A Chave Do Segredo - Dark Mystery escrita por Cristina Abreu


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeeeeeeeeey! Vim rápido dessa vez, não é mesmo?! E ainda respondi todos os reviews!!! Uhuuuuuul!! Quem sabe hoje ainda não escreve mais alguns capítulos? ~tá, isso é sonhar demais!~
Mas e aí, Apple Pies, como estão as férias?! Espero que bem. As minhas podem estar um tédio, mas estou dormindo MUITO! AMO!!! ♥
E espero que vocês gostem do capítulo - ficou bem grandinho, até.
Boa leitura!
PS: Qualquer erro gramatical, me avisem!



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Capítulo 9


Londres, Inglaterra.

Dias atuais.

Lauren.


Seus olhos azuis me fitavam com intensidade. Fitavam-me com amor. O amor que tanto eu precisava agora.

Meus lábios abriram-se em um pequeno sorriso.

— Cameron. - seu nome saiu suavemente, como uma brisa.

Um pouco hesitante ele foi se aproximando de mim, até que nossos lábios se tocaram novamente. Imediatamente retribui o beijo gentil que ele me dava. Não o empurrei como na noite da festa. Apenas me permiti sentir.

Sentir seus lábios quentes contra os meus, nossas línguas explorando a boca um do outro. E sentir o amor. Com o braço que estava livre, sem nenhum acesso intravenoso, o puxei mais para mim.

Cameron inclinou-se mais contra a cama, uma de suas mãos estava em minha nuca, e a outra em minha cintura. Ele me ergueu da cama, sustentando a maior parte do meu peso. Ignorei a dor mínima que sentia, e me acomodei mais perto dele. Estava em seu colo agora, nossas bocas ainda seladas no beijo.

Meu coração batia descompassadamente - um fato que não passaria despercebido, já que os monitores captavam qualquer alteração - e eu já ficava sem fôlego. Cameron interrompeu o beijo, mas seguiu para meu pescoço. Sua respiração era quente em minha nuca, igual a seus lábios.

Eu o abracei e deixei meu rosto repousar em sua omoplata, fechando os olhos e apreciando o doce momento. Ele me abraçou mais forte e continuou com sua sequências ininterruptas de beijos em meu pescoço e ombro.

Puxei seu rosto para o meu, nossos lábios famintos em busca uns dos outros. A doçura do momento me embebedou. Agora estava tudo tão perfeito que cheguei a pensar que todo o sofrimento tinha sido minha imaginação. Mas não foi.

Tentei não pensar mais nas dores, só me deixar levar. Apenas por agora. E eu gostei do modo como ele me conduziu ao amor e paz. Ficar perto dele era fácil como respirar, não era preciso nenhum esforço.

Suas mãos eram delicadas em minhas costas, fazendo movimentos circulares. Já as minhas eram quase rudes, enquanto tentava me aproximar mais, me fundir nele.

Ficamos nesse momento amoroso por mais alguns instantes, até que nos interrompemos, ou melhor. Alguém nos interrompeu.

— Será que é impossível alguém dormir aqui? - perguntou Megan.

Separei-me dele instantaneamente, o rosto corado de vergonha por ser pega em um momento desses.

— Você pode voltar a dormir se quiser. - disse Came sorrindo - Assim vamos poder voltar ao que estávamos fazendo.

Fuzilei-o com o olhar e lhe dei uma cotovelada em suas costelas, mas nada fez o sorriso diminuir.

— Ah, claro! Por favor, finjam que eu não estou aqui. - ela deu de ombros.

Minha melhor amiga olhou para mim com um brilho de diversão no olhar e com um sorriso aberto no rosto.

— Só não cause um infarto na minha amiga. Foram os batimentos dela que me acordaram! - ela riu. - Ah, e claro, todo esse excesso de amor. É tangível.

Revirei os olhos, ainda corada, e dei um pequeno sorriso. Agora que não tinha minha mente ocupada pelas carícias de Cameron a dor perda me arrebatou o peito. Acho que ele percebeu minha tensão, pois me apertou mais contra si.

— E eu acho que alguém está com inveja. - Came riu.

Megan estreitou os olhos e tirou o sorriso do rosto, mas eu sabia que era apenas uma brincadeira de minha amiga.

