POV Katherine

Minha vida havia sido ceifada cedo: morri uma semana antes do meu aniversário de 21 anos, juntamente com meus pais. Minha irmã caçula tinha conseguido sobreviver, mas isso se dava ao fato de seu Anjo Protetor estar cuidando dela sempre. Já o meu resolveu se passar por humano e se apaixonar por mim. Damon era lindo de mais para ser humano, já devia ter suspeitado logo ali, mas acabei me apaixonando por ele também e parecia que logo estabeleceríamos um relacionamento, se não fosse pelo fato de ele ser meu anjo da guarda, porém esse detalhe ainda não era do meu conhecimento.

Na noite de minha morte, tínhamos saído para irmos tomar um lanche logo após as minhas aulas da faculdade. Tudo ia bem, até discutirmos e ele ir embora, me deixando longe de casa e fazendo com que eu tivesse que pedir para Elena ir me buscar de carro a noite. Até ai tudo bem, se não fosse o fato de no meio da ponte perto da entrada da cidade eu ter avistado a coisa mais horrível que eu já tinha visto: uma sombra grande com duas coisas enormes que pendiam em cada lado do seu corpo e se assemelhava a asas deformadas. Era difícil definir em meio a escuridão, mas era notável seus olhos grandes de fogo que se destacavam no que parecia ser seu rosto. Uma risada bizarra ecoou no ar enquanto a tal sombra avançava sobre o nosso carro e ninguém parecia vê-la, a não ser eu. Um grito desesperado saiu da minha garganta, assustando meu pai e fazendo com que ele perdesse o controle do carro, caindo no rio abaixo da ponte. Os acontecimentos que se sucederão foram os mais aterrorizantes pelo que eu já havia passado; rapidamente o carro se encheu de água e meus pais já estavam desacordados nos bancos da frente, mas Elena estava lucida e se debatia ao meu lado, então me concentrei em soltar o seu cinto de segurança que a prendia ali o mais rápido que eu pudesse para que ao menos ela sobrevivesse, enquanto gesticulava para que ela ficasse calma. Cada vez mais o ar ficava escasso, e após algumas tentativas, consegui soltá-la, mas já sentia meus pulmões arderem por falta de oxigênio. Elena olhou assustada para o meu lado e ao mesmo tempo eu ouvi um barulho alto, mas não tinha mais forças para lutar contra o que eu vi; a mesma sombra que derrubou nosso carro ponte abaixo, agora tentava me tirar à força dali, e minha irmã me puxava pelo braço tentando impedir que ele me levasse.

De repente algo claro surgiu naquela cena irreal; um ser que tinha asas maiores do que o da sombra e também era iluminado.

Eu poderia dizer que era um anjo, mas ele estava de costas para mim, puxando a sombra e a jogando longe. Eu já estava a beira da inconsciência, quando finalmente ele se virou para me olhar e de imediato eu o reconheci, mesmo na escuridão debaixo d’água eu poderia identificar aquele par de olhos azuis. Damon! Eu escutei sua voz em minha mente enquanto fechava meus olhos e ele me pegava no colo “Tudo ficara bem, Katherine. Eu te prometo” e antes de abraçar completamente a inconsciência, eu ainda consegui ouvir ele dizer para alguém “Pegue-o Klaus, antes que ele pegue a Elena.”

E logo após, a morte se apossou de mim.

**

– Katherine? Katherine, vamos acorde. – Uma voz triste chamava incessantemente meu nome.

Abri meus olhos e avistei Damon com a expressão triste me encarando. Aparentemente eu estava em seu colo.

– Damon? – murmurei confusa.

– Graças a Deus você acordou!

Não era para eu estar morta ou ao menos estar sentindo alguma dor após aquele acidente todo? Estranhamente eu conseguia me lembrar de cada detalhe e cada cena daquele momento horrível. Levantei de vagar do colo de Damon, olhando para frente e vendo um homem de loiro de olhos claros e também triste que me observava de longe. Mas o que chamava atenção não era seu rosto bonito, mas sim duas asas enormes que descansavam nos lados do seu corpo.

