The Devil's Daughter escrita por Ninsa Stringfield


Capítulo 22
Capítulo 22




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Se era porque estava com raiva dele, ou porque estava com vergonha, Katherine não saberia dizer, mas quando Ivy adentrou a sala, ela imediatamente se levantou e bloqueou Finn do campo de visão da amiga.

Elas ficaram se encarando por tanto tempo, que Katherine quase se esqueceu que estava toda machucada de novo, mas quando seu olhar recaiu sobre os pequenos galhos de plantas que Ivy segurava, ela piscou, confusa. Tudo em seu corpo voltou a pulsar, mas ela tentou não ligar.

- O quê... - começou Katherine, mas ela não sabia o que dizer, então parou, atônita.

- E-eu - gaguejou Ivy - Vejo que você já está se sentindo melhor.

- É - Katherine soltou o ar que não percebeu que estava segurando e olhou para o braço - Você fez isso?

- Mais ou menos - ela se contorceu como se não tivesse certeza se contava ou não - Não estava tão ruim como deveria estar. Não que tivesse que estar ruim - ela completou rapidamente - Mas, você sabe, feridas abertas no poço são...

- No poço? - repetiu Katherine levantando o olhar - Como você...?

Ivy mordia seu lábio inferior, triste, assim como seu olhar estava, Katherine percebeu. As juntas de seus dedos ficando cada vez mais brancas ao redor dos galhos finos que ela segurava.

- Você não vai contar para ela? - Finn falou atrás de Katherine. Ela quase tinha se esquecido de que ele estava ali.

- Contar o quê? - ela perguntou, alternando seu olhar de Finn para Ivy.

- Que ela é uma bruxa - disse uma voz vindo do corredor de onde Ivy tinha aparecido - Desprovida, aliás.

Ivy soltou o ar que estava segurando com força, e fechou os olhos com a mesma intensidade, Katherine conseguia ver, mesmo de longe, todo seu corpo tremendo.

- Isso é verdade? - perguntou se virando para a amiga, que continuava imóvel, sem responder - Ivy!

Ela abriu os olhos, eles estavam brilhando, mas Katherine sabia que não era de alegria, ela estava prestes a chorar.

- Katherine, eu... - ela hesitou ao ver a cara de Katherine - Eu sinto muito. Eu não queria esconder isso de você, mas Paim sempre te manteve tão longe disso tudo que eu não podia jogar na sua cara toda a verdade!

Katherine pôs as mãos na cabeça, e deixou seu corpo cair no sofá de novo.

- Você sabia que ela não era minha mãe.

- A sua mãe escolheu a mim e a Paim para cuidar de você - ela continuava a segurar os galhos com força - Para te proteger.

- Quem é ela? - ela levantou o olhar para Ivy - Quem é minha mãe?

Ivy recuou balançando a cabeça, as lágrimas finalmente começando a cair.

- Eu não posso...eu não posso te contar. Me desculpe.

- Ela é minha mãe! - gritou Katherine - Eu tenho direito de saber.

- Katherine, apenas pense - Ivy avançou na direção da amiga com os braços cuidadosamente levantados - Por que ela se esconderia de você? Para que tantos segredos? Ela está te protegendo.

- Eu não acho que ela esteja fazendo um bom trabalho, considerando tudo o que aconteceu - disse ela - Só essa semana.

- Ela tentou te manter longe de tudo isso, de toda a sujeira que o nosso mundo possuí! - sua voz estava histérica - Você viu as coisas que existem lá fora. Você também não iria querer manter sua filha longe disso?

- Suas filhas - corrigiu ela - Porque eu tenho uma irmã sabe, ou você também vai me dizer que ela estava me protegendo mantendo longe de Niah?

- É complicado...

- É claro que é - disparou Katherine - Nada é fácil, e me mantendo longe disso tudo, ela me fez ficar mais fraca, mais vulnerável, onde isso é bom?

Ela não respondeu. Mas Katherine estava cansada, cansada de toda a verdade derrubar seu mundo, cansada de descobrir que todo seu passada não tinha passado de uma completa mentira e que isso iria destruir seu futuro, e principalmente, ela estava cansada de descobrir que todos que amava na verdade nunca a amaram de volta, porque eles nem ao menos eram reais.

- Por favor - pediu Ivy - Apenas...apenas me perdoe.

Ela encarou a amiga por um bom tempo. Já tinha se esquecido das outras pessoas dentro da sala, como a presença do homem que tinha dito que Ivy era uma bruxa, mas agora sentiu como se as duas estivessem realmente sozinhas. Ela conseguia sentir a intensidade do olhar de Ivy sobre ela assim como todas as vezes que elas brigavam e ela vinha pedir desculpa. A testa sempre um pouco franzida.