— Por que eu teria inveja de você?! Tá bom, até parece. - ela riu. - Mas eu falo sério. Se os dois pombinhos quiserem namorar, eu saio. Só que eu não acho a cama de um hospital a coisa mais confortável.

Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, joguei um travesseiro em sua cara.

— Cala a boca. - falei.

Ela riu ainda mais, e eu a acompanhei. Cameron deve ter ficado feliz ao ver-me rindo, pois sussurrou no meu ouvido “amo você”. Aconcheguei-me mais perto dele, e o mesmo passou seus braços ao redor da minha cintura.

A porta nos assustou e cessou o riso.

Olhei em direção ao barulho, onde um médico entrava ainda encoberto pelas sombras. Quando esse se aproximou mais pude ver que era o Dr. Gray.

— Que bom! Estão todos felizes. - ele sorriu para Megan e para mim. Cameron apenas ganhou um olhar especulador.

Corei novamente e gesticulei em direção ao garoto que estava me abraçando, enquanto o apresentava.

— Cameron. Meu... - hesitei. O que ele era meu?

— Namorado. - completou ele. - Sou o namorado de Lauren.

Megan revirou os olhos, mas não o contradisse. Provavelmente ela deduziu pela cena amorosa que voltamos. Mas na verdade não. Não voltamos. Ou não voltamos oficialmente.

Porém também não falei nada. Permaneci quieta e sorrindo.

— Ah! E também deve ser o motivo pelo qual a paciente está acordada. - o médico disse sério, mas depois soltou uma risada. - Bem, fico feliz pelos dois, mas agora Lauren precisa descansar.

— E a Megan também precisa descansar. - falou Meg.

Balancei a cabeça e revirei os olhos, embora ela não tenha visto.

— Tudo bem. - disse Cameron fuzilando minha melhor amiga com o olhar.

— Não vou agradecer. - ela revidou insolente. - E toma.

Ela jogou o travesseiro de volta, mas não para atingir-me. Acertou-o. Mirou com tanta precisão que o tecido branco da fronha nem ralou em mim.

— Engraçadinha. - Cameron murmurou.

— Ah, eu sei. Uma das minhas melhores qualidades. - ela sorriu.

— Muito bem. Chega! - disse Dr. Gray. - Lauren, você precisa dormir. Quanto mais descansar, mais rápido sairá daqui.

Assenti e me separei de Cameron, que me ajudou a repousar, ajeitando o travesseiro e fazendo o máximo para que eu ficasse confortável.

— Ah, e quanto a você... Precisa sair de cima da cama da paciente. Vou pedir para que alguma enfermeira traga uma poltrona igual à da acompanhante.

— Obrigado. - Cameron agradeceu, saindo de cima da minha cama desconfortável.

Sorri para ele e puxei sua mão, apertando-a com força contra meu rosto. Fiquei tão concentrada em seu olhar brando que só depois reparei que Megan ria.

— Qual é a graça? – perguntei, franzindo a testa.

— Seu coração fica todo agitado quando toca ou olha para Cameron. - ela continua rindo.

Senti meu rosto corar.

— Ah! Então é por isso que o monitor detectou batimentos acelerados. - o doutor assentiu. - Bem, tente não fazer com que a paciente tenha um infarto.

Megan riu, deleitada. Mandei um olhar zangado para ela, mas isso só a fez rir mais.

— Bem, fora os batimentos acelerados e apaixonados, está tudo bem. Só vim aqui para lhe checar. - ele sorriu. - E agora vou me retirar. Daqui a pouco a enfermeira vai trazer a poltrona. - acrescentou já saindo do quarto.

Suspirei e afundei mais no colchão. O sono já começava a vir lentamente, e incapaz de resistir, fechei meus olhos.

Cameron me deu um beijo no topo da cabeça e me cobriu com o lençol. Agradeci por isso, murmurando palavras arrastadas e sem sentido. Não tive tempo para mais nada, além de dizer minhas últimas palavras, antes de adormecer.

— Eu te amo. - sussurrei. - E vá para o inferno, Megan.

O riso dos dois é o último som que eu escutei.

Agora eu sabia que tudo ficaria bem. Ao menos, por um tempo. Cameron estava aqui, Megan estava aqui. Os dois me apoiavam e eu tinha certeza que assim que contasse meus segredos, eles continuariam a apoiar-me.

