Melany

Eu, Percy e Nico, resolvemos ir até o acampamento. Annabeth ficou com minha mãe,e apesar de ela insistir em vir com a gente, todos concordamos de que, Annabeth, não está com a menor condição de batalhar agora. Ela teve cortes muito profundos que poderiam infeccionar facilmente.

 Enfim, de acordo com Annabeth, Gaia havia feito um caminho subterrâneo até o acampamento. Se levarmos em consideração o simples fato de que ela é a Titã da Terra, provavelmente chegaremos à conclusão de que ela não teve a menor dificuldade em fazer isto. Bem, ela conseguiu. Entrou no acampamento junto com monstros, o exército de Hades e o próprio Hades, de acordo com Annabeth. Nico não podia parecer mais infeliz agora, estávamos todos encrencados, isso era fato. Mas nada nunca me fez sentir pior do que ver Nico naquele estado.

Pegamos o táxi das irmãs cinzentas justamente por ser o veículo mais rápido. E lá estávamos nós agora, dentro do táxi.

-Eu vou morrer.- eu gritava enquanto o táxi ia a toda velocidade. O táxi parou abruptamente e eu e Percy, desesperados para sair daquele táxi, resolvemos sair pela mesma porta ao mesmo tempo.

-Deixa eu sair, Percy!- falava impressada.

-Caso você não tenha notado, estamos presos. - falou ele com raiva, bufei- Você engordou hoje com a comida da mamãe ou já era assim por causa da mordomia do Olimpo?

-O que?- gritei com raiva- Rá! Olha quem fala. Percy, você comeu três vezes- ri sem humor- e para completar, ainda comeu um bolo azul de sobremesa.

-Ei! A comida tava muito boa tá?!- ele se mexeu para tentar se livrar, sendo que isso só fez com que ficássemos ainda mais presos- E fazia muito tempo que eu não comia o bolo azul.

-Percy você repetiu o jantar três vezes.

-Eu estava com fome!- retrucou ele.

-Ha só me faltava essa!- ouvi Nico dizer.

-Dá para vocês dois saírem logo?- perguntou uma das irmãs.

-É estamos com pressa!- gritou outra.

Senti o metal que prendia meu braço ficar frio, e quando olhei para o lado tinha uma sombra, meu braço a atravessou, e eu e Percy caímos. O táxi das irmãs cinzentas foi embora e Nico caminhou até nós.

-Sinceramente! Vocês mal descobriram que são irmãos e já brigam como se fossem criados juntos. –Nico estendeu a mão para mim e eu a segurei sem hesitar. Percy se levantou sozinho. Fiquei olhando meu irmão, preocupada de que tivesse se machucado, mas tudo o que ele ganhou foi terra e grama na calça, que agora limpava com palmadas. Voltei meu olhar para Nico. Ele olhava para a colina, segui seu olhar. Era possível ver brilho das espadas contra a luz do sol poente, e o vulto das flechas.

-É melhor corrermos!- falei puxando minha espada. Percy destampou a caneta, revelando Contracorrente. Corremos pela colina até chegarmos ao acampamento.

A situação estava muito pior do que eu imaginava. Todos os chalés pegavam fogo, sátiros e ninfas corriam tentando apagar o fogo e fugindo de monstros, meios-sangues lutavam com os demais monstros e soldados de Hades. Percebi que havia um exército a nosso favor, e eles eram de...

-Percyyyy!-olhei para o lado e o reconheci imediatamente. Também me lembrava dele por causa da fonte.

-Tyson?- Percy parecia surpreso, porém feliz ao mesmo tempo. Daí uma lembrança me veio a mente. Tyson é meio-irmão de Percy, sendo assim ele também é...

-Melany!- Encarei Tyson surpresa por ele saber meu nome, mas logo dei um largo sorriso feliz por ele me conhecer. Tyson correu em minha direção, abri os braços à espera de um abraço, mas ele puxou a espada de minha mão e a encarou orgulhoso. Espera. Ele estava orgulhoso? Por que ele estaria orgulhoso?

