Suteki da Nee escrita por Yoruki Hiiragizawa


Capítulo 12
Há tantas incertezas...


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: These walls, da banda Dream Theater.



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SUTEKI DA NEE
por Yoruki Hiiragizawa

Capítulo Doze
Há tantas incertezas...

"Estás me escutando, Shaoran?" - Eriol encarava curiosamente o chinês, que parecia fora de órbita. Haviam acabado de sair do vestiário a caminho da pista de atletismo para a aula de Educação Física.

"Desculpe-me, Eriol. O que você disse?" - indagou sem graça quando voltou a si.

"Parecias estar com a cabeça em outro lugar..." - comentou, observando-o abrir um pequeno sorriso.

"Em outro tempo seria mais apropriado..." - corrigiu, atraindo a atenção do britânico. - "Você se lembra de quando a gente se conheceu?"

"E como poderia me esquecer? Foi minha primeira briga!" - riu, vendo Li balançar a cabeça negativamente. - "Mas por que estavas pensando nisso?".

"Estava me lembrando de como eu costumava agir naquela época..." - começou, fazendo o outro olhá-lo com uma careta. - "É, eu sei. Eu era bem patético!"

"Eras mesmo!" - brincou, esquivando-se de uma cotovelada, enquanto tomavam um caminho alternativo até a quadra - contornando um coreto que ficava no pátio; dessa forma ganhariam um pouco mais de tempo para conversarem sossegados.

"Não precisava concordar!" - reclamou, fazendo-o rir ainda mais. Suspirou. - "Comecei a lembrar das coisas que fazia; de como eu tratava as pessoas e percebi o quanto mudei...".

"E como mudaste..." - Eriol o interrompeu enfático. - "Eu perdi as contas de quantas vezes brigamos aos socos por motivos idiotas..." - declarou, arrancando risadas do chinês. - "De como te irritavas cada vez que eu discordava do que dizias!".

"Eu não suportava você e ficava tão bravo quando os velhos me levavam para sua casa dizendo que devíamos ser amigos!" - confessou, admirado com as próprias lembranças. - "Mas o que eu estava dizendo é que mudei e..." - retomou o assunto com a expressão se suavizando. - "E sou tremendamente grato a isso..." - disse encarando o inglês. - "Porque, caso contrário, eu nunca teria a amizade de Sakura..." - completou, desviando o olhar para frente.

"Não terias mesmo! Sakura nunca seria amiga de um tampinha arrogante..." - Eriol lançou um olhar compreensivo ao amigo, tendo uma leve idéia do que o estava incomodando.

"Eu fazia exatamente o que os anciões mandavam; só falava com quem eles deixassem. Era quase uma marionete..." - suspirou pesadamente. - "E não sabia o que era amizade...".

"Por mais vergonhosas que fossem tuas atitudes, eras uma criança!..." – Eriol ajeitou os óculos no rosto com um ar divertido. - "O importante agora é que cresceste e adquiriste uma personalidade diferente..." - fez uma pequena pausa antes de completar casualmente. - "E agora só te deixas influenciar por certa jovem de olhos verdes...".

"Eriol!" - o chinês franziu as sobrancelhas. - "Eu e Sakura... nós não..." - respirou fundo, encarando-o seriamente. - "Nós somos apenas amigos!".

"Eu não disse que eram outra coisa..." - o inglês ergueu as mãos em sinal de defesa. - "Apenas me referi ao fato de que colocas teu relacionamento com ela à frente de tudo...".

Shaoran observou-o exibir um de seus irritantes sorrisos. Parou de caminhar, expirando pesadamente ao sentir-se incomodado pelo olhar que recebia do outro. Caso não se controlasse, sabia que Eriol começaria a fazer suposições de que algo acontecera entre ele e Sakura; conhecia o britânico bem demais para conseguir ignorar que, estando desconfiado, ele só descansaria ao ter certeza dos fatos e não adiantaria tentar se esquivar das perguntas, porque era nas entrelinhas que ele conseguia as respostas que queria.

"Escute, eu sei que..." - Shaoran começou, mas parou ao ouvir som de passos se afastando rapidamente. Olhou em volta, procurando por alguém, mas não havia ninguém.

"Acho melhor deixarmos a conversa para uma outra hora, meu caro. O professor já está indo para a quadra..." - Eriol avisou, apressando os passos. Shaoran ainda deu mais uma olhada ao redor, antes de seguir o amigo.

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'Isso foi muito interessante...' , Akami pensou com astúcia a caminho da quadra. Não conseguira conter a curiosidade ao ver Li e Hiiragizawa tomando o caminho mais longo para a pista de atletismo e os seguira, querendo saber do que poderiam estar falando. Teria que contar para Akio o que ouvira; a ruiva faria bom uso daquelas informações, tinha certeza.

"Mishima!" - Hikari a chamou ao vê-la se aproximar. - "Onde você esteve?".

"Fiquei entretida com algo muito divertido..." - respondeu olhando em volta. - "Onde está Akio?".

"Foi para a enfermaria. Inventou uma dor de cabeça pra cabular aula..." - suspirou pesadamente, encarando a morena. - "Mas não importa. O professor falou para nos dividirmos em duplas, então vamos fazer a atividade juntas...".

"Desculpa, Takada, mas não vai dar..." - Akami falou, dando à loura pouca atenção. - "Vou falar com o professor, agora. Tenho algo importante para falar com Akio..." - completou, afastando-se.

Após conversar com o professor por alguns instantes, a garota partiu ao encontro de Yamazato com passos acelerados.

Gostaria de poder adivinhar como Yamazato agiria para completar sua "vingança", como se acreditasse se tratar realmente disto. E também estava curiosa para saber qual a reação de Li, já que, ultimamente, o relacionamento entre ele e a Kinomoto andava um pouco diferente. A verdade era que estava torcendo para que sua adorada amiga desse com ' os burros n’água'. Isso seria uma boa lição.

