Silent Town escrita por Jhay


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que favoritaram e comentaram essa fic, agradeço mesmo, mesmo!



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10 de julho de 2012. 10h45min


– Mas que droga James, para de pisar no meu pé! – Leon sussurrou com raiva.

– Foi mau cara, mas é que tá escuro demais aqui, não tem como ver nada! – James resmungou.

– Ah, calem a boca! A última coisa que eu quero agora é um daqueles seres descobrirem que a gente está por aqui! – Alyce brigou.

Os três estavam passando por um caminho que ficava entre uma casa e um muro, era tão apertado que eles tinham que andar de lado. Alyce era quem guiava o pequeno grupo, seguida de Leon e James. O objetivo era voltar para a praça central e fazer o que tinham que fazer. Alyce já estava cansada, não aguentava mais, e achava que se mais alguma coisa desse errado iria simplesmente sair matando quem encontrasse pela frente. Finalmente o caminho tinha acabado e eles estavam em outra rua. Eles não pararam. De acordo com o mapa eles estavam perto, mas nem tanto. No segundo quarteirão Leon segurou sua mão e a fez parar. Escondidos pela sombra de uma árvore eles puderam observar um fantasma vagando sem rumo pelo cruzamento. Era uma menina carregando um ursinho de pelúcia. Os olhos estavam pendurados na face, a parte de baixo da boca não existia mais e um dente estava faltando, parecia que o pé direito estava torcido, pois ela andava com dificuldade.

– Dizem que quando uma pessoa morre o fantasma dela permanece da forma como ela morreu – James sussurrou no ouvido de Alyce.

– Ah, meu Deus! – ela conseguiu exclamar.

– Shhh! – ele tapou sua boca.

A garotinha olhou na direção deles e eles ficaram imóveis, como se fossem estatuas. Então a garotinha voltou a andar e desapareceu quando atravessou o muro alto de uma das casas.

– Pronto, ela já foi – Alyce disse aliviada e voltou a se mexer.

– Porra, parece que quanto mais perto chegamos do centro mais essas coisas aparecem – James resmungou.

– É, é verdade. Mas isso já era de se esperar. Eles sabem que é para lá que vamos.

– E por que vamos para lá?

Alyce e Leon se entreolharam.

– É que... Bem... Digamos que para sair daqui temos que ir até lá – disse Leon.

– Tá...

Eles continuaram andando e Alyce continuava apreensiva. Sentia algo a observando a todo instante e em todos os lugares. De tempos em tempos sentia calafrios, não sabia se era por causa do frio ou se era por causa daquela maldita sensação. Sem falar da confusão em sua mente. Parecia que estava havendo um embate em sua própria cabeça, onde seus pensamentos encontravam outros estranhos que não pareciam dela, mas mesmo assim estavam ali. Olhos aqui, olhos ali. Palavras soltas que formavam frases sem sentido. As mãos estavam ficando dormentes, a cabeça começava a latejar. Ela estava ficando maluca? Não, não, impossível, eu não posso estar maluca, posso?

– Alyce, você está bem? – Leon tinha percebido seu mal estar.

– Hm... Na verdade não, mas não me peça para explicar, porque nem eu entendo – deu de ombros.

Já conseguiam avistar o vulto imóvel da estatua da praça central. Não estava longe.

– Gente... – James parou de repente e apontou.

Os dois seguiram o dedo apontado e pararam ao ver um monstro. Era parecido com uma mulher, os cabelos eram grandes, os olhos castanhos, a boca costurada. Usava somente uma daquelas camisetas xadrez grandes aberta e rasgada, deixando a mostra todo o corpo nu. Ao invés de uma barriga ali havia uma outra cabeça, parecia ser de um bebê. A cabeça não tinha olhos e nem nariz, mas em compensação tinha uma boca enorme que ia de orelha a orelha. A cabeça de bebê e parte do corpo da mulher eram preenchidos com veias roxas bem visíveis. Era uma coisa horrível demais... Tão horrível que Alyce não conseguia sair do lugar. Nem ela e nem James. Os dois pareciam estar pregados no asfalto, os olhos vidrados naquela aberração de circo dos horrores. A coisa começou a dar passos pesados e lentos em direção a eles, com pés que eram virados para dentro. Como conseguia se manter em pé? Mais um mistério daquele inferno.

– Não façam barulho - Alyce disse bem baixo, tanto que nem mesmo ela quase não escutou.

Depois de um segundo ela escutou um galho quebrando. Olhou para trás e viu que James tinha dado um passo sem querer. Ele fez uma careta de "foi mau", e Alyce achava que fora péssimo. Olhou para a coisa, por mais incrível que fosse aquele monstro começou a se locomover com rapidez.

