Suteki da Nee escrita por Yoruki Hiiragizawa


Capítulo 11
Será que estou sonhando?


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: Eternal Flame, foi recentemente regravada pelo grupo Atomic Kitten.



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SUTEKI DA NEE
por Yoruki Hiiragizawa

 

Capítulo Onze
Será que estou sonhando?

 

Sakura ajeitou o vestido mais uma vez antes de tocar a campainha. Olhou para o pai com um sorriso um tanto quanto sem-graça. Nunca admitiria, mas estava nervosa; não sabia se havia exagerado ou se estava vestida de forma simples demais para um jantar oferecido pelos Li.

“O que houve, minha filha?” - Fujitaka a observava com um sorriso discreto, enquanto pegava das mãos da garota uma sacola que ela carregava. - “Não está se sentindo bem?”.

“Não é nada. Eu estou bem...” - falou voltando-se para a porta que se abria.

“Boa noite!” - Shaoran atendeu com um sorriso. - “Entrem, por favor! Estávamos esperando por vocês...”.

“Com licença!” - os convidados entraram no apartamento seguindo o rapaz até a sala. Por algum motivo a jovem ficou ainda mais nervosa com a aparição dele.

“Sentem-se. Fiquem à vontade!... Mamãe se juntará a nós em um instante. Está terminando de se arrumar...”.

“Hum... o cheiro está delicioso...” - Fujitaka falou, enquanto se acomodava no sofá. - “Ah, Shaoran, eu trouxe alguns biscoitos...” - entregou-lhe a sacola.

“Muito obrigado...” - ele encarou a amiga que parecia inquieta. Sakura se sentou no lugar indicado sem falar nada. Apenas sorriu nervosamente evitando encontrar o olhar do chinês. Shaoran estranhou um pouco a atitude dela, mas decidiu não falar nada.

Ela estava muito bonita usando um vestido de tecido branco perolado, justo, que ia até os joelhos; tinha um decote discreto e alças largas que eram vistas sob um casaquinho rosa-pálido transparente e de mangas três quartos.

“Boa noite! Desculpem a demora...” - Yelan entrou na sala, fazendo a garota se levantar rapidamente.

“Boa noite!” - a voz de Sakura saiu em um sussurro.

“Senhora Li, gostaria de agradecê-la pelo convite para o jantar...” - Fujitaka a cumprimentou, prestando reverência.

“Não é nada demais. Estou apenas retribuindo a gentileza...” - ela sorriu, indicando a ele, novamente, o sofá.

“Eu vou levar os biscoitos para a cozinha e preparar um pouco de chá...” - Shaoran disse, deixando a sala no instante seguinte.

Sakura o acompanhou com os olhos e, assim que ele saiu de vista, pousou-os sobre a mãe do amigo, que conversava com seu pai. Abaixou levemente a cabeça, envergonhada pelos caminhos a que sua imaginação a conduzia. Não conseguia controlar a sensação de inadequação que a possuía diante da chinesa e, com isso, não podia evitar repreender-se. Não havia motivos para se sentir insegura e, também, não precisava ter a aprovação de Yelan, mas assim o desejava. E saber disso pesava-lhe na consciência. Ela não era assim!

Voltou a erguer o olhar tentando expulsar aquela ansiedade, mas a imagem da mulher trouxe, novamente, o nervosismo. Não porque a chinesa fosse ostensiva; muito pelo contrário. Ela usava um simples vestido chinês preto, com dragões bordados discretamente sobre o tecido com fio da mesma cor. A gola e as mangas tinham detalhes em vermelho, assim como os botões que o fechavam no peito. Os cabelos estavam presos no alto em um coque, por uma fita vermelha e usava um batom vermelho fogo, que contrastava com a pele branca. Era sóbrio e ao mesmo tempo...

‘Ofuscante...’, era a única palavra em que a garota conseguia pensar para descrevê-la.

Shaoran voltou para a sala, trazendo a bandeja do chá. Assim que terminou de servir, sentou-se ao lado da amiga que permanecia pensativa e em silêncio.

“Hei...” - chamou-a baixinho, fazendo-a encará-lo levemente assustada. - “O que houve? Está tão quieta... Não se sente bem?”.

“Não se preocupe. Eu estou bem...” - sorriu de leve, sem conseguir convencê-lo.

“Senhorita Kinomoto...” - Yelan a chamou, assustando-a. Isso deu a Shaoran a impressão de que Sakura estava se sentindo desconfortável com a presença de sua mãe ali, mas não podia imaginar a razão.

“S-Sim!” - respondeu prontamente.

“Seu pai me disse que foi escolhida para representar sua sala na gincana esportiva do colégio...” - disse vendo a garota concordar silenciosamente. - “Meus parabéns!”.

“Muito obrigada!” - agradeceu timidamente.

“Eu era muito hábil nos esportes, também...” - disse alegremente. - “Mas isso foi há tanto tempo... em minha adolescência...” - suspirou saudosa, antes de voltar a conversar com Fujitaka.

Sakura olhou para Shaoran com um pequeno sorriso, passando a encarar os próprios pés de forma pensativa, em seguida.

“Sakura...” - chamou-a com a voz carregada de preocupação, vendo-a suspirar pesadamente.

Ele sabia que ela não diria o que a estava incomodando, então tudo o que lhe restava, era tentar distraí-la e fazê-la se sentir melhor. Com isso em mente, abriu um sorriso divertido e pegou uma das mãos da amiga, fazendo-a levantar o rosto.

“Você está muito bonita, sabia?” - disse baixinho, vendo-a arregalar os olhos e ficar com o rosto em chamas.

“Do... do que você...” - começou, abaixando o rosto para disfarçar seu embaraço.

“O quê? Não acredita?” - ele indagou, voltando-se para sua mãe. - “Mamãe, a senhora não acha que Sakura está linda hoje?”.

Yelan encarou os jovens por alguns segundos e sorriu ao ver o estado da garota, que dava um soco no braço de seu filho.

“Eu não diria que é só hoje, mas de fato...” - começou. - “A combinação que está usando é de muito bom gosto. E eu posso me lembrar de poucas pessoas que consigam dar tamanho encanto a algo tão simples...”.

“O-obrigada, senhora. Li...” - sorriu levemente, envergonhada pelo elogio, mas se sentindo um pouco mais tranquila.

“Com licença, Senhora...” – Wei adentrou a sala. – “O jantar está servido!”.

“Ah! Ótimo! Por aqui, por favor...” – levantou-se, indicando a sala de jantar.

“Vamos?” – Shaoran indagou com um sorriso tímido nos lábios.

Sakura o olhou com ternura, suspirando levemente, antes de concordar. Sentia-se bem mais animada.

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 “Uhm... Nós já vimos esses filmes...” – Shaoran comentou, mostrando os títulos que a mãe havia alugado. – “Quer assistir algum deles de volta?”.

“Eu não me importo em assisti-los mais uma vez...” – ela deu de ombros suavemente.

“Ah, não...” – suspirou um pouco cansado, mas abriu um sorriso em seguida. – “Hei! Que tal jogar videogame?”.

“Parece bom pra mim...” – sorriu, vendo-o se levantar.

“Vamos lá, então...” – iam saindo da sala, quando Yelan os chamou.

“Aonde vão?” – a mulher perguntou.

“Vamos jogar videogame...” – Shaoran disse, vendo a mãe desviar o olhar dele para Sakura e depois para Fujitaka.

“Está bem! Mandarei chamá-los daqui a pouco para o chá...” – falou, ouvindo-o concordar antes de sair com Sakura seguindo-o.

Yelan permaneceu olhando para a porta por onde os jovens haviam saído durante alguns segundos antes de voltar-se novamente para o pai da jovem.

“Desculpe-me a indelicadeza, Sr. Kinomoto...” – começou um tanto incerta. – “Mas o senhor não se preocupa por deixá-los sozinhos?”.

“Não vou dizer que fico totalmente confortável com isso...” – ele sorriu, olhando para a porta. – “Mas o relacionamento deles não me deixa exatamente apreensivo, também...”.

“O relacionamento deles...” – ela repetiu pensativa. – “Confesso que estou um pouco intrigada com isso...” – suspirou. – “Shaoran me disse que Sakura era apenas uma amiga, mas...”.

“Bem, eles não estão namorando, então...” – observou a reação da mulher à sua frente.

“Não estão?” – exibiu um sorriso triste. – “Confesso que isso me deixa um pouco decepcionada...” – disse em tom de brincadeira. – “Mas Sakura sente algo mais por meu filho, não é?”.

“Sim, ela sente...” – ele disse em tom de riso. – “Não sei há quanto tempo exatamente, mas já faz dois anos que eu percebi isso e, apesar de ser uma tristeza ter que dizer isso, Shaoran não demonstra outra coisa além de carinho por minha filha...” – parou brevemente, pensativo. - “Ou pelo menos era o que eu pensava...”.

“Como assim?” – a chinesa não estava entendendo.

“É que ultimamente eu tenho notado algo diferente no jeito de Shaoran tratar Sakura...” – um sorriso terno foi desenhando-se nos lábios do homem. – “Ele sempre foi muito atencioso, quase como um irmão para ela, mas nas últimas quatro ou cinco semanas ele tem mudado. Até o jeito com que ele a olha é outro...”.

“Bem, senhor Kinomoto, eu sei como Shaoran age perto das irmãs e posso lhe garantir que, com elas, ele não tem metade do cuidado que tem com a sua filha...” – Yelan disse divertida.

“Dói o coração ter que viajar em um momento como esse...” – dizia pesaroso.

“Eu me sinto em desvantagem aqui, sabe...” – a mulher suspirou pesadamente. – “O senhor conhece meu filho muito bem... Esteve presente na vida dele durante os últimos anos de uma forma que eu não pude estar. Eu lhe agradeço!”.

“Não há necessidade para isso, Senhora Li...”.

“Bem, isso nos leva ao principal motivo de eu ter oferecido esse jantar...” – ela começou, mudando levemente o tom de sua voz e deixando-o um pouco mais formal.

”E, o que eu posso fazer pela senhora?” – ele indagou, curiosamente.

“Eu gostaria de ter sua opinião, senhor Kinomoto, sobre convidar Sakura para ficar conosco aqui no apartamento enquanto o senhor estiver viajando...” – declarou, vendo o homem encará-la longa e pensativamente.

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“O que quer jogar?” – Shaoran perguntou, ligando a televisão e o videogame.

 

“Algo que dê para nós dois, de preferência...” – ela disse, fazendo-o rir.

“Pode ser de luta?” – quis saber, vendo-a concordar. – “Vai ser esse aqui então...” – separou um título, mas não o colocou no aparelho e sim um outro. –“Tem uma coisa que eu quero mostrar antes...” – explicou ao ver a expressão confusa da amiga, enquanto se afastava do televisor, sentando-se no chão.

“O que é?” – Sakura se sentou ao lado dele olhando para a tela.

“É que tem uma cena no jogo que me fez lembrar de você...” – disse, recebendo um olhar desconfiado.

“Por quê?” – questionou enquanto ele carregava o jogo.

“Você já vai entender...” – riu um pouco ao ouvi-la suspirar aborrecida por não ter lhe respondido. – “Só tenho que passar esses diálogos aqui, rapidinho...”.

Sakura olhava, sem muito interesse, para o casal que conversava no vídeo até o momento em que a garota começou a chorar e a imagem mudou para uma animação. Ela abriu um pequeno sorriso ao ouvir a introdução de uma canção pouco antes dos personagens se beijarem. Mantinha os olhos fixos na tela de forma absorta, sentindo-se envolver pela suavidade da melodia, que junto a cada detalhe da cena, transmitia-lhe uma alegria e uma emoção muito grandes. Contudo logo se viu invadida por uma onda de tristeza e desapontamento o que não poderia ser diferente já que a própria música falava de desejos que só seriam realizados em sonhos.

Olhou de esguelha para o chinês ao seu lado sentindo a tristeza ser rapidamente substituída por confusão ao lembrar do que ele falara antes.

‘Por que ele me mostrou isso?’, perguntou-se arregalando os olhos com o primeiro pensamento que passara por sua mente. ‘Será que ele pensou em mim porque gostaria de me beijar?’, supôs ficando corada. Olhou-o novamente com o canto dos olhos, tentando descobrir o motivo para ele ter-lhe mostrado aquilo. ‘Não pode ser por isso! Sakura, volte para a realidade!’, censurou-se, suspirando pesadamente.‘Mas e se foi a isso que ele se referiu?’, considerou desnorteada pelas conclusões as quais sua imaginação a conduzia.

“O que achou?” – Shaoran lhe perguntou, pegando-a um pouco distraída.

“Muito bonito, mas é tão clichê...” – respondeu a primeira coisa que lhe veio à cabeça.

Clichê?” – encarou-a confuso, fazendo-a quase se arrepender do que havia dito.

“É. Você não percebeu todos os chavões cinematográficos pra cenas de beijo que apareceram ali?” – questionou, vendo-o negar.

“Eu não vi nada disso... Os elementos da cena formavam algo quase mágico! Surreal!” – ele replicou, vendo-a erguer uma sobrancelha. – “Vamos assistir de volta, então!” – disse, reiniciando o jogo.

“Ora, vai dizer que nunca notou todo o misticismo colocado sobre a questão do beijo pelo cinema?” – indagou contrariada. – “Principalmente o cinema Ocidental...”.

“Ah, Sakura, agora você está exagerando...” – contestou.