Deleitei-me nessa segurança. É a única certeza que tinha agora e não pretendia ficar insegura quanto a esse aspecto. Amanhã eu revelaria tudo. Eles iriam acreditar em mim. Tinham que acreditar em mim.

Bem, apesar desse fato, nada poderia me preparar para o que veria em seguida.


Meus pés moviam-se velozes. Seguia os gritos desesperados de alguma garota. Novamente não sabia onde me encontrava, mas certamente teria que ajudar alguém. Matá-lo ou trazê-lo de volta a vida.

A decisão seria unicamente da vítima. Como fora no caso anterior. Eu não iria impedir em nada se quisesse seguir em frente, deixar o plano terreno. E muito menos se desejasse ficar.

Tinha consciência das pedras arranhando meus pés desnudos. Só vestia a mesma camisola de antes, com meus cabelos castanhos desgrenhados ao meu redor.

Estava em um beco, que em breve - eu sabia - ficaria sem saída. E lá estaria a vítima. Mas toda minha confiança quanto ao julgamento se esvaiu quando vi a cena. Era cruel.

Uma criancinha loira de olhos castanhos estava encostada na parede no beco. Era ela que gritava. Seu futuro, e já, agressor estava com uma máscara negra que lhe cobria o rosto. Mas a máscara não escondia o sorriso perverso que ele estampava na cara.

Nenhum dos dois podiam me ver ainda. Estavam vivos, e vivos não viam espíritos. E tampouco espíritos podiam agredir os vivos. Para mim era tudo uma droga.

Por enquanto eu só podia ouvir. O bandido covarde, que nem mostrava a cara, aproximava-se mais da garotinha assustada. Eu temia pela vida da menina tanto quanto temia por sua ingenuidade. Imagine o que ele poderia fazer a ela, tão pequena, que devia ter apenas uns seis anos, senão menos. Deu-me nojo só de pensar nas possibilidades.

— Olá, pequenininha. Parece que está perdida. - ele riu. - Não quer encontrar seu caminho?

Em resposta a garota gritou.

— Ora, vamos, não grite. Os tímpanos do titio são sensíveis. - minha mão coçou com vontade de acertá-lo no meio da cara.

— Me deixe em paz! - gritou ela.

Ansiei por passar meus braços ao seu redor. Dizer-lhe que tudo estava bem, que aquele cara mau não iria machucá-la. Mas não podia. Só podia ouvir e aguardar pela minha vez.

— Não tenha medo. Não quero ter que lhe machucar. - ele se aproximou mais.

— Saia de perto de mim! - gritou a menininha novamente.

Ele nada respondeu. Apenas se aproximou mais e segurou os pulsos dela, que deu um grito agudo.

Meu estômago se revirou. Não, ele não podia fazer o que eu pensava que ele iria fazer.

— Garotinha insolente, cale sua maldita boca! Como odeio gritos. - bem, ele gritou e lhe deu um tapa na cara.

Xinguei-o. Era uma pena que ele não escutasse as obscenidades que saiam da minha boca.

Parei quando escutei o choro da menina. O lado direito de seu rosto branco estava vermelho, com uma mão estampada nitidamente. Ah! Mas daqui a pouco seria minha mão que estaria no rosto daquele porco nojento.

— Ah, não chore, minha pequena. Prometo que só vai doer um pouquinho. - ele continuou a rir.

Olhei para o outro lado, enquanto desafivelava o cinto. Mas algum som metálico me fez voltar a olhar.

Uma arma acabara de cair de sua calça e, essa mesma tilintou no chão de pedra. O bandido nem ligou, não imaginando que a garota pegaria a arma, miraria em seu peito e atiraria. Mas foi o que ela fez sem hesitação alguma.

Não sei se eu ficava feliz pela garota ou boquiaberta com a situação. Escolhi a segunda opção, já que ela nunca esqueceria que matou um homem. Nunca seria tão pura quanto antes, não tão feliz quanto antes.

A alma dele rapidamente chegou até mim. O bandido olhava assustado para seu corpo sangrento, caído no chão de um beco imundo. Só depois pareceu me notar.

— O que aconteceu? - perguntou.

O seu espírito estava sem a máscara e mostrava uma cara acabada. Barba rala, olheiras sob os olhos castanhos, e um cabelo negro desgrenhado. Sua aparência omitia sua idade.

— Você morreu. - cuspi as palavras.

