A Voz Da Morte escrita por Jonathan Bemol


Capítulo 1
1




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                O velho que tanto chamavam de rabugento deu mais um tiro na cabeça de um pobre zumbi. O barulho ecoou fortemente por toda a praça onde ele estava, quebrando o silêncio que antes reinava ali. Se as pessoas normais já o achavam rabugento, os zumbis deviam estar pensando que ele era um monstro.

                Maxwell tinha sido um dos poucos homens do exército americano a ser treinado para aquela situação. Ficou muitas e muitas horas decorando e estudando absolutamente tudo sobre zumbis. Mas agora, ele estava lá, sozinho, só com sua escopeta, sem nenhum companheiro de exército para ajudá-lo.

                Mais zumbis idiotas aparecendo, todos andando na direção de Maxwell. Felizmente, eles andavam muito devagar, e o velho tinha tempo para mirar neles e disparar várias vezes. Mire na cabeça, e não erre.

                Um, dois, quatro zumbis “mortos” no chão. Faltava um, que estava verde, com a mandíbula solta e sem um braço, caminhando na direção de Max. Sem piedade, mirou, e atirou. No primeiro tiro, o zumbi caiu de costas no chão, e o velho pode ver o olho branco do mesmo voar pelos ares. Max ficou com a mira no zumbi, deitado no chão imóvel. Precaução. De repente, o zumbi mexeu seu braço e sem hesitar, o velho disparou mais três vezes contra o monstro. Mais um zumbi “morto”. Zumbi morto era um pleonasmo incrível, mas Max gostava de usá-lo mesmo assim.

                O velho procurou por mais zumbis. Deveriam estar por ali, tentando chegar até ele. Devagar, ele recarregou a escopeta tentando fazer o mínimo de barulho. O silêncio era enorme, e isso não era bom. Mas não como nos outros dias. Nesse dia, estava silencioso demais.

                E isso com certeza não era nada bom para ele que lutava contra seres que não sabiam distinguir um mugido de uma explosão.

                De repente, ao lado de uma árvore, ele viu uma coisa. Uma coisa não, uma pessoa. Quem era? O que fazia ali? Com certeza era um zumbi, só que... Mais preservado. Maxwell mirou nele, e se aproximou devagar. Se fosse um zumbi, já estaria vindo na minha direção.

                O velho olhou com mais precisão e viu que era uma mulher, de cabelos longos e loiros que balançavam com o vento, um vestido leve de seda e pele clara. E, sem dúvidas, não era uma mulher. Era a mulher.

                - Clarisse? – Ele perguntou, tirando o olho da mira.

                A mulher não disse nada. Max sentiu uma fraqueza. O que ela estava fazendo ali? “P-pensei que ela já estivesse... Morta. Há um bom tempo” ele pensou. E de repente, um monte de lembranças de anos e anos atrás invadiram sua mente. Uma mulher linda, um casamento apressado, um filho atrevido, um divórcio sem sentido, e um acidente.

                Sem perceber, lágrimas tinham se formado em seus olhos. A sensação de culpa que sentia há anos mexeu forte com sua alma e ele sentiu as pernas tremerem.

                - Clarisse! – Agora, sem querer, tinha gritado o nome dela, ao ver um monte de zumbis vindo na direção da mulher, por trás dela, prontos para devorá-la.

                Antes que pudesse atirar, algo o agarrou por trás. Viu mãos verdes puxando seu ombro, e uma forte mordida no pescoço. Os dentes podres de um zumbi penetraram em sua carne e uma língua atordoada lambeu seu músculo, já que sua pele tinha sido arrancada. Caiu para trás com dor, e sentiu outra mordida na coxa. Sangue e líquidos verdes pingavam em Maxwell. Estava cercado de zumbis, que estavam desesperados para transformar Max em um deles.

                Mãos verdes arranharam seu peito, outro mordeu mais ainda sua perna e outros tentavam mordê-lo em outros lugares. Clarisse!

                Conseguiu dar um soco em um, afastou três que estavam em suas pernas. Mesmo que conseguisse fugir, não conseguiria escapar. Eu já estou com o vírus. Tentou levantar, mas um zumbi pulou em cima dele. Horrível era encarar aquela face desfigurada, que antes pertencia a um belo humano. Por sorte, a escopeta estava perto de sua mão, e Max conseguiu pegá-la. Atirou de um jeito desajeitado no peito do zumbi, que foi para o lado.

                O velho levantou cambaleando de dor. Zumbis ainda o cercavam. E pela primeira vez em vários anos, Maxwell não sentiu medo. Tirou uma pílula do bolso, e a engoliu. Paralisar o cérebro. Pegou um sinalizador que há muito não usava, apontou pro céu e atirou. Avisar os companheiros. E finalmente, apontou a escopeta para o próprio peito, e sem hesitar disparou, fazendo com que todas as suas lembranças, medos e mágoas desaparecessem.


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