POV MADALENA

Acordei cedo, mesmo antes do despertador avisar que estava na hora de levantar. Não sei se foi por causa de ter regressado ao colégio depois de minhas passagens pelo hospital ou se foi do medo que tenho de olhar no rosto dele. Ou melhor no rosto deles.

Não via Tiago desde sua aparição repentina em minha casa e Carlos precisamente desde a mesma data. Um saiu por vontade própria depois do que assistiu, o outro saiu porque eu pedi.

Não sabia o que fazer naquele momento e ficar sozinha sem duvida que foi a melhor opção.

Tomei um banho e fiz minha higiene pessoal. Peguei uma roupa perdida no armário e encaixei em mim. Não sei mas me sentia ansiosa e quando terminei de arrumar o quarto, preparar a bolsa e tudo o que fosse necessário para meu dia escolar ainda tinha bastante, mas mesmo bastante tempo.

Me sentei na cama feita, mas segundo depois me levantei, quando vi que a estante tinha uns livros desarrumados. Me sentei na cadeira da secretária e quando notei que tinha deixado a cama amarrotada me ergui de novo pra dar um jeito.

Fiquei andando de um lado para o outro, marcando minhas pisadas no chão, reparando em todos pormenores e consequentemente nas horas que os ponteiros do relógio marcavam. Cruzei os braços e levei a unha na boca, mas me arrependi, pois segundos depois meu cérebro começou alertando que roer unhas é feio.

Parei e me sentei mais uma vez na cama. Estava com medo, mas ao mesmo tempo ansiosa. Queria descer logo.

_ Dane-se! – resmunguei pra mim mesma, peguei a bolsa e desci até á cantina.

Já havia bastante gente comendo, mas eles não estavam. Abri a porta para entrar e ao mesmo tempo a porta da frente também se abriu e meu olhar e de Tiago encontraram-se. Ele não exprimia qualquer tipo de expressão e eu parecia parada no tempo. Tudo á minha volta parecia insignificante naquele momento. Sentia meu coração saindo fora do peito, minha garganta secou e por muito que eu tentasse humedecê-la não tinha saliva na boca, engolindo em seco.

Vi alguém se aproximar por trás de Tiago, passando a mão por seu abdómen e brindando seu rosto com um beijo, lançando depois o olhar de víbora pra mim.

Acordei para a vida e baixei o olhar do show deprimente que Vanessa estava dando. Mais um pouco e aquilo que ela estava fazendo com Tiago dava um belo de um começo para um filme pornográfico. E o que mais me enervava era ela estar fazendo tudo aquilo, me olhando com ar provocador. Tiago também pareceu acordar e passou seus dedos pelo braço que envolvia seu pescoço. Olhou para ela e foi impedido de falar com um beijo que calou sua boca.

_ Ela gosta mesmo de protagonismo! – olhei para o lado e vi Valéria admirando a ceninha insana dos dois.

Sorri desiludida e segui até á área dos tabuleiros me servindo e caminhando até uma mesa tentando não olhar, mas foi inevitável!

E depois de ter superado a primeira barreira, esqueci da segunda e quando Carlos apareceu eu tive uma sensação de mega déjá vu. De novo quatro olhos cruzados, meu coração ameaçando pular em cima da mesa, minha garganta suplicando por eu e eu morrendo de nervosismo.

Mas com Carlos foi mais fácil ele serviu-se e depois sentou-se na nossa mesa, no assento de meu lado.

_ Bom dia. – ele segredou no meu ouvido enquanto disfarçava puxar a cadeira pra frente, aproximando seu corpo da mesa.

Não falei apenas engoli um naco de pão olhando ele nos olhos.

_ Lucas me falou que logo os meninos do time vão fazer uma festa, aqui no colégio. – Valéria comentou.

_ E o diretor? – Carlos entreviu.

_ Pelo que parece ele não vai estar e eles vão aproveitar a ausência para celebrar. Ele me convidou e falou pra avisar geral.

_ Ui, Lucas te convidou? – não sei mas essa coisa de Lucas e Valéria, tinha gato, será que haviam novidades e eu ainda não sabia? Mas também não perguntei estava lá Carlos e, bem vocês sabem, coisas de garotas ficam entre garotas.

_ Sim e falou pra eu levar pessoal! E vocês os dois claro que estão lá, certo?

Ao mesmo tempo eu e Carlos nos pronunciamos mas com opiniões bem diferentes, ouvindo-se duas vozes um tanto para o estranhas.

_ Claro! – ele falou.

_ Eu acho melhor não! – disse no mesmo e preciso segundo.

_ Madalena! – Valéria suplicou, tipo meia desapontada. – Vai ser bom e ainda podemos comemorar seu regresso!

_ Não tem nada pra comemorar! – arrebatei dando um gole no suco.

_ Isso é que tem! – dessa vez foi Carlos o porta voz! – Você voltou e é pra curtir. Vem com a gente e ponto final.

