The Devil's Daughter escrita por Ninsa Stringfield


Capítulo 21
Capítulo 21




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Depois de todos aqueles anos sem sentir uma única faísca quando olhava para alguém, Finn já tinha aceitado o fato de que nunca chegaria a sentir alguma coisa de verdade por alguém novamente, e por muito tempo tinha pensado que isso seria algo bom. Depois de tudo pelo que tinha passado, sentir algo era a última coisa que queria. Mas ali estava ele, segurando o corpo daquela garota entre seus braços desesperado, não conseguindo tirar os olhos dela e rezando para que ela estivesse bem.

Ele sabia que Katherine só estava daquele jeito por sua causa, ele sabia que a culpa era sua, que ele não deveria tê-la abandonado sem explicar direito o que estava prestes a fazer. Ele deveria tê-la explicado que a dor pela qual os Poen's se alimentavam era na verdade a dor mental de uma pessoa, não física. Mas agora já era tarde. Uma ferida aberta no corpo de uma pessoa era na verdade uma entrada para tudo de ruim que cercava aquele lugar. O poço era habitado por monstros, criaturas que foram arrancadas de sua realidade bruscamente e transformadas em seus piores pesadelos, nada no ar que elas respiravam poderia ser bom.

– Faça alguma coisa! - ele gritou para o Dilige parado na sua frente - Ela está assim por sua causa, faça alguma coisa!

– Tecnicamente - disse John se aproximando e agachando ao lado de Katherine - Ela está assim por sua causa. Eu os estava assistindo junto com Hal, eu vi o que você fez.

– Era o único jeito - se defendeu ele - Era o máximo que eu conseguia sentir.

– O quê realmente está acontecendo com ela? - perguntou Finn depois de um tempo.

– O ar tem certos pigmentos, por assim dizer, o ar que alguns demônios respiram ficam contaminados graças ao que eles consumiram - explicou John - O ar que eles expiram é tóxico.

– Temos que tirá-la daqui...

– E para onde você está pensando em levá-la? - perguntou o outro levantando Katherine e apoiando um de seus braços em volta de seu pescoço. Finn a apoiou do outro lado.

– Conheço um cara que pode nos ajudar, mas vou precisar de um portal.

– Tudo bem. Tem um aqui perto, quer que eu carregue ela sozinho?

Finn segurou o braço de Katherine com mais força. De algum jeito, mesmo ela estando inconsciente, ele conseguia sentir um leve formigamento na lateral de seu corpo que esbarrava com a dela, atravessando o tecido fino de sua camisa como choques elétricos.

– Nao, não - disse ele com certa frieza na voz - Eu aguento.

O outro deu de ombros e começou a conduzi-los na direção de uma passagem estreita na mata. Finn teve que tomar o máximo de cuidado que pôde para não deixar que os galhos finos e traiçoeiros de algumas árvores não arranhassem a pele de Katherine, já que toda vez que algo de ruim ameaçasse acontecer com ela, ele estremecia, como se a dor perfurasse a ele próprio.

Eles adentraram um pouco mais na mata. O lugar era muito escuro, mas Finn, por ser um filho do diabo, tinha toda aquela vantagem de conseguir enxergar no escuro. Isso era reconfortante as vezes, mas toda vez que ele entrava na floresta silenciosa do inferno, ele se sentia desorientado. Tudo parecia ser mais difícil quando ele estava ali, como se uma força maior sugasse todas as forças de seu ser. Mas carregando Katherine do jeito que estava, ele se sentia mais forte, e boa parte dele sentia medo disso.

John parou quando eles chegaram perto de um tronco grosso de árvore. Ele usou as raízes grossas da árvore que pulavam de dentro da terra para se esgueirar até o tronco e tocar em sua superfície. Como se esperando ser tocada, um quadrado de luz se acendeu no meio do tronco, e uma base preta, como uma porta, ameaçou sugá-los. O monstro olhou para Finn, depois voltou a apoiar o outro lado do corpo adormecido de Katherine.

– Pronto, filho do diabo? - ele gritou por cima da ventania que se formou na frente deles - Sabe o que fazer, não? - Finn assentiu - Ótimo, então apenas pense no lugar e nós pulamos no buraco - ele esperou uma reação de Finn, mas como este não fez nada ele balançou a cabeça - Agora!

Eles avançaram, e Finn segurou o corpo de Katherine com ainda mais força. Ele fechou os olhos e a imagem do lugar que pretendia ir se formou na escuridão. Ele sorriu e pulou no buraco, puxando os outros dois consigo.

Passar por um portal não era nada estranho para ele, mas toda vez que fazia isso, ele sentia uma pontada em sua espinha. O que estava fazendo era basicamente pular, apenas pular e logo você estaria aonde pretende ir. Atravessar o portal não era como uma queda, ou como o impulso que o puxava para outro lugar que ele sentia toda vez que se teletransportava com Blake, ele até se sentia mais seguro quando fazia aquilo, pois era o que mais se parecia com atravessar uma porta.

Ele abriu os olhos quando sentiu seus pés baterem em uma estrutura plana. Estavam na frente de uma casa que se destacava no meio de tantas outras iguais. Aquela era a casa de Colton, o único que ele confiava que poderia ajudá-los. Sua casa mais se parecia com uma cabana do que outra coisa. Era toda feita de madeira, as janelas eram grandes e de um vidro escuro, não possibilitando alguém que estava do lado de fora observasse os habitantes do local. A casa tinha dois andares, sendo o cômodo que se localizava em cima da entrada com uma varanda, onde um homem aparentando ter uns trinta e poucos anos estava sentado com os pés para cima, os óculos de leitura sobre o rosto e um livro de culinária apoiado no colo. Ele olhou para baixo na direção de Finn, depois se voltou para o livro.

