Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 16
Capítulo 16 - Platão




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    Miguel e Camila sentam-se nos lugares de sempre. Miguel passa por Danieli com um sorriso envergonhado. Ao menos, cruzar com ela já não era tão estranho assim. Camila estava mais quieta do que de costume. Será que ela estava chateada com a conversa que tiveram agora há pouco? Afinal, tudo que ela queria era ajudar o primo, mas ele não conseguia avançar de jeito nenhum. O que podia fazer? A timidez era mais forte do que ele!
    - Ei, você tá brava? - pergunta Miguel
    Meio distraída, ela vira o olhar para o primo. Claro que a falta de iniciativa de Miguel estava deixando a garota um pouco nervosa, mas ela também sabia do jeito quieto e calado do primo.
    - Impressão sua - diz ela com um sorrisinho de leve - Eu só quero que você pense bem em tudo que está acontecendo
    Pensar bem...era o que Miguel mais estava fazendo. A janela da sala de aula era uma ótima fonte de inspiração para devaneios, ainda mais naquela aula chata de Geografia. Olhar para Danieli de longe também era tão relaxante. Ali, tão perto, mas tão longe. Revelar os sentimentos era assim tão necessário? Desde que ele pudesse ver aquele sorriso meigo e contemplar aquele jeitinho tão doce, já era mais do que suficiente. Por outro lado, também era angustiante saber que não era possível tocá-la ou abraçá-la. Nesse momento, Miguel volta sua atenção para dois alunos namorados da sala. O rapaz sentado atrás da moça, segurando e beijando a mão dela enquanto ela copiava a matéria da lousa. Inveja? Talvez. Miguel nunca gostou de casaizinhos apaixonados. Parece que se abraçavam e se beijavam em público só para fazê-lo se sentir um lixo. Como se dissessem: "Olha como a gente é feliz! E você aí sozinho...". Felicidade de namorados era irritante. Muito embora Miguel tivesse consciência de que faria a mesma coisa se estivesse namorando. Seria essa uma forma de mostrar superioridade em relação aos solteiros? Vai saber.
    Após longos cinquenta minutos, enfim a primeira aula termina. Graças. Fim do tormento. Qual seria a próxima aula? Miguel olha de longe para a tabela de horários no caderno de Camila e vê...Filosofia? Outra matéria onde Miguel dormia. Aquele não seria um dia muito produtivo.
    - Filosofia? Vocês têm até Filosofia aqui? - pergunta Camila ao primo
    - Pois é. Dar uma formação humanística aos alunos é uma das políticas da Brilho da Estrela
    - Hmm. Interessante. Nunca tive essa matéria
    - Não perdeu muita coisa. Ficamos só lendo ideias viajadas de gregos.
    - Então vocês estão bem no começo ainda?
    - Parece que sim. Ainda mais que o professor faltou na semana passada...já estamos atrasados na matéria
    - Você tem alguma coisa anotada?
    - Então...sobre isso
    - Já entendi...não precisa dizer nada. Ai, ai, que primo preguiçoso, meu Deus do céu! - exclama Camila
    - Ah, prestando atenção na aula já ajuda
    - Prestando atenção? E você presta atenção na aula? Você deve filosofar bastante, mas prestar atenção na aula de Filosofia, du-vi-do!
    Miguel apenas levanta as sobrancelhas. Não podia falar muito. De qualquer forma, o professor já entraria logo e começaria a aula. Filosofia não era uma de suas matérias favoritas, mas até que gostava mais do que Geografia. O sinal toca de novo. Leandro entra correndo atrasado e se senta atrás de Miguel
    - O professor ainda não chegou? - pergunta Leandro, cansado
    - Ainda não - responde Miguel
    - Ufa. Acordei atrasado. Vim o mais rápido que pude - o rapaz se explica limpando o óculos
    - Ficou jogando a noite toda, não é? - pergunta Camila, com um sorriso maldoso no rosto
    - Joguei um pouco...mas também fiquei de papo no chat com uma menina que conheci num fórum
    - Menina, é? - diz Camila com um tom ainda mais malicioso
    - Pois é. Ela também curte aquele jogo. Ficamos teclando até umas três da manhã
    - E vocês ficaram só falando do jogo, esse tempo todo? - pergunta Camila espantada
    - Bem, eu tinha muita coisa para ensinar pra ela. Era uma iniciante, sabe como é...Tinha muita coisa sobre o jogo para conversar
    - Jogos online são assim mesmo...Se uma menininha for iniciante, todo mundo dá tudo de mão beijada. Se for homem, mandam você se virar. Cuidado que pode ser um cara disfarçado, heim? - Miguel entra na conversa
    - Não, não é não. Eu tenho faro para essas coisas. Pelo papo dela, tenho certeza que era mulher
    - Eu, heim? Vocês jogam cada coisa... - estranha Camila se virando para a frente. O professor estava entrando na sala.
    Entra um professor. Mas, alguma coisa estava errada
    - Ei, o que aconteceu com o professor Dantas? - comenta Leandro
    - Sei lá...deve ter faltado. Esse professor aí eu nunca vi! - responde Miguel
    - Esse não é o professor de Filosofia? - pergunta Camila