_ Mas eu não quero… - o sinal batendo impediu-me de terminar, me deixando com a boca em forma de “0”.

_ Ficar?! Era isso que falaria, né? – Valéria pegou sua bolsa me provocando e me puxando pra aula.

…

Estava arranjando o cabelo no banheiro e pelo que já conhecia de Valéria, não tardava e ela invadia meu quarto, sem pelo menos pedir permissão. Tagarelando alguma novidade e perguntando vezes sem conta se eu já estava pronta.

Passou todo o santo dia me enchendo o saco com “ Você tem que ir!” ; “Vai ver que vai curti!” e ,muitas mais coisas que eu já esqueci, sem falar que Carlos eram tanto ou mais chato que ela. Até na hora das aulas eles dois fizeram complô contra mim, me enchendo a caixa de mensagens do celular com uma mensagem nova a cada 10 segundos.

Ajeitei a blusa que parecia não assentar lá muito bem em mim e torci o nariz, aquilo já estava me irritando. Era a num sei quanta vez que esticava ou mexia nela e nunca estava direito.

_ Então tá pronta? – é parece que eu não me enganei.

_ Eu tinha razão! – pensei alto.

_ Ãhn?

_ Nada. – corrigi.

_ Nossa, menina você tá linda!

_ Só espero é não me arrepender! – não estava respondendo pra seu ótimo entusiasmo, que mais um pouco me enjoava.

Arranjei a saia e peguei dei um jeito numa mecha de cabelo que me incomodava, contornei os lábios e me voltei para a anta, que me bombardeou logo:

_ Vamos?

_ Quem te atura com certeza vai pro céu! – puxei ela quarto fora e depois deixei ela me guiar até ao ponto de encontro da galera.

Pensei que fosse na sala de convívio, ou no bar, ou até mesmo num quarto de alguém, mas não era perto do jardim, numa área onde quase ninguém metia o pé.

Tinham feito uma fogueira e já muita gente se reunia. Alguns ainda estavam chegando e iam cumprimentando quem se aproximava.

Será que Tiago iria? Claro, que sim! Afinal ele pertence ao time. E não perderia uma festa nem por nada. Não sei mas depois de nosso ultimo contato, digo quando ele apareceu lá em casa e eu nem uma explicação dei pra ele, e a verdade é que também não havia, eu sentia que precisava falar com ele.

Corria uma brisa gostosa e eu via a dificuldade que Valéria tinha em segurar seus fios ruivos. No meio da escuridão alguém caminhou até a gente.

_ Oi lindonas! – somente Lucas para roubar uma risada das duas.

_ Oi Lucas! – falamos em uníssono depois de trocarmos um olhar cúmplice.

_ Preparadas para a melhor noite das suas vidas? –ele passou o braço pelos ombros de cada uma, pondo-se entre a gente.

_ É mesmo? – Valéria perguntou, entrando no joguinho dele. E eu fiquei com a sensação eu essa estava prestes a ser uma grande noite pra ela, e ainda mal tinha começado.

_ No que depender de mim, posso te garantir que vai ser inesquecível! Tiago e Vanessa estão ali, venham! – Lucas impulsionou gente acelerando o passo.

Chegámos num circulo que se formava basicamente por casaizinhos, dispersos aqui e acolá. Não tinha muita gente, e parecia que quase ninguém sabia, pois de num sei quanto alunos que aquela espelunca tinha apenas 2 ou 3% marcavam presença. A maioria eram jogadores do time e as lideres de torcida, que na maioria faziam par romântico com um deles, tirando algumas exceções.

As chamas iluminavam o escura e aqueciam também. Toby, um menino do time, que de feio não tinha nada, olhou pra gente e falou pra Lucas:

_ Trouxe companhia… - seu ar gay explicava tudo, nem valia a pena comentar sua provocação pra humilhar Lucas.

Kiara estava sentada em seu colo, acarinhando seu peito e o cabelo e se aconchegou melhor depois do namorado falar. Eles eram dos mais antigos casais do time, e pareciam gostar bastante um do outro. Ela sorriu doce ainda sobre o efeito da piada de Toby, cutucando seu ombro, como que pedindo pra ele parar.

O assunto logo virou sobre futebol e esportes, mas eu não conseguia prestar atenção. Bem na minha frente estava Tiago. Sentado no chão, com o típico ar de Badboy, com as pernas abertas, o suficiente para Vanessa caber no meio e com os joelhos dobrados. Tinha uma mão sobre o ombro dela, e a víbora fazia questão de segura-la. Deixava ela encostar-se em seu peito e Vanessa, aproveitando isso distribuía beijos na curva do seu pescoço brincava com a gola da camisa.