-Você conhece a minha... espada?- perguntei incrédula.

-Então era para você? Então você é a garota chamada Melany que ele falou.

-Tyson o que faz aqui?- perguntou Percy.

-Papai mandou que eu trouxesse o exército para ajudar.

-Ele está aqui?- perguntei.

-Não, se ele mandou eu trazer o exército, dãã!- me respondeu olhando para mim, ele voltou seu olhar a espada e fez novamente carinho nela.- E é claro que eu conheço a espada, fui eu quem a criou.- fiquei boquiaberta, ele me encarou e sorriu- olhe só isso!- ele me devolveu a espada- repita, daktýlios.- olhei para a espada e depois para Tyson. Ele parecia tão... animado. Sorri e olhei para a espada novamente.

-Daktýlios.- falei. A espada tremeu e começou a se enrolar no meu pulso como uma cobra, ela em seguida subiu até o meu dedo anelar e lá foi se enrolando e encolhendo, até que ela parou de se enrolar e encolher e ficou sólida, se resumindo a um simples anel de ouro. Letras brilharam em dourado em cima.

Melany.  Estava escrito.

Sorri com a visão do anel em meu dedo.

-Uau!- ouvi Percy dizer. Olhei para Nico, animada com o anel. Nico olhava para o anel sério.

-Daktýlios quer dizer anel em grego.- falou Tyson ainda animado.

-Eu sei!- falei ainda olhando Nico, ele pareceu perceber que eu o olhava, ele piscou, e por um segundo foi como se tivesse olhando para o nada, para depois olhar para mim. Ele deu um meio sorriso.

-Para ela voltar a ser espada, diga xífos.

Xífos, pensei, espada.

- Xífos!- falei, agora o movimento foi o contrario. O anel foi se desenrolando de meu dedo e aumentando, se enrolando em meu pulso até começar a subir até o centro de minha mão e formar a espada. Arfei encantada. Tyson batia palmas e pulava animado, ele pegou a espada de minha mão novamente e a levou para longe, colocou ela no gramado.

-Ei!-gritei repreendendo-o.

-Chame-a!- ele gritou. Mais truques? Respirei fundo.

-Melany!- gritei. A espada brilhou em dourado, se ergueu no ar e voou em minha direção. Por um instante pensei que ela fosse me atingir, mas ela voou até minha mão certeira sem me machucar, segurei o cabo da espada firme, comecei a rir e a pular de alegria. Corri até Tyson e dei um forte abraço nele.

-Obrigada, Tyson você é incrível.

-De nada, irmãzinha. - olhei para Tyson surpresa.

-Sabe que sou sua irmã?

-Claro que sei,... papai mandou fazer uma espada para a filha dele, ele me contou toda a sua história, até a parte em que você é irmã gêmea do Percy, estava louco para te conhecer.- ele sorriu e me deu um abraço, quase não consegui respirar. Ele me colocou no chão. –Eu ia pedir mais detalhes, mas aí vi uma benevolente voando em nossa direção prestes a nos atacar.

-Tyson se abaixa!- gritei. Ele se abaixou, usei os ombros largos de Tyson como trampolim, enquanto a benevolente voava, passei por debaixo dela e fiz um grande corte em sua barriga, ela se resumiu a areia. Caí com os joelhos curvados e cabeça inclina, meus cabelos castanhos e ondulados caíram sobre meu rosto, formando uma cortina, levantei a cabeça rapidamente jogando os cabelos para trás, fazendo assim com que eu pudesse ter uma visão bem ampliada das três benevolentes que vinham em minha direção, corri até elas o mais rápido que pude. A benevolente ergueu suas garras em minha direção pronta para me pegar. Eu deslizei na grama úmida passando por debaixo dela, me levantei logo em seguida e a ataquei pelas costas, a vi se resumir a areia por um instante e depois me voltei para as outras duas. Uma vinha mais a frente, a minha esquerda, e a outra um pouco mais atrás da outra benevolente a minha direita. Me esquivei da primeira dando um longo passo para a direita, e quando ela passou por mim, a perfurei com minha espada, olhei para a outra benevolente que voava rápida e com raiva. Girei para a esquerda e senti quando ela passou perto de mim. Passei minha espada nela cortando-a ao meio. Uma brisa leve espalhou a areia dos três montinhos pelo gramado. Olhei para os meninos com a respiração acelerada por causa da adrenalina.