"Com licença..." - disse antes de entrar na sala da enfermagem.

"Ah, Mishima! Que surpresa vê-la aqui..." - a médica falou com sarcasmo. - "Eu estava me perguntando quem viria acompanhar a senhorita Yamazato hoje...".

"Que maldade, doutora Makino!" - reclamou dissimulada. - "Só porque acontece de passarmos mal ao mesmo tempo...".

"Não vou discutir..." - a mulher suspirou, meneando a cabeça. - "Já que vocês vão ficar por aqui, eu vou até a secretaria ver se chegou um fax que estou esperando. Se alguém aparecer, peçam para aguardar um instante, por favor...".

"Muito bem... Pode me contar o motivo desse sorriso agora..." - Akio falou assim que a doutora saiu.

"É que eu descobri uma coisa muito interessante sobre a infância do Li que pode ajudar a reconquistá-lo..." - Akami começou, recebendo um olhar animado da ruiva. - "E você nem vai precisar inventar uma história dessa vez...".

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Shaoran olhava pela janela do corredor de forma pensativa enquanto esperava Sakura sair da reunião do comitê esportivo. Estava absorto em reflexões tentando entender a confusão em que se encontrava sua cabeça e não podia ignorar a sensação de que, apesar de já ter esclarecido tudo com a garota e da normalidade com que estavam agindo, alguma coisa estava diferente.

'Brilhante conclusão, asno!', pensou suspirando pesadamente e encolhendo os ombros. Não importava de que maneira olhasse para a situação, não conseguia chegar a uma conclusão, afinal Sakura era apenas sua amiga, mas não havia nada de errado no fato de ter gostado de beijá-la. Era completamente natural. Qualquer garoto sentiria o mesmo ao beijar uma menina como ela, não é? Por que ele seria diferente? Além disso, o que houve foi influenciado pelo momento e não iria se repetir...

"A menos que ela queira..." - murmurou pensativo esboçando um sorrisinho maroto. Assustou-se levemente quando a porta da sala foi aberta, dando passagem aos membros do comitê.

"Ah, Shaoran..." - Sakura parou em frente a ele sorrindo. - "Está me esperando?".

"Sim, eu..." - não pôde concluir, pois ela o interrompeu.

"Desculpe pela demora, mas eu ainda tenho que resolver um assunto antes de ir para casa..." - falou rapidamente, olhando para o corredor, vendo Yoshida já longe. - "Prometo que é rápido... volto já, está bem?".

"Ah..." - e, novamente, ele não conseguiu dizer nada por ela ter saído correndo.

"Hei, Isamu! Espera aí..." - Sakura gritou quando o garoto alcançou as escadas, fazendo o chinês arregalar os olhos, espantado.

'Desde quando ela chama aquele cara pelo primeiro nome?', perguntou-se franzindo as sobrancelhas. Voltou a olhar pela janela, com o pensamento um pouco distante e ainda mais confuso.

'Mas por que me sinto afetado por isso? Não é de minha conta com quem ela se relaciona...' Suspirou passando as mãos pelos cabelos.

Nunca gostara de Yoshida e isso era fato! Mas o que sentira ao ouvir Sakura chamando o rapaz daquele jeito, tão cheio de intimidade, era algo totalmente estranho. Diferente do sentimento de superproteção de sempre; era um sentimento quase revoltado.

"Shaoran..." - a jovem de olhos verdes o chamou, retornando. - "Vamos?".

"Ah, claro." - sorriu levemente, colocando-se a caminhar um pouco disperso.

Sakura o acompanhou calada até saírem do colégio, sentindo-se incomodada pelo silêncio, mas decidiu colocar um basta naquela situação.

"Aconteceu alguma coisa?" - questionou, fazendo-o voltar-se para encará-la.

"Não. Nada!" - ele disse, suspirando pensativo. - "Eu reparei que você e Yoshida estão se dando muito bem. Não faz muito tempo, você não o suportava e agora estão se tratando sem nenhuma formalidade..." - comentou, arrependendo-se imediatamente por não ter se controlado melhor. Observou Sakura abrir um sorriso doce, abaixando levemente a cabeça.

"Estamos nos dando melhor, sim. Mas não é como se fôssemos amigos. Apenas estamos nos falando mais por causa do comitê..." - olhou para ele com o canto dos olhos, encolhendo levemente os ombros.

"Ah..." - ele suspirou aliviado, abrindo um pequeno sorriso. Sem pensar, numa atitude natural, passou o braço pelos ombros dela em um meio abraço.

Sakura estremeceu levemente com a atitude dele, fazendo o coração do jovem falhar uma batida. Por um único instante ele conseguiu esquecer o que o afligira durante todo o dia, mas o contato com o corpo da garota trouxe à tona uma onda de sentimentos ainda muito recentes.

'Talvez seja um pouco cedo para tudo voltar ao normal...', considerou, soltando-a lentamente, tentando não transparecer o incômodo que estava sentindo. Reparou que Sakura mantinha-se olhando para o outro lado. Supôs que provavelmente pensava o mesmo que ele.

"Eu já ia me esquecendo de uma coisa..." - começou na intenção de suavizar a tensão e quebrando o silêncio, um tanto incômodo, que voltava a se instalar. - "Minha mãe pediu para eu confirmar se vai ficar com a gente nas próximas semanas...".

"Ah é..." - sorriu um pouco sem graça, encarando-o. - "Eu precisava mesmo perguntar pra você quando posso ir e se preciso levar alguma coisa. Futon, lençóis...?".

"Não precisa se preocupar. Temos tudo isso lá em casa; leve apenas o seu travesseiro, porque eu sei que não consegue dormir direito sem ele..." - disse divertido, fazendo-a rir um pouco constrangida. - "E, se você quiser, pode ir lá pra casa amanhã mesmo. Seu pai viaja de manhã?".

"É. O vôo dele está marcado para às onze..." - suspirou um pouco desanimada.

