Todos nós temos nossa hora de morrer, era o que minha mãe costumava dizer.
É claro que, teimosa como era, ou como costumava ser, de qualquer modo, eu nunca dera ouvidos a ela.
Na verdade costumava ficar quase brava quando ela começava com esse assunto. Me fazia pensar sobre quando seria a minha hora, e a de todos que eu amava... Não que eu amasse muitas pessoas ultimamente... A hora dos meus pais já havia chego, há o que já era um bom tempo, e durante todos os anos que se seguiram ao acidente que os levara de mim, eu não me preocupava com muitas pessoas além de mim mesma, o que seria bom, se não fosse pelo fato de que eu própria nunca estaria completamente segura. Era enervante, mas eu sabia que seria assim desde o principio.

Que outras opções eu tinha?, era a pergunta que me consolava, todas as vezes em que eu me pegava pensando no que fiz com minha vida. Na época eu não passava de uma garota completamente falida e sem ninguém... E ele me acolhera, a princípio como se fosse uma filha...
Algum tempo depois, porém, percebi que aquilo não era tudo o que pediria em troca. Não fiz objeção alguma, e cá estava eu... Eu não tinha outras opções, como já disse. Mas desde então eu presenciara todas as suas faces, tudo o que ele podia fazer, todas as atrocidades que podia cometer... E desde então, eu me sentia como se estivesse a mercê do que quer que ele quisesse fazer comigo, o que não deixava de ser verdade, olhando para o passado, à partir de agora. Eu sempre fora seu brinquedinho. Sua boneca chinesa, alguém para com quem brincar de família feliz.

As carícias e os presentes nunca serviram para amenizar minha consciência, e eu sempre soube que, a parte os atos gentis e palavras amáveis, Elijah podia ser o homem cruel que todos diziam que era.
Até então isso não me amedrontava. Ele podia ser assim com os outros, mas não era assim comigo, e eu não tinha motivos para ter medo...

Até então.

Por que, até então, eu nunca o havia desafiado, pelo menos não como fizera ao acatar aquela ideia ridícula e pensar que poderia encontrar minha liberdade novamente. Eu nunca poderia. Nunca seria livre, e teria que aprender a me contentar com isso.

Isso é claro se sobrevivesse àquela noite.

E precisava admitir que, naquelas circunstancias, minhas chances eram mínimas.

Por mais miserável que fosse, por mais que pudesse parecer melhor a qualquer outra pessoa morrer ali, aquela era a minha vida, e por mais que não parecesse, eu prezava por ela. Era a única coisa que eu tinha, afinal de contas. Isso e meu coração, que eu fora tola o suficiente para entregar ao homem que me condenara à desgraça.

Deus, como eu queria poder voltar atrás! Voltar àquele dia, aquele maldito dia, em que tudo aquilo começara de verdade. O dia em que eu colocara tudo a perder sem ao menos ter consciência do que estava fazendo. O dia em que Damon Salvatore entrara em minha vida conturbada.

Sim, eu daria qualquer coisa agora para voltar àquele dia, mas não para fazer tudo diferente. Eu não queria, como talvez fosse de se esperar, mudar o passado e alterar assim meu futuro, me tirando da situação delicada em que me encontrava agora.

Não, eu queria voltar exclusivamente para poder viver tudo o que havia vivido nesses poucos meses novamente.

Por que sim, por mais estúpido que pudesse parecer, por mais irracional que aquilo soasse, e por mais que eu nunca tivesse coragem de dizer aquilo em alto e bom tom, eu faria tudo novamente.