Forever & Ever escrita por soulsbee


Capítulo 2
Viagem




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Depois de ter conversado por um longo tempo com Robert, ele precisou voltar para sua casa – antes que sua mae surtasse- para conversar com ela a respeito da viagem, no ápice do outono e arrumar as malas, afinal, seria de manhã que iria para a estação rodoviária.

Sim, meus pais estavam no escritório, em Dakota do Norte, mas ligavam para mim quando podiam para dar ordens do gênero e avisar que estavam enviando dinheiro para pagar as despesas da empregada que, raramente, aparecia em casa, se não para levar comida e limpar tudo.

Não demorou muito para ele falar com ela e logo estávamos dentro de um ônibus, seguindo para a nossa casa de praia.A viagem não era tão longa, apenas umas três horas, dependendo do transito, mas Robert era impaciente e, para piorar, a bateria do meu celular havia acabado. Ou seja, nada de musica, nada de diversão, apenas um longo caminho tedioso.

– Estamos chegando? – Perguntou impaciente. Assenti com a cabeça revirando os olhos por ter sido a decima vez que ele perguntara isso.

Apesar desse nervosismo todo que ele estava causando, testando o pouco de paciência que tinha, ele, definitivamente, era o tipo de amigo para qualquer hora.

Com 1,84 de altura e idiotice dentro de um corpo comum, olhos castanhos escuros e penetrantes, um lindo cabelo castanho escuro arrepiado misturado com um loiro natural, romântico, idiota, sorridente, guitarrista, desastrado com skate e com qualquer outra coisa que possuísse rodas – apesar de ser ótimo na bicicleta – ele era o garoto mais amigavel que ja conheci.

Conheci-o dia 11/12/2001,ele me dera uma pulseira linda de ouro com essa data marcada nela. Seu pai se mudou para International Falls à trabalho e sua família o acompanhou. Os agradeço todos os dias por terem feito um filho maravilhoso e por terem se tornado meus vizinhos

– As coisas estão lá?

– Estão! – Fora a centésima vez que ele me perguntara se “as coisas estão lá”

– Estou perguntando de novo porque não quero chegar lá e não ter o que fazer! – ao retrucar minha resposta que possuía um “ponto final” respondi:

–É perda de tempo discutir contigo, não vale a pena. – Seu sorriso desapareceu, talvez eu tenha sido grossa demais.

–Então não vale a pena discutir comigo? Você quis dizer que eu não tenho valor e que não presto? – Ouve uma pequena alteração em sua voz, algo bem notável.

–Não foi o que eu quis dizer, eu queria dizer que não vale a pena perder tempo discutindo quando poderíamos estar conversando. – Sou incrivelmente boa em tentar contornar certas situações como também sou pessima, as vezes. - Desculpe-me pela bobagem dita.

Em instantes, ouvi uma risada alta ecoando pelo ônibus, todo mundo parou de fazer o que estava fazendo para saber o que estava acontecendo, Robert estava rindo do meu pedido de desculpas.

–Você já foi mais inteligente! – Disse gargalhando.

–Não acredito que cai nisso! – Ele sempre foi de fazer drama, porque agora seria diferente?

–Você esta definitivamente engraçada! Eu deveria filmar tudo isso para me lembrar. – Continuava rindo

–Não teve graça, idiota! – Alterei minha voz, parecendo um pouco emburrada.

–Pra você não, pra mim sim. – Seu riso era estrondosamente alto o suficiente para atrair a atenção de todos ali.

–Quieto, por favor. Alias, já estamos chegando.- Fechei a cara em um bico e ele começou a cutucar meu braço na tentativa de me fazer rir.

Ignorei sua brincadeira escondendo um riso e descemos do ônibus assim que foi permitida a saída. Não estavamos em um avião, então nao compreendi o porque de tanta frescura.

Corremos para encontrar um taxi, pois, além de não ser uma cidade tão grande, a essa hora da noite, beirando as 23:00, talvez fosse meio dificil encontrar algum veiculo.

Milagrosamente, encontramos um taxista disponível, bem... quase, um homem já havia requisitado seus serviços, porem, fomos mais rápidos e entramos no veiculo primeiro.

O caminho não era tão longo, era bem pertinho na verdade, entretanto, as perguntas que o motorista faziam tornou a situação mais longa do que o esperado.

– Vocês formam um belo casal! – Disse puxando assunto.

– Não somos um casal... Somos amigos – Expliquei corando um pouco. Várias pessoas achavam que éramos um casal quando, simplesmente, nao passavamos de melhores amigos de longa data.

– Hm... – Foi a ultima coisa que ele disse antes de ficar pensativo e olhar para meu amigo pelo retrovisor.

– Você é gay? – Perguntou.

– Não! – Defendeu-se rapidamente. Mordi o lábio inferior contendo uma risada que se formava em minha garganta. Essa também não foi a primeira vez que fizeram essa pergunta a ele.

– Hm... então sua amiga é lesbica?! – Tudo bem a graça parou, pois essa era inusitada.

– Não! – Defendi-me tão rápida quanto Rob.

