Sirius

       Na segunda, fomos até a professora McGonnagall explicar a situação e pedi permissão para a visita. Ela parecia já saber da situação e nos deu a permissão de viagem. Parecia estar bem triste com essa historia toda. Não pude deixar de notar o olhar dela para minha mão segurando a da Hillian. Não parecia aprovar aquilo, o que me deixou triste. Mas também não fez nenhum comentário a respeito. 

Na quarta foi meu aniversário. Eu ganhei muitos cartões e presentes, mas nenhum vindo dos meus pais. Não que eu esperasse, claro. No corredor eu encontrei Regulus que só me fuzilou com o olhar e para meu espanto vi Katie com ele e o grupinho deles. Ela mal tinha aparecido nas aulas essa semana. 

A noite ganhei um bolo, e eu e meus amigos tentamos aproveitar o momento, apesar de estarmos com medo pelo fim de semana que se aproximava. Depois, Hillian me convenceu a ir pro nosso cantinho secreto no terceiro andar. 

Talvez se nós não estivéssemos com medo de perder Dorea, aquele teria sido uma noite diferente na nossa vida.... Sabe, teríamos avançado o sinal. Mas diante da situação, foi apenas um bom amasso. O suficiente para eu me arrepender mais uma vez de não ter beijado ela no verão. 

Na sexta pela manhã, James recebeu uma carta de Charlus, pedindo para que ele fosse visitar a mão, pois ela estava cada vez mais fraca e ele não sabia quanto tempo a esposa iria aguentar. Aquilo acabou com a gente. James ficou tão arrasado que eu acabei dando o treino de Quadribol aquela noite, afinal no inicio de dezembro teríamos a nossa primeira partida, contra a Lufa-lufa. Eu mesmo não sei como dei o treino. Pois minha mente ia para Dorea a cada minuto. 

Hoje uma manhã de sábado, 6 de novembro. Mal dormi a noite, e quando finalmente embarquei no sono, James me acordou para eu ir me trocar. Moony já estava no banheiro, igualmente horrível. Tinha sido semana de Lua cheia e a gente nem aproveitou. Só ficamos na Casa dos Gritos mesmo. 

Depois de prontos, eu, James, Remus e Peter nos despedimos de Frank e descemos pro Salão Comunal. Hilly já me esperava ali, Dorcas e Lils também já estavam lá. Sim, todos tinham topado ir apoiar James.

— Desculpe pessoal- Peter pediu, ele que nos atrasou, para variar.

— Tudo bem, vamos logo! - Disse James. Dava para sentir a dor na voz dele.

Hilly se agarrou no meu pescoço e fomos andando agarradinhos- se não fosse uma hora tão ruim, acho que teria aproveitado muito mais esse momento. Lily andava perto de James. Ela se revelou nessa semana, deixando Prongs ficar perto dela e até acariciando-o, acho que talvez eles possam realmente começar um relacionamento. Percebi que Remus e Dorcas estavam de mãos dadas- era a primeira vez que vi Remus tendo contato físico com uma garota, e também era a primeira vez que via os dois juntos desde a ceninha no Halloween. Peter ia sozinho, atrás, as vezes fico com pena dele.

Chegamos a Hogsmeade e aparatamos pra um beco a uma quadra de distância do St Mungus (Dumbledore tinha orientado a gente). Ficamos na frente da vitrine de 'loja' Purga & Sonda, falamos com o manequim (sérios as vezes essa questão de segurança anti-trouxa pode ser algo desagradável) e finalmente entramos no Hospital St. Mungus, onde seguimos pra recepção:

— Vim ver a Srª. Dorea Potter. -Disse James a mulher da recepção.

— Oh sim! Ela está no Segundo andar- Ela disse. E nos apontou a escada.

Então fomos ao segundo andar, e no corredor encontramos com Charlus. Ele pareceu a mim mais velho e cansado que de costume. Tipo, ele e tia Dorea se compararmos a média da idade dos pais do nosso grupo, com certeza são os mais velhos. Mas eles, não são tão velhos assim também.