“O assunto que é tratado com exagero!” – exclamou, vendo-o carregar a cena novamente. – “A música romântica, o jogo de luz e cores, tudo girando para dar a impressão de que o mundo parou no momento do beijo, fogos de artifício...” – enumerava nos dedos.

“É claro que, quando você coloca as coisas dessa forma...” – encarou-a suspirando.

“São coisas que acontecem nos filmes, mas não na vida real...” – disse, recebendo um olhar irônico.

“E como você pode saber?”.

“Ah, eu não sei...” – desviou o olhar, envergonhada.

“Viu só...” – ele riu zombeteiro. – “Pode existir uma explicação para tudo isso. É uma questão de saber escolher onde e quando dar o beijo...”.

“Você não vai me persuadir...” – ela começou encarando-o convicta.

“E por que não?”.

“Porque eu não estava falando de beijos em situações isoladas...” – rebateu. – “Claro que se o casal estiver em um jantar romântico, vai ter música de fundo. E se eles se beijarem durante o ano novo, vai ter fogos de artifício; e tudo pode estar girando se o beijo acontecer, sei lá, em um brinquedo no parque de diversões, mas tire tudo isso...”.

“Você é exigente...” – ele sorriu, observando-a.

“Eu sou é realista...” – corrigiu-o, ficando em silêncio por um instante enquanto ele repetia as ações que levavam para a animação. – “E você já reparou nas dicas que entregam quando vai ter beijo na cena?”.

“Dicas?” – ele se voltou curiosamente para Sakura, ignorando a cena do jogo que recomeçara.

“São pequenos detalhes...” – ela gesticulava, esboçando um sorriso ao ouvir a música novamente. – “Pode reparar como os personagens masculinos procuram os lábios das garotas que, convenientemente, estão rosados e umedecidos, isso quando elas não os acabam umedecendo enquanto eles estão olhando...”.

O vento é um coração que nadou nas palavras acumuladas

“Faz sentido...” – Shaoran, inconscientemente, pousou seu olhar nos lábios dela por um instante, mas disfarçou, voltando a encontrar os olhos esmeralda. – “E é bem comum também enquadrar os olhos do casal...” – comentou pensativo.

As nuvens são vozes lançadas para o futuro ansiado

“Olhos brilhantes, não se esqueça!” – ela brincou, recebendo uma mirada intensa do rapaz.

A lua é um coração tremendo em um espelho instável

“Como pedras preciosas...” – sussurrou sem desviar o olhar por um único instante, o que a fez ruborizar. – “E...” – abriu um sorriso reconfortante. – “A garota fica com o rosto vermelho...”.

As estrelas são lágrimas gentis em um rio transbordante

Sakura arregalou os olhos e estremeceu levemente, sentindo o coração bater descompassado.

Como é bonito... Caminhar juntos de mãos dadas

“O... o coração dispara...” – disse sentindo a boca seca.

Eu quero ir para sua cidade, sua casa, em seus braços

“Falta o ar...” – ele sussurrou, fazendo-a desviar o olhar.

“São clichês...” – ela falou, voltando a respirar.

Com aquele coração protegido em seu peito

“E bem significativos...” – viu-a confirmar, mordendo levemente os lábios.

“É! Coisa de filme...” – voltou-se para ele novamente, tentando falar de uma maneira descontraída, mas ele ainda a olhava profundamente. Sakura sentiu seu sangue correr mais rápido. - “Tudo parece tão simples e lógico que chega a ser revoltante...” – admitiu atordoada.

“A velha história do final feliz!” – admirava-a atentamente.

Nessas noites confusas... Eu sonho.

“É! Até parece que é só se apaixonar pra...” – suspirou e abriu um sorriso triste, abaixando o olhar.

Pra ficar tudo bem...” – completou procurando pelas jóias esmeralda, que pareciam querer evitá-lo.

“É...” – Sakura não conseguiu fugir dos orbes chocolate por muito tempo e acabou mergulhando neles de forma sonhadora. - “Sabe... eu, algumas vezes, me pergunto qual a sensação...” – confessou tocando os lábios com a ponta dos dedos, as maçãs do rosto ganhando um tom mais acentuado de vermelho. - “Que gosto será que tem? Se é que tem algum gosto...”.

“O primeiro beijo deve ser a coisa mais estranha do mundo...” – Shaoran declarou um pouco embaraçado, também. – “Não dá pra saber se está fazendo do jeito certo ou não...”.

“Deve ser muito confuso...” – ela falou com um fio de voz.

“Devia ter alguma maneira de se preparar para esse tipo de coisa...” – ele ergueu a mão para ajeitar uma mecha do cabelo dela atrás da orelha; arregalou levemente os olhos ao senti-la estremecer com o toque inesperado.

