Quando Zion foi aceito como o único deus salvador, seis pessoas se ergueram diante do Messias que havia retornado, e ele se alegrou e os chamou de Taumaturgos, aqueles que faziam milagres; e todo o povo ficou contente ao saber que estavam seguros, pois além do deus branco, agora possuíam também poderosos guardiões que o defenderia de qualquer mal.

Os taumaturgos eram capazes de fazer qualquer coisa, seus poderes ultrapassavam o dos dominadores de elementos, e parecia nunca ter fim. Sozinhos eles esculpiram em rocha sólida o Templo do Deus Branco, e através dos seus poderes, o Templo do Infinito foi encontrado. Houve paz por algum tempo, até que em meio à multidão se ergueu um homem com um poder semelhante ao dos Seis, mas para o assombro de todos, incluindo do próprio Messias, esse homem era dotado de uma crueldade sem igual, e se proclamou Senhor das Sombras.

Seu poder se provou inúmeras vezes maior que o dos Seis, e através das sombras, ele alcançava qualquer um em qualquer lugar, nada ficava em seu caminho, e um dia ele descobriu que havia algo dentro do Templo do Infinito, e ele soube que se tivesse aquele poder maior, nada teria forças para detê-lo, e então dias negros voltaram a assombrar os humanos.

Sombra da Noite levantou um exército da rocha, do ferro e da sombra, e os soldados negros se mostraram tão impiedosos quanto seu mestre, e destruíam tudo o que tocavam, mas seus inimigos resistiram por algum tempo. Vendo que havia muita luta da parte dos humanos, Sombra da Noite deu forma a um horror sombrio de tamanho e aparência indescritíveis. O horror devorava carne, pedra, metal e luz, tudo o que estivesse à sua frente desaparecia na boca da noite, e o medo se instalou no coração dos homens.

Quando a batalha chegou até o túnel que conduzia ao Templo do Infinito, os Seis levaram consigo um grande exército composto por homens e dominadores de elementos, as armas tinham um assombroso poder bélico, mas nada parecia capaz de parar o exército negro. Sombra da Noite aproveitou-se de uma chance e passou despercebido pelo campo de batalha para entrar no templo.

A guerra continuava e no momento em que as esperanças estavam se esgotando, um antigo inimigo foi adicionado às tropas humanas, seu nome era Kishin, e ele era um mecha de 1ª geração. Quando o robô entrou na batalha, os humanos se esconderam temerosos, até ficar claro que ele estava contra o exército de sombras, e o seu alvo era o horror que Sombra da Noite criou. Logo os gigantes se emparelharam, o ser de sombras adotou uma forma para si, que não era igual a nada que nenhum humano tinha visto ou imaginado, suas mãos enormes se engataram às mãos de Kishin e os dois começaram a medir forças, enquanto a batalha acontecia ao redor de ambos.

O demoníaco ser de sombras se mostrou mais forte e conseguiu subjugar o gigante de ferro, e então, a forma negra se tornou uma nuvem que logo se abriu em uma boca cheia de dentes afiadíssimos, que cravaram em Kishin e então o devorou. Aquela foi a última refeição do monstro, pois dentro do robô havia um dispositivo de luz ultravioleta, que explodiu iluminando o interior da criatura, e de dentro para fora o monstro encontrou o seu fim.

Haazel, a Cidade da Justiça

O homem de cabelos ondulados caminhava pelo grande salão de entrada, e ao seu lado estava uma bela mulher negra. Ele era alguns centímetros mais alto que ela, sua pele era morena e o corpo era largo, próprio de um ex-soldado, sua barba por fazer acrescentava a ele uma beleza ainda mais marcante. Seus olhos castanhos esquadrinhavam tudo com um leve desconforto. A mulher, por sua vez, caminhava com um porte elegante, os cabelos castanhos estavam presos em uma trança complicada, seus olhos cor de avelã fixos em algum ponto a frente e seu vestido dourado entrava em contraste com sua pele, quem não a conhecesse jamais adivinharia que ela era uma trabalhadora comum da Cidade da Pedra.

Quando chegaram ao balcão da recepção, um segurança anotou seus nomes e os conduziu até um longo corredor iluminado por luzes automáticas, que se apagavam quando eles se afastavam, no fim do qual havia uma porta dupla feita de obsidiana[1], a qual o segurança abriu e esperou os dois entrarem na sala, para então fechar a porta logo em seguida.

O escritório era muito luxuoso, estar naquele cômodo era um tanto quanto desconcertante para Jack e Denil, que nunca conseguiriam se adaptar àquela forma de vida. Onde não havia estantes fortemente abastecidas de livros, para esconder as paredes, foram postos muitos quadros com belas paisagens que não existiam dentro das Sete Cidades, o ex-soldado deixou que seus olhos vagassem pelo lugar sem permitir que sua atenção fosse cativada por detalhes ostensivos demais, como por exemplo, o grande lustre aberrante, que pendia do meio do teto e iluminava toda a sala. No chão havia um belo tapete com padrões xadrez e motivos persas nas bordas; bem diante da porta estava uma mesa de madeira vermelha repleta de papéis preenchidos com uma caligrafia fina e elegante, por trás da mesa estava Gulag, debruçado sobre um daqueles papéis com uma caneta na mão e escrevendo como se sua vida dependesse daqueles papéis.