- Você é a única coisa que me resta de tudo o que eu era antes - decidiu Katherine - Nem que eu quisesse eu poderia te odiar.

Com um grande sorriso, Ivy gritou e pulou em Katherine, jogando os galhos que segurava para longe. Ela sentiu uma pontada no ombro mas não ligou quando começou a rir também e a abraçar a amiga. O ataque das duas foi interrompido por alguém que pigarreou atrás delas. Katherine se virou e encarou o homem que ela não conhecia. Ele aparentava ter trinta e poucos anos, os óculos de leitura estavam pendurados em um cordão em seu pescoço, ela achava aquele jeito meio antigo, mas não disse nada.

- Então você é a famosa Katherine - disse ele com um sorriso, os olhos vermelhos brilhando do que parecia ser curiosidade enquanto estudavam a garota - Muito prazer, sou Colton, já deve ter ouvido falar de mim.

Ela acenou com a cabeça, não se atrevendo a estender a mão, e olhou para o outro lado. John estava debruçado sobre uma cadeira a alguns passos a distância, e parecia entretido tirando alguns fios de sua roupa.

- Então - Ivy disse, percebendo o clima da sala - Alguém está com fome?

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Estar sentado numa mesa cheia de gente que ela mal conhecia deveria ter sido estranho para qualquer um, incluindo Katherine, que sempre fora muito anti-social, que se mantinha na dela quando possível, e cuja frase padrão era "eu não gosto de pessoas". Mas ali, comendo sorvete do pote com uma colher gigantesca, ela não poderia se sentir melhor.

Talvez aquele dia poderia ser considerado o dia da paz mundial, quando Katherine Walker resolveu que estava muito cansada para odiar alguém além de si mesma e resolveu perdoar a todos. Não que ela tenha contado isso a Finn, que levava uma patada toda vez que tentava falar com ela. Mas nem dele ela sentia mais raiva, ela estava mesmo cansada, daria tudo para ir para a cama macia do seu novo "quarto" e se enterrar debaixo das cobertas por pelo menos dois dias, mas quando Ivy sugeriu que Katherine comesse alguma coisa, ela se atirou na geladeira da amiga e pegou o primeiro pote de sorvete que vira em sua frente e o estava sumindo com ele em parceria com uma colher grande demais para a tarefa, que tinha sido a primeira que ela havia encontrado.

Finn tinha se sentado ao lado dela, e mesmo sobre os protestos da garota, conseguiu fazê-la dividir o pote de sorvete com ele, onde eles se alternavam com a colher. Ela só percebeu que não sentia mais raiva dele quando Colton fez uma piada sobre coisas que ela realmente não conhecia e todos menos ela começaram a rir, ela fingiu um sorriso e enfiou mais uma colherada na boca, olhando para Finn.

Ela não sabia o que realmente esperava dele, quando ela pensou que ele a tinha largado o que mais doeu não foi o fato de que ela sabia que morreria, mas o fato de que deixando-a, ele meio que provava que não gostava dela. Ela retirou lentamente a colher da boca, pensativa, será que estava gostando de Finn? Revendo suas memórias, ela se lembrou dos dois beijos dos dois e um "sim" patético ecoou em sua mente. Em nenhuma das situações ela tinha realmente pensado no assunto, ela o tinha beijado como se fizesse aquilo sempre, e só agora que pensava sobre o assunto, é que percebia o quão precipitada tinha sido.

E o pior de tudo é que a imagem de Chris vinha a sua cabeça depois desaparecia rapidamente, como se fosse uma memória distante, incompleta. Como ela contaria para ele que estava apaixonada por um cara que nunca poderia sentir o mesmo por ela? Não que ela não tivesse esperanças, não só por ela ser assim cheia de esperanças, mas pelo o que ele tinha lhe dito na caverna. No momento, a fala pareceu tão certa que Katherine não pensou que poderia ser mentira. Mas ali, ouvindo Colton e os outros rindo de casos de garotas que tinham sido enganadas por filhos do diabo que fingiam que sentiam alguma coisa por elas, ela se sentiu idiota. Talvez ela fosse mesmo, e deveria parar de pensar que sentia alguma coisa por Finn sabendo que aquilo não iria para frente.

Mas então, quase como lendo seus pensamentos, Finn se virou para ela e sorriu. Não era como o sorriso vazio que ela via no rosto de Niah, parecia algo verdadeiro, talvez fosse apenas sua mente apaixonada iludindo-a, mas algo naquele sorriso fazia com que todas as suas teorias de que nunca poderiam ficar juntos parecessem coisa de criança. Ele limpou a garganta.

- Algum problema? - perguntou, pegando a colher que pairava no ar da mão de Katherine e dando uma colherada no sorvete que já estava quase derretido.