"Você não gosta quando seu pai viaja, nee..." - constatou, observando-a. Sakura balançou negativamente a cabeça.

"Eu sinto muita falta dele, mas papai sempre espera ansioso por oportunidades de participar dessas viagens..." - viu-o abrir um sorriso carinhoso.

"Esse seu jeito de fazer tudo para que os outros sejam felizes é uma das coisas que eu mais admiro em você, sabia..." - recebeu dela um olhar embaraçado. - "Mas, às vezes, eu me preocupo por você se sacrificar tanto pelos outros, colocando a felicidade deles acima da sua..." - comentou, deixando-a espantada. - "Tome cuidado, Sakura, para não deixar sua própria felicidade escapar...".

Ela desviou o rosto, voltando os olhos para frente de forma pensativa. Shaoran tinha razão, mas o que poderia fazer?

Sempre achara que bastaria ter o chinês ao seu lado para ser feliz, mas depois do beijo que trocaram... A simples presença dele não era mais suficiente e estava consciente disso. Queria sentir-se envolvida pelos braços dele novamente... Sem perceber levou a mão até os lábios enquanto se lembrava do que sentira com as carícias da noite anterior.

Shaoran, que observava com curiosidade o súbito comportamento introspectivo da japonesa, arregalou os olhos sentindo o coração acelerar com aquele simples gesto. Viu-a umedecer levemente os lábios e, sem parar de caminhar, fechar brevemente os olhos. Isso foi o suficiente para fazê-lo sentir a boca estranhamente seca. Estremeceu, desviando o olhar apenas para tropeçar no meio-fio, sem chegar a cair, mas fazendo a garota sair de seus próprios devaneios.

"Você está bem?" - indagou, vendo-o um pouco à frente, tentando disfarçar o constrangimento. Para o alívio do rapaz, estavam chegando à bifurcação onde se separavam.

"Não se preocupe..." - falou parando de frente para ela. - "Amanhã, após as aulas, Wei irá até sua casa pegar suas coisas. Está bem?" - encarou-a com constrangimento no olhar.

"Certo..." - ela sorriu suavemente. - "Até amanhã no colégio, então...".

"Até..." - Shaoran se aproximou dela para dar-lhe um beijo no rosto, como geralmente fazia ao se despedirem, mas parou no meio do caminho com os olhos arregalados ao encontrar as duas grandes gemas esmeralda da garota. Afastou-se suavemente, mas não muito, voltando a se aproximar e travando novamente na metade da ação.

Engoliu em seco, sentindo-se num beco sem saída. Agora que havia demonstrado intenção de se despedir daquela forma, não poderia se virar e ir embora simplesmente acenando, mas também temia seus próprios atos ao se aproximar tanto da pequena boca rosada em formato de coração da jovem. Estava confuso demais, poderia acabar fazendo alguma besteira, ainda mais tendo aqueles olhos fixos sobre si daquele jeito.

'Por que ela está me olhando assim?', perguntou-se, erguendo levemente a cabeça e depositando um beijo na fronte dela, para depois se afastar definitivamente.

"Até amanhã..." - ele disse ainda antes de se virar e partir.

Sakura permaneceu parada observando Shaoran ir embora com aquele jeito de quando alguma coisa o incomodava: as costas eretas, a cabeça baixa, os passos inquietos.

Suspirou pesadamente, levando a mão até o lugar onde ele lhe beijara, sentindo uma leve pressão no peito.

"As coisas entre nós nunca mais voltarão a ser o que eram..." - sussurrou, antes de se virar e ir para casa.

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A terça-feira amanheceu ensolarada e com poucas nuvens no céu. Os pássaros cantavam na janela da cozinha enquanto Sakura preparava o café da manhã. Terminou de ajeitar a mesa e subiu as escadas, indo chamar o pai. Bateu levemente na porta do quarto, abrindo-a em seguida. Fujitaka conferia o conteúdo de uma pequena bolsa de mão com itens de emergência para a viagem.

"Bom dia, papai!" - ela sorriu parada na entrada. - "O café já está pronto!".

"Bom dia, querida!" - o senhor a encarou, fechando a mala. - "Muito obrigado! Eu já vou descer..." - falou, vendo-a concordar e se afastar.

Sakura expirou pesadamente ao chegar à cozinha, mas logo tratou de colocar um novo sorriso no rosto. Tinha que ser forte e agir alegremente, como sempre, para não preocupar muito o pai.

O senhor Kinomoto desceu em instantes e encontrou a filha sentada à mesa, esperando-o para iniciar o desjejum. Enterneceu-se, vendo a expressão de tristeza por trás do sorriso que ela exibia. Sempre que ia viajar era a mesma coisa. Não era fácil para ele deixar sua menina sozinha, nunca foi, mas Sakura se sentiria culpada se ele desistisse das expedições por sua causa e, por isso, não importando o que estivesse se passando com ela, traria sempre uma expressão alegre no rosto.

Aproveitaram o início da manhã para passarem juntos os últimos instantes que teriam antes da viagem, embora não fosse muito. Sakura olhou para o relógio, notando estar em cima da hora para ir ao colégio.

"Eu tenho que ir!" - levantou-se sendo imitada pelo pai. Abraçou-o fortemente, sentindo-o passar a mão por seus cabelos de forma carinhosa.

"Vai passar rápido. Quando você menos perceber eu estarei de volta..." - soltou-a e sorriu, vendo-a tentar esconder a tristeza. - "Cuide-se bem, filha...".

"Aproveite bem a viagem e não se preocupe comigo, papai..." - pediu, vendo-o concordar.

"Eu estou mais tranqüilo porque a senhora Li e Shaoran estarão tomando conta de você..." - falou, deixando-a envergonhada. - "Comporte-se, hein..." - recomendou com um tom divertido na voz. Tinha certeza que a filha não causaria problemas.

"Pode deixar..." - Sakura riu, caminhando para o portão ao lado do pai. - "Estou indo!".

