– EPÍLOGO –

Sábado, 30 de Março de 2013

7:00 a.m.

– Muito bem, aqui estamos nós, novamente.

Foi o que a recém-promovida diretora Alma Coin disse de modo intimidador ao se juntar aos cinco alunos que se encontravam na biblioteca naquele momento.

– Corrigindo, "novamente", só vocês. – ela abriu aspas com os dedos. – Ou vocês pensaram que estariam livres desta detenção devido aos acontecimentos recentes?

Ninguém respondeu e Coin prosseguiu:

– Ótimo. Com os acontecimentos recentes e o afastamento lamentável do diretor Snow, que agora é ex–diretor – ela deu ênfase à palavra "ex" – consequentemente a agenda lotada de detenções que ele possuía precisou ser revista por mim, que assumi o lugar dele. Mas isso vocês já sabem.

– Eu não tinha percebido até agora, professora Coin – Marvel foi o primeiro a falar, sem conter o sarcasmo.

Glimmer que estava ao seu lado, com a mão sobre a dele por baixo da mesa, entrelaçou os dedos aos de Marvel em um forte aperto, mas não como repreensão e sim apoio, bem como uma namorada deveria fazer, bem como os namorados que eles voltaram a ser.

Coin olhou para Marvel com raiva por um momento e depois voltou a falar com desprezo:

– Diretora Coin. – ela pontuou. – E é melhor se acostumar com a ideia, Sr. Sanford. Nos próximos dois meses, seremos só nós dois em cada sábado pela manhã, honrando os compromissos que o ex-diretor Snow já havia assumido com você.

Mas Marvel deu de ombros, estava feliz demais para se importar com aquilo. O que eram dois meses de detenção com aquela mulher insuportável, enquanto ele sabia que Snow estava cumprindo prisão domiciliar sob a principal acusação de pedofilia? Sua irmã estava vingada. E bem, nada disso estaria acontecendo se Glimmer – sim, a sua Glimmer – não tivesse postado o vídeo comprometedor de Snow na internet.

Coin voltou-se a ele novamente:

– Aliás, eu poderia apostar que foi você quem escreveu esta frase ofensiva no verso da redação – e, pegando o papel, leu em voz alta: – "E você vai se foder, velho pedófilo!" Porém, como nenhum de vocês quis assumir autoria disto, é por isso que estão aqui novamente.

Clove revirou os olhos.

– Diretora Coin – ela se manifestou, como sempre, cansada de conversa fiada –, que nós estamos em detenção por causa de uma frase da redação, a gente já sabe. Então, hm, por que não diz logo o que vamos fazer aqui? Não me leve a mal, mas meu irmão receberá alta do hospital hoje e o quanto antes eu puder sair daqui, melhor.

Cato parou para olhar a pequena ao seu lado, e no quanto ela parecia diferente, de uma maneira boa. Os olhos não estavam mais cheios daquela maquiagem escura, nem o cabelo continuava escondendo o rosto bonito que ela tinha. Ele sabia que havia o dedo de Glimmer naquela mudança, porém, a verdadeira transformação de Clove viera de dentro. Ela ainda estava aprendendo a confiar nas pessoas, confiar nele também – embora a faca dela estivesse bem guardada no fundo da bolsa –, e era isso o que importava. Com toda certeza, a busca pela verdade quanto à mãe dela, provocou aquela mudança em Clove e logo todos poderiam conhecer a verdadeira Clove, a garota verdadeiramente maravilhosa que ela já havia lhe mostrado que poderia ser.

Porém a voz de Coin interrompeu a divagação de Cato. Ela se dirigiu a Clove dizendo:

– Já que a Srta. Kentwell faz questão, vamos começar os trabalhos.

– Trabalhos? – foi Cato quem perguntou confuso.

– Trabalhos sim, Sr. Hadley. – Coin repetiu, pontuando. – Panem High School tem grandes instalações, e sim, muito trabalho a fazer. As salas precisam ser limpas mais regularmente, assim como os laboratórios, as quadras, a piscina, e claro, os banheiros e vestiários. Por onde vocês desejam começar?

– Por lugar nenhum, não somos seus empregados! – Glimmer disse de pronto, se sentindo realmente ofendida com o que Coin tinha em mente.

– Sinto dizer que até a uma da tarde vocês são o que eu quiser que sejam, Srta. Belcourt. – Coin disse de modo suave e cruel. – Eu disse que seríamos apenas o Sr. Sanford e eu nos próximos dois meses, mas talvez a senhorita queira aumentar o quórum? – e olhando torto para os demais, acrescentou: – Mais alguém vai querer acompanhar a Srta. Belcourt e o Sr. Sanford semana que vem, na limpeza dos quadros-negros?

Glimmer poderia ter gritado de raiva. Mais um sábado sem sua habitual aula de pilates? Mais uma detenção? Não! Mas depois de tanta coragem que demonstrara nos últimos dias, não tinha mais medo da palavra "detenção". E o fato de ter Marvel ao seu lado, tornava aquela circunstância muito mais... agradável.

"Que venha a próxima detenção, professora Coin" – pensou Glimmer.

E enquanto Coin aguardava a resposta verbal naquele silêncio, Peeta não perdeu a oportunidade de ficar calado.

– Mas professora... DIRETORA Coin, os quadros-negros tecnicamente são verdes, então seriam quadros-verdes...?

– Cale-se agora mesmo, padeirinho insolente! – Coin disse com raiva pela primeira vez.

Mas Peeta desobedeceu, respondendo:

– Quando eu estiver na padaria e meu pai perguntar se eu conheço a senhora e se podemos vender fiado, eu também vou ter que calar a boca? – ele indagou, com um meio riso por causa da ousadia.

– CALE-SE! – Coin bradou. – E se mais alguém aqui questionar alguma ordem minha, a detenção estará garantida por não apenas dois e sim QUATRO meses! Vão logo! – ela apontou a saída. – Quero ver aqueles banheiros BRILHANDO depois!

Diante dos gritos enfurecidos da mulher, o grupo foi se levantando das cadeiras sem alarde e se encaminhando para a saída.

– Banheiros? – Cato disse sem acreditar, depois que o grupo estava nas escadarias, longe o suficiente dos olhos de Coin. – Fala sério.

– Ela disse que queria os banheiros brilhando, não disse? – Marvel perguntou despreocupado.

– Marvel... – Glimmer murmurou apreensiva com o que ele dissera calmamente ao pegar o celular.

Clove e Cato também o olharam curiosos.

– Pra quem você tá ligando? – Peeta quis saber.

– Reforços. – disse Marvel com um riso matreiro. – Ou vocês acham que isso vai terminar assim?

Dito isso, o Clube dos Cinco se entreolhou em cumplicidade, sabendo que, com todos eles ali, com certeza era Coin quem ia ter um longo dia de detenção.

– FIM –