Os três estavam boquiabertos e de olhos arregalados, bem... no caso do Tyson, de olho arregalado.

-Vocês vão ficar parados aí nessa moleza ou vão me ajudar?- os três piscaram atordoados, mas logo voltaram ao normal.

Nico correu para o meu lado, Percy correu para ajudar uma ninfa, enquanto Tyson ia na direção de alguns minotauros.

-Melany!- Nico me encarava impressionado –Aquilo foi incrível. –corei.

-Obrigada!- Ele deu um sorriso bobo e ficou me olhando. Olhei para o chão, intimidada.

-Nico, estamos em batalha. – falei tímida.

-Sei disso!- ele riu- Você lutando fica ainda mais linda, é como se estivesse... dançando.

-É uma dança!- falei. E ele sorriu. Olhei para a meio-sangue a uns cinco metros de nós, atrás de Nico. Haviam três minotauros a atacando- Quer dançar comigo, Nico?- perguntei ainda encarando a garota em desvantagem. Nico seguiu meu olhar, quando voltou a olhar para mim, tinha um brilho nos olhos, uma mistura de emoções era possível enxergar ali. Euforia, ansiedade, adrenalina e um toque de crueldade, ele deu um meio sorriso para mim, puxou a espada a girou com a mão se exibindo, depois a segurou firme e disse:

-É pra já gata?- ergui as sobrancelhas.

-Gata?

-O que? Esperava que eu fosse galanteador?-perguntou, comecei a andar na direção da garota que lutava.

-Galanteador não!- falei ainda caminhando-Mas ainda assim esperava mais. –gritei para que ele me ouvisse acima do tintilar das espadas, dos barulhos estranhos feitos pelos monstros e dos gritos.

-Como por exemplo?- gritou ele me seguindo.

-Sei lá!

-Então como pode querer exigir de mim se nem sabe o que quer?- me virei para ele e continuei caminhando de costas.

-Simplesmente posso!- gritei, ele deu um largo sorriso. Já estava perto da semideusa. Vi de canto de olho um minotauro correr em direção a ela, mas antes ele passaria perto de mim. Utilizei o mesmo golpe que fiz com uma das benevolentes. Dei um giro e o cortei, a diferença foi que, ao invés de cortá-lo ao meio, eu cortei a cabeça. Olhei para Nico, ele balançava a cabeça enquanto ria e corria em minha direção. Um outro minotauro ia atingir a garota, porém Nico o impediu. Ele lutava com um e eu com o outro, bloqueando a passagem deles até a garota que estava sentada no chão ferida, após acabarmos com os dois minotauros, Nico estendeu a mão para a garota.

-Nico di Angelo, filho de Hades, prazer!- ela deu um sorriso tímido e segurou a mão de Nico, teve grande dificuldade para ficar de pé, parecia que iria desabar a qualquer momento. Ela negou nossa ajuda e após um tempo conseguiu finalmente ficar de pé.

-Soraia Petterson, filha de Apolo, prazer em conhecê-lo também. –Ela me olhou e me dirigiu um olhar agradecido.

-E você é?- ela perguntou ainda tímida.

-Eu sou Melany Jackson, filha de... – eu estava prestes a dizer filha de Poseidon, quando ouvi passos atrás de nós, olhei para trás de imediato. A benevolente estava a uns três metros de nós, ela parecia meio corcunda e suas asas estavam curvadas, sua cara era toda enrugada e mantinha as garras a sua frente. Ela mancava e balançava a cabeça de um lado para o outro sem parar.