— Morri? - só então se deparou com a verdade. - Deus...

— Você merece. É nojento, merece estar morto. Vi tudo o que fez com aquela menina. E o que iria fazer.

            — Aquela menininha inocente que está chorando ali me matou! - ele gritou.

— Gosto tanto de gritos quanto você. Então faça um favor a mim, e cala sua boca imunda! - não gritei, mas minha voz demonstrava toda a fúria.

— Quem, diabo, é você?

— Ah, eu?! - ri. - Sou a pessoa que posso te salvar. Mas que não vou. Então posso dizer que sou sua Morte.

Meu peito enchia-se de raiva. Não havia nenhum sentimento bom dentro de mim. Sabia que eu poderia me considerar tão detestável quanto a verdadeira Morte. Mas não tinha nada para me impedir de agir assim nesse instante.

Envolvi-o com sombras. Não tinha nenhum ponto de luz como foi a passagem de Matheus. Só havia todos os meus sentimentos misturados em um só. As sombras eram escuras, mais do que a própria noite. E eu tinha certeza absoluta que elas o levariam direto para o Inferno.

Antes que ele sumisse, ri e falei:

— Que você queime nas flamas do Inferno. Boa dor.

Ele gritou enquanto era levado, e depois quando tudo desapareceu - inclusive meus sentimentos obscuros - olhei para a menina e chorei junto com ela.


Também acordei chorando. Meus sentimentos eram tão confusos! No momento em que aquele cara desapareceu, percebi que não devia ter feito isso. Não devia tê-lo matado.

Ah! Mas estava tão revoltada com a situação, que não consegui me impedir. A criança estava tão assustada, pensei que se o bandido morresse ela ficaria bem. Só depois pensei que ela sentir-se-ia culpada. Essa culpa nunca a deixaria enquanto vivesse. Podia ainda ser pequena, mas entendia muito bem o que significava assassinato.

E eu só fiz piorar.

Não abri os olhos de pronto. Deixei que as lágrimas escapassem e molhassem meu rosto e o travesseiro. Abracei-me para espantar esse outro tipo de dor que sentia agora, embora soubesse que nada iria me tirar da memória o que vivi.

Só abri os olhos quando ele me chamou. Cameron. Podia perceber que estava assustado e queria que eu acordasse para poder me dar o ombro, para que eu me recostasse nele e chorasse. Depois percebi a suave voz de Megan, que estava mexendo em meus cabelos enquanto pedia que eu abrisse os olhos.

Fiz e imediatamente me atirei nos braços de minha melhor amiga. Ela era quem estava mais próxima - em outro momento, eu pensaria no que ocorreu para ela estar bem na minha frente: Megan teria empurrado Cameron, preocupada.

Chorei em seu ombro. Ela tentava me acalmar enquanto Came me perguntava o que aconteceu. Qual fora o meu sonho.

Rapidamente me separei dos braços de Megan e o encarei. Não só a ele. Encarei os dois. Era hora de contar tudo. A verdadeira história por trás das mortes dos meus pais. Sobre os meus dons. Tudo.

— Escutem, - eu comecei a falar, secando as lágrimas. - preciso falar com vocês sobre o acidente.

Os dois se entreolham, mas deram de ombros.

— Pode começar, então. - disse Megan.

Respirei fundo. Era agora.


Ambos me olhavam como se eu estivesse louca. Acabara de relatar tudo desde o começo para os dois. E junto com cada palavra que eu dizia uma parte da minha esperança se dissolvia. Esperança que acreditasse em mim.

— É a verdade. - insisti.

— Então, a “Morte” está atrás de você? - Megan perguntou e franziu a testa.

— E tem alguém chamado Derek, que também está atrás de você, para te matar? - Cameron franziu as sobrancelhas.

Assenti e revirei os olhos.

— Eu sei que parece impossível. Acreditem, duas semanas atrás se vocês me falassem isso eu olharia para ambos e riria. Riria muito. - enfatizei. - Mas peço que acreditem em mim, e que não achem que eu preciso de um psiquiatra.

Meg mordeu o beiço.

— Talvez o acidente tenha sido um trauma para você, fazendo-a devanear, esquecer-se da realidade...

— Eu não estou louca! O que eu contei para vocês é a realidade! Não é nada inventado para diminuir minha culpa no que aconteceu...