"Sakura!" - chamou-a antes que se afastasse. - "Eu sei que é difícil e exige muita coragem mudar certas coisas que se relacionam diretamente ao nosso coração, mas..." - começou com um sorriso gentil, vendo um olhar intrigado surgir no rosto da filha. - "Mas se nós mesmos não efetuarmos essas mudanças, ninguém fará isso por nós!".

"O que o senhor...?" - ela começou um pouco confusa, mas parou levemente espantada, parecendo ter compreendido a que o homem se referia.

"Não tenha medo de ser sincera com seus sentimentos... tenho certeza que Shaoran entenderá...".

"O quê?" - encarava-o com os olhos arregalados. - "Como o senhor...?".

"Esqueceu que eu sou seu pai, Sakura?" - observou-a gentilmente por alguns instantes, antes de concluir. - "Tenho certeza que, quando o momento certo chegar, você vai saber o que fazer. Apenas tome cuidado para não deixar esse momento passar por você...".

Sakura meneou positivamente a cabeça com um sorriso constrangido e abraçou-o novamente.

"Obrigada, papai!" - disse emocionada, antes de soltá-lo. - "Faça uma boa viagem!".

"Muito obrigado!" - falou, vendo-a se afastar correndo. Mais uma vez, estava atrasada.

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"Por enquanto é isso. Vejo vocês após as aulas..." - o Sr. Onoda encerrou a reunião de classe, retirando-se.

"Eu também já vou..." - Sakura pegou uma pasta com alguns panfletos da bolsa. - "Tomoyo, você me empresta os seus cadernos depois? Eu tenho que colocar a matéria, que estou perdendo por causa do comitê, em dia...".

"Ah, claro..." - a morena começou, mas foi interrompida.

"Não se preocupe, Tomoyo..." - Shaoran balançava a cabeça rindo baixinho. - "Eu empresto meu caderno para ela mais tarde...".

"Ah, obrigada..." - ela o encarou, suspirando desanimada ao se lembrar do que o pai dissera mais cedo. Como saberia quando o momento certo havia chegado? O que era esse tal momento certo?

"Aconteceu alguma coisa, Sakura?" - Tomoyo perguntou preocupada com o estranho abatimento da amiga.

"Não..." - disse olhando no relógio. - "Eu estava pensando no que papai deve estar fazendo agora lá em casa. Eu espero que ele não esqueça de levar nada..." - falou, olhando para os panfletos que tinha em mãos. - "Ah, Shaoran..." - chamou-o constrangida. - "Pode dizer ao senhor Wei que ele não precisa me pegar em casa?" - pediu, recebendo um olhar desconfiado.

"Como assim? Por quê?".

"É que eu consegui colocar o que vou levar para sua casa em uma única mala, e não acho que precise do carro...".

"Tem certeza que colocou tudo o que vai precisar em uma só mala?" - Shaoran perguntou intrigado.

"Tenho sim..." - ela nem pensou antes de responder.

"Eu não consigo acreditar..." - sorriu de lado, erguendo uma sobrancelha.

"O que você quer dizer com isso?" - indagou, colocando as mãos na cintura.

"Até parece que eu não sei o que as garotas carregam nas malas. Está se esquecendo que eu tenho quatro irmãs?" - cruzou os braços, fazendo ar de entendido. - "E eu também me lembro que você, praticamente, carrega sua casa junto quando saímos em excursão ou viagem..." - acrescentou, vendo-a encará-lo ofendida.

"Eu não carrego tanta coisa assim! Sempre levo só o essencial...".

Ele sorriu suavemente, observando-a com aquela expressão indignada. Ela ficava muito engraçada; tão bonitinha com o biquinho e os olhos verdes brilhantes mirando-o diretamente. Não se passou muito tempo, entretanto, antes que os orbes esmeralda se desviassem e o semblante aborrecido se tornasse ruborizado, fazendo-o perceber que se distraíra enquanto a admirava.

Shaoran disfarçou olhando para o lado e passando a mão pelos cabelos.

"Eu tenho que ir..." - Sakura disse recuperando-se parcialmente do embaraço. - "Ahm... Shaoran, você não precisa ficar me esperando no horário da saída. Eu não sei a que horas irei embora hoje..." - suspirou cansada só de pensar em todo o trabalho que teria pela frente. - "Mas eu estarei na sua casa às seis horas, sem falta..." - concluiu, antes de sair da sala sob o olhar atento de Tomoyo.

A morena assistiu toda aquela interação; mais desconfiada a cada reação dos dois. Já sabia que a amiga era muito boba para tentar disfarçar sentimentos e acabara de descobrir que Shaoran era um ator tão ruim quanto Sakura. Ela tinha certeza, agora, que alguma coisa havia acontecido entre eles... Mas o quê?

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Shaoran estava terminando de ajeitar a mesa da sala de jantar enquanto, na cozinha, Wei ajudava Yelan com o que seria servido aquela noite. A mulher insistira em fazer algo especial de boas-vindas para Sakura e ele estava particularmente animado por saber que teriam seu doce predileto, tenshin, para sobremesa.

Suspirou cansado, passando as mãos pelo cabelo ao pensar que aquela animação era apenas uma máscara para disfarçar a ansiedade que sentia. Sakura chegaria a qualquer instante e ele não sabia se conseguiria agir com normalidade.

'Acalme-se, Shaoran. Vai dar tudo certo...', concentrou-se em sua própria respiração, relaxando levemente, mas não por muito tempo, pois o interfone logo tocou, deixando-o ainda mais inquieto.

Yelan atendeu e autorizou o porteiro a deixar Sakura subir. Depois foi em direção à sala, onde encontrou o filho encarando a parede, pensativo.

Ele tentava pensar em uma maneira de não deixar sua mãe perceber que alguma coisa estava errada em seu relacionamento com Sakura, mas estava complicado. Não conseguia chegar a uma solução.

"Xiao Lang..."— a mulher o chamou, assustando-o levemente. - "Não vai recepcionar sua amiga?"— indagou, apontando para a entrada.