– D-Damon? – Gaguejei com surpresa, agarrando os braços dele e encarando o homem que me olhava impassível. Estranhamente eu não sentia medo dele, no máximo uma certa hesitação por causa de suas asas.

– Está tudo bem. Ele é um de nós e não te fara nenhum mal.

– O que você quer dizer com ‘um de nós’? – Virei-me para olhar Damon, e ao fazer isso, me levantei-me em um susto. – MAS VOCÊ TAMBÉM TEM ASAS?! O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – Na medida em que eu falava, uma parte da minha consciência reparou que eu estava ficando mais alta e mais distante dele.

Meu Deus, eu estava voando no alto? Eu tinha asas também? Olhei para os meus lados e um par de asas claras com penas compridas e delicadas se estendiam da parte alta das minhas costas, e por sobre meu ombro. Aquilo só podia ser um sonho muito louco. Comecei a chorar tampando o rosto e logo Damon estava na minha frente, me empurrando para baixo. Assim que ‘pousamos’ ele envolveu meu corpo em seus braços me dando um abraço forte. Após alguns longos minutos, me distanciei o suficiente para olhar em seus olhos.

– Eu morri? – Perguntei o óbvio, ainda chorando.

– Sim. – Ele respondeu desolado.

– E agora sou um anjo?

– Sim.

– Você também é um anjo? Meu Deus! – O choque de antigas lembranças invadiu minha mente. – Eu beijei você!

– Sim e sim. – Um pequeno sorriso preencheu seu rosto, mas logo se desfez. – Eu sinto muito Katherine. Eu não poderia ter deixado isso acontecer com você. Como o seu Anjo Protetor, o meu deve é te proteger de todo mal, mas ai eu acabei me apaixonando por você e as coisas saíram do controle. Eu não consegui mais controlar meus sentimentos e me afastar de ti, e as consequências foram essas. Peço que me perdoe. Meu amor acabou te matando e não há nada que eu possa fazer. Eu estou tão impotente, mas ao mesmo tempo aliviado que você se tornou um anjo, mas era sua vida e... – Ele falava rápido, a respiração entrecortada, deixando transparecer toda sua dor, medo e sofrimento. Eu nunca tinha o visto assim. Abracei-o novamente. – Por favor, me perdoe?

– Shh. Não preciso te perdoar.

E aquilo foi a única coisa que eu consegui responder, enquanto estávamos abraçados. Minha mente girava com tantas informações, novidades e tristeza, e lágrimas continuavam rolando pelo meu rosto de novo.

1 - Eu estava morta e agora era um anjo.

2 - Damon, que eu já amava, também era um anjo.

3 - Onde estavam meus pais e Elena?

4 - Eu nunca mais os veria...

– Damon, temos um problema. – O loiro que observava tudo calado, falou.

Ele me soltou e girou meu corpo fazendo com que eu acabasse atrás dele. Seu corpo estava todo tenso.

– Silas, a que devemos sua visita? – Ele murmurou para um homem enorme de asas maiores do que as nossas, que se materializou ali do nada.

– Vocês sabem por que eu estou aqui. – Ele respondeu com tom de deboche. – Vão deixa-la vir por bem ou por mal? Miguel precisa vê-la.

– Miguel? – O loiro falou chegando mais perto de nós. – Que eu saiba, Katherine tem que passar é pelo Conselho Superior, especificamente por Elijah. Miguel não tem nada haver com ela.

– Klaus, eu estou obedecendo a ordens. Katherine vai comigo para ser apresentada a Miguel agora. – Silas disse pausadamente e encarando Klaus, como se estivesse esperando ele desafiá-lo.

As mãos de Damon apertaram a minha cintura, como se ele tivesse me abraçando de costas, e eu observava a discussão sobre o seu ombro, quando um movimento no lado esquerdo da floresta, atrás de Klaus acabou chamando minha atenção.

– KLAUS , CUIDADO! – Eu consegui gritar antes que a mesma sombra que tentou me pegar no carro, cobrisse o loiro.

Ele desviou o corpo para o lado a tempo, fazendo com que aquela coisa caísse no chão e a partir dali começou a gritaria e a luta. A sombra se levantou em um movimento nada humano e Klaus tirou uma grande espada que estava guardada entre suas asas, atingindo a sombra, no que parecia ser seu braço distorcido. O grito de dor que a Coisa soltou foi horripilante.

