? Não precisa nem perguntar
    Após entregar o papel, Miguel se senta. Parecia bem abatido. Leandro repara
    - Que foi, cara? Tá passando mal?
    - Não. Só tô pensativo mesmo
    - Voce vive pensativo, cara. Você deve ter nascido pensando!
    - Não lembro no que eu pensei quando nasci
    - Nem eu. Estranho, né?
    Mas a conversa bizarra dos dois termina quando o professor começa a falar.
    - Bem, gente. Obrigado por responderem. Vou ler todas as respostas com carinho. Mas...vamos discutir alguma coisa agora. E aí? Existe perfeição no mundo real?
    - Acho que não - diz Paula, amiga de Danieli
    - Por que não?
    - Bem, eu e a Dani, concordamos que não dá pra imaginar nada palpável e observável nesse mundo, que não tenha alguma limitação
    Caramba, e não é que foi a mesma resposta dele?
    - Muito bom. Alguém respondeu que sim?
    Algumas pessoas levantaram a mão, argumentando sobre Deus ou algo do gênero. Mas, o professor continua
    - Essa pergunta não tem nem certo e nem errado. Vocês responderam o que acharam. Mas, Platão responderia "Não"
    Os alunos, pelo menos aqueles que estavam prestando alguma atenção, até que ficam curiosos. Professor Platão conseguia falar de forma bastante atrativa.
    - Nós vamos ver que Platão considerava que todas as coisas do mundo são apenas reflexos de suas essências que estavam no plano das ideias. Quer dizer, esse apagador é apenas uma forma imperfeita da essência apagador do mundo das ideias. - ele explicava segurando o apagador - Veremos a historia do xará direitinho na próxima aula.
    De fato, a aula já estava acabando. Mesmo assim, Camila levanta a mão.
    - Pois não, moça. Pode falar - diz o professor, limpando o apagador no lado da lousa
    - A ideia de amor platônico...vem de Platão, não é professor? - pergunta a loirinha, após olhar rapidamente para Miguel.
    - Hmm...essa é uma duvida interessante...
    "Hã? O que ela quer com essa pergunta?", pensa Miguel consigo mesmo, "Parece até...que perguntou isso de propósito..."


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Notas finais do capítulo

Bem, eu curto Filosofia pra caramba, mas não faço (ainda!) curso disso...então, vou ter que dar uma estudada pra não falar besteira no próximos capitulos (afinal, amor platônico é o grande tema da história). Aguardem e até lá!



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