A Voz Da Morte escrita por Jonathan Bemol


Capítulo 2
2




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                Graças aos céus, o zumbi estava na direção contrária da porta. Mas mesmo assim, Clark quase desmaiou de medo. O monstro era um tanto azulado, corria na direção do garoto com os braços para frente gemendo, com a boca aberta. Não conseguiu descobrir quem era, mas não era nenhum conhecido.

                A mente de Clark queria fazê-lo correr mais rápido do que podia, por isso quando correu para a porta tropeçou e caiu. Seus sentidos se confundiam. Não sabia se olhava para trás pra ver onde o zumbi já estava, levantava e ia correndo para fora ou se ficava ali, pois lá fora devia ter mais zumbis.

                Olhou para trás e o zumbi ainda vinha em sua direção, babando como um cachorro. O corpo do garoto se atrapalhou todo para levantar, mas levantou e correu até a porta de vidro. Chegou até ela, abriu, saiu e fechou-a. O monstro se aproximou da mesma tentado pegar Clark. Será que ele consegue abrir?! O zumbi bateu na porta, e ficou tentando atravessá-la, socando, chutando, batendo até a cabeça nela, sem sequer encostar no trinco. Clark se assustou e caiu pra trás. O zumbi continuou lá, arranhando e mordendo a porta.

                O garoto continuou olhando o monstro, batendo cada vez mais na porta. Suava frio, tremia, se sentia fraco, enjoado, tudo ao mesmo tempo. Não se atreveu a levantar. Passou a mão pelos bolsos procurando seu celular. Encontrou-o, mas por conta da tremedeira deixou ele cair no chão. Pegou, e discou o número da polícia. “O número chamado está desligado ou fora da área de...” assim que escutou a mensagem, Clark desligou. Tentou os bombeiros, mas o telefone chamou, chamou, e ninguém atendeu. Os telefones da ambulância e da polícia civil também não responderam.

                O que eu faço agora? O garoto não tinha ideia de para onde ir ou o que fazer. A cidade decerto já tinha sido evacuada, e os poucos que restaram provavelmente estavam nos hospitais. Devo ir pra algum hospital, me informar melhor e ver o que posso fazer.Mas não, não tinha coragem de sair dali onde estava. Tinha medo de... De andar até um hospital e encontrar mais criaturas do tipo. Percebeu que deixou todas as suas coisas no apartamento, mas de jeito nenhum iria voltar para pegar. O posto de saúde mais próximo fica a umas 5 ou 4 quadras dali, mas a coragem tinha ido passear, não tinha forças para sair dali, do chão.

                Ainda tremia e suava frio. A lembrança dos olhos esbranquiçados do zumbi nunca sairia de sua memória. Os olhos, a boca, a pele... Tudo era horrível e assustador naquele monstro. A pior parte era que o garoto teria de lutar com eles a partir de agora. Ou não, pois acharia um jeito de sair da cidade também e descobrir para onde todos foram.

                A cidade estava absolutamente quieta. Nenhum barulho, som, ruído, nada. Clark se via sozinho na rua totalmente abandonada. Temia que de repente um zumbi pularia de qualquer canto e acabaria tentando matá-lo. Olhou para a esquina, para o alto dos prédios, com medo. Para as portas e janelas, temendo que alguma coisa saísse de qualquer uma delas, tentando devorá-lo.

                Isso não pode estar acontecendo! Clark fez a única coisa que tinha coragem e capacidade de fazer agora: chorar.

***

Dia 4 de Abril de 2014

                Um apocalipse zumbi? Era tudo o que o mundo precisava agora. O major Gregório Goldenhood  já tinha visto de tudo, menos uma situação daquelas. Todo mundo perdido, sem saber o que fazer. O país, os militares, absolutamente ninguém tinha se preparado para uma situação daquelas, nunca sequer pensado na hipótese de acontecer de verdade. Ele e alguns de seus homens estavam no Refúgio, como tinha sido chamado o lugar para onde muitas e muitas pessoas tinham sido evacuadas. Uma cidade de “médio porte”, mas que tinha originalmente apenas 5 mil habitantes. Agora, haviam no mínimo, na melhor das hipóteses, 5 milhões. E outras milhões de pessoas estavam sendo trazidas para lá, e para outros lugares “seguros” também. “Seguros”, pois os especialistas diziam que nenhum lugar era considerado seguro. Infelizmente também, ninguém era especialista no assunto. Gregório estava vendo aquilo como um caos. Porque tirar as pessoas de um lugar nada seguro, e trazê-las para outros lugares que podiam não ser seguros também? As pessoas estavam lá fora, gritando, urrando, implorando por explicações do que aconteceria agora e qual era o destino de todos. O presidente do país, que estava ali na sua frente, também não tinha a resposta para nenhuma das perguntas. Caos completo.

                - Vou me pronunciar, e depois estabelecemos um plano – O presidente falou.

                - Não é melhor traçar um plano primeiro, para depois apresentá-lo as pessoas? – Perguntou o capitão da Marinha, que estava ali.

                - Eu... É, talvez seja melhor, mas... – E o presidente não conseguiu terminar, por conta da gritaria que estava lá fora da prefeitura.

