– CAPÍTULO DEZ –

"WHAT ABOUT YOUR PARENTS?"

– Cato, eu acho que pode ser ela. – disse Clove, pela primeira vez animada com a possibilidade. – Nora Reynolds...

– Mas é só um nome – Cato respondeu com ceticismo. – Não que não seja importante – ele corrigiu – mas como você disse, ainda tem muito o que procurar.

Marvel intrometeu-se no diálogo:

– Procurar o quê? Quem é essa Nora Reynolds? – ele quis saber, e ao contrário do que Glimmer pedira, sentou numa cadeira e continuou a rasgar o livro.

– Nada! – Cato e Clove responderam juntos, recebendo olhares curiosos de Glimmer e Peeta também.

– Não é ninguém que te interessa – Clove disse por fim.

Compreendendo o "segredinho" que havia ali, Marvel deu de ombros.

– Grande merda – ele debochou, depois virou-se para Peeta: – O que você tava falando mesmo, pãozinho?

Peeta deu um riso bobo antes de responder.

– Katniss Everdeen me convidou pra uma festa... – ele disse sonhador. – Vocês vão?

– Tenho que treinar no fim da tarde – Cato respondeu de pronto.

– E eu vou ficar por aqui mesmo – disse Clove.

– Katniss Everdeen? – Marvel fez pouco caso. – Deve ser alguém que eu comi e não gostei... – ele disse com deboche, mas foi só o que conseguiu fazer.

Sem que Marvel pudesse esperar, Peeta o derrubou da cadeira, empurrando-o para o chão.

– Qual é, perdeu a noção do perigo, pãozinho? – Marvel indagou enquanto se levantava, vendo que o rosto de Peeta estava vermelho de raiva.

– NUNCA fale mal da Katniss na minha frente, entendeu? – Peeta perguntou nervoso. – NUNCA!

Glimmer se aproximou, pondo a mão no ombro de Peeta.

– Não acredite em nada do que ele diz – ela falou calma, como se Peeta fosse uma criança. – Até porque, a sua Katniss jamais iria gostar de um tipo como ele, concorda?

Peeta fez que sim com a cabeça.

– É, você tem razão. – ele concordou com Glimmer, depois disse: – Você vai?

– Aonde? – Glimmer não entendeu.

– Na festa que a Katniss vai fazer hoje à noite. – Peeta explicou. – É uma reunião familiar, poucas pessoas, vai ser legal.

Não gostando nem um pouco do jeito que o pãozinho estava falando com Glimmer, Marvel se intrometeu de novo:

– Eu levo a maconha!

– Muito inteligente! – Glimmer disse com sarcasmo. – É uma festa de família!

– Festas de família me dão no saco – Marvel respondeu no mesmo tom.

Ignorando o comentário, Glimmer voltou a falar com Peeta.

– Sinceramente? Não sei. – ela comentou em relação à festa. – Minha mãe disse que eu não ia poder sair hoje, mas meu pai disse pra eu não ligar, então... Não sei mesmo.

– Por quê? – Peeta não entendeu.

– Eu sempre faço o contrário do que a minha mãe pede, porque o meu pai sempre discorda dela, é complicado e muito chato – Glimmer explicou, com uma pontada de tristeza. – A separação vai acontecer a qualquer momento...

– Gosta mais de quem? – Marvel perguntou de repente.

– O quê? – Glimmer ficou surpresa por ter sido ele a perguntar.

– Você prefere o seu pai ou sua mãe? – ele indagou novamente.

– Nenhum dos dois. – Glimmer respondeu.

– Nem se precisasse escolher um deles? – Marvel insistiu.

– Não escolheria ninguém, nenhum deles dá a mínima pra mim, só me usam pra atingir um ao outro – Glimmer disse por fim. – Talvez eu vá morar com meu irmão Gloss, ou então viajar pelo mundo com a minha irmã Cashmere...

– Isso é uma merda – Clove comentou, concluindo que talvez Glimmer não fosse tão diferente assim dela.

– Eu sei – concordou Glimmer.

– Eu odeio os meus pais – falou Clove, acrescentando: – Mas você tem pena de si mesma.

Glimmer ergueu as sobrancelhas, espantada.

– Claro! – ela comentou chocada. – Se eu não sentir, quem vai?

– Odeia seus pais por que, faquinha? – Marvel se virou para Clove, fazendo piada: – Porque talvez eles sejam o Sr. Garfo e a Sra. Colher? Família completa.

– Cala a boca! Você não sabe de nada! – Clove disse num grito raivoso e Cato tomou a palavra.

– Ela já disse que não te interessa – ele falou para Marvel, em tom de ameaça.

– E quanto a você, campeão? – Marvel indagou, mudando o foco. – Você se dá bem com seus pais?