“T-Também acho...” – ela segredou, notando como os olhos de Shaoran frequentemente fixavam-se em seus lábios.

“O que você...” – aproximou-se lentamente, um leve tom de rouquidão em sua voz. – “O que você acha de fazermos uma experiência?” – embora Shaoran aparentasse estar calmo, seu coração batia violentamente dentro do peito, ameaçando sair. Suas mãos suavam e seus olhos pareciam hipnotizados pelos dela, como se olhá-la fosse a única coisa que sabia fazer na vida.

“Experiência?” – ela engoliu em seco, fazendo-se de desentendida, embora soubesse exatamente o que ele quisera dizer. Aquilo era bom demais para estar acontecendo.

“Se você quiser, claro...” – encarou-a longamente, esperando por uma resposta. Suspirou desanimado, diante do silêncio dela. – “Bem... é claro que você deve preferir alguém com mais... prática...".

"Não!" – exclamou, ficando ainda mais vermelha, se é que aquilo era possível. Respirou profundamente, tentando acalmar-se e baixou a cabeça, olhando-o de soslaio. – “E-eu adoraria... quero dizer, eu gostaria muito que vo... que você fosse o primeiro..." – completou um pouco confusa ao vê-lo arregalar os olhos. - "Por que... bem... você é... você é meu melhor amigo... é alguém em quem eu confio...".

Ele não entendeu porque sentiu uma leve pressão no peito ao ouvi-la dizer aquilo, afinal era por esse motivo que se encontravam naquela situação; porque eram amigos que iam descobrir algo novo... Juntos!

"Então... vamos lá..." – a voz de Shaoran não passava de um sussurro.

Aproximaram seus rostos, devagar, os corações batendo acelerados. As respirações curtas. Os perfumes invadindo seus sentidos.

A última visão que ele teve foi dos belos olhos esmeralda se fechando, os lábios prontos...

As bocas finalmente se tocaram... Foi um toque suave, gentil... Tão gentil como uma borboleta pousando em uma flor.

Sakura sentiu vontade de chorar, mas se controlou. Não poderia deixar transparecer o quanto aquele momento lhe afetava, o quanto sonhara com aquilo...

Eles se separaram, encarando-se nos olhos por um momento, mas ela logo desviou o olhar, envergonhada pela forma que Shaoran lhe encarava.

"B-bem... i-isso foi... foi isso...” – balbuciava confusa. – “O-o que você achou do beijo de uma total inexperiente como pri-..." – interrompeu a frase ao senti-lo, subitamente, segurar seu rosto com as duas mãos, capturando mais uma vez seus lábios... um beijo mais profundo, real.

Sakura agarrou-se ao pescoço dele, sentindo a pele arder. As mãos do rapaz passeavam pelas costas da moça, puxando-a para mais perto de si e provocando em Sakura a impressão de que uma onda quente lhe invadia, como se um vulcão tivesse explodido em seu peito. Não mais conseguiu conter as lágrimas que tão corajosamente reprimia, deixando-as escorrerem por seu rosto.

Shaoran não podia acreditar. Era maravilhoso beijar! Que sensação era aquela? Desconhecida e ao mesmo tempo tão familiar? Apertava-a contra seu corpo, colando-se a ela. Sentiu algo como uma corrente elétrica percorrer sua espinha, fazendo-o estremecer, com o calor que emanava de Sakura.

Ele interrompeu a caricia quando um gosto salgado se misturou à doçura daqueles lábios e se afastou, encarando-a confuso ao vê-la chorando.

“O-o que foi?” – indagou assustado, afagando-lhe o rosto. Será que fizera algo errado? Antes que pudesse dizer algo mais, entretanto, viu-a começar a rir, secando os olhos.

“Eu acho que estava ouvindo os fogos de artifício...” – disse, voltando a encará-lo, com o rosto vermelho.

Shaoran sorriu aliviado, mirando novamente os orbes esmeraldinos. E, dos olhos, voltou sua atenção para os lábios, lembrando-se das sensações que o acometera durante a experiência que tivera instantes antes. Ao voltar a encontrar o olhar de Sakura, notou em sua expressão algo que parecia convidá-lo a se aproximar mais uma vez e assim o fez. Levou a mão ao queixo dela e o ergueu levemente, sentindo o coração acelerado de antecipação pelo que iria acontecer.

Podiam sentir a respiração um do outro quando uma batida na porta os assustou, fazendo-os se afastarem com a decepção que aquela interrupção lhes causava estampada no rosto.

"Jovem Shaoran!" - disse a voz de Wei abafada pela porta.