– Então...? – Ele era muito curioso e não iria desistir tão facil, mas, por sorte, finalmente haviamos chegado em nosso destino.

– É logo ali – Apontei, com meu dedo indicador, para a minha casa. Fiquei completamente feliz por nao ter que responder mais nenhuma de suas perguntas.

Estava chovendo um pouco forte quando chegamos então, assim que paguei o taxista, corri para a varanda da casa, evitando me molhar muito. Não que não gostasse do tempo assim, mas não podia abusar muito, afinal, não tinha trazido tantas trocas de roupa para essa pequena viagem.

Esperei Robert pegar as malas – na verdade, rezava para que ele tivesse-as pego quando saimos do onibus, afinal, nem eu me lembrava disso quando corri atrás de um taxi – mas, por sorte, ele se lembrou e logo o vi carregando duas bagagens pequenas para casa.

Abri a porta para ele, deixando-o entrar primeiro, em seguida, coloquei minha blusa de frio no cabideiro e virei o interruptor ligando a lampada, clareando todo aquele primeiro andar.

Um sofá enorme branco estava centralizado na sala, por cima de um longo tapete de pelos que iam dele até próximo a parede onde estavam a estante cheia de livros de temas variados, a televisão de plasma grande e o video game junto de alguns acessorios que eram as coisas que Robert tanto perguntou.

– Não vai entrar? – Indagou.

Não consegui nem, ao menos, pensar. Em segundos ele passou os braços em minha cintura me puxando e me pegando em seus braços. Debati-me um pouco, querendo descer antes que ele me jogasse em qualquer lugar.

–Pronto, está dentro! – Seu hálito fresco de menta bateu em meu rosto causando uma sensação agradavel. Não sei como ele conseguia manter esse frescor por tanto tempo mesmo sem se alimentar.

– Obrigada, mas eu poderia ter feito isso por conta – Deixei claro com um riso.

– Nem acabei o serviço para você começar a ser chata comigo – Respondeu. Em poucos segundos, seus braços não estavam mais em meu corpo, eu estava solta no ar e logo senti minhas costas colidir contra o sofá criando um barulho estrondoso. Revirei os olhos enquanto ele se divertia com a cena.

– Doeu, sabia? – Resmunguei. Minhas costas haviam estralado com a queda brusca.

– G ou R? – Sim, as vezes falavamos por código, simplesmente por preguiça de pronunciar o nome completo de algo que, no caso, seriam Guitar Hero ou Resident Evil.

– F – Mesmo querendo jogar videogame, não acho que me concentraria muito bem depois de uma longa viagem dentro de um onibus. Eu estava exausta, então optei por algum filme qualquer.

– F ––Só se for esse – ele foi até a prateleira de filmes e pegou uma coletânea de filmes de terror, os mais assustadores.

–Pode! – Eu tinha medo, bom, nem tanto, afinal, via coisas estranhas o tempo todo então nada dentro de uma televisão iria conseguir me assustar tanto quanto o que via pessoalmente.

O filme começou interessante e assustando – milagre, já que a maioria dos desse gênero só começam a te dar arrepios nos 30 minutos finais, isso quando assustam - mas não consegui prestar atenção nele.

Minha mente havia se desprendido do mundo real e havia entrado no “meu mundo”. Tentei ignorar várias vezes o pensamento que começara a me torturar com a idéia de quanto tempo ficaríamos lá e de como seria se eu reencontrasse algumas pessoas que eu realmente detestava...

Também imaginava se teria um pouco de paz com minhas alucinações, vendo-as diminuirem gradativamente, mas, se até hoje isso não passou, não tinha muita fé de que, um dia, teria paz e iria viver como qualquer outro ser humano comum.

– Aquele taxista era curioso - Robert disse quebrando o silencio da sala criado por nós, pois, se dependesse da televisão, estariamos surdos.

– É - Concordei soltando uma leve risada.

– Mas ele me disse algo em relação a você que me fez ficar pensando... - Disse seriamente, olhando para mim.

– O que? - Perguntei curiosa.

Antes de ouvir sua resposta, segui para o primeiro andar da casa, escorregando propositalmente algumas vezes no assoalho de madeira, como uma criança brinca em um chão lustrado e escorregadio, dirigindo-me até o quarto em que eu ficava quando vinha para essa casa e pegando o cobertor em cima da cama sem me preocupar em acender a luz.

Logo desci de volta, deitando-me no sofá, jogando um cobertor menor para Robert e me cobrindo com aquela manta marrom, maravilhosa e aconchegante.

– Continue - Pedi logo após ele ter agradecido pelo cobertor estendendo-o sobre seu corpo.

– Você é lesbica? - Perguntou mordendo o lábio inferior, na tentativa falha de conter um riso. Só pode ser brincadeira. Revirei os olhos. - É brincadeira! - Disse após tê-lo fuzilado com os olhos.

– Bom mesmo, porque se fosse assim, diria que você é gay! - Revidei.

E depois de muito ter conversado durante o filme, resolvemos nos calar e prestar atenção nos minutos finais que tentavam compensar todo o resto que foi horrível, mas já conseguia prever um final ainda pior. Era sempre assim, previsível.


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