— Vejo que aceitaram de bom grado o meu convite... – disse ele se levantando e fazendo uma reverência em cumprimento a Denil e Jack.

— Fui obrigada a vir, assim como Denil... – disse a mulher em um tom de voz agressivo. – Então porque diz que aceitamos de bom grado?

Gulag fez um gesto como se dissesse: Quem se importa?

— Independente do que aconteceu, o que importa é que vocês estão aqui agora, e...

— Não quero saber se fui convidado ou obrigado a vir aqui! – exclamou o ex-soldado, interrompendo Gulag e assustando Jack. Bêbado, ele não passava de um zero à esquerda, mas sóbrio, era a imagem perfeita de um militar, e sua voz grossa retumbou pelo escritório. – Estou aqui apenas por um motivo...

Gulag fitou-o com uma expressão impaciente, e como Denil não disse mais nada, ele se viu obrigado a perguntar:

— E qual seria este motivo?

Com um movimento rápido o ex-militar segurou o juiz pelo colarinho e o puxou para perto de modo que seus rostos ficaram perigosamente próximos.

— Ameace a Jack novamente e nem mesmo sua mágika, seu Messias ou seu falso deus poderão mantê-lo seguro... Juiz ou não, eu te mato!

Apesar do sorriso desdenhoso estampado no rosto de Gulag, ele podia ver claramente a chama da fúria arder nos olhos de Denil, e aquilo o preocupou, o ex-soldado era apenas um tenente, mas mesmo nos dias de sua inexperiência, ele já era considerado o soldado mais forte das sete cidades, e a sua habilidade com o fogo era assombrosa.

— Muito bem... — disse Gulag desvencilhando-se do homem a sua frente. – Quero lhes dizer uma coisa, e acrescento que nada do que falarmos deve sair desta sala...

— Não entendeu o que eu disse? – Denil esbravejou. – Vamos embora agora...

— No seu lugar eu ficaria... – disse o juiz, assumindo um tom de voz mais brando. – Porque o que vou dizer; isso também vale para a missão de vocês, está relacionado à segurança do povo e das sete cidades...

Cheios de desconfiança, o casal trocou um olhar, e ocuparam as cadeiras que Gulag indicava.

— Queria começar dizendo uma coisa... Denil, você estava certo o tempo todo...

Cidade de Ferro

Abby e Tontom caminhavam lado a lado pelo túnel. Seu nome de verdade era Thomas, mas desde pequeno todos o chamavam de Tontom, e então o apelido persistiu. Apesar de serem irmãos, o rapaz preferia não demonstrar publicamente, pois havia uma lei firme dentro da Cidade de Ferro, que dizia que: os encarregados não poderiam chefiar seus parentes de sangue, pois no início havia sérios problemas de privilégios excessivos, e muitas vezes os encarregados acabavam fazendo vista grossa quanto a erros de seus familiares, por isso essa lei havia sido criada. Também por questão de orgulho, Tontom queria que todos soubessem que ele havia conseguido aquele trabalho por mérito próprio, e não por influência de sua irmã.

Seu alojamento era distante do de Abby, mas de vez em quando ele dormia junto com a irmã para fazer companhia a ela, ou então quando estava cansado demais para voltar para casa, o que era o caso naquele dia, mas ainda assim, ele fez um pequeno esforço, e correndo, em pouco mais de dez minutos havia cumprido toda a distância de onde estava trabalhando até o seu dormitório. Diferente do quarto de sua irmã, o alojamento dos operários não era tão grande, mas como ele morava sozinho, havia espaço suficiente. O quarto mais parecia uma cabine de um submarino, havia uma cama encostada ao canto da parede, uma cômoda e um banheiro.

O luxo passava longe, mas ele nunca se importou com isso, rapidamente Tontom se despiu e correu para o banheiro, onde tomou um banho rápido, e logo ele saiu com a toalha amarrada na cintura, algumas gotas de água escorriam por suas costas, antes magras, agora mais definidas, as pernas estavam mais grossas e os braços não pareciam mais os gravetos que eram antes, a pele morena destacava toda a beleza do rapaz, que se virou de repente deixando escapar um grito de assombro.

— Desse jeito você me mata qualquer dia desses, sabia? – ele disse irritado.

Sem dizer mais nada, ele chegou mais perto do visitante e os dois se beijaram, a toalha caiu aos pés de Tontom deixando seu corpo completamente exposto, com um sorriso infantil nos lábios ele puxou sua companhia para a cama e nas primeiras horas da noite, se concentraram em apenas dar carinho um ao outro.

[1] Obsidiana é um tipo de vidro vulcânico, formado quando o magma solidifica rapidamente, por exemplo, arrefecendo sob água.