Eskalith escrita por haru


Capítulo 18
Eskalith


Notas iniciais do capítulo

Alguém me perguntou, uma vez, o que significava o nome da fic :3



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Os passos de Suzuno eram terrivelmente lentos. Era provável que quem nos visse passar pensasse que estávamos em uma espécie de ressaca, ou havíamos usado alguma droga. Seus cabelos estavam completamente desarrumados e visivelmente duros. Seu rosto esta baixo e ele olhava apenas para o chão, enquanto eu tentava acompanhar sua lentidão.

Eram quase cinco da tarde, e eu levei um tempo para perceber que havíamos dormido muito mais do que imaginei. A única coisa que o albino carregava era uma mochila grande com alguns de seus pertences. Ele parecia não ter muitas roupas e nem objetos de valor em mãos.

Quando finalmente chegamos ao meu prédio, depois de mais de uma hora andando, a única coisa que eu conseguia pensar era em obriga-lo a tomar o banho mais longo de sua vida e então, finalmente, comer alguma coisa.

Xinguei o elevador, que ainda estava em manutenção e rumei em direção a escada, lançando um olhar para Suzuno, que erguei a cabeça para fazer uma careta.

O puxei pelo braço e tentei fazê-lo subir rápido. Tudo o que eu menos precisava naquele momento era me deparar com Shigeto no corredor.

Para minha sorte, ele parecia não estar por lá quando rumei até a porta de meu apartamento e puxei Suzuno para dentro.

O albino tirou os sapatos usando os pés e olhou em volta inexpressivo.

– Bem vindo – falei, ironicamente, passando por ele e rumando em direção ao banheiro.

Ele me seguiu um pouco incomodado.

– Aqui – entreguei a ele uma toalha – você pode ficar a vontade.

Fuusuke me olhou por alguns segundos, como se eu estivesse falando outra língua, e então, lançou um ultimo olhar para trás, onde estava a sala, e a saída.

– Você já esta aqui, não me diga que quer voltar para aquele lugar – falei, um pouco irritado.

Ele voltou a olhar para mim.

– Eu não preciso que sintam pena de mim.

– Isso não muda o fato de você precisar de um teto, que não esteja a ponto de desabar em sua cabeça, para morar. Mesmo que por um tempo.

Joguei a toalha em sua cabeça e o puxei para o banheiro.

Não era o mais limpo ou organizado. Chutei algumas roupas para o canto atrás da porta antes que ele pudesse notar, e dei graças a Deus por não estar tão sujo quanto a uns dias atrás.

– Não precisa ter pressa - falei.

Fuusuke segurou a toalha nas mãos. Ele parecia estar com alguma dificuldade em dizer alguma coisa.

– Eu – começou ele – eu não sei se é uma ideia boa.

– Tomar banho? Claro que é!

– Não isso – me olhou irritado – estou falando em ficar aqui.

– Olhe, não vamos falar sobre isso de novo, né? Você fica, até encontrar um lugar melhor, ou sei lá. Eu não me importo, ok? E também não vou estuprar você ou coisa assim... pelo amor de deus.

Ele revirou os olhos.

– Agora tire logo essa roupa.

Suzuno hesitou, e então arrancou a camisa e eu a peguei.

– Não se preocupe, Fuusuke – falei, a colocando na pia.

Ele permaneceu calado, pensativo. Dei meu ultimo suspiro antes de deixa-lo sozinho, fechando a porta logo atrás de mim.

Não demorou muito para se ouvir o barulho do chuveiro.

Aproveitei o momento para me trocar. Eu também precisava de um banho, mas optei por esperar Suzuno terminar com uma camisa mais limpa. Só ao entrar no meu quarto que lembrei que possuía um celular e era provável que Shigeto havia me ligado a noite toda. Ele simplesmente parecia não ter mais o que fazer do que se certificar que estou vivo ou coisa do tipo.

Para minha surpresa, não havia nenhuma chamada perdida de ninguém.

Fuusuke ficou quase quarenta minutos no banho, quando saiu, enrolado em minha toalha – a cor era roxa, o que eu não havia notado até então. Atirei para ele uma muda de roupas, e ele recuou imediatamente de volta ao banheiro. Foram mais uns quinze minutos para ele sair vestido com a toalha na cabeça.

– Ficou bem, huh – falei, ao vê-lo usar uma de minhas bermudas favoritas, e uma regata vermelha.

Seus ferimentos e hematomas no braço estavam visíveis, mas ao menos ele parecia um pouco mais com o Suzuno que eu havia conhecido a tempos atrás, do que o que eu havia presenciado nos últimos dias.

O albino se aproximou de mim, parando na minha frente.

– Você esta com fome? – perguntei, antes que ele pudesse dizer algo.

Ele parecia irritado. Mordeu os lábios antes de me responder.

– Sim.

Sorri.

– Não tem nada de bom aqui, mas... ao menos não vai passar fome. – respondi.

– Onde esta minha bolsa? – ele perguntou, dando um passo para trás e olhando em volta.

Apontei para um canto da sala, onde ela havia sido largada automaticamente quando ele entrou. Suzuno foi depressa até lá e começou a vasculha-la. O observei por um tempo procurando algo no fundo de sua mochila, até que ele pareceu pegar alguma coisa e voltar até mim.

Era uma cartela... de comprimidos.

– O que é...

– Pode me pegar um copo d’água? – ele perguntou.

Franzi a testa mas o levei até a cozinha.

Depois que ele engoliu, suspirou.

