Eskalith escrita por haru


Capítulo 5
Autofobia


Notas iniciais do capítulo

Me pergunto se alguém estava realmente ansioso para ler isso.
Porque, bem, eu estava ansiosa para terminar de escrever
:33



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Quando finalmente cheguei no meu prédio, sentia uma dor de cabeça terrível e ainda era possível sentir o cheiro do sangue nas minhas narinas.

Suzuno havia me dado um empurrão com toda a força, me jogando violentamente contra a parede atrás de mim. Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, o senti me puxar de volta, pelo colarinho e seu punho veio de encontro ao meu nariz. O impacto foi capaz de me derrubar no chão, e eu cai sentado. O cansaço parecia dar-me mais peso e me impedir de ter qualquer outra ação.

Ele me olhou bravo antes de dar as costas e me deixar para trás. Seus passos foram longos o bastante para ele sumir rua a dentro em questão de segundos, e eu o observei indo até que fosse impossível ver qualquer vestígio de sua presença.

Passei a mão na cabeça, e deixei escapar um uivo de dor, descendo-as até meu nariz e depois para meus lábios. Eu ainda era capaz de sentir a sensação da boca fina de Suzuno na minha, assim como eu também podia sentir muito bem o sangue quente escorrendo e me fazendo provar de seu gosto de ferro enferrujado.

Eu ainda podia me lembrar nitidamente de tudo, mesmo depois de horas caminhando até em casa. E mesmo com toda a dor, fui capaz de sorrir um pouco antes de subir as escadas para meu quarto. Mas não antes de olhar irritado para o elevador, que ainda estava quebrado.

Ao chegar no terceiro andar, escutei o som da porta do apartamento de Shigeto se abrindo. Ele provavelmente estava de butuca, a minha espera. Porém, para minha surpresa desagradável, o primeiro a ponhar a cabeça para fora e me ver foi Netsuha Natsuhiko (ou Nepper, como ele preferia ser chamado).

– É ele - falou e logo depois Shigeto aparece na porta.

Passei por eles escondendo o rosto com as mãos. Eu sabia que Shigeto pularia em mim se eu aparecesse machucado, e eu não estava nenhum pouco disposto a explicar a ele o que havia acontecido. Ele me lançou um olhar de desgosto e desconfiança.

– Falo com você depois - falei, rancoroso, antes que ele abrisse a boca para dar alguma advertência.

Ele olhou para Nepper por alguns instantes quando eu o fiz uma careta. Ele sabia que eu não gostava daquele cara.

Netsuha era um cara metido a durão. Tão estupido quanto eu, na época. Sua voz me irritava tanto quanto o som de unhas arranhando um quadro negro. Ele possuía um olhar caído, e eu pude notar, mesmo que de relance, olheiras profundas. Ele provavelmente não havia dormindo a um bom tempo.

Machuquei minha mão, pela 4ª vez na semana, no trinco da porta, tentando abri-la. Meu apartamento e o de Shigeto eram separados por 4 outros. Longe o bastante para que nenhum de nós se incomodasse com qualquer barulho suspeito que poderíamos fazer. Eu serrei os pulsos só de pensar em Nepper enfiado em seu apartamento.

Eu nunca tive coragem de perguntar a ele o que diabos eles tinham. Eu temia a resposta que ele poderia me dar, por mais que eu tivesse certeza que eles não eram apenas amigos. Porém, só de pensar em meu irmão de consideração sendo envolvido pelos braços daquele cara me causava um ódio grande o bastante para mim preferir enganar a mim mesmo, dizendo-me que eles não tinham nada e era apenas coisa da minha cabeça.

Corri para o banheiro me limpar. Só então eu pude ver o meu estado, no espelho. Havia uma mecha fina de sangue seco descendo do meu nariz para minha boca, e um pouco em minha bochecha. Meu cabelo estava sujo.

Suspirei e arranquei minha roupa. Cada músculo de meu corpo parecia ranger. Mas a sensação de incomodo não era o bastante para tirar Suzuno Fuusuke da minha cabeça. Cada gota de água, estupidamente gelada, que caia do meu chuveiro fazia-me lembrar dele. Talvez porque ele me dava aquela sensação de frio? Eu fechei meus olhos para me lembrar daquele sentimento.

Mas meu banho foi rápido. Eu praticamente voei para minha cama, depois de vestir a primeira bermuda que alcancei no guarda-roupa. Meu quarto provavelmente era o cômodo com mais móveis em todo apartamento. Minha cama de solteiro era semi-nova, fora comprada no início daquele ano, a madeira da cabeceira ainda tinha um certo brilho. Meu guarda-roupa era consideravelmente grande, e ocupava a parede inteira. Sua madeira era velha e desbotada, como quase tudo naquele lugar, mas eu o tentava preservar, da melhor forma que podia. A cômoda ao lado da minha cama era velha, e seus pés de apoio já estavam podres a um bom tempo. Mas enquanto ela não despencasse no chão, continuaria portando um porta-retrato antigo e um relógio velho. A janela de vidro deixava todo o quarto iluminado pela luz da lua, o que fazia economizar energia, de alguma forma, mas seu vidro estava trincado antes mesmo de eu me mudar.

Foi um tanto complicado pegar no sono com a dor de cabeça que eu sentia, mas eu me recusava a tomar remédios, a não ser que fosse realmente necessário, o que eu não julgava ser o caso. Quando eu menos esperava, já havia adormecido.

De repente, eu estava em um lugar muito frio. O céu era negro, não como a noite, literalmente preto, com estrelas enormes com um brilho ora lilás ora amarelo. Eu não sentia meus pés no chão, e mesmo vestido, eu tinha a sensação de estar nu. Mas não apenas desprovido de qualquer tecido, mas sim de pele, ou qualquer coisa que pudesse me dar algum calor. A paisagem em volta era apenas rochas, tudo cinza e vazio. O silencio era o que mais me torturava. A sensação de estar no vácuo completo e não importava para onde eu olhava, não havia nenhum vestígio de vida.