— Você não teve culpa. - falou Cameron rapidamente.

Dirigi meu olhar duro, iguais as minhas palavras ríspidas, para ele.

— Em qual parte do que eu disse você não se sintonizou? Alô-ou?  Derek... Eu... Morte.

Came ficou quieto, e pude ver pelo seu olhar que ficou magoado com o meu tom.

— Laury, nós entendemos tudo o que você falou! Mas é só um pouquinho impossível. - minha melhor amiga disse.

— Eu sei! Mas é a verdade! - gritei perdendo a paciência.

Foi um erro contar tudo. Não devia ter dito nada.

Os dois se entreolharam. Dúvida passava pelo olhar deles.

— Olha... Esqueçam. Eu não devia ter dito nada, devia ter guardado tudo para mim, mas pensei que vocês entenderiam e confiariam em mim. - bufei. - Claramente estava errada.

— Nós confiamos em você. - meu namorado (ou ex-namorado) falou baixinho.

— Não confiam não. Pensam que estou traumatizada ou algo do gênero. Que estou inventando coisas. - eu retruquei.

— Não seja injusta conosco, Lauren. Isso é muito difícil de acreditar. - Megan também me olhava com mágoa.

— Acho que para vocês é impossível! - não liguei para a mágoa dos dois. Eu sentia a minha própria.

— Isso não existe! - Cameron gritou. - Foi uma infelicidade que o caminhão tenha batido em vocês, mas não existe nada de Mundo dos Mortos, nada de um cara de olhos negros querendo lhe matar. Não existe nada disso!

— Cameron! - Meg ralhou em um sussurro.

— Não, tudo bem, Megan. É óbvio que ele não confia em mim. Que nenhum de vocês dois confia em mim. Já devia esperar isso. Estou totalmente sozinha. - dei de ombros.

Pisquei fortemente os olhos tentando represar as lágrimas que queriam cair por meu rosto. Não me mostraria mais fraca e louca do que já parecia.

— Você não está sozinha. - ela disse. - Eu disse que parecia impossível que você fosse perseguida pela Morte e por um cara - que espero que seja gostoso -, além de ter esses... Dons.

— Então... Você acredita em mim? - perguntei esperançosa.

Com relutância ela assentiu e veio até mim. Deixei que me abraçasse e que me transmitisse segurança. Permiti ter a sensação de que eu não estava mais sozinha.

Quando ela me soltou virei-me para encará-lo. Cameron me olhou com os olhos que transmitem sofrimento e dor, provavelmente por me ver naquele estado, que ele considerava como loucura.

— E você? - sussurrei.

Ele respirou fundo e olhou para o outro lado. Estava se decidindo. E eu esperava que escolhesse meu lado.

Sentindo se pronto, depois de alguns minutos, se virou para mim e me deu um sorrisinho.

— É, estou com você.

Separei-me de Megan e abri os braços para ele, que se enroscou em mim, descansando a cabeça em meu ombro e beijando meu pescoço.

— Sempre vou estar com você. - sussurrou.

Apertei-o mais contra mim e sorri. Afinal, não estava mais sozinha.


Beijei a rosa branca e a joguei por último. Não tinham muitas pessoas no cemitério. Apenas Megan e seus pais, Cameron e eu.

Vendo que isso era tudo, os funcionários do cemitério começaram a cobrir de terra os túmulos dos meus pais. Na lápide podia se ler “Richard & Carolina Harper (1972 - 2011) - Melhores pais do Mundo!”.

Essa era a última homenagem que eu prestava a eles.

Tinha saído ontem do hospital. E hoje seria o dia em que leria meu testamento. Balancei a cabeça; eles já tinham tudo preparado caso me faltassem um dia. Mas é claro, ninguém podia imaginar que fosse agora. Justo nesse momento, ainda tão jovens.

Respirei fundo e olhei para cima tentando represar as lágrimas que queriam trair-me. O céu estava claro, porém algumas nuvens carregadas já se manifestavam.

Senti alguém tocar-me o ombro. Tirei os olhos do céu e me virei para encarar os olhos de Cameron, tão azuis e calmos quanto. Pena que dentro de mim não podia se encontrar essa mesma paz e clareza.

— Vamos? - perguntou puxando-me pela cintura. Com surpresa percebi que os encarregados já tinham fechado a cova e que já tinham se retirado.