"Pode entrar!" – Shaoran respondeu, levantando-se, antes que a porta se abrisse.

“A Senhora pediu que os chamasse para o chá...” – o mordomo disse, vendo a garota encaminhar-se para a porta, enquanto seu jovem mestre desligava a televisão.

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Shaoran respirou profundamente, jogando-se sobre sua cama. Acabara de se despedir de Sakura e do senhor Kinomoto, o que lhe permitia, finalmente, relaxar. O final daquela noite o deixara totalmente tenso por medo de que seus pais percebessem qualquer coisa suspeita nas ações dele e da...

‘Amiga?’, perguntou-se se poderia continuar considerando-a dessa forma depois do que ocorrera entre eles. Apenas agora considerava os problemas que aquela brincadeira poderia causar.

“Onde eu estava com a cabeça?” – fechou os olhos, criticando-se mentalmente pelo que sentira ao beijar a melhor amiga. Todos seus pensamentos lhe diziam que aquele beijo deveria ter sido esquisito, no mínimo, e não algo tão natural e... gostoso.

Estava perdido em reflexões quando batidas na porta o trouxeram de volta à realidade.

“Sim?” – respondeu, vendo Wei entrar com o telefone em mãos.

“É a senhorita Kinomoto, jovem Shaoran.” – falou, fazendo o rapaz pular da cama e agarrar o aparelho.

“Obrigado. Pode me dar licença, por favor...” – acompanhou o mordomo se retirar, antes de falar alguma coisa. – “Alô...”.

“Shaoran...” – Sakura fez uma pausa curta. – “Está sozinho?” – indagou um pouco receosa.

“Sim. Pode falar...” – prendeu a respiração, entendendo sobre o que ela queria conversar.

“Eu... Eu queria saber se você está bem, quer dizer, se não está se sentindo estranho...”.

Li sorriu ao ouvir a pergunta. Ela parecia ter lido sua mente.

Pra dizer a verdade, eu estou meio confuso...” – ele admitiu. - “Eu queria muito conversar com você...” – sentou-se na cama.

“Eu também. As coisas ficaram um pouco estranhas, nee...” – ela falou com tom de riso, mas ele sentia que estava inquieta. - “Não conseguimos lidar com a situação na frente de nossos pais...”.

“Parece que não realm-...”.

“Shaoran...” – ela o interrompeu, mas se calou em seguida, deixando-o um pouco apreensivo.

“O que foi?” – decidiu puxar o assunto.

“Vo-você se arrependeu?”.

Shaoran fechou os olhos por um instante, recordando o que sentira mais cedo. ‘Arrepender-me? Como poderia?’, pensou abrindo um pequeno sorriso.

“Não. E você?” – ele teve a impressão de ouvi-la rir do outro lado da linha.

“Eu não!”.

Shaoran se deitou na cama, encarando o teto e ouvindo a respiração agitada dela.

“Escuta...” – ele começou. – “Acha que, amanhã, conseguiremos agir normalmente?”.

“Espero que sim!” – ela disse honestamente. – “Porque, se não conseguirmos, acho melhor recusar o convite de sua mãe...”.

“O quê?” – não entendeu do que ela estava falando. ‘Que convite?’.

“Meu pai ficou muito grato pela preocupação dela... Ah! Mas tem certeza de que não será incômodo?”.

“Não! Não se preocupe...” – ele respondeu um pouco incerto. Teria que perguntar para a mãe do que Sakura estava falando.

“Que bom! Estou um pouco nervosa, sabe...” – ela disse rindo. – “Mas vai ser divertido!”.

“É, vai sim...” – ele concordou cheio de curiosidade. ‘Mama, o que você está planejando?’.

“É melhor eu desligar, agora. Falo com você amanhã!”.

“Espera, Sakura!” – chamou-a. – “Vamos combinar uma coisa antes...”.

“O quê?”.

“Não vamos deixar nada interferir nas coisas entre nós...” – pediu com ternura, ouvindo-a suspirar.

“Tudo bem!” – ela concordou, por fim.

“Promete?”.

“É uma promessa!”.

“Até amanhã, então...”.

“Até amanhã!”.

Shaoran desligou o telefone, sentindo uma onda de tranqüilidade se apossar de seu peito. Não havia motivos para se preocupar, contanto que aquilo não interferisse em sua amizade com Sakura. Com isso em mente, permitiu-se envolver gradualmente pelo sono e a última coisa em que pensou, antes de entrar no reino de Morfeu, foi que deveria perguntar a sua mãe sobre o tal convite que fizera a Sakura.

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“Bom dia, Wei!” – Shaoran cumprimentou-o, em chinês, sentando-se à mesa.