– O quê faz aqui garoto?

– Ela precisa de um antídoto - gritou ele para que o homem pudesse ouvi-lo - Ela estava com uma ferida aberta no poço.

O homem se voltou para eles e abaixou um pouco os olhos.

– Quem é essa?

– Katherine - disse Finn - Katherine Walker, irmã gêmea de Niah.

Até o homem não se mexer, Finn não tinha percebido que estava esperando uma reação de surpresa, uma cara de espanto ou qualquer outra emoção que alegasse confusão. Mas ao invés ele apenas dobrou as pernas e apoiou os pés sobre o chão novamente e depois desapareceu dentro da casa, minutos depois, ele apareceu na porta. Os olhos vermelhos brilhando com a luz do sol que estava nascendo.

– É melhor entrar - disse ele - Rápido, e... - ele viu John e se apoiou na porta, cruzando os braços sobre o peito - John? - perguntou ele.

O monstro apenas assentiu com a cabeça.

– Ele está ligado a ela - respondeu Finn sem olhar para ele - Ela salvou sua vida.

Sem dizer mais uma palavra, ele abriu espaço e Finn e John entraram carregando Katherine e colocaram-a deitada em um sofá. Ali, observando-a, ele poderia dizer que ela estava apenas dormindo, suas feições estavam relaxadas, e se pareciam muito com o desenho que ele tinha feito dela.

– Ela precisa de uma bruxa - John disse, se seitando em uma cadeira próximo ao sofá.

– Eu conheço a desprovida perfeita - anunciou Colton, o sorriso divertido estampado no rosto.

******************************************************************

Só naquela semana, Katherine já tinha se machucado mais do que se machucara em toda sua vida. Ela nunca tinha desmaiado antes, mas agora a sensação era apenas familiar, ela sempre sentia seus músculos ficando rígidos, como se pretendessem lutar contra a dor, depois uma pequena faísca em seu corpo, como que avidando-a que ela não resistiria, então a escuridão chegava, e ficava ali até que ela abrisse os olhos. Mas desta vez, não foi a luz que a despertou, mas sim a música:

"[...] We stood steady as the stars in the woods

So happy hearted in the warmth

Rang true inside these bones

As the old pine fell we sang

Just to bless the morning [...]"



Ela conhecia aquela música tão bem quanto conhecia a si própria. Katherine levantou a cabeça e o tronco como se estivesse submersa na água por muito tempo e acabara de encontrar a superfície, com um longo suspiro. Ela virou a cabeça para os dois lados, ainda um pouco zonza e encarou Finn sentado em uma cadeira próxima, ele estava com a cabeça apoiada para trás, e seu peito subia e descia pesaroso, como se ele estivesse carregando uma carga pesada sobre as costas, os olhos fechados.



Ela se sentou no sofá que a pouco estava deitada e apoiou a mão na cabeça, a música entrando e zumbindo em seus ouvidos. Lentamente, a letra de Old Pine do Ben Howard, um dos cantores preferidos de Ivy, foi se formando em sua cabeça. Talvez, se Katherine não tivesse ouvido essa música tantas vezes em sua vida, ela não teria sido capaz de traduzi-la enquanto se ajeitava melhor no sofá e olhou para o próprio braço, que estava enfaixado. Ela se sentiu melhor assim que percebeu que não chegaria a ver aquele corte tão cedo e levantou o olhar.





Como que percebendo o olhar sobre si, Finn abriu os olhos. Piscando várias vezes para se manter acordado, ele se ajeitou na cadeira com um sorriso.



– Está se sentindo melhor?

– Eu não acho que você se importe - acusou ela.

– Não diga isso, Kath - sua voz era quase um sussurro, como se ele estivesse com medo de que alguém pudesse ouvi-lo, mas pensando bem, parecia mais que ele estava com medo de que o que estava dizendo pudesse ser verdade - Você sabe que eu me importo.

– Então você chama "se importar" de deixar alguém morrendo afogado em uma caverna?

– Eu não te deixei. Aquele era o único que jeito que nós dois poderíamos ter saído!

– Ah, mas é claro - exclamou ela - Eu estava me saindo muito bem sozinha, obrigado pela ajuda.

Ela não conseguia se ver, mas sabia que estava vermelha, assim como Finn, que não estava mais relaxado na cadeira.

– Eu pensei que tínhamos que sofrer - continuou ela - Mas pelo jeito eu estava enganada.

– E nós tivemos!

– Você não teve.

– Sim, eu tive.

– A não ser, é claro, que você tenha cortado o dedo quando estava escapando da caverna - disse ela - Foi assim que você se machucou?

– Eu te disse que existem muitas formas de machucar uma pessoa.

– Então você pode me explicar que terrível dor você sofreu porque eu estava muito ocupada morrendo e não consegui prestar atenção.

Antes que ele pudesse responder, alguém entrou na sala, e Katherine sentiu que alguém estava batendo com força em sua cabeça. Os cabelos ruivos estavam presos em um coque frouxo, mas mesmo assim era reconhecível. Ela olhou em volta desesperada. Como não tinha percebido antes? Depois de anos, aquela casa deveria ter sido familiar, assim como a música...

– Ivy?

– Olá, Katherine - respondeu ela com um sorriso. O sorriso que ela sempre lançava para os pais quando fazia algo errado e sabia que eles tinham descoberto.


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Notas finais do capítulo

avisando novamente que coloquei um link no capítulo, só em caso de alguém querer ouvir a música que foi citada.
espero que gostem dela (é uma das minhas preferidas kkk)



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