– Conte-me, quem é? - Susanna me olhou ansiosa, mas eu estava receosa, não sabia se devia contar à Susanna o que eu estava sentindo.

Por sorte neste mesmo momento alguém entrou no quarto. Jill Pole, amiga de Eustáquio.

– Ah, desculpe. - ela disse imediatamente. - Eustáquio me pediu para procurá-la Lucia. Logo eles irão cortar o bolo e ele diz fazer questão de que você e Edmundo estejam lá.

– Oh já estamos descendo, obrigada Jill. - eu disse e assim que a garota saiu do quarto, Susana me lançou um olhar desconfiado, os olhos semicerrados, porém risonhos.

– Você ainda terá que me dar essa resposta Lucia, mas vamos lá, eu não quero perder esse bolo de jeito nenhum, parece delicioso.

Nós duas descemos sorrindo e conversando, eu estava muito aliviada de não ter que falar nada para Susana, pelo menos por hora. Juntei-me a Edmundo e Jill e quando terminamos de cantar parabéns a Eustáquio, todos começaram a gritar: DISCURSO, DISCURSO.

– Bom, eu... Eu... - começou meu primo meio sem jeito. - Quero agradecer primeiro a mamãe e papai. E também a meus primos, Lucia e Edmundo, passamos por muita coisa juntos, tantas aventuras e confesso que estou muito ansioso para rever nossos amigos, desculpem por eu ter sido tão chato antes de bem, vocês sabem, e obrigado a todos, você também Jill, eu não me esqueci de você.

Nós rimos e aplaudimos, Edmundo e eu nos entreolhamos felizes, era incrível a diferença de Eustáquio antes e depois de Narnia. Nós comemos bolo que estava uma delícia e ainda nos divertimos muito antes de todos começarem a ir embora.

Quando todos se foram, Susana, tia Alberta e eu ajeitamos a casa e com o sono já tomando conta de mim, eu fui tomar um banho para me deitar. Coloquei meu pijama e escovei o cabelo frente ao espelho do banheiro.

– Ainda está acordada. - ouvi a voz de Pedro e o fitei, ele estava com uma camiseta branca e uma calça de moletom preta, encostado ao batente da porta.

– Sim, eu já vou me deitar, estou com sono. - eu disse esfregando o olho.

Ele se aproximou de mim pegando a escova e o passando pelo meu cabelo.

– Eu sei pentear meu cabelo Pedro. - eu disse risonha e ele sorriu também, mas continuou.

– Sinto falta de quando eu cuidava de você. - ele sussurrou perto do meu ouvido, será que ele não entendia o que aquilo provocava em mim? Estremeci, mas tentei não demonstrar, sorri.

– Não sou mais uma criança, mas sinto falta também. - eu disse me virando de frente para ele.

Pedro colocou o pente na pia e acariciou meus fios longos e castanhos.

– Você se tornou uma garota linda Lu. - ele sussurrou cada vez mais próximo de mim, eu mordi o lábio inferior e coloquei parte do cabelo atrás da orelha.

– Obrigada.

– Isto é tão errado, Lucia. - ele parecia se martirizar, eu toquei seu rosto de forma carinhosa e preocupada com ele.

– O que? - perguntei preocupada, curiosa, confusa.

Pedro não me respondeu, mas eu arregalei os olhos quando ele acabou com o pouco espaço que havia entre nós e colou nossos lábios, parecia até um sonho, deixei que meus olhos se fechassem enquanto minha mão timida ia até seu pescoço. Ele pressionava meus lábios e era tão bom, eu senti sua língua tocar meus lábios e os entreabri devagar, nossas linguas se encontraram, ele experiente me guiando em meu primeiro beijo, eu estava feliz, estava feliz que meu primeiro beijo fosse dele, meu coração batia forte e borboletas faziam festa em meu estomago, porém tivemos que nos afastar por falta de ar.

– Desculpe, eu... Eu não devia ter feito isso. - ele disse se sentindo culpado e saiu do banheiro me deixando sozinha.

Estúpida. Era isto que eu pensava enquanto eu me deitava em minha cama e olhava para o teto. É isto que eu sou estúpida, eu devia ter contado a ele o que eu sinto, eu devia... Aquele beijo não saía da minha cabeça, sentir seu cabelo sedoso em meus dedos, seus lábios pressionando os meus, e nossas línguas se entrelaçando... Isso é tão errado, mas pareceu tão certo.

Eu fechei os olhos, mas ainda sorria, toquei meus lábios com o dedo indicador e media e me permiti adormecer pensando nos belos olhos de Pedro.