Eskalith escrita por haru


Capítulo 6
O pior melhor amigo


Notas iniciais do capítulo

Devo dizer que cada dia que se passa, a cada capitulo, eu começo a ver como Nagumo se torna mais e mais confuso. Eu cheguei a pensar que eu estivesse confundindo as coisas, mas acho que acabei fazendo o personagem se tornando assim. Espero que ninguém se sinta perdido, ou algo assim :c



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Meus olhos se apertaram, como se de repente alguém houvesse soprado um punhado de areia em meu rosto. Me virei para encarar o intruso astuto.

Kiyama Hiroto deu uma espécie de sorriso empático, olhando para mim. Seus olhos eram frios, não importava o quanto ele sorrisse, eu nunca era capaz de ver qualquer brilho neles, e eu evitei olhar.

– Acordei você? - falou. Sua voz parecia ecoar por todo meu apartamento.

De todas as pessoas que eu poderia desejar ver aquela amanha, Hiroto era provavelmente uma das últimas da lista. Seus olhos finos e verdes me fitavam como se tentassem provocar-me a olha-los, mas eu engoli em seco com tal sensação, virando a cara.

– Na verdade não - respondi, num tom que soou mais nervoso do que eu queria que fosse.

– Desculpe ter vindo tão cedo, mas eu queria pega-lo antes de ter a oportunidade de sair para algum lugar.

Meus olhos estavam voltados para seu pescoço, o mais próximo de olha-lo nos olhos que eu me arriscava.

Ele usava uma camisa social, bem passada e tão branca quanto poderia ser. Suas calças eram de um jeans azul muito escuro, quase pretas, e um pouco apertadas, e seus sapatos pareciam novos, como se ele tivesse acabado de os tirar da caixa. Seu perfume doce impreginou-se no ar, e eu me senti um pouco enjoado. Seus cabelos eram tão perfeitamente lisos, que eu muitas vezes me imaginei cortando-os fios por fios, em puros momentos de inveja. Eram de um tom de vermelho tomate, um pouco rosado comparado ao meu, muito mais comportados e bem cortado, uma mecha de cabelo caia em seu rosto e ele nunca pareceu se importar com ela.

Sua pele era palida como papel, e não havia nenhum vestigio de manchas ou imperfeições. Era como se ele nunca tivesse saido a luz do sol. Seus lábios eram de um rosado tão claro, que se eu comparasse aos meus, poderia dizer que os dele eram brancos.

– Quer alguma coisa? - perguntei, descofiado.

Ele era consideravelmente mais alto, e esse era mais um dos motivos pelo qual ele me irritava tanto. Tudo em Kiyama Hiroto parecia perfeito, como se ele tivesse sido exclusivamente criado para se colocar em meu caminho e mostrar a mim mesmo o como eu era escroto em vários sentidos. Ele falava de forma tão calma, e sua voz era muito agradavel, comparado a minha. Ele sempre fora inteligente e astuto, raciocionio rápido e bom em quase tudo o que fazia. Devoto a sua familia, mais exclusivamente ao seu pai. Ele era como um bom exemplo que eu me recusava a seguir.

– Huh, sim, eu queria falar com você, ter uma conversa, digamos assim - ele respondeu, olhando a sua volta. Era surpreendende como ele provavelmente era o único, entre todos os que se postavam no meio de minha sala para ver como eu era desleixado, que com toda certeza possuia uma casa muito melhor do que a minha. Provavelmente tudo era impecavelmente limpo e perfeito. Mesmo assim, Hiroto era o unico que não fez uma expressão de nojo ou abominação por causa da situação em meu apartamento. Ele podia ter me lançado um olhar de repreensão, como quem queria me dizer " porque você não limpa isso, hem?", mas não exclusivamente por que a bagunça o incomodava, e sim, porque ele provavelmente não poderia entender como eu era capaz de não fazer nada diante dela.

– huh - foi tudo o que eu disse.

– Posso leva-lo para almoçar? Ou algo assim?

O incomodava não ter um lugar para sentar, era isso.

– Tudo bem.

Fugi para meu banheiro.

Lavei meu rosto e tentei me acalmar. Era como despertar de um pesadelo e já acordar com motivos para ter outro. Hiroto era uma espécie de incomodo, não importando o quanto ele tentasse me tratar bem, eu sempre sentia como se isso fosse apenas mais um motivo para detesta-lo.

Olhei-me no espelho. Meu eu interior provavelmente se escondia atrás das caixas e caixas de memorias que eu imaginava ter em minha cabeça, apenas para não ver a criatura perfeita tão de perto.