Assenti e coloquei o rosto em seu ombro. Came me apertou mais contra si, dando um beijo no alto da minha cabeça. Inspirei seu aroma delicioso de água de colônia e deixei que me envolvesse. Seus braços me traziam calor e paz. O que eu mais precisava no momento.

Megan lançou-me um olhar de consternação pela minha dor. Meus pais também eram muito queridos para ela. Os dela, que também estavam no cemitério, permaneciam em silêncio, também muito tristes.

Começamos a andar silenciosamente.

            Cameron continuou me dando suporte. Meus pés davam um passo de cada vez, como se eu estivesse ligada no modo automático.

Minha mente não estava presente. Viajava pelas lembranças, que eram muitas. Inclusive a do acidente.

Ah, como eu queria me jogar nos braços dos dois novamente! Eles sorririam e me aninhariam mais. Mamãe me daria um beijo em minha testa e diria que tudo estava bem.

Represei mais uma vez as lágrimas. Esse momento não mais se repetiria, e nem nenhum outro.

A não ser...

Uma ideia, no mínimo maluca, surgiu em minha mente. Não estava mais no passado, agora prestava atenção no presente. Voltei a tempo de ouvir os pais de Megan despedindo-se.

Eles se preparariam para ler o testamento mais tarde e estavam deixando o cemitério agora.

Era a hora perfeita.

— Esperem. - eu falei, incerta.

— O que foi, Laury? - perguntou Megan com o rosto infeliz.

— Posso reverter isso. Posso trazê-los de volta a vida! - sussurrei. - Não é difícil.

Lembrei-me de mais outros casos que cuidei ontem, e estes não foram através de sonhos.

Tinha trazido um bebê recém-nascido e uma vítima de um acidente automobilístico. E fiz na frente de Megan e Cameron. Não sei o que fora mais engraçado: a cara dos dois, ou a cara dos médicos quando entraram na sala e viram os mortos estavam vivos (claro que ninguém me viu ou descobriu o que aconteceu para os pacientes se reanimarem).

Então eu podia fazer isso com os meus pais. Eu faria.

— Está louca?! - gritou Megan. - É uma péssima ideia. Seus pais já estão mortos faz dias, Lauren. Não é normal alguém ser enterrado e depois viver de novo. As pessoas vão se questionar.

— Megan está certa, Lauren. Você não pode fazer isso. - Cameron disse.

— Os quero aqui. Perto de mim, quero meus pais de volta! - falei como uma criança birrenta pedindo para brinquedos serem comprados.

— Nós sabemos, mas não pode fazer isso. Não pode. Já faz tempo de mais. - Megan tinha um olhar de cólera. - Lembra o que você nos contou... Sobre o corpo estar inteiro? Então... Os corpos dos seus pais já não estão bem. A cada dia que se passou...

— Eu sei. Eu sei! - gritei desesperada. As lágrimas que eu continha desabaram por meu rosto, e por pouco não cai de joelhos no chão de concreto. Cameron me segurou na hora, puxando-me para seus braços.

— Shhhh. Não vou deixar que nada aconteça com você. Nada. - ele prometeu. - Vou estar aqui para sempre. Sempre.

Fiz que sim com a cabeça, mas meus soluços não pararam. De que adiantava meus dons se não os podia usar para proteger pessoas a quem amo?

— E seus pais estão felizes aonde quer que estejam. Estão melhores do que aqui. Não queira os trazer de um lugar melhor para cá novamente. Não seja egoísta. - Megan alisou meus cabelos enquanto falava.

— Sei que estou sendo egoísta, não pensando neles, mas dói. - coloquei a mão no peito, onde meu coração estava. Por que será que eu não o sentia mais, mesmo que ele estivesse batendo? - Dói muito.

— Te entendo. E logo parará de doer tanto, querida. - ela olhou para o céu que se fechava, como que de luto. - E temos que ir logo, antes que a chuva nos pegue.

Cameron me endireitou e continuou me sustentando. Caminhamos até o carro dele, contendo o vento que ultrapassava nossas roupas e nos gelava os ossos. Quando mal acabamos de entrar no carro, a chuva começou. Forte, furiosa.

O céu chorava.


Mais calma, estava sentada no sofá da minha sala. Aquela casa me lembrava tanto deles! E ao mesmo tempo me sentia acomodada, como se a qualquer instante eles fossem entrar pela porta com suas pastas.