“Bom dia, jovem mestre!” – o homem o cumprimentou, deixando-o constrangido.

“Wei! Sabe que não gosto quando me chama assim...” – repreendeu-o, fazendo-o rir.

“Você madrugou hoje, meu jovem...” – comentou, servindo-lhe o café.

“Acabei me acostumando a acordar nesse horário...” – suspirou, olhando em volta com estranhamento. – “Onde está minha mãe?”.

“A Senhora não se levantou ainda...” – o mordomo falou adquirindo uma expressão um pouco séria.

“Ela está bem?” – inquiriu com preocupação.

“Apenas acordei com um pouco de dor de cabeça...” – Yelan surgiu na cozinha encarando Wei de forma aborrecida. – “Mas já estou melhor...” – completou sorrindo para o filho. – “Bom dia!”.

“Bom dia, mama!” – Shaoran esperou-a se sentar. – “Posso lhe fazer uma pergunta?”.

“Sim?”.

“O que a senhora combinou com o Sr. Fujitaka sobre a Sakura?” – foi direto ao assunto, deixando-a um pouco espantada. – “Sakura me disse ontem que está bastante animada por seu convite...”.

“Ela está? É bom saber!” – exclamou sorridente. – “Tive medo de ela não aceitar por receio de incomodar...”.

“Aceitar o quê?”.

“Ficar conosco enquanto o senhor Kinomoto estiver viajando...” – esclareceu, fazendo-o arregalar os olhos.

“Sa-Sakura vai ficar a-aqui?” – estava atônito. Entendeu, subitamente, o porquê de a amiga dizer que recusaria o convite se não conseguissem agir com naturalidade.

“Sim. Com exceção dos finais de semana, quando o irmão dela estará na cidade, resolvendo os assuntos do casamento...”.

“Por que a senhora não me consultou sobre isso?”.

“Achei que não fosse se importar, já que são tão amigos...” – comentou estranhando a reação dele.

“Não é disso que estou falando...”.

“E, pelo que o senhor Kinomoto me disse, você sempre acaba dormindo na casa deles, preocupado por deixá-la sozinha em casa enquanto ele viaja...” – colocou, vendo-o enrubescer. – “Já pensou que, talvez, não seja apropriado que um rapaz e uma moça passem a noite, sozinhos, na mesma casa?”.

Shaoran sentiu todo o sangue de seu corpo subir para a cabeça com a colocação de sua mãe. Aquilo fazia todo sentido! Não era à toa que, constantemente, ouvia insinuações de que ele e Sakura eram namorados...

“Eu entendo que não há nada entre vocês, mas outras pessoas não pensarão o mesmo...” – ela o viu concordar com a cabeça. – “E, também, eu quero muito me aproximar dessa menina. Ela é um doce! Por isso achei que a oportunidade seria perfeita...” – sorriu, suavemente.

“Eu fiquei um pouco surpreso pela senhora tê-la convidado sem me avisar, mas é claro que não vejo problema por ela ficar conosco...” — ele a encarava pensativo. - “Mas posso saber por que tem tanto interesse nela?”.

“Ora, meu filho, ela é sua amiga! Não preciso de outro motivo...” – olhava-o de forma divertida. – “E eu também quero ouvir, de outra pessoa, o que você tem feito aqui no Japão...”.

“Sabia! Mãe, por favor, não faça perguntas constrangedoras nem conte aquelas histórias sobre a minha infância para ela...” — ele pediu.

“Que histórias?” – falou fingindo-se de desentendida.

Shaoran suspirou pesadamente e se levantou, olhando-a de forma contrariada.

“Eu acho melhor me arrumar e ir ao colégio para tentar convencer Sakura a recusar sua proposta...” – declarou, fazendo-a rir.

 

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Tomoyo entrou na sala e espantou-se levemente ao avistar Sakura já na sala. Mesmo que a amiga não estivesse sempre atrasada, aquele horário era um pouco cedo demais.

“Bom dia!” – aproximou-se, deixando seu material sobre a carteira sem receber resposta.

Sakura continuava com a cabeça apoiada em uma das mãos enquanto olhava através da janela com um sorrisinho bobo.

“Sakura?” – chamou-a passando a mão na frente dos olhos, fazendo-a despertar.

“Ah, bom dia, Tomoyo!” – cumprimentou-a alargando o sorriso.

“Nossa! Pelo visto o jantar ontem foi muito bom, hein...” – a morena alfinetou, vendo-a desviar o olhar, constrangida. A corista arregalou os olhos, aproximando-se da amiga um pouco desconfiada. – “Sakura?”.