-O líder... e a líder...- ela falava com a voz esganiçada como a de uma bruxa, ela parou de balançar a cabeça e fixou o olhar em mim –Eles querem a filha de todos.- Ela estava pronta para me atacar. Apertei o cabo da espada com força e estreitei os olhos.

-Então venha me pegar!- falei desafiadora. A benevolente deu um rugido e me atacou, ergui a espada e suas garras bateram nela, o sangue preto da benevolente escorria pela espada enquanto ela se equilibrava na própria espada e batia as asas fazendo força para me derrubar.

-Já te disseram que você parece ser muito apetitosa?- perguntou ela com os olhos negros brilhando de fome.

-Não!- gritou Nico e tentou atingir a benevolente com a espada. A benevolente voou e ficou a uns dois metros de distância de nós. - Não disseram isso a ela!- disse Nico com um meio sorriso, mas logo ficou sério, como se tivesse se dado conta de algo. –Na verdade, fico até surpreso de eu não ter dito isso a ela. –suspirei já cansada desses monstros.-Não é o momento, Nico!- ele me olhou e riu.

-Ha pode crer, meu amor, é sim!- sorri. Nico juntou as duas mãos e fez como se tivesse levantando alguma coisa. Sorri, garoto inteligente.

-Ei!- chamei a atenção da benevolente- Vem me pegar sua velhota enrugada!- A benevolente rugiu pra mim. Nico na hora jogou a jaqueta preta no chão e a espada, ele juntou as mãos já a minha espera. Corri até ele pisei na suas mãos juntas e ele me empurrou para o alto com a maior força que podia. Sabia que a benevolente viria atrás de mim, dei um mortal no ar, e nesse giro acertei bem no meio do rosto da benevolente, ela virou areia e eu caí nos braços de Nico.

-Bom trabalho!- falei sorrindo.

-Bom trabalho, Melany!- disse ele, retribuindo o sorriso.

-Bom trabalho, Nico!- olhamos assustados para o deus que tinha um sorriso falso, e olhos que brilhavam de ansiedade.

-Pai!- falou Nico surpreso.

-Finalmente, filho!- falou Hades. –Você pegou a arma.- olhei para Nico agora frustrada. Ele não sabia! O que eu diria a ele agora?

-O que?-perguntou Nico confuso.

-Você meu filho, pegou a arma dos deuses, a única que poderia derrotar Gaia- Hades olhou para mim e alargou o seu sorriso sarcástico- A filha de todos. –Nico arfou e me olhou em pânico. Meus olhos se encheram de lágrimas.

-Traga-a a mim, Nico!- ordenou Hades. Podia sentir a respiração e o coração acelerados de Nico. Ele estava tão em pânico quanto eu.

-Melany eu...

-Tudo bem!- falei e me debati para sair de seus braços. Quando fiquei de pé, suspirei e fui lentamente em direção a Hades.

-Melany o que está fazendo?- perguntou Nico.

Nico! Fazia isso por ele!

Hades estava prestes a me pegar, quando senti Nico segurar minha cintura e me puxar em direção ao chão. E de repente tudo ficou escuro. Era como se estivéssemos caindo em um buraco.

-Não!- gritou Hades. Ele ergueu a mão, e foi como se tivéssemos parado no meio da sombra, o que na verdade, acredito que foi o que aconteceu. Nico começou a gritar. Ele sentia dor!

-Nico, me deixe ir!- falei com a voz falha.

-Não!- gritou ele.

-Nico, me deixa!- ele arfou por um segundo, mas logo senti sua respiração ficou mais firme e sua voz dura e com raiva.

-Nunca!- disse ele.

-Impossível!- ouvi Hades dizer, o olhei enquanto a sombra nos envolvia. Ele estava de olhos arregalados. E Hades desapareceu e ficou no acampamento.

Nico havia superado o poder de um deus. De seu pai, e agora, levava o seu maior alvo, para qualquer lugar.

Nico, o que você fez?