"Ah, claro!"— encaminhou-se para a porta, abrindo-a e aguardando que Sakura saísse do elevador.

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Sakura apertou o botão para o sétimo andar e observou a porta do elevador se fechar enquanto seu coração acelerava. Sabia que não havia motivos para estar nervosa. Apenas iria passar algum tempo na casa de Shaoran...

'Eu tenho que colocar a cabeça no lugar. É só o Shaoran... Apenas meu bom amigo Shaoran...', repetia mentalmente como se fosse uma espécie de mantra, sem grande efeito. Quanto mais tentava relaxar, mais estranha se sentia. O trajeto do elevador pareceu mais longo do que o normal, servindo para aumentar ainda mais a ansiedade que a invadia como se estivesse sempre esperando que algo acontecesse. Mas, quando a porta se abriu, no entanto, ela teve a impressão de que havia subido rápido demais. Não estava mentalmente preparada para encarar a situação ainda. Precisava de mais tempo...

"Ah... você está aí!" - Shaoran a surpreendeu, aparecendo à sua frente no corredor. - "Eu achei estranho ninguém sair do elevador. O que houve?" - indagou, vendo-a com os olhos arregalados sem falar nada.

'Ele é apenas um amigo...', essas palavras ecoavam em sua cabeça.

Desde o dia anterior estava tentando se convencer de que poderia voltar a ver tudo como antes. Aquele ali à sua frente era Shaoran Li, o rapaz que ela conheceu durante a oitava série. Era seu melhor amigo e... paixão secreta. Não podia ser tão difícil!

Apesar do sentimento não-correspondido, nunca tivera complicações diante dele. Sempre conseguira ser espontânea. 'Por que não conseguiria fazer isso agora?'.

"Sakura?" - ele a chamou, tocando-a suavemente no braço.

Ela estremeceu de maneira quase imperceptível. Conhecia muito bem a resposta. Aquele beijo complicara tudo. Se não tivessem se beijado ela não estaria em constante expectativa. Não ficaria desejando... Ansiando por mais beijos dele.

"Essa não!" - ela falou subitamente, assustando-o, e dando um tapa na própria testa. - "Esqueci meu travesseiro..." - reclamou, fazendo-o rir de maneira aliviada.

"Eu sabia que acabaria esquecendo alguma coisa. Não era possível que tivesse colocado tudo dentro de uma só bolsa..." - ele comentou, pegando a mala dela e a carregando para dentro. - "Venha! Vamos entrar logo, Senhorita Cabeça de Vento..." - chamou. Sakura o seguiu um pouco envergonhada.

"Boa noite, Sakura. Seja bem-vinda!" - Yelan a cumprimentou de forma sorridente.

"Boa noite, Senhora Li. Muito obrigada por me receber..." - disse polidamente, seguindo Shaoran com o olhar enquanto ele adentrava o corredor, levando sua bolsa para o quarto onde ficaria hospedada. Antes de tomar qualquer decisão quanto ao que fazer, teria que descobrir se era apenas ela ou se ele também queria repetir a experiência de domingo. E era isso o que iria fazer.

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Eriol estava a alguns minutos observando a namorada enquanto ela olhava para longe fazendo umas expressões muito engraçadas ao invés de almoçar. Encostou-se ao banco onde estavam sentados, começando a se sentir preocupado, por mais que ficar observando Tomoyo agir distraidamente fosse divertido, aquilo não era natural. No dia anterior, ela esteve tão estranha que o ensaio, da música que apresentariam na abertura da gincana, acabou sendo cancelado porque a corista não conseguia se concentrar no que estava fazendo.

"Tudo bem, meu anjo..." – ele suspirou, tirando o obentô das mãos dela e segurando gentilmente seu rosto para que olhasse para ele. – "Será que podes me dizer o que está te incomodando?".

Tomoyo o encarou com confusão e dúvida nos olhos ametista; cogitava se devia ou não falar com o namorado sem conversar antes com Sakura, mas ao reparar a preocupação no jeito que o inglês a encarava decidiu abrir o jogo.

"Você não notou nada de estranho no comportamento de Sakura e Li essa semana?" - indagou vendo a preocupação no rosto do rapaz desaparecer enquanto ele suspirava levemente, balançando a cabeça como se não acreditasse que aquele fosse o motivo.

A morena permaneceu encarando-o à espera de alguma outra resposta além daquele irritante sorriso de Monalisa que ele exibia, mas, quando pensou que ele fosse finalmente dizer algo, foram interrompidos pela chegada de Rika e Chiharu.

"Desculpem por atrapalhar o almoço de vocês..." – Rika pediu timidamente.

"Está tudo bem..." - Tomoyo sorriu, suspirando pesadamente. Não havia percebido, mas a atitude de Eriol a deixara incomodada. Aquele não era assunto para ser tomado levianamente! Era de Sakura que estavam falando...

Decidiu ignorar temporariamente a questão e prestar atenção nas amigas que pareciam preocupadas.

"O que houve?" - viu-as trocarem um olhar incerto, antes de falar.

"Tomoyo, nós estamos um pouco preocupadas com Sakura..." - Rika falou, sendo interrompida pela morena.

"Então vocês também perceberam algo estranho!" - Tomoyo comentou, lançando um olhar acusativo para Eriol que dizia 'eu não fui a única a perceber. Como você pode não ter percebido?'.

"Isso quer dizer que nem você sabe o que houve?" - Chiharu questionou vendo-a menear a cabeça.

"Não. Ela não me contou nada, mas eu reparei que há algo de diferente desde segunda-feira...".

"Sim. Eu lembro de ter ouvido Naoko comentar que ela estava radiante aquele dia. Como se algo maravilhoso tivesse acontecido..." - Chiharu falou como se devaneasse, talvez imaginando algo romântico que tivesse acontecido com Sakura.