- Nenhum - disse ela, se sentindo corar, ela voltou o olhar para a mesa - É que pensei que tínhamos saído do Inferno procurando por respostas.

- Bom, John não sabe porquê você se curou, então acho que viemos aqui para nada.

- Que respostas? - perguntou Ivy enfiando o dedo no pote de sorvete de Katherine e lambendo a massa do dedos.

- Ela ingeriu meus veneno e sobreviveu - John respondeu por ela. Ele e Colton estavam comendo um pote de salgadinhos que Ivy tinha posto para eles. Ao ouvir as palavras do monstro, ela engasgou.

- Você sobreviveu a veneno de Dilige?

- Meu Deus - exclamou Katherine - Vocês falam disso como se desejassem que eu estivesse morta.

- Não faça disso uma opção - disse Colton casualmente, como se estivesse falando "Olá".

- Não - Ivy disse levantando um ombro - É só que eu nunca tinha ouvido nada como isso antes.

- Isso quer dizer que eu meio que faço milagres acontecerem?

- Bom - disse Finn - Você sobreviveu a veneno de Dilige ao ar do poço. Podemos considerá-la como uma excessão para tudo.

- Isso quer dizer que eu tenho um problema? - perguntou ela - Tipo dos muito sérios?

- Eu não consideraria sobrevivência como um problema - comentou Colton.

- Talvez se você sobreviver demais você começa a ficar cansado.

- Talvez - disse ele com uma risada. Ele a encarava avidamente. O olhar que parecia estudá-la não deixava seu rosto, e isso estava começando a deixar Katherine desconfortável.

- Então - disse Finn interrompendo o silêncio - Acho que devemos voltar para o Forte, Niah deve estar preocupada.

- Okay.

- Vocês já precisam ir? - Ivy soava triste - Podem ficar um pouco mais se quiserem. Meus pais vão demorar a chegar em casa.

Finn se virou para Ivy como se pretendesse perguntar alguma coisa, depois balançou a cabeça e se virou para voltar para a sala. Os outros foram atrás.

- Você vai voltar, não vai? - perguntou Ivy segurando seu braço antes de Katherine chegar na entrada.

Ela olhou para fora da casa, na direção de Finn, ele encontrou seu olhar, foi apenas por um segundo, mas o jeito que se alongou na cabeça da garota deu a resposta por ela, nada sincera.

- Sim - disse ela ainda sem olhar para a amiga - Sim, claro.

A outra sorriu, um sorriso fraco. Ela sabia que era mentira. Katherine se virou para a entrada novamente, mas Ivy segurou seu braço novamente, fazendo a garota parar e virar a cabeça para trás.

- E, Katherine... - ela disse se aproximando do ouvido da outra - Mais uma coisa - ela abaixou a voz - Tome cuidado com o Galã Smith ali, você sabe do que filhos do diabo são capazes.

- O quê quer dizer?

- Não se apaixone tão rápido por ele assim - disse ela - Ah, por favor, eu vi o jeito que você olha para ele - completou quando viu o olhar ofendido de Katherine - Apenas tome cuidado, filhos do diabo são conhecidos pela fama de destruir corações.

Ela se viu assentindo, mesmo sabendo que deveria negar, dizer que não precisava tomar cuidado já que não sentia nada por ele, mas ela sabia que isso era mentira, e Ivy sabia reconhecer uma mentira.

- Eu vou tomar.

Ivy deu outro sorriso, esse era mais simpático, um sorriso de adeus, até parecia que elas nunca mais iriam se ver, e algo dentro de Katherine quase aceitou isso, achava que quanto mais longe da amiga estivesse, mais protegida Ivy estaria. Elas deram um abraço rápido, e logo Katherine se viu andando na rua ao lado de Finn. Ele se virou para ela.

- O que ela disse para você ali na entrada?

- Apenas para tomar cuidado - ela disse olhando para o chão, para proteger os olhos do brilho do sol. E também para não olhar para Finn, cuja imagem reluzia sobre a luz solar, seus contornos ficando ainda mais definidos.

- Com o quê exatamente?

- Com o amor - disse ela se virando para ele pela primeira vez, ele também olhava para ela - Ela disse que eu sou uma novata nessa história de romance e que eu deveria tomar cuidado quando eu me apaixonasse de verdade.

- Isso foi uma referência ao seu namorado?

- Sim - disse ela quase que imediatamente - Eu estou loucamente apaixonada por ele.

Ele sorriu para ela e avançou o passo, ficando ao lado de Colton e iniciando uma conversa. Ela não podia deixar de notar como suas costas pareciam menos graciosas do que sempre e também que ela se sentia estranha quando não estava ao lado dele. Quase como se estivesse sozinha. Sozinha e perdida naquela estrada sem fim.


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