Mas não iam.

Suspirei e afundei mais no couro branco. Came apertou meu joelho tentando me transmitir alguma segurança. Olhei em seus olhos e dei um sorriso triste que ele correspondeu com algo quase radiante.

Megan se encontrava em meu lado direito com os braços cruzados no peito, e com uma expressão séria no rosto.

Meu destino estava em jogo.

— Bem, vamos logo com isso. - falei indicando a pasta que o pai de Megan trouxera.

Ele assentiu.

— Sim, vamos começar.


Depois de muito tempo, a leitura do testamento finalmente chegou ao fim. Expirei e relaxei no sofá.

Os pertences deixados por meus pais eram muitos: a casa, contas bancárias com um bom - verdadeiramente bom - saldo, outra propriedade que tínhamos no Canadá, entre mais.

Mas o que me deixou surpresa foi a emancipação. Estava emancipada, sendo que podia viver em qualquer lugar. Ninguém obteria minha guarda.

Esse fato tranquilizou um pouco meu ânimo. Pelo menos, estava fora de risco de parar em um orfanato.

— Obrigada. - sussurrei aos di Angelo.

— Foi um prazer ajudar. - falou a mãe de Megan. - E se você quiser pode viver conosco.

Dei um sorriso leve e neguei com a cabeça.

— Não quero incomodar. - e quando ela abriu a boca para contestar a interrompi. - Além do mais, aqui é minha casa. Não posso me desfazer dela.

— Entendemos. - falou o Sr. di Angelo.

Megan me olhou tristemente, mas ela entendia também. E é claro que podíamos nos ver em poucos minutos caso alguma coisa me abatesse.

— Bem, vamos deixá-la agora. - a Sra. di Angelo se levantou seguida de seu marido e filha. - Visite-nos logo. E qualquer coisa, estamos aqui.

Assenti com a cabeça e os acompanhei até a porta. Megan antes de sair me deu um abraço apertado e murmurou que me ligaria em breve.

Fiquei no batente até que o carro sumiu no horizonte. Depois voltei para dentro, onde Cameron brincava com Brooke.

Sorri para os dois. Especialmente para minha supergata. Ela ficara bem sozinha pelos dias em que passei no hospital. Megan tinha vindo aqui, brincado e cuidado dela.

— Ela não me parece anormal agora. - disse Cameron estando a par de tudo, até da minha gatinha.

— É, agora. - eu ri. - Mas tem que a ver em um julgamento. Ela é uma boa advogada.

Ele riu também e passou um braço a minha volta. Brooke miou e desceu do seu colo, desaparecendo na cozinha.

— Parece loucura. – ele suspirou. – Mas não é.

— Acho que para deixar de ser impossível, você só precisa acreditar que é possível. – também suspirei.

— E você acredita que é possível?

— Antes não acreditava. Mas agora acredito. – meu sorriso foi curto e apático.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que minha voz nervosa o cortou:

— Ei, Came. - falei e corei. - Não quer ficar aqui comigo hoje? Não quero ficar sozinha.

Ele sorriu e me apertou mais contra si.

— É claro que sim. Não desperdiçaria essa chance de ficar mais junto de você por nada! - ele abriu outro sorriso, dessa vez malicioso.

Dei uma cotovelada de leve em sua barriga e fingi estar ofendida.

— Não vai ter chance nenhuma. Não se agir como um idiota! - bufei. Ele continuou sorrindo, agora ternamente, e passou a mão por meu rosto.

— Sim, vou ficar. Disse para você que podia contar comigo, e você pode.

— Obrigada. - sussurrei. Seus lábios quentes procuraram os meus. Beijamo-nos apaixonadamente e calmamente, com gentileza. Confiei em sua palavra. Ele sempre estaria aqui por mim.

Eu só não sabia que outra pessoa ia aparecer em breve, e mudaria todo o curso do destino.

Derek.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Espero que vocês tenham gostado! E não se esqueçam de comentar, ok?! Isso é muito importante para todo escritor. Digam tudo: desde do que gostaram ao que pode ser melhor! :D
Bem, amores, é isso! Nos vemos nos reviews. Vou respondê-los rapidamente, e aguardá-los também. Ah, e quem puder, divulga a fic para os amigos que gostam desse gênero? Obrigada!
Beijinhos ♥



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