"No entanto, ontem, quando chegou à sala parecia melancólica e um pouco ansiosa..." - Tomoyo adicionou, suspirando.

"O Li também está fora do normal..." - Rika começou pensativa.

"Acho que estais fazendo tempestade em copo d'água..." - Eriol, enfim, se pronunciou de forma tranqüila. - "É natural que aqueles dois estejam desconfortáveis no presente momento, afinal, o relacionamento deles está passando por uma importante mudança...".

As garotas encararam o jovem com os olhos arregalados por um instante.

"Eriol Hiiragizawa, o que você está sabendo? Shaoran lhe contou alguma coisa?" - Tomoyo indagou cruzando os braços. Seria possível que, mesmo vendo-a preocupada com a situação, e sabendo o que acontecera, não tenha se dignado a lhe contar? Que tipo de namorado era ele?

Eriol sorriu animado, dando a Tomoyo a impressão de estar se divertindo com seu estado de espírito.

"Sei o mesmo que qualquer um, meu anjo. Shaoran também não me disse nada..." - ele respondeu vendo-a olhá-lo desconfiada. - "Mas isso não impede que eu crie algumas teorias sobre o que se passa com meu amigo...".

"Por exemplo?" – Chiharu não pôde conter a curiosidade.

"Eu notei que Shaoran tem agido estranhamente com Sakura, sentindo-se tenso ou mesmo amedrontado por alguma razão...".

"Mas isso não faz sentido!" - Tomoyo exclamou.

"Eu sei! Que razões ele teria para isso, não é?" – abriu um sorriso de lado, olhando para cada uma das garotas e notando certa impaciência. Sakura tinha realmente muita sorte por ter amigas tão fiéis. – "Foi aí que me veio um pensamento à mente. É apenas uma suposição, mas pensei que, talvez, ele esteja agindo dessa maneira por não conseguir lidar com um novo tipo de sentimento que o vem dominando, pouco a pouco... Ele está confuso!".

"Mas isso não explica as atitudes de Sakura..." - Rika retrucou.

"Quanto a ela não sei o que dizer, Sasaki. Não a conheço tão bem assim..." – olhou para as garotas sorrindo astucioso, como se estivesse lançando a elas um desafio. – "Não faço idéia do que poderia ter acontecido para que Sakura não conseguisse mais controlar seus sentimentos..." - concluiu vendo-as ficarem pensativas.

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Mais tarde, aquele dia, assim que chegou ao apartamento dos Li, Sakura foi atendida por Shaoran quase imediatamente após ter apertado a campainha.

"Seja bem vinda!". – ele a recebeu alegre.

"Ah, obrigada! Eu cheguei!" - disse levemente embaraçada enquanto entrava. - "Sua mãe não está?" - estranhou o silêncio.

"Não. Ela e Wei foram ao mercado, mas não demoram..." - sentou-se no sofá de maneira desleixada, vendo-a permanecer em pé no meio da sala.

"Eu vou trocar de roupa, então... ahm... se me der licença...".

"Claro! Fique à vontade. Sinta-se em casa!".

"Já volto!".

Assim que Sakura desapareceu de vista no corredor, Shaoran se permitiu respirar profundamente, aliviado por não estar se sentindo tão desconfortável diante dela; e ficava grato por Sakura parecer estar tranqüila também, o que facilitava a interação entre eles.

Voltou-se para a televisão, onde passava um programa de videoclipes antigos. Perguntou-se quando a mãe chegaria sem ter certeza se queria que ela voltasse logo ou retardasse seu retorno.

“Eu adoro essa música!” – Sakura comentou sentando-se ao lado dele no sofá e olhando para a tela. Instantes depois, soltou um suspiro cansado atraindo a atenção do rapaz.

“Muito trabalho com a organização da gincana?” – ele indagou vendo-a confirmar com a cabeça.

“Estamos com um problema de prazos...” – falou prendendo o cabelo com uma presilha. – “O grupo encarregado de preparar a decoração devia ter entregado as faixas e cartazes externos hoje e, amanhã, o material da decoração interna...” – suspirou pesadamente, franzindo as sobrancelhas de maneira pensativa. – “Isso atrapalha todo o nosso cronograma. Íamos pendurar as faixas amanhã de manhã. Acho que vamos precisar de ajuda extra para...” – parou de falar ouvindo a introdução de uma música na televisão.

Shaoran estranhou a interrupção e se sentiu ainda mais incomodado ao vê-la abrir um sorriso, endireitando-se no sofá, parecendo inesperadamente revigorada ao som de ‘Livin’ la vida loca’.

“Você gosta dessa música?” – ele perguntou erguendo uma sobrancelha. Aquilo não tinha nada a ver com o gosto da garota, ele tinha certeza. Ela balançou a cabeça levemente sem desviar os olhos da tela.

“Não é bem da música...” – comentou com um sorrisinho levado. – “Mas esse Ricky Martin é um pedaço de mau caminho. Que inveja das mulheres latinas...” – disse suspirando e fazendo o chinês arregalar os olhos.

"O quê?! Sakura, como você pode gostar desse cara?!" – ele perguntou como se fosse a coisa mais absurda do mundo.

"Ora, é bem fácil na realidade, Shaoran..." – ela o encarou seriamente. - "Ele é bonitão... e dança super bem! Olha só esse rebolado!".

"M-mas Sakura... as músicas não têm nenhum sentido. Não têm conteúdo!” – rebateu ainda chocado. – “É um daqueles cantores de momento; ninguém mais se lembra quem ele é... e provavelmente deve ser gay!" – argumentou, vendo-a voltar-se para ele com um olhar sério.

Não podia acreditar. Recusava-se a aceitar ouvir aquilo vindo de Sakura... De sua amiga Sakura. Ela não podia ter essa faceta.