"Onde esta seu sorriso presunçoso agora?" Perguntei para mim mesmo. Mas meu reflexo não respondeu. Ele apenas me olhou sonolento, reflexindo a forma que eu o estava olhando. Meus olhos cor de âmbar destacados por uma olheira enorme de uma noite mal dormida.

Entrei no chuveiro e a agua gelada veio de repente. O choque térmico me fez soltar um pequeno grunido de desconforto, que eu só desejei ter sido abafado o suficiente para ninguém na sala o ouvir. Fechei meus olhos e deixei a agua escorrer pelo meu corpo por alguns minutos. A sensação do liquido horrivelmente frio penetrando em cada sobra de meu corpo. A sensação era de várias agulhas minusculas estarem sendo enfiadas dentro de mim. Porém, aquilo pareceu lavar-me de qualquer pensamento que eu estava lutando antes para controlar. Eu sentia a minha frustração diminuindo. E por um instante eu esqueci que alguém estava me esperando na sala.

Minhas mãos escovaram meu cabelo para trás, e eu olhei meu reflexo embaçado, fosco, que se refletia no box. Brinquei com tal imagem, tentando imaginar estar vendo outra pessoa. Uma pessoa com as mesmas cor de olhos, mas seus cabelos estavam arrumados. Aquilo não teve nenhuma graça, mas eu me obriguei a rir um pouco.

Hiroto parecia estar um pouco irritado com a minha demora. Quando eu surgi na sala, já vestido e calçado com meu par de tenis mais limpo que havia encontrado, ele me lançou um olhar um pouco enfezado, balançando a cabeça lentamente.

Descemos as escadas em silêncio, e fomos até seu carro. Era um tal de Kia Picanto, que não importava o fato de eu saber que ele o possuia a um bom tempo, ele sempre parecia mais novo a cada dia que eu o via. Era de um vermelho vivo, muito atraente eu diria. Hiroto abriu a porta para mim, como se temesse que eu o estragasse de alguma forma.

– Vou te levar a um lugar tranquilo, o meu favorito - comentou, enquanto colocava os cinto, fazendo um gesto para mim fazer o mesmo.

Os bancos eram macis. O cheiro do carro chegava a ser agradavel, um arroma suave que dava um certo sentimento de tranquilidade.

– Vai dar asia por eu ter perdido o emprego? - perguntei, soando um pouco grosseiro.

– Com certeza - ele respondeu, firme.

Eu tentei ignorar qualquer paisagem que eu pudesse ver pela janela. Toda vez que eu insistia em olhar, eu sentia meus olhos freneticos desejando ver alguém que eu sabia que não estava la. De repente, me lembrei de Suzuno Fuusuke e de seu soco. Ele era forte, e eu balancei a cabeça ao me lembrar de como ele ficou bravo e saiu, sem olhar para trás.

Depois de um tempo, paramos em um restaurante um tanto diferente do que eu imaginei que seria. Era aparentemente tranquilo e um lugar humilde, com poucas pessoas - o fato de não estar na hora do almoço podia ter alguma influência sobre isso. Eu temi por um momento que Hiroto me carregasse para um lugar mais sofisticado, do qual eu me sentiria menosprezado. Mas é claro que um lugar quieto e simples como esse era realmente a cara dele, por mais que eu não admitisse que ele não era tão metido quanto eu seria com a situação financeira que ele tinha.

Uma moça um tanto jovem, um pouco acima do peso e feições rosadas e delicadas, se aproximou entregando-nos o cardápio com um sorriso gentil. Hiroto sorriu de volta com a mesma simpatia, mas eu apenas a olhei, como se eu fosse uma espécie de bicho do mato do qual não estava acostumado com muito contato humano - o que de alguma forma, não chegava a ser totalmente mentira.

– Vai querer alguma coisa em especial? - Hiroto perguntou, passando os olhos pelas opções no cardapio.

– Eu acho que não - respondi, sem cerimonia. Eu comeria qualquer coisa que me dessem.

– Posso pedir um prato desses da terceira pagina, se você não se incomoda?

– Tanto faz.

– Ok, então vou pedir o terceiro.

– Pode ser.

Ele chamou a garçonete e fez o pedido, acrescentando uma garrafa de vinho.

– A comida daqui é ótima - comentou ele.

Eu podia sentir o cheiro de comida caseira começar a se impregnar pelo ar.

– Fazia um tempo que eu não vinha - continuou ele, colocando o cardápio de lado, e deixando os cotovelos sobre a mesa, como apoio, enquanto ele segurava o peso da propria cabeça, olhando para mim.