– Se eu responder que sim, eu sou um idiota, não sou? – Cato respondeu com outra pergunta.

– Você é um idiota de qualquer jeito, campeão – Marvel disse cínico. – Mas se dissesse que sim, provavelmente seria um mentiroso também.

Antes de Cato responder, Peeta falou:

– Eu também não gosto dos meus pais – ele comentou, e era verdade. – E não me dou bem com eles, apesar do ideal de compaixão paternal que eles têm, é muito estranho...

Marvel lhe deu um olhar mortal.

– Pãozinho, você é o sonho de qualquer pai, sabia? – ele indagou em resposta.

– É esse o problema – disse Peeta.

– Quer a real? – Marvel perguntou e Peeta assentiu: – Você não passa de um zero à esquerda. O que mais você pode esperar da vida além de se tornar um cidadão exemplar?

Peeta baixou os olhos e um silêncio estranho se fez. Glimmer então esganiçou-se:

– Por que tá insultando o Peeta? – ela gritou com Marvel. – Você tem mesmo que fazer todo mundo se sentir mal só pra você se sentir melhor?

– Eu só estou sendo honesto, princesa – ele respondeu. – Pensei que você notaria essa diferença!

Glimmer suspirou inconformada.

– Fique sabendo que quando o Peeta não tinha obrigação nenhuma – ela disse nervosa –, ele fez um mapa do depósito e desenhou a janela de emergência porque EU queria te ajudar!

O riso de escárnio de Marvel interrompeu-se por um momento, mas ele voltou ao normal.

– E daí?

– Eu quero que você peça desculpas pra ele AGORA! – Glimmer mandou.

Marvel não se moveu nem disse nada. Glimmer então pegou o iPhone em sua bolsa antes de dizer:

– Sabe esse vídeo? – ela perguntou para Marvel e todos a olharam curiosos. – Ou você pede desculpas pro Peeta ou eu apago antes de você colocar os olhos nele!

– Vídeo? – Clove indagou, mas ninguém lhe deu ouvidos.

– Você não faria isso comigo. – Marvel respondeu convencido.

Mas Glimmer não estava brincando.

– Não? – ela debochou, selecionando a opção "excluir" no aparelho. – Pra mim, esse vídeo não é tão importante, não do jeito que é pra você. Ou você prefere pagar pra ver?

Peeta se manifestou.

– Tá tudo bem – ele disse a Glimmer. – Eu juro.

– Não, não tá! – Glimmer discordou, olhando para Marvel. – Mas vai ficar. Eu não quero ter que falar outra vez... Marvel, por favor...

Finalmente, Marvel concordou.

– Me desculpe – ele disse de má vontade, mas disse.

Peeta assentiu e Glimmer deu-se por satisfeita.

– Agora esse assunto está encerrado. – ela concluiu, mas Clove a interrompeu.

– Não! – disse a morena. – Eu quero saber que vídeo é esse!

– Nada que te interesse. – Marvel respondeu usando a mesma frase de Clove.

– Quer saber por que eu odeio meus pais? – Clove indagou, sem perder a discussão e a verdade lhe escapou pela garganta: – Porque eles não são meus pais verdadeiros! É isso!

– E você faz alguma ideia de quem seja? – Glimmer quis saber.

– Não! – disse Clove. – Só sei que a minha mãe se chama Nora e já estudou aqui. E eu vou entrar na sala do Snow depois, pra procurar arquivos que tenham esse nome, começando por essa Nora Reynolds que vocês falaram! Agora me diz: que vídeo é esse? Eu quero saber se tem alguma coisa a ver comigo, caramba!

Glimmer deu um riso cínico.

– Não, não tem. Eu filmei o Snow confessando que já abusou... – ela se refreou antes que pudesse falar da irmã de Marvel – ...de alunos da escola.

– O quê? – Peeta e Clove indagaram juntos.

– Isso é dinamite pura! – Cato comentou.

– O Snow vai ser afastado da escola – Glimmer disse baixinho.

– É! – Clove disse num sorriso.

– Que demais! – Peeta exclamou sem se conter.

Esquecendo-se de todas as suas diferenças, naquele momento todos podiam compartilhar a alegria de ter Snow fora da escola em breve. Aquilo era uma vitória, tanto particular quanto coletiva.

– Eu sempre soube que ele era pedófilo – Marvel disse e todos com exceção de Glimmer o olhavam espantados. – Aí, vocês querem mesmo entrar na sala dele?

– É óbvio! – foi Clove quem respondeu, mas Glimmer ficou apreensiva.

– O que você vai fazer? – a loira perguntou.

– Vocês vão saber logo – disse Marvel, antes de sair da biblioteca.

Glimmer fez menção de ir atrás de Marvel, mas foi paralisada pelo barulho inconfundível que veio do corredor. O barulho de uma arma sendo disparada.