Silas partiu em na minha direção, mas Damon se virou para mim e me envolvendo com suas asas, me levou para outro lugar como em um passe de mágica.

– Katherine, me escute. – Ele segurou meu rosto em suas mãos me fazendo olha-lo nos olhos. – Não temos muito tempo, então preste atenção: há algo de errado acontecendo aqui, então você não poderá confiar em ninguém a não ser essas três pessoas que eu vou te falar. Fuja e procure pelo anjo Stefan, ou Elijah ou Caroline e conte a eles o que você viu e ouviu. Não confie em mais ninguém. – Enquanto falava, ele tirou as mãos do meu rosto e começou a fazer um símbolo no meu ombro. – Nem Silas, nem aquela sombra vão poder te rastrear com isso.

– Damon, o que está acontecendo? Onde estamos? Como eu vou achar esses anjos? Por favor, não me deixe! Eu não sei o que fazer, estou tão perdida...

– Não temos tempo, Katherine! – Ele me interrompeu. – Eu confio em você, pois não é a toa que eu te escolhi para ser a minha mulher. Não se esqueça desses nomes: Stefan, Caroline e Elijah. – Ele parou de falar e me deu um beijo na boca rápido e urgente. – Agora vá! Eu vou ficar bem sabendo que você está longe. Vá!

Damon me empurrou e sai correndo em direção a parte escura da rua onde estava. Eu não sabia onde era ali, mas continuei correndo como ele havia mandado. Lágrimas de medo e de apreensão escorriam pelo meu rosto dificultando minha visão, quando um grito ecoou vindo de onde Damon havia ficado. Parei de correr e me escondi atrás de uma árvore, já longe do lugar, mas ainda sendo possível visualizar. Silas segurava uma espada contra o peito de Damon, que estava ajoelhado no chão. Ele estava ferido.

Coloquei as mãos em minha boca, impedindo que o grito de dor e medo que preenchia meu peito ao ver aquela cena, saísse por meus lábios. Com os olhos mais quase fechados, Damon olhou em minha direção e gesticulou com a boca:

– Voe! Eu vou ficar bem.

E dando uma ultima olhada para ele, sai correndo novamente, logo depois levantando voo para o mais distante que eu pudesse daquela cena.

Depois de ter voado por um longo tempo e de ter chorado muito, descobri que Damon havia me levado para Londres, após ver o grande do Big Bang. Ainda descoordenada, consegui pousar perto de uma brecha da torre e ali fiquei relembrando de tudo que tinha se passado e não me permitindo esquecer os nomes que ele tinha me mandado procurar: “Stefan, Caroline e Elijah”. O símbolo que ele havia feito no meu ombro ardia e se assemelhava a uma tatuagem, e me concentrando na dor da tatuagem e na dor em meu coração, acabei adormecendo ali.

**

Havia se passado alguns meses logo após aquela noite trágica onde tantas coisas e novidades tinham acontecido. Eu tinha descoberto como viver entre humanos, e alguns de meus poderes. Era fácil se camuflar no meio de tantas pessoas em Londres e quando eu não queria, eu simplesmente ficava invisível aos olhos dos homens.

Não tinha noticias de Damon, e só um anjo havia ido me procurar. Ele havia me dito que era da Guarda Celestial e que um dos membros do Conselho Superior queria me ver. Eu desconversei e disse que não fazia a mínima ideia do que ele estava falando, chegando a chama-lo de louco e ameaçando chamar a policia para ele. Não tinha conseguido descobrir nada sobre os três anjos que Damon havia me mandado achar e também não sabia o que tinha acontecido com minha família. Sentia muitas saudades deles, mas eu precisava ser forte para passar por tudo aquilo.

Um dia quando estava sentada em uma praça no centro de Londres, um homem bonito e elegante de cabelos negros sentou-se ao meu lado, me encarando descaradamente.

– Olá Katherine. – Ele falou. – Andei procurando muito por você. Meu nome é Elijah, e precisamos conversar.