– Eu provavelmente nunca vim aqui.

– Eu entendo. Tenho certeza que você vai gostar da comida. Quando sua situação melhorar , você poderia até passar a vir mais vezes..se quiser.

Eu continuava evitando olhar para ele.

– "SE" ela melhorar...

– Ela realmente não vai se você continuar agindo assim..

Por impulso, eu o fitei, por tempo o suficiente para me sentir incomodado.

Hiroto não era apenas o cara pelo qual eu me sentia obrigado a me comparar a todo momento, ou o que eu estava sempre tentando vencer e provar que eu era melhor. Ele também havia sido a primeira pessoa pela qual eu havia me interessado.

Quando eu tinha em torno de 11 anos, aqueles olhos verdes me atordoavam por eu sempre me encontrar perdido neles. Eu era jovem demais para saber o que eu realmente estava sentindo. Eu poderia dizer que era uma espécie de "paixonite"? Não, eu pensava que Hiroto era uma ameaça a mim, tanto pelo fato de sempre se sobressair sobre tudo, quanto por eu sentir um sentimento puramente platônico, mas eu era confuso demais para agir como tal.

–Se você continuar agindo como se não precisasse de um emprego, provavelmente ninguém vai achar que deve te dar um.

– O que? Eu não estou agindo assim..

– Então diga-me o motivo pelo qual você foi demitido.

Baixei a cabeça.

– Você tem que parar de agir como se o mundo girasse em torno de você, Haruya - Hiroto havia se endireitado na cadeira, e me olhava sério, tentando aparecer ameaçador, talvez.

– O que você quer que eu faça se eu perco a paciencia rápido, as vezes?

– Acho que você devia buscar ajuda.

– O que você quer dizer com isso?

Ele se endireitou de novo, dessa vez puxando a cadeira para mais perto da mesa, e inclinando o rosto para mim.

– Quis dizer que você devia procurar um psicologo ou coisa assim - ele disse, baixo.

Eu serrei os dentes. Não era a primeira vez que ele me recomendara isso. Nos últimos meses, ele e Shigeto pareciam estar envolvidos numa espécie de complô para me arrastar até um psicologo - não é normal alguém ter um humor tão instável a agir de uma forma tão confusa o tempo todo.

– Não sei muito bem se estou te entendendo, Hiroto, o que você esta tentando me dizer? Que eu sou louco?

– Não! Estou dizendo que você pode ter algum problema.. talvez um transtorno ou coisa assim, o que não quer dizer que você seja louco.

– Para mim dá no mesmo.

– Mas não é, Haruya.

– Eu não acredito que você me trouxe até aqui para ouvir essas bobagens.

– Estou falando isso para o seu bem. Você sabe disso.

– O que eu não sei é o porque você se preocupa tanto com isso. Por que não me deixa em paz, de vez?

– Você sabe muito bem o porque, Haruya. Eu prometi a sua avó que eu cuidaria de você.

– Eu não preciso disso.

– Você sabe que precisa. Pare de ser tão orgulhoso, eu sou seu amigo, não sou? Você podia parar de me ver como uma ameaça, e aceitar o que estou fazendo por você.

Passei minhas mãos no rosto. Eu me sentia desconfortável. Eu estava tentando dizer a mim mesmo que ele não tinha razão, como eu sempre fazia, mas, ao me lembrar de meu sonho.. da forma como eu me senti diante de mim, eu temi que esteja deixando ele tomar controle sobre mim, como quase sempre eu fazia.

Eu era realmente confuso. Não sabia se Kiyama Hiroto era meu pior amigo ou meu melhor inimigo.

Deixei um longo suspiro escapar.

– Tudo bem, o que você sugere? - perguntei, cruzando os braços.

– Bom, primeiro vamos resolver a questão do emprego - ele disse, voltando a falar com mais clareza - eu liguei para um amigo meu e expliquei a situação. Parece que eles pagam melhor do que seu ultimo emprego.

Hiroto tirou um pequeno cartão do bolso e me entregou.

Era o telefone de uma loja, aparentemente.

– Dê uma ligada mais tarde, aproveite - ele tentou sorrir.

– Farei isso.

– E tente se manter nesse, dessa vez.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigado a todos que estão acompanhando *-*
Eu adoro cada um de vocês, e devo confessar que cada review me deixa muito feliz.. e me dá mais animação para continuar escrevendo.
Agradeço principalmente por quem esta me acompanhando desde outras fics (que não sao muitas, já que sou nova no "ramo" q)
Vocês são demais, hahah ♥



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