Ele ergueu o olhar um pouco e quase deu faísca. Pensava que ele mostrasse alguma coisa, sei lá… Incomodo, desconforto, dor, nojo,… Qualquer coisa… mas não ele parecia indiferente quanto á minha presença. E eu apenas me perguntava como ele conseguia depois de tudo o que rolou entre nós. Era como se fossemos dois desconhecidos que nos estávamos vendo pela primeira vez.

Afonso também estava arrumado a um canto, bebendo alguma coisa e sorrindo. Mas senti que prestava atenção demais em Vanessa e Tiago. Uma atenção demasiada, nem mesmo eu colava tanto os olhos neles ( e tinha muitas razões pra o fazer) como ele.

_ Mas me fala Madalena, o que vocês fez tão bem durante todo o tempo que esteve com Tiago para ele estar em tão boa forma? – A perua perguntou me desafiando com o olhar e retendo atenção geral.

Nossa minhas tripas se enrodilharam de um jeito que pensei que nem tinha escutado bem! Vi Tiago olhando pra baixo, ou seja pra ela, pois encontravam-se a níveis diferentes.

_ Cada uma joga com os trunfos que tem! – não sei qual o motivo de tantos assobias em direção a Vanessa, mas que eles soaram , isso é que soram.

_ Duvido, depois do que eu vi, acho que ele esqueceu o que se sente durante um bom momento! – ela resmungou.

_ Cala a boca, Vanessa! – Ele falou descolando sua mão de seu corpo. Até gostei. Tá bom eu fiquei fazendo a dancinha da felicidade por dentro.

_ Ué, vai falar que não é verdade? Onde e quando ela te deu tanta diversão como eu?

Todas as atenções estavam na gente e Valéria se aproximou um pouco murmurando:

_ Onde ela tá querendo chegar? – não respondi pois tanto quanto ela eu não sabia.

_ Diabos Vanessa, fecha a boca! – Tiago rosnou com raiva.

_ Qual é o problema? Você mesmo sabe, que eu te divirto muito mas que ela, mas não fique com tanta raiva bebê! Eu prometo num deixar você como ela deixou. E hoje á noite sou toda sua!

Olhei para Afonso que deu mais um gole no copo e depois sorriu satisfeito com as palavras dela.

O ambiente foi aquecendo em torno da fogueira uns desaparecerem do nada e outros se juntaram, o que era o caso de Valéria e Lucas, que trocavam carinhos, beijos e palavras. Ele tinha razão ele tornaria a noite inesquecível, e sabe-se lá a que ponto aquilo chegaria.

Tiago e Vanessa também tinham evaporado. E eu era praticamente e única pessoa sem par que se encontrava no grupo. Não queria regressar pro quarto e lembrei de uma amiga já á uns tempos abandonada.

Tracei o caminho com a maior facilidade do mundo, desconfiando já tê-lo esquecido, mas felizmente encontrei ela, perdida no meio da floresta. Tinha os pés com lama e a saia molhada. Fazia muito tempo mesmo que eu não visitava a minha cabana. Ou será que era a nossa?

Bem não vinha ao caso. Notei que havia luz e estranhei. Fiquei com medo, mas arrisquei em abrir a porta. Por muito que me arrependesse depois.

Abri a porta cuidadosamente e vi Tiago entre as pernas de Vanessa. Ele estava a pé sem camiseta prensando ela contra a parede que tinha as pernas em volta de sua cintura se apoiando, e estava sem blusa também. Tiago beijava o pescoço de Vanessa, enquanto ela fazia o mesmo, desarrumando o cabelo dele.

Não fiquei muito tempo assistindo aquilo. Uns dois ou três minutos foi o suficiente. Senti meus olhos arderem.

Ele nem deu por minha presença mas ela sim, tendo em conta que sorriu de canto, como que falando “ Tá vendo, isso é o que você num é capaz de dar pra ele.”. Estava capaz de fazer alguma besteira e me sentia humilhada. Queria matá-lo.

Cheguei no colégio rapidamente e corri até ao corredor dos dormitórios. Caminha com passos largos, queria chegar logo, naquela droga de quarto, nessa droga de colégio, nesse mundinho de merda.
Fiz uma curva mal feita, pudera estava escuro e não se consegui ver puto , e esbarrei com alguém que reconheci quando o seu cheiro chegou a minhas narinas. Me agarrou pelos cotovelos provavelmente pra eu não tombar e depois falou.

_ Hey! – resmungando. Não tinha era percebido que era eu. – Madalena? – Parece que foi lento em compreensão mas acabou por se aperceber que era eu. Funguei e isso deu logo a entender que eu não estava nos meus melhores momentos. – Que foi? Porque está…

Não deixei ele terminar e agarrei seu rosto, colando minha boca na sua e sentindo suas mãos me puxarem pela cintura. Em pouco tempo estávamos dentro do quarto de Carlos. Ele me segurava firme, cada vez mais me prensando contra seu corpo enquanto eu segurava sua cabeça e seu pescoço.