Sakura o encarava através da franja que caía parcialmente sobre seus olhos sorrindo marota; Shaoran sentiu o coração acelerar e a boca secar. Devia ser apenas sua imaginação, mas aquele olhar lhe pareceu tremendamente provocativo. Engoliu em seco, pegando-se, pela primeira vez, a pensar em como aqueles olhos geralmente tão inocentes eram, ao mesmo tempo, tão sedutores. Agiam como um imã, forçando-o a mergulhar na piscina esmeralda. Sentia-se como se estivesse sob o efeito de algum tipo de hipnose.

"Por acaso, você está com ciúmes do Ricky?" – ela perguntou subitamente em meio a uma risada divertida, fazendo-o assustar-se levemente.

“Não! Eu...” - Shaoran sabia que havia ficado vermelho, mas não havia o que pudesse fazer naquela situação; não conseguia afastar aquele olhar de sua cabeça.

Sakura o encarava curiosamente como se esperasse uma resposta; mas juntar pensamentos coerentes era algo que ele se sentia incapacitado de fazer no presente momento.

Uma brisa fria balançou as cortinas da sala e alcançou o sofá, fazendo Sakura se arrepiar e se encolher, esfregando os braços para aquecê-los.

“Puxa, a temperatura diminuiu hoje, nee...” - ela comentou, olhando para o tecido que dançava ao sabor do vento.

Ele, entretanto, não conseguia desgrudar os olhos das mãos finas que acariciavam a pele acetinada e que, dos braços, foram suavemente ao pescoço longo e delicado que parecia pedir para ser beijado, abrindo caminho para que pudesse alcançar os pequenos, rosados e deliciosos...

Shaoran ficou aliviado ao escutar o som de chaves na fechadura da porta. Sua mãe e Wei haviam chegado e ele estava a salvo, pois tinha certeza que não poderia se controlar por muito mais tempo.

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Shaoran suspirou pesadamente ouvindo Eriol falar sobre as suas expectativas para a apresentação na gincana sem parecer se importar com a sua falta de interesse. Ele estava com problemas demais para conseguir se concentrar nas coisas que o inglês dizia...

“Ah, olhe a Sakura...” – Eriol apontou o outro lado do pátio, fazendo o chinês se voltar imediatamente para o lugar onde a garota caminhava... ao lado de Yoshida.

Por trás dos óculos, o britânico estreitou levemente os olhos com um sorriso à Da Vinci, observando o, até então, distraído colega franzir as sobrancelhas lançando um olhar gélido para o casal. Sentiu pena do pobre Yoshida, pois, se olhar matasse, ele teria sofrido um ataque cardíaco fulminante naquele mesmo momento.

“Tu sabes, Shaoran, as meninas comentaram comigo que Sakura tem agido estranhamente essa semana..." – disse atraindo a atenção do rapaz que o encarou com os olhos arregalados e aterrorizados.

“Estranha? Como assim estranha?”.

Eriol teve que se controlar ao máximo para não acabar dando risada, mas era bastante óbvio que Shaoran escondia alguma coisa e estava morrendo de medo que alguém descobrisse.

"É! Eu realmente não tinha percebido antes, mas agora realmente vejo que é verdade. Ela parece mais alegre..." – fez uma pausa e olhou, de forma pensativa, para o lugar onde a garota estava. - "Isso faz sentido! Ela tem passado bastante tempo com o Yoshida durante toda a semana... Realmente, a linha que divide o amor e o ódio é muito fi-..." – interrompeu-se ao ver o amigo se levantar irritado.

“Não é por causa daquele cara! Deve ser porque nós...” – Shaoran parou, percebendo que havia falado besteira. Como iria sair daquela situação? Não poderia contar ao Eriol! Não poderia!

Encontrou uma saída ao ver Sakura se afastar para voltar ao interior do colégio.

“Ah! É mesmo... E-eu acabei de lembrar que me inscrevi como voluntário para ajudar com o trabalho do comitê depois das aulas. Eles estão precisando de ajuda. É uma pena que você não possa ir também porque tem que ensaiar com Tomoyo...” – pegou a mochila que estava no chão e saiu correndo sem olhar para trás, deixando Eriol com um sorriso divertido no rosto.

‘Isso está ficando tão interessante...’.

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Shaoran guardou, no armário do zelador, a escada que usara para prender ao teto a corrente de papel que cruzava os corredores de uma ponta à outra, e expirou cansado, alongando os braços e as costas que estavam levemente doloridos enquanto seguia pelo corredor em direção ao primeiro andar.

"Tenho que me lembrar de agradecer ao Eriol depois por isso..." - murmurou trincando levemente os dentes ao lembrar que o amigo o seguira para dentro do prédio, obrigando-o a oferecer ajuda para Sakura. ‘Sádico dissimulado de uma figa!’.

“Cuidado! Sai da frente...” – Sakura quase esbarrou nele subindo as escadas enquanto carregava três caixas, mantendo-as presas com o queixo.

“Hei! Deixe-me ajudá-la com isso...” – ele pegou as embalagens das mãos da garota antes que ela pudesse reclamar.

“Obrigada!” – suspirou, sorrindo levemente. - “Já terminou o seu trabalho, Shaoran?”.

“Já sim! Para onde vai isso aqui?” – quis saber.

“Para a sala de materiais sobressalentes no terceiro andar...” – disse apontando para o andar de cima. Alguns minutos de silêncio se instalaram entre eles depois disso, até deixarem os pacotes no lugar certo.

"Ainda estamos muito atrasados com o planejamento?" – ele perguntou, vendo-a fechar a porta.

"Não muito..." – respondeu um pouco preocupada. – "Mas decidimos adiar alguns eventos que estavam agendados para hoje e..." – interrompeu-se e suspirou, encarando-o de forma terna. – "Shaoran, eu queria agradecê-lo por ficar no colégio até mais tarde para nos ajudar. Você sabe que não precisava ter feito isso...".

"Não precisa agradecer! Além disso, foi divertido, apesar de cansativo...".

“Sabe, Isamu disse que sua ajuda é totalmente bem-vinda e me pediu para perguntar se você se importaria de vir outro dia...” – comentou, fazendo Shaoran fechar a cara. – “Afinal, estamos precisando de todo apoio possível...”.