Levei as mãos a cabeça e dei um grito estérico de pavor. Meu pânico aumentou bruscamente quando eu notei que não podia ouvir se quer minha própria voz. Eu tinha pavor do silencio, e da sensação do vazio completo. Eu sentia como se tudo começasse a ser consumido pelo nada, até que toda a paisagem havia sumido, deixando apenas o nada. Era como se eu não fosse capaz abrir meus olhos, mesmo que eu soubesse que eles estavam BEM abertos.

Era a ausência de tudo que dava-me a sensação de estar cego, surdo e mudo. Incapaz de fazer nada. Meus pensamentos era a unica coisa que eu podia ouvir, e eles vinham tão rápido que boa parte era incompreensível. O frio queimava meu corpo e era difícil respirar. Levei minhas mãos ao rosto. O tato era a unica coisa que eu era capaz de sentir.

"Será que é essa a sensação de morrer?"

"Será que eu ficarei preso aqui para sempre?"

"Será que é isso que me aguarda no fim de tudo?"

Eu tinha certeza que eu choraria, se eu tivesse essa capacidade humana. O desespero já havia me consumido quase completamente, e nem mesmo eu era capaz de entender o porque eu estava tão apavorado.

Tirei as mãos do rosto, deixando-as cair sobre meu corpo. Ao fazer isso, foi como se eu houvesse recuperado a capacidade de respirar normalmente, e então, de enxergar.

Não havia explicação nenhuma cabível, mas um espelho enorme foi instantaneamente plantado na minha frente. Eu senti um certo alívio ao ver meu próprio reflexo. Eu estava inteiro, eu podia enxergar, pouco a pouco, foi como se eu fosse revivendo.

Porém, minha suspeita de recuperação foi abalada quando meu próprio reflexo abriu um sorriso presunçoso para mim.

Eu não estava sorrido. Foi então que eu notei que ele não era um mero reflexo. Eu estava usando trapos velhos, uma camisa vermelha qualquer e um shorts rasgado. Meu reflexo usava a mesma camisa vermelha, porém, tanto ela quanto o shorts parecia novo, como quando eu o havia acabado de comprar.

Meus olhos se arregalaram. Mas ele continuava sorrindo para mim.

Eu o olhei, procurando alguma explicação para tudo aquilo, mas comecei a sentir tanta raiva de como ele me olhava, que eu acabei um bom tempo perdido.

E eu o odiei. Eu estava olhando para mim mesmo com muito rancor e abominação. Aquele cara arrogante, tão estupido, que agia como se o mundo estivesse aos seus pés, mesmo que sua vida fosse uma merda completa. Aquele cara que pensava que podia ter tudo o que quisesse, mesmo que não possuísse nada. Aquele cara que se via o mais forte de todos, fisicamente e psicologicamente, que achava que nada poderia o atingir de verdade. Que achava que era imune, a sentimentos como amor ou piedade. Quando na verdade, tudo que ansiava na vida era que um dia não estivesse sozinho. Aquele cara mentia para si mesmo todos os dias, fazendo-o pensar que ele era bom demais, que estava bem em ser o que ele era. Quando na verdade, ele não era nada, um grande de um merda.

Ele era nojento. E o que me deixava mais irritado com tudo: Ele era eu. Meu verdadeiro eu, aquele que eu tentava disfarçar o tempo todo. O que falava em minha cabeça, contando-me como todos eram chatos e fúteis, e me fazia acreditar que eu era melhor do que o resto. Mas eu, ele... nós eramos o resto.

Pisquei, tentando não o olhar. O sorriso em seu rosto havia se desmanchado. Ele podia ler meus pensamentos, os nossos pensamentos, e agora me olhava irritado. Balancei a cabeça, e ele me deu um soco.

Por uns instantes, quando senti minha camisa sendo puxada, o cenário inteiro havia mudado. Havia um céu noturno logo acima de mim. Havia o som da cidade, o cheiro da rua. Não era eu mesmo quem enterrou o punho em meu rosto. Era Suzuno Fuusuke.

Meu sonho se encerrara com tal lembrança. E eu acordei num pulo, sentindo o cheiro forte de sangue me incomodando.

Meu nariz havia voltado a escorrer.

O sol entrava pela janela, e eu tive a sensação de ter dormido por dias.

Levantei, tonto, cambaleando até o banheiro para lavar meu rosto. Lancei um olhar assustado para o espelho, e por um momento temi o que poderia ser refletido de volta para mim.. mas meu reflexo apenas imitava meus movimentos como de praxe. Não havia nada de anormal naquele apartamento, apenas eu mesmo que não me sentia completamente despertado.

Abri a dispensa do espelho, procurando por algum remédio que pudesse me aliviar da coisa ruim que eu estava sentindo. Qualquer droga, qualquer calmante.

Me assustei com o barulho da porta sendo socada.

Dei um pulo, quase deixando a torneira da pia aberta. Andei até a porta tropeçando em minha própria bagunça. Eu não tinha ideia de que horas eram, ou quanto tempo eu havia dormido.

Quando abri a porta, um cara alto avançou para dentro.

Ele era bem vestido e perfumado. Sua pele era pálida e lisa. Seus cabelos lisos tinham uma cor vermelho tomate, e uma mecha caia em seu rosto.



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Notas finais do capítulo

*limpa o suor*
é a primeira vez que eu TENTO descrever um sonho assim.. espero que nao tenha ficado sem sentido ou confuso demais @:
E por favor ignorem a repetição de "eu",
juro que vou tentar melhorar isso!



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