                Ele fez uma careta e se dirigiu para uma grande janela, onde falaria à população. A prefeitura do Refúgio era o QG improvisado, tudo ali era improvisado e de última hora. O prefeito da antiga cidade estava morto no chão, assim como os seguranças dele. Um dos guardas tinha sido zumbificado e comido o prefeito e o outro guarda. Quando o major Gregório chegou, fuzilou o monstro imediatamente. E ninguém tinha se incomodado em tirar o corpo até agora.

                - Meus queridos amigos e amigas, - Gregório escutou o presidente falar a população – está tudo sob controle! Só estamos acertando os últimos detalhes do nosso plano de ação, que em minutos apresentaremos aos senhores! E também...

                Baboseira. O presidente não passava de um babaca. O major Gregório tinha 5 soldados de seu exército ali com ele, e na sala estavam dois seguranças do presidente, o  chefe da Marinha, da Aeronáutica, os ministros da Saúde, Fazenda e Cultura. Os outros não tinham sido encontrados, foram mortos ou zumbificados.

                Gregório voltou a olhar para o presidente. Tinha uma porcaria de um megafone do lado dele, no chão, e o idiota estava lá gritando como um maluco. “... em poucos dias, todos nós, vamos nos ver livres de preocupações e...já chega!

                - Me dêem cobertura. – Gregório sussurrou para seus soldados, e em seguida atirou nos dois seguranças presidenciais, que não tiveram tempo de reagir.

                O presidente olhou para trás, mas também não teve tempo de fazer nada. Gregório o pegou pela gola do paletó e o jogou para trás. Seus soldados cuidaram de deter o homem antes que fizesse alguma coisa. O major então pegou o megafone e falou à população:

                - Parem! Parem de gritar, de urrar, de atrapalhar nós, o governo agora! O presidente era só uma representação do poder, um nada. Nós, os militares, mandamos em tudo isso agora!

                E o major Gregório continuou com um discurso que ensaiava há anos. Ah, era tudo o que ele queria... Um golpe militar.

***

Dia 28 de Março de 2014

                Clark só teve coragem de levantar quando viu não só um, mas um grupo inteiro de mortos-vivos. Não, de novo não!

                Imediatamente se levantou, e correu pela rua, na direção contrária dos zumbis obviamente, que também corriam em sua direção. Enquanto Clark corria, olhou para trás e tentou contar quantos estavam naquele grupo. Uns... 10? 30? 70? O garoto não conseguia nem contar mais. Só queria fugir daquelas criaturas vis. Seu coração estava acelerado, ainda tremia e chorava. Ele nunca tinha sido religioso de verdade, acreditava em algo superior, mas agora, sua consciência clamava por alguma ajuda divina, um milagre. Senhor Deus, se o Senhor existe, por favor, por favor, faça com que...

                Não conseguiu concluir a oração. Assim que virou a esquina, viu mais... Criaturas.

                Uma mulher rastejava no chão, clamando por ajuda. Implorava e gritava por ajuda de Deus, de um monte de santos, e assim que viu Clark implorou a ajuda dele. Mas o garoto estava paralisado, olhando o zumbi que corria atrás dela. De repente, o monstro pulou em cima dela e... Devorou-a.

                Mais adiante, outro zumbi avançava para a mulher também, e outro estava trancado dentro de um carro, tentando desesperadamente sair. Outra coisa que havia em abundancia ali era isso: carros. Um monte jaziam estacionados em qualquer lugar, a maioria abertos, como se tivessem sido abandonados as pressas.

                O batimento de Clark acelerou de novo, e ele correu pela rua que estava correndo antes. O grupo de morto-vivos continuava indo atrás dele. Ele correu e correu, encontrou alguns zumbis pelo caminho, que não conseguiram pegá-lo. Não pode ser verdade, não pode.

                De repente, algo veio ao encontro dele. Um zumbi, chegando perto e mais perto, correndo. Droga! Antes que pudesse dar meia volta ou desviar, a criatura bateu de cara com o garoto.

                E não era um zumbi. Era uma garota. Não parecia nada com um zumbi. Era jovem, tinha longos cabelos negros, um pouquinho gordinha, usava uma camiseta azul e calça jeans preta. Ela tinha lágrimas nos olhos e parecia desesperada. Tremia muito e estava bastante suada.

                - Não tem pra onde fugir! – Ela conseguiu dizer, em meio a uma gagueira.

                Uma horda de zumbis corria atrás dela também. Realmente, não tinham para onde fugirem. Alguns mortos também saiam pelas janelas dos prédios, saiam dos carros, de todos os lugares possíveis. Um zumbi conseguiu chegar até Clark e a garota, e ia morder os dois. O garoto sentiu o cheiro insuportável, o monstro pingando sangue se aproximando...

                Até que uma faca cortou o ar e acertou em cheio a cabeça do zumbi. Ele caiu para trás, com a faca fincada em sua testa. Os dois olharam para onde a faca tinha vindo, e um carro Chevette atravessou o grupo de zumbis, atropelando-os. Parou do lado de Clark, e o homem que dirigia gritou:

                - Entrem!

                Os dois hesitaram. Será que deviam mesmo entrar ali? Os zumbis se aproximavam depressa, e o homem se irritou.

                - Entrem logo!

                Clark correu para a porta de trás, abriu-a e se jogou para dentro, e logo a menina também entrou, fechou a porta, e o carro disparou atropelando um monte de zumbis, sedentos por carne.


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