“Claro! E por que não?” – respondeu tentando disfarçar a irritação.

“Eu estou cada vez mais impressionada com ele, sabia?” – sorriu. – “É incrível a forma como ele mantém a calma, apesar de estarmos com alguns problemas; consegue nos passar uma sensação de que tudo vai dar certo no final...” – suspirou levemente. – “É quase como se tivesse a resposta para tudo...”.

O rapaz soltou um muxoxo incompreensível que a fez se voltar curiosamente para ele, interrompendo o que estava falando.

“Shaoran...” – parou, fazendo-o voltar-se para trás ao ouvi-la chamar. Exibia um olhar que dispensava quaisquer palavras para saber que ela estava preocupada. – “Eu o estou aborrecendo com essa conversa, não é?” – suspirou inclinando levemente a cabeça para o lado.

"Por que você acha que está me aborrecendo?" – perguntou, esboçando um sorriso.

"É que... ando tão ocupada com toda essa história da gincana que...” – abaixou levemente o olhar. – “Sinto como se... estivesse deixando você de lado...".

"É claro que não! Que bobagem!” – viu-a menear a cabeça negativamente.

“É sim! Eu tenho me ausentado tanto, quase não conversamos mais... e olha que estou passando uns dias na sua casa!” – ela riu nervosamente. – “É quase como..." – interrompeu-se, fechando os olhos e suspirou, mordendo levemente o lábio inferior. ‘Como se estivéssemos nos evitando', completou mentalmente. Realmente o estava evitando. Porque, depois daquele dia, tudo parecia tão superficial, educado demais. Sabia que o motivo para estar se envolvendo tanto no comitê era justamente para não ter que encará-lo.

‘Porque vê-lo cara a cara me faz desejar, mais uma vez...’, abriu os olhos encontrando os orbes chocolate pousados sobre si de forma intensa.

Shaoran sentia o coração bater descompassado com cada gesto de Sakura, não conseguindo desviar o olhar; e quando a viu enrubescer, ao notar a forma como a estava encarando, sentiu o ar faltar. Por que sentia tanta necessidade de beijá-la novamente?

‘Eu não posso ser o único a estar sentindo isso...’, pensou tomando uma decisão.

"Venha comigo um instante..." - ele a puxou pela mão para a sala de aula mais próxima.

Ela imediatamente notou os tons carmins do poente que preenchiam a sala, enquanto o chinês fechava a porta ainda a segurando.

"O que houve?" – a garota indagou confusa, quando ele se voltou para ela, parecendo não ter certeza do que estava fazendo, mas então...

Ele deu um passo a frente, aproximando-se e, segurando a outra mão dela, empurrou-a suavemente para trás, encostando-a contra a parede.

Os olhos verdes se arregalaram imediatamente, acompanhando um leve estremecimento do corpo delicado. Sakura sentiu um frio na barriga quando a respiração morna e alterada dele começou a roçar em seu rosto.

Shaoran soltou uma das mãos dela, segurando-a pelo braço por medo que ela saísse dali, mas Sakura nem sequer pensara nisso e, sem ao menos refletir, viu-se agarrando a blusa dele, puxando-o para mais perto. Os olhos verdes fixos na boca trêmula de ansiedade do rapaz.

Ficaram encarando-se por alguns instantes, e Sakura começou a sentir os lábios secos, umedecendo-os com a ponta da língua. Imediatamente notou um brilho mais forte no olhar do chinês, exatamente antes de ele dar fim à pequena distância que os separava.

Quando as bocas se tocaram foi como se centenas de borboletas começassem a bater asas ao mesmo tempo dentro dos dois, como se uma corrente elétrica se espalhasse pela espinha.

Ele levou uma das mãos à nuca dela, segurando-a firmemente, enquanto passava o outro braço pelas costas de Sakura, aproximando-a ainda mais. Ela sentiu as pernas tremerem de tal forma que, se Shaoran não a estivesse segurando, certamente iria ao chão.

Separaram-se tentando recuperar o fôlego. Os narizes se tocando os olhos se mirando profundamente. Sakura soltou a camisa dele e passou os braços pelo pescoço de Shaoran, acariciando os cabelos rebeldes da nuca. Abriu um sorriso doce ao ouvi-lo suspirar, aproveitando a carícia suave e, então, beijou-o brevemente. Uma. Duas vezes. Tentadora.

Shaoran sorriu, aceitando a provocação e voltou a se aproximar, tomando-lhe novamente os lábios e puxando-a para mais perto com a mão que se encontrava na nuca, aprofundando ainda mais a carícia.

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Aiya, minna!!

Eu sei que disse que suspenderia a postagem, mas achei uma tremenda maldade fazer isso com vocês justo agora que as coisas iam começar a esquentar... Aposto que vocês gostaram do capítulo, não gostaram? (olha contente para a expressão de satisfação dos leitores) Que bom! Que bom!!

Mudando de assunto, o relacionamento S&S está afetando a vida de todos os amigos deles, mas eles nem se deram conta... Apesar de tudo, eles deram um grande passo hoje e quero ver o que vão fazer daqui para frente. Porque eu sinceramente não sei mais o que fazer com eles... Eu escrevo o roteiro, passo para eles, mas eles fazem o que bem entendem... hehehehe...

Não vou me estender muito nas notas hoje, então...

Observações:
Foi algo inesperado e muito divertido usar o ex-menudo Ricky Martin nesse capítulo, apesar de Livin la vida loca não ser a música dele que eu mais goste...

A “música tema” do capítulo é mais agitada e pesada que as anteriores e eu a escolhi porque quis dar certa ênfase ao Li nesse capítulo e ao que ele estava sentindo. Espero ter conseguido.

Quero agradecer a todos os reviewers. Espero que continuem acompanhando a fic!!

Beijinhos.

Yoru. (07/11/2009 00:42h).