Comprei algumas verduras para tia Helena, não era muita coisa e nem pesado então dava para carregar sozinha, enquanto voltava para casa pensava o tempo todo em Pedro e em quando poderíamos conversar sobre aquele beijo, era tão bom saber que ele sentia o mesmo que eu, meu coração batia mais rápido só de pensar e eu não conseguia parar de sorrir, não conseguia até chegar na porta da casa de meus tios e encontra-la ali. Sophia Snow, a namorada do Pedro, mas o que ela estava fazendo ali?

– Sophia? Pensei que Pedro tinha ido te encontrar, quer que eu veja se ele está em casa? – pergunto pegando as chaves.

– Não. – ela diz séria, diferente da garota encantadora e graciosa que chegara até ali na primeira vez. – Quero falar com você Lúcia.

– Muito bem, pode falar então.

– Não pode ser aqui, eu preciso que venha comigo.

– Para onde?

– De volta, de volta para Nárnia. – ela diz, Sophia usava um colar com um pingente de diamante que dava duas voltas em seu pescoço, ela segurou em meu pulso com força colocou o colar em volta de meu pescoço, tudo ao nosso redor ficou fora de foco, como se minha visão tivesse embaçado, quando tudo voltou ao normal, meus dentes rangiam e eu tremia de frio, reconheci Nárnia pelo lampião. Eu estava caída no chão na neve fofinha, há alguns passos de distância de mim Sophia também estava caída, mas tinha uma aparência diferente, estava ainda mais branca, seus cabelos estavam prateados e ela usava uma coroa branca que contrastava com o vestido negro. Levantei-me e me afastei o mais rápido que pude.

– Eu sabia! – digo indignada, queria tanto ter meu punhal neste momento. – Sabia que você tinha alguma ligação com a Feiticeira Branca.

– Ela é minha mãe. – revelou Sophia. – E meu nome tampouco é Sophia, sou Genevieve, significa onda branca, nasci antes de você e seus irmãos serem coroados reis, devia ser o plano B de minha mãe para a Profecia, ela me manteve congelada por tantos anos, não teve tempo de me acordar antes que Aslam a detivesse, mas há algum tempo, um garoto encontrou a cova em que eu estava escondida, congelada, e com seu sangue me acordou, ele só não sabia que junto comigo acordaria minha mãe.

– E dominaram Nárnia novamente. – deduzo já que tudo está congelado novamente, era tão nostálgico, não era para eu voltar para Nárnia, Aslam tinha dito isto, mas parecia uma emergência, mas desta vez haveria uma profecia? Eu deveria voltar a trazer meus irmãos? – Mas por que foi para o nosso mundo? Por que me trouxe aqui? Ela quer se vingar de nós? Um a um?

– Não! Lúcia, não percebe? Essa mulher me deixou congelada por anos, para ser apenas seu plano B, eu não sou filha dela, não sou amada por ela, eu sou uma arma, eu a odeio, por isto fui atrás de vocês, porque preciso de ajuda, sozinha não consigo lutar contra ela.

– Como sei que não está nos enganando?

– Ah Lúcia... Fui atrás de Pedro, afinal ele é o Grande Rei, mas no final ele não podia me ajudar, foi você quem percebeu que eu não era quem eu parecia ser, e há histórias, dizem que você é bondosa e a mais próxima de Aslam, por isto preciso de sua ajuda.

Suspirei, ainda não sabia se podia acreditar nela, por isto precisava de amigos.

– Os outros narnianos, precisamos encontra-los, e um lugar quente também, ou vamos... Quer dizer, eu vou congelar. Vamos.

Conforme andávamos juntas em Nárnia nos conhecíamos melhor, Sophia, digo, Genevieve parecia estar sofrendo muito com tudo o que estava acontecendo em Nárnia, devia ser difícil ter a Feiticeira Branca como mãe, mas ainda tinha alguma coisa que ela não estava me contando.

– O garoto que me acordou é um amigo, está escondido em uma caverna aqui perto, se ainda não tiver sido encontrado pela minha mãe.

Corremos e me surpreendi ao perceber que ele estava escondido onde há muito tempo e há muito mais tempo ainda em Nárnia, onde morava o Sr. Tumnus. Fiquei algum tempo na porta, enquanto Genevieve entrava.

– Algum problema rainha Lucia?

– Não precisa me chamar de rainha, só Lucia. – sorri saindo de meus devaneios. – Não, é que tudo é muito nostálgico. Genevieve.

– Sim?

– Precisamos de Pedro. – ele sempre sabia o que fazer, mesmo que nem sempre tomasse as melhores decisões e fosse um pouco cabeça dura, ele era um líder, eu não era uma líder, havia um motivo para ele ser o Grande Rei. – E precisamos do Edmundo também. – Edmundo era ótimo em estratégias.

– Não precisamos deles Lúcia, confio em você, e não podemos mais voltar, o colar só me permitia duas viagens, uma de ida e outra de volta, não tem mais poder.

– Onde arranjou este colar?

– Foi ele quem me deu, o garoto que me acordou, Ryan, ele é neto do Rei Caspian. – ela sorriu. – Também há histórias sobre ele. E o colar, traz o poder de viagem, pois é de uma estrela, da rainha Liliandil. Ryan?

– Estou aqui, estou aqui. – disse uma voz de garoto no fundo da caverna, ele estava encolhido próximo a uma fogueira que estava perto de se extinguir. Seguimos a voz chegando até ele. – Genevieve, é bom te ver.

– Trouxe boas notícias, a rainha Lúcia está aqui conosco.

Ele sorriu para mim, tinha um sorriso bonito, cabelos escuros e olhos azuis, eu sorri de volta.

– Vou fazer de tudo para ajudar vocês. – digo me sentando ao lado de Ryan. – Precisamos encontrar nossos amigos e lutar, e se nós confiarmos, tenho certeza de que Aslam virá até nós.

– É como dizem nas histórias, é bom tê-la conosco rainha Lúcia.

Ryan tinha uma mochila ali, colocamos comida, o pouco que ainda tinha, e arrumamos algumas blusas, tínhamos que encontrar nossos amigos, mas desta vez não havia nenhuma profecia e nem ninguém para nos guiar, a Nárnia diante de mim, era uma terra muito diferente da que eu tinha estado nas ultimas três vezes que tinha ido até lá, é porque estava errado, a feiticeira não devia ter voltado, eu não devia ter voltado, alguma coisa estava errada, as coisas nunca acontecem duas vezes da mesma forma.