Eu estava em frente a um portão decorado por animais e algumas plantas.

A minha frente, estava James, e ao meu redor, algumas pessoas.

Todos transmitiam estabilidade e paz para mim.

E alguns, por pensamento, perguntavam como eu estava.

- Eu estou bem! Mas ele... 

Olhando ao redor, procurei por Charlie e o encontrei de joelhos.

James o olhava friamente e sentia uma forte energia vinda de meu novo amigo.

Com certa dificuldade, caminhei até onde ele estava.

Eu sentia uma dor aguda na parte superior de meu abdômen.

James fechou os olhos e meu pai fez o mesmo.

"Vá para a sua casa, Bella."

- E... E Charlie ? - Murmurei.

- Eu cuido dele. 

Uma forte luz verde invadiu meu campo de visão e precisei esconder meu rosto entre ambas as mãos.

Quando senti que não existia mais nada, deixei meus braços caírem ao meu lado.

James e Charlie não estavam mais comigo.

Um suspiro frustado foi sussurrado por meu corpo.

Um vulto branco passou atrás de mim e virando rapidamente, encontrei Bee.

Ela sorria.

- Oi, Bella.

- Oi. - Balbuciei.

- Então, o que você está fazendo ?

Tomando a direção oposta do lugar onde Charlie estava, caminhei a frente de Bee.

- Indo para minha casa.

- Eu sei, bobinha.

Sua voz infantil já começava a me tirar do sério, e mesmo ela sabendo disso, continuou:

- Quer ir em um lugar comigo ?

Eu não respondi enquanto dobrava uma curva.

- Quer ? Quer ?

Em um súbito de loucura, virei em sua direção e com olhos felinos, disse:

- Pare com isso! 

- Por que você está nervosa, Bella ?

- Porque era para você ter me impedido de ir atrás de Charlie. Eu senti coisas horríveis hoje e como meu suposto "Anjo da Guarda", você deveria ter me protegido.

Seu rosto não continha qualquer emoção, ela apenas suspirou pesado.

- Eu não podia lhe impedir, Bella. Isso faz parte da sua missão aqui.

Eu já estava de volta a meu caminho.

- Eu não quero ter missão alguma. Eu morri pensando que teria paz e olha só o que eu tenho... 

Eu não escutava mais passos me seguindo, por isso, decidi que já estava sozinha.

Eu já tinha meu castelo de borboletas em meu campo de visão quando uma sombra materializou-se em minha frente.

Com dificuldade, retomei meu equilíbrio.

"Bella, me escute com atenção!"

A voz estava na mesma dimensão que a voz de Bee.

Mas eu sentia que essa era menos poderosa ou angelical que a criança loira.

Eu sentia que a conhecia, ou melhor, fazia parte dela.

Ou ela fazia parte de mim.

"Estou aqui para lhe ajudar com uma única coisa."

Eu já não aguentava mais pessoas me dizendo que eu precisava de alguma ajuda ou ajudar alguém.

Eu apenas queria paz.

Era muito ter paz ?

Afinal, eu sempre desejei morrer para finalmente ter alguma tranquilidade em meu coração.

Mas nem mesmo morta... Eu tinha tal coisa.

"Não pense assim sobre mim, Bella.

Você me completa e eu a completo.

Jamais pense que eu vim para lhe perturbar."

Era a Bella!

Ou a outra Bella.

Tanto faz, o importante é que quando ela capturou meus pensamentos, ela sorriu e assentiu com a cabeça.

- Por que não consigo ver o seu rosto ?

- E para que precisa ? - Sua voz era um misto de riso e nervosismo. - Basta apenas olhar para si mesma.

Mordendo meu lábio inferior, balbuciei:

- Eu não quero mais ajudar ninguém! Como eu faço para ficar junto a ti ?

- Bella, acredite: Você não vai gostar do lugar em que eu estou. Eu estou na Terra.

Por canto de olho, observei Rena e Otai a minha espera.

Eu não desejava ter as duas ao meu lado quando escutei as palavras sussurradas por minha outra metade.

"Eu preciso de você aqui, Bella.

Eu não sei quando mas Edward ainda vai precisar de você."

Meu mundo desmoronou.

Em um segundo, ele era apenas cinzas.

Cinzas daquilo que por algumas semanas, junto a Edward, foi o mais maravilhoso mundo.

Meus lábios se abriam em formato de "O" mas eu nada conseguia dizer.

Eu estava sem palavras.

Ou melhor, sem humor.

Eu não conseguia sentir nada.

Absolutamente nada.

A calma de Rena e o amor de Otai foram transmitidos para o meu espírito mas algo em torno de mim os expulsava.

Eu finalmente conseguia formular algo, porém, apenas uma palavra:

"Não! Não! Não! Não!"

Era tudo que eu dizia.

Eu me recusava a acreditar que teria que salvar Edward.

O homem que eu amava.

Ou melhor, no momento eu pensava, com certeza: Prometi amar por toda a eternidade.

"Bella, querida, me escute!"

- Não! Chega dessa história de salvação! Nada disso existe! Nada disso aqui existe.

Com os braços abertos, eu girei ao redor do local e balbuciei:

- Nada disso é real!

Eu estava de olhos fechados e sentia uma quentura em meu rosto.

O motivo era por não poder chorar, e então, o espírito expulsava a sensação de qualquer maneira.

Abrindo os olhos, encontrei apenas Otai e Rena.

Rena tinha os braços em torno de meu ombro quando retomamos o caminho a minha casa de borboletas coloridas.

- O perdão existe, Bella.

- O que ? - Meu olhar foi abrigado pelo seu.

Otai segurava em minha mão e transmitia amor, carinho e compaixão.

- O perdão existe e no momento, é tudo que Charlie necessita, Bella.

Em um sussurro, ela despejou sensações infinitas sobre meu coração:

"O seu perdão!"