    Os dois fazem que não com a cabeça. Vários murmurinhos ecoavam pela sala. Não parecia ser o já conhecido professor Dantas, aquele vovô simpático de barba branca. Quem estava ali era um cara mais jovem, pelo menos aparentava ter acabado de entrar nos trinta anos, tinha cabelos pretos, curtos, porém despenteados, além de pele clara. Não usava óculos e estava um pouco barbado. Por fim, ele se apresenta
    - Bom dia, pessoal. O professor Dantas está passando por uns problemas de saúde e achou melhor tirar uma licença. A partir de hoje, eu serei o professor de Filosofia de vocês!
    O murmurinho continuava. Coitado do professor Dantas! Tudo bem que ele já tinha se aposentado e dava aulas apenas por gosto. Todos esperavam que ele estivesse bem
    - O que ele tem?
    - Parecia não estar muito bem do coração. Não parece ser nada grave, mas ele achou melhor não forçar muito.
    Todos pareciam gostar do professor Dantas. Afinal, era um professor muito bonzinho. Será que aquele cara conseguiria substituí-lo à altura? Bem, professores substitutos não costumam ser muito bem recebidos, apesar da sala de Miguel não ser lá muito bagunceira.
    - Hmm...até que ele tem um certo estilo...- comenta Camila
    - Bah, só espero que a aula não seja sonífero. Se bem que com Filosofia fica difícil...- diz Leandro
    O professor continua sua apresentação
    - Bem, meu nome é Platão - ele escreve Platão na lousa - Não é um nome muito comum, mas é esse mesmo!
    Todos acham graça
    - Caraca...até o nome dele tem a ver com Filosofia - comenta Leandro
    - Que legal! - diz Camila - Achei diferente!
    - Realmente...os pais dele devem ter sido filósofos também - diz Leandro
    Leandro levanta a mão para tentar sanar a dúvida
    - Professor!
    - Sim
    - Seu pai era filósofo?
    - Era, era sim. Eu ia me chamar Platão ou Aristóteles.
    "Sócrates seria mais comum", pensa Miguel consigo mesmo
    - Ah, ainda bem que eles não escolheram Kierkegaard, não é? - diz o professor
     Todos riem. Parecia ser um professor tranquilo.
    - Bem, o professor Dantas tinha começado até...
    - Sócrates - responde uma garota que estava bem ali na frente.
    - Isso. Vocês ainda estão nos gregos, não é?
    - É que no ano passado a apostila era diferente - responde outro cara ali na frente
    - Entendi...bem, a aula de hoje então...será sobre o meu xará, Platão. Olha, o nome até já tá na lousa
    Leves risadas de novo. O professor Platão parecia dominar bem a matéria
    - Antes de eu falar, vamos ver vocês trabalharem um pouco
    - Pô, já lição, professor? - diz Leandro lá do fundo
    - Pelo menos vocês fazem alguma coisa. Melhor do que só eu ficar falando, não acha?
    - Bem
    - Bom, pessoal. Reúnam-se em duplas. Vamos pensar em algumas perguntinhas
    Danieli e Paula já se juntaram. Miguel queria conversar com Leandro sobre o que tanto estava pensando.
    - Vamos aí? - pergunta Miguel a Leandro
    - Opa. É nóis. Você não vem, Camilinha?
    - Será que pode ser em trio?
    Nisso, Camila recebe outro convite. Não era o Toni? Ah, não.
    - Tá sem dupla, Camila? Chega aí
    - Ah, beleza. Eu vou com ele, meninos. Até mais
    Por alguma razão, aquilo incomodou Miguel. Um cara daqueles dando em cima da sua prima não era algo muito legal
    - Que foi, Miguelito? - Leandro estranha a expressão de Miguel
    - Nada não
    - Bom, você escreve?
    - Escrevo. Eu faço o esforço de pegar o caderno
    - Algum de nós tem que pegar o caderno, não é?
    - Mas vê se pensa nas questões também, heim?
    - É claro. Pode deixar
    Vendo que todas as duplas se formaram, o professor começa a explicação
    - Na verdade, é uma questão só. Prestem atenção
    - Opa. Uma só. Aí sim - diz Leandro
    - Então - continua o professor - A questão é: "Existem coisas perfeitas na realidade?". Só isso.
     Os alunos parecem ter ficado confusos
    - Como assim, professor? - pergunta um dos alunos
    - Basicamente, respondam o que vier à cabeça de vocês. Depois vamos discutir e ver o que Platão achava sobre a realidade.
    Miguel começa a escrever a pergunta no caderno, meio entendiado. Perfeição. Platão. Amor...platônico? Miguel olha para Danieli. Ela estava ali, envolvida com o trabalho proposto com sua colega Paula. Amor platônico...o humor de Miguel muda um pouco. Talvez aquela aula ajudasse o rapaz à entender um pouco o que estava acontecendo...


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo teremos mais algumas reflexões...Eu sei, parece que eu tô enrolando, mas, como eu já disse antes, os conflitos e reflexões dessa história são mais importantes que o enredo em si. E espero que vocês não estejam com pressa para chegar ao final dessa história...porque ainda tem muita coisa pra acontecer. Continue acompanhando.
Até



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