– O que é isso? – perguntei desconfiado.

– Não se preocupe, é apenas um remédio.

– Pra que?

Fuusuke ergueu as sobrancelhas, e deu um sorrisinho sarcástico.

– Não é nada demais... só me acalma. Você esta pensando em me adotar, Haruya? Me tratando como se fosse seu filho... ou algo assim.

– Eu não...

O rapaz se aproximou de repente e colocou as mãos em meus ombros, nos deixando frente a frente.

– Você me trouxe aqui porque quis, você sabe que isso não significa que você mande em mim ou que eu lhe deva satisfação? Certo? – ele falou, olhando diretamente em meus olhos.

– Tá, sim, eu sei, mas...

Ele apertou os olhos para me olhar, parecendo estar ficando sonolento.

– Só me deixe deitar em algum lugar, pode ser? – ele perguntou.

Afirmei com a cabeça, e então, ele me abraçou.

Por alguns instantes, pensei que ele finalmente estava começando a me tratar melhor, de certa forma, mas logo percebi que ele parecia meio tonto. O guiei até a cama, onde ele praticamente se jogou e permaneceu do jeito que caiu.

Suspirei e me sentei mais a ponta. Suzuno resmungou alguma coisa, e dormiu alguns minutos depois.

“Tudo bem”, falei para mim mesmo, olhando para o rapaz de cabelos brancos e molhados, “Vai ficar tudo bem”.

Fuusuke não emitia nenhum som enquanto dormia. Isso passava a impressão de tranquilidade que eu tinha certeza que era falsa. Enquanto ele estava lá, com o rosto sereno enquanto sonhava, e os cabelos limpos caindo sobre o rosto, ele parecia um rapaz bonito e quieto, educado. Ele parecia mais jovem também, mais tranquilo. Mas as roupas poderiam fazê-lo parecer um pouco mais rebelde do que o rosto aparentava. O que não chegava a ser falsa impressão.

Esperei alguns minutos até ter certeza de que seu sono estava pesado antes de me aproximar e tentar fuçar em seus bolsos.

Tudo bem, aquilo não era a melhor coisa a se fazer, mas a preocupação e – é claro – a forte quantidade de curiosidade pareciam controlar meus membros. Puxei de seu bolso uma cartela de comprimidos amarelados, com as iniciais SKF gravadas.

– Huh...

Balancei a cabeça para mim mesmo. O que eu estava fazendo, afinal? Isso provavelmente era contado como invasão de privacidade. Mesmo depois de ver, eu não fazia ideia de para que o remédio servia, só sabia que se tratava de Eskalith.

Devolvi a droga para seus bolsos e me levantei, lançando um ultimo olhar desconfiado para o garoto. Suzuno se mexeu um pouco mas não acordou.

Muitas coisas se passavam pela minha cabeça. O cara estava ali, deitado em minha cama, tão indefeso, que eu poderia deixa-lo ali e o obsevar durante horas e horas. Mas eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele acordaria e toda a sensação de serenidade que ele estava passando desapareceria instantaneamente.

Foi pensando nisso que fui para a sala, e me joguei no sofá fedorento. Seu odor terrível me obrigou a levantar minutos depois, irritado, e correr para pegar uma toalha. Antes eu cheirava a poeira, e de repente tive a sensação de que o cheiro de mofo e suor havia se ‘colado’ em minhas costas.

Entrei no banheiro, encostando a porta. Apesar de ter dormido tanto, me sentia realmente cansado.

As paredes do banheiro eram de uma cor mais forte do que as paredes da sala. Era um tom de rosa pêssego mais viva, e combinava com a cor da pia, onde eu estava parado me olhando no espelho.

Eu estava sujo, e bagunçado. Abri a despenca do espelho, onde guardava a escova de dente, e peguei um pequeno pote.

Suzuno não era o único que tomava remédios. Graças a meu acidente quando criança, eu precisava de algumas drogas para evitar seus efeitos. Mesmo que muitas vezes minha cabeça ainda doía muito, mesmo com os remédios. Suspirei antes de engolir a capsula e ir para o banho. Eu provavelmente era a única pessoa do mundo que não precisava de um copo d’água para engolir aquilo.

Ou talvez eu não me preocupasse tanto com a possibilidade de me engasgar.

“Ele dormiu com fome”, pensei, quando me lavava. “ Ele nem se preocupou tanto com isso, também”.

A água estava fria, mas não foi capaz de me despertar. Continuei com sono por um bom tempo, sem nada para fazer. Fuusuke continuava dormindo e o tempo parecia não passar.

Era como se houvesse levado uma eternidade para começar a anoitecer.

Preparei algo para comer – macarrão, no caso – mas não sentia fome. Deixei tampado para quando Suzuno acordasse e fui para o quarto. Ele ainda dormia como pedra. O arrastei para o canto, me recusando a deitar no sofá imundo, e me encolhi ao lado dele, de forma que evitasse que nos encostássemos um no outro.

Não era muito confortável, mas era o bastante. Eu provavelmente me perdi nos sonhos mais rápido do que imaginava.

Foi como se, ao fechar os olhos, eu houvesse sido instantaneamente teletransportado para outro lugar e de repente, eu me via sentado no chão de uma sala grande, de paredes e piso metálicos, e completamente vazia.

Esfreguei os olhos e me levantei.

– Bem vindo – falou uma voz gentil, vinda de lugar nenhum.


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Notas finais do capítulo

comentários pfvr -3-
eu não faço ideia de como isso esta ficando omfg :c



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