—Crianças, que bom que vieram! - Ele disse. Então agarrou James num abraço apertado, depois se virou pra mim e me deu um abraço, e depois beijou a bochecha de Hilly. Apertou a mão do Remus e de Peter e então se virou pras meninas:

—Não conheço vocês....-Ele disse em tom de pergunta.

—Oh! Sou Dorcas- A morena disse. Ela havia apenas conhecido a tia Dorea na vez que nos encontrou no Beco Diagonal.

—Há sim, James já me falou sobre você.... E você não seria a 'famosa' Lily Evans, seria? - Ele disse se virando pra Lils deixando-a completamente vermelha.

—Sou eu sim, é um prazer conhecê-lo- Ela disse, com as bochechas no tom do seu cabelo.

— O prazer é todo meu, sabe James não se cansa de falar sobre você, mas a descrição dele não foi das melhores, você é muito mais bonita- Ele disse, tanto o veado como a ruivinha ficaram vermelhos. Isso fez Charlus dá um sorrisinho. Dá para ver quem o James puxou.

—Então, acho que é um grupo muito grande...-Charlus disse.

—Então vamos nos dividir- Remus falou.

—Certo, James, Sirius, Hilly e Lily vão primeiro, eu e os outros vamos depois- Charlus disse.

—Tem certeza de que não quer entrar agora? - Lily disse

—Tenho sim, tinha saído pra tomar um ar mesmo- Ele respondeu. Acho que é muito difícil para ele ver a esposa amada naquela condição.

Então entramos no quarto. E... acho que nunca vou apagar a imagem da minha memória.

Hillian

        Tia Dorea sempre foi uma mulher elegante, esbelta, fina e bonita, por isso tive que fazer toda a força do mundo pra não soltar um grito de espanto quando vi deitada uma senhora fraca, magra e com certeza a beira da morte.

James ficou pálido e foi correndo pra mãe:

—Mãe! Oh, mamãe!- Eles disse, quase no choro.

—Oh querido, sinto tanto que você tenha que me ver assim... - Ela disse numa voz baixa e fraca. Senti meu lábio tremer, e meus olhos ficarem úmidos.

—Não diga isso, é claro que eu vinha te ver.- Ele disse. Estava abraçado nela agora. 

— Tia Do...- Sirius falou. Fui andando até a cama com ele.

— Sirius, Hillian... que bom vê-los- Ela disse, fazendo força pra um sorriso fraco aparecer em seu rosto. Eu senti as lagrimas escorrerem pela minha bochecha.

— E essa menina bonita, quem é? - A Tia perguntou, olhando para Lils.

— Sou Lily Evans, Srª Potter- Lily disse, dando um sorriso.

— Pode me chamar de Tia Dorea, Lily. James fala tanto de você, é bom poder te conhecer antes de.... - Ela não disse a última palavra.

—Mãe! Não diga isso- James falou, caindo em lágrimas.

— Ora Jay, você sabe que vou morrer, todos sabem, até eu. E eu já aceitei isso filho, minha última força estava sendo usada pra poder me despedir de você- Ela disse calmamente. Ela sempre foi assim muito calma e decidida. A morte não era um problema para ela, acho que por isso ela foi auror.

— Mãe, você não pode.... você ainda tem que me ver formar, eu casar, arranjar um trabalho, conhecer seus netos...- James falou. Seus olhos já estavam vermelhos.

— Filho, só porque em carne não estarei aqui pra ver isso, não quer dizer que em espírito eu não esteja, ok? Agora Sirius por favor chame Charlus.... - Ela disse. Sirius beijou a mão dela e foi para fora.

Comecei a chorar também.

—Oh minha querida, você vai cuidar de Sirius e de Jay pra mim não vai?- Ela disse acariciando a minha mão.

— Mas é claro que vou Tