A casa da Presidente Paylor fica quase ao lado do hospital, de forma que daria para ir até lá a pé, mas Effie insistiu muito para que fossemos de carro e chegássemos com ‘elegância’. Não perco meu tempo discutindo com ela. A primeira coisa que vi quando chegamos foram pessoas carregando caixas de diversos tamanhos para todos os lados no jardim, tudo isso para a inauguração. Paylor está coordenando aquela bagunça e assim que nos vê larga tudo e vai até nós.

                - Olá!- Ela diz me abraçando. – Como você está?

                - Muito bem, obrigada. – digo retribuindo ao abraço. Em seguida ela cumprimenta Effie e Haymitch.

                - Bem, como vocês podem ver eu estou bem atarefada agora, por isso não vou poder mostrar a casa para vocês. Mas vou pedir para que Luke acompanhe vocês até seus quartos.  Prometo que vou dar mais atenção a vocês durante o jantar. – ela se vira e grita “Luke”.

                - Está pronta para o trabalho? – Paylor pergunta para Effie enquanto dá sua prancheta para ela. Effie assente com a cabeça e seus olhos mostram sua empolgação. – Faça a sua mágica que o evento será perfeito!- assim que Paylor termina de falar, Effie vai até as pessoas com as caixas e começa a dar suas coordenadas.

                Um rapaz que aparenta ter mais ou menos a minha idade aparece com a respiração acelerada, provavelmente estava correndo. Ele tem a mesma estatura que o Peeta, mas ele possui olhos verdes e cabelos castanhos cacheados, ele está sujo e suado, porém não deixa de ser charmoso.

- Me chamou?- ele se dirige à Paylor.

- Eu quero que acompanhe a Katniss e o Haymitch até seus quartos. - ele olha para mim como se não tivesse notado minha presença antes.

- Então você é a famosa Garota em Chamas?- Luke pergunta.

- Sim, sou eu mesma– respondo com a voz um pouco alterada porque ele está me olhando de cima para baixo sem fazer questão de disfarçar. Meu corpo enrijece e eu mordo o lábio inferior para evitar falar alguma bobagem. Ele não parece mais tão charmoso.

- É claro que é. Agora vamos indo. – Haymitch diz bruscamente.

- Nos vemos mais tarde, Katniss. – Paylor despede-se.

                Luke nos conduz pela casa. Casa é apelido carinhoso porque o que eu vejo aqui é uma magnífica mansão, cheia de enormes lustres e belas tapeçarias. Tudo aqui é sofisticado e muito bem decorado. Caminhamos até um corredor que parece não ter fim e cheio de portas fechadas.

                - Aqui estão os quartos onde os convidados dos outros distritos estão hospedados. A maioria dos quartos já está ocupada, mas deixamos três quartos, para vocês e a Effie, perto do garoto que veio com vocês... Qual o nome dele mesmo?

                - Peeta. – respondo.

                - Ele mesmo. - Luke diz como se acabasse de se lembrar. – Aqui estão seus quartos. – ele aponta para três quartos um do lado do outro e um deles do lado de uma porta fechada. Deduzo ser o quarto do Peeta – Aquele é o quarto do Peeta. - ele parece ler meus pensamentos e acaba de confirmá-los, apontando para a mesma porta que eu deduzi ser onde o Peeta estava. – Fiquem à vontade, logo eu trarei suas bagagens. - Luke rapidamente sai de vista.

                - Vou ver se o Peeta está no quarto. –digo esfregando minhas mãos na minha roupa porque elas estão molhadas de suor.

                - Ok, eu vou descansar um pouco. – Haymitch diz entrando no seu quarto.

                Bato na porta uma vez e ouço barulho de passos chegando mais perto. Então a porta se abre e um Peeta sonolento aparece para atender. Assim que ele me vê, ele parece despertar e em seguida me abraça como se fosse me proteger de qualquer perigo apenas com aqueles braços quentes e musculosos. Realmente era mesmo aquela sensação que eu tinha ao abraçá-lo. De que nada de ruim aconteceria comigo.

                Peeta se afasta um pouco de mim e segura meu rosto com suas mãos grandes e macias. Ele olha para o lugar onde estava machucado e passa delicadamente a ponta de seus dedos na minha cabeça. Vejo tristeza e preocupação nos seus olhos, que voltaram a refletir o velho Peeta.

                - Você está bem? Não está machucada? – Peeta indaga.

                - Eu estou muito bem para falar a verdade. Os médicos fizeram um ótimo trabalho. – ele beija minha cabeça e me abraça de novo.

                - Eu te amo. - ele sussurra no meu ouvido, ele está tão próximo que consigo sentir o calor de sua voz. Um calor que percorre meu corpo inteiro e me faz estremecer.

                - Eu também te amo. - eu o aperto mais forte como se alguém pudesse tirá-lo de mim.

P.O.V. Peeta

                Assim que eu a vejo jogada no chão da sala, eu percebo o que eu acabara de fazer. Depois de sair do meu estado de choque, eu corro até ela, mas os enfermeiros do trem pediram que eu me afastasse. Depois quando pedi para ficar com ela no hospital me disseram que seria melhor que eu a deixasse descansar e me levaram para a casa da Paylor. Mas eu sei que não me deixaram que eu ficasse lá de fato porque achavam que eu poderia ter outro ‘ataque’ e acabasse provocando algo mais sério nela.

                Eu não faria nenhum mal a ela. Eu jamais a machucaria. Mas naquele momento não era eu, era algo dentro de mim que conseguiu me vencer por um momento. Eu não posso deixar que isso aconteça de novo. Não é só ela que sofre com isso, eu sofro o dobro do que ela sofre. É como se eu tivesse quebrado meu próprio coração em mil pedacinhos.

                Agora estou esperando que ela chegue do hospital. Passei a noite em claro pensando nela. Estou agarrado à camisa que eu estava usando mais cedo. Eu ainda consigo sentir seu perfume. Ao amanhecer resolvo preparar um piquenique para quando ela chegar. Depois de preparar tudo, volto para o meu quarto e quando vejo já estou dormindo.

                Acordo com alguém batendo na porta. Com passos lentos sigo até a porta para atender. É ela. Droga, dormi demais! Sem pensar duas vezes, eu abraço-a. A sensação do seu corpo colado ao meu me completa. Mas eu não posso me esquecer que ela está machucada. Então eu me afasto um pouco para ver como ela está e mesmo depois de ouvi-la dizer que está ótima não consigo me sentir menos culpado pelo que aconteceu. Eu abraço-a de novo e sinto uma lágrima escapar do meu olho.

                - Eu te amo. - sussurro.

                - Eu também te amo. – suas palavras causaram o mesmo impacto que da primeira vez que eu a ouvi pronunciá-las. Eu a amo demais.

P.O.V. Katniss

                - Só preciso que espere um pouco que eu vou buscar uma coisa. – Peeta entra no seu quarto e quando volta está trazendo uma cesta junto com ele.

                - Venha, vou te mostrar um lugar. – Peeta diz e segura meu braço com tanta delicadeza como se eu fosse de porcelana. - É por aqui. – ele fala enquanto sobe as escadas que estão logo à direita dos nossos quartos.

                Subimos diversas escadas para chegar até um corredor que dá para uma sacada. Ao invés de um piso, a sacada é coberta por uma grama bem verde, é cheia de flores e possui dois bancos de balanço. A sacada tem uma vista incrível, onde conseguimos visualizar praticamente todo o Distrito 8.