“O quê?” – ela se voltou para a outra, tentando disfarçar.

“O que aconteceu ontem que a está deixando com o rosto vermelho?” – ergueu uma das sobrancelhas, vendo um sorriso sem-graça surgir nos lábios da jovem de olhos verdes.

“Bem...” – começou, vendo os olhos de Tomoyo brilharem de expectativa, mas não conseguiria contar o que acontecera entre ela e Shaoran. – “A mãe de Shaoran me chamou para ficar com eles enquanto papai estiver viajando...” – disse nervosamente.

“Ah...” – Tomoyo suspirou. Por um instante pensou que ela finalmente havia se declarado para o chinês. - “Então você vai ficar no apartamento do Li?”.

“Eu ainda não sei...” – disse abaixando o olhar. – “Vai depender...”.

“Como assim?” – estranhou, vendo-a olhar para a porta.

“Bom dia!” – Shaoran as saudou com um sorriso. – “Nossa, Sakura, madrugou hoje, hein?”.

“Você também parece ter caído da cama...” – ela retrucou com um sorriso, olhando-o de esguelha. Voltou-se para trás, iniciando uma conversa bem-humorada.

Tomoyo os observou intrigada por um instante, antes de se sentar em seu lugar, imersa em pensamentos. Tinha alguma coisa diferente entre os dois, mas o que poderia ser?

“Olá! Bom dia!” – Chiharu se aproximou ao lado de Naoko.

“Como foi o final de semana?” – a garota de óculos quis saber.

“Foi divertido!” – Sakura suspirou, sendo observada por Shaoran com um pequeno sorriso. – “Meu irmão oficializou o noivado no sábado...”.

“A professora Mizuki deve estar muito feliz, não é?” – Chiharu comentou, recebendo assentimento.

“E o fim de semana de vocês?” – Tomoyo perguntou.

“Fiquei ajudando Takashi na lanchonete...” – Chiharu expirou cansada.

“E eu assisti alguns filmes para a coluna de cinema do jornal...” – Naoko falou sorrindo. – “Falando nisso, algum de vocês já viu Showbar?” – indagou recebendo respostas negativas de todos. – “Então, nem percam tempo! Eu o aluguei esse final de semana, é péssimo! Cheio de clichês e totalmente previsível!” – falou, fazendo Sakura e Shaoran arregalarem levemente os olhos, abaixando a cabeça, envergonhados.

Tomoyo assistiu à reação dos dois com estranheza e desconfiança. ‘O que está acontecendo aqui, afinal?’, perguntou-se voltando a atenção para as amigas que continuavam contando os acontecimentos dos dias anteriores.

Continua...

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Notas finais do capítulo

Eu simplesmente A-DO-RO esse capítulo! (Por que será, né?)
Espero que tenhm gostado, também... Como estão se sentindo? Sentem-se livres, leves e felizes? pois eu me sinto bem! As coisas parecem estar entrando nos eixos para o “casal maravilha”...

Ò.ô Acreditam mesmo nisso? (risada maligna) huahuahauhauhuahuahuau... Seria muito fácil se fosse...


(disfarçando) Para quem ainda não descobriu e possa estar se perguntando: “O que S&S estavam vendo na TV que deu origem à situação toda?”, era uma cena do jogo Final Fantasy X entre Tidus e Yuna ao som de Suteki da ne, música de Nobuo Uematsu e interpretado pela Rikki. É, de maneira geral, a origem do fanfic...
p.s.: As frases em ítalico no meio da cena são a tradução do primeiro trecho da música.


Os próximos capítulos serão definitivamente revolucionários! Pois estamos entrando em uma nova fase... a fase da amizade colorida!! Aguardem!


O filme Showbar, cruelmente criticado pela Naoko nesse capítulo não me pertence (e só a título de curiosidade, eu, pessoalmente, não tenho nada contra ele e até o considero bem legal!!).


Eu vou ficar por aqui! Agradeço de coração a todos os meus amigos que me auxiliam, a Rô, okaa-san, Fê, filhotas, Mary, Taís, a todos que lêem e deixam reviews, a quem me manda e-mails comentando e a quem não comenta também... Obrigada por estar acompanhando!


Um abraço especial para Rubby-chan que me fez um pedido que acabou sendo convergido nesse capítulo. Ficou bom, nee??

Beijinhos a todos. Até o próximo capítulo!


Yoru. (26/10/09 00:10h).


ATENÇÃO!!!
Pessoal, SUTEKI DA NEE vai estar entrando em pausa até, pelo menos, o final de novembro. Para maiores informações, visitem meu Perfil!!!!