– Ah, tá de brincadeira! - Leon disse e pegou na mão de Alyce - Alyce, vamos!

– Não Leon! Não vai dar. Mesmo se corrêssemos ele iria nos alcançar.

– Então o que você vai fazer?

– Enfrentar a fera - disse franzindo o cenho.

Colocou a mão no lado esquerdo do cinto. Sentiu o cabo da faca que tinha o pó de matar monstros. Ergueu a faca na altura dos olhos e segurou firme. Respiração pesada.

– Alyce... Isso é muito perigoso...

– Cala a boca Leon! - dessa vez foi James quem falou, com uma grande colherada de medo.

A mão que segurava a faca estava tremendo, então colocou a outra mão por cima para dar uma ajudinha. O monstro se aproximava ainda mais. Alyce deu três passos para frente, não queria que um dos dois se machucasse se algo desse errado. Ela estava com medo, mas também estava com raiva; raiva porque aquilo a irritava profundamente. Queria ir embora. Deixou a raiva controlar seus movimentos por um tempo. Então o monstro chegou perto o suficiente para que ela atacasse. E foi o que ela fez. Conseguiu mover a faca e cortar a garganta do bicho. A faca era bem afiada, tão afiada que o pescoço da coisa foi cortado com profundidade, e a cabeça ficou pendendo para trás, quase caindo. Mas parecia que aquilo não bastava para matar a coisa. Continuou se aproximando enquanto a tal cabeça de bebê dava um grito alto e grosso. Alyce também gritou de desespero, mas os gritos foram abafados pelos mais grossos. Um pó amarelado foi jogado para cima da criatura, e de repente a mulher caiu no chão e os gritos pararam.

– No coração Alyce, no coração! - gritou James.

Ah, é mesmo, o coração. A garganta era para os fantasmas né... Deu um tapa mental em sua testa.

– Mas onde diabos é o coração desse troço? - perguntou.

"Afunde a faca no coração do bebê. Do bebê...", algo tinha sussurrado claramente em sua cabeça. E foi o que ela fez. Enfiou a faca com todas as forças no suposto peito do bebê monstro. A boca se abriu em um grito silencioso. A mulher e o bebê viraram cinzas. Literalmente viraram cinzas. No chão, onde estavam, só havia uma leve lembrança chamuscada da silhueta estranha.

Alyce não conseguia dizer nada, assim como os outros dois. Ela olhou para a faca em suas mãos. Um pouco do pó havia sumido, cerca de um dedo, ou menos. Ela deu de ombros e recomeçou a caminhada enquanto guardava a faca de volta no cinto.

Lá estava a tão temida praça. Já conseguia ver as sombras disformes andando e correndo de um lado para o outro, só esperando a hora deles chegarem.

Não vá criança... Procure um lugar seguro e se esconda– novamente eram aquelas vozes de todos e de nenhum lugar.

De forma alguma Alyce faria aquilo. Se esconder... Jamais faria aquilo, não depois de tudo pelo que havia passado. Ah, não. Não mesmo! Seus pensamentos pararam por um momento. Agora já estavam bem perto da praça. Um pequeno quarteirão e lá estariam os monstros a espera. Se virou para os amigos.

– Aqui - pegou as facas de seu sinto - Peguem e tentem afastar os que vierem atrás de nós.

– Como assim? Você vai entrar lá no meio? Você ficou maluca? - James estava desesperado e não parava de olhar para a praça.

– É, talvez eu tenha ficado maluca sim, mas isso só foi uma consequência dos fatos - sorriu sem humor - Agora prestem atenção. Eu vou precisar da ajuda de vocês. Minha vida vai depender disso. E bem... A vida de todo mundo, inclusive as suas.

– Isso é sério mesmo?

– Muito - ela encarou James - Isso aqui não é nenhum joguinho de vídeo game que você pode morrer e depois voltar ao normal. Aqui é a vida real, e nós morremos - cada momento que passava sentia seu estômago apertar com mais força.

– Vamos proteger você. Pode confiar na gente - Leon deu uma cotovelada em James.

– É. Isso. Proteger. Confie.

Alyce revirou os olhos e entregou as armas para eles. Agora era tudo ou nada. Se virou para olhar a estátua. A mulher continuava com o dedo na boca em sinal de silencio, mas sua expressão mudara de aterrorizada para uma expressão de ansiedade. Parecia que ansiava para saber o desfecho daquela história. Monstros por todos os lados, fantasmas andando e desaparecendo. Parecia realmente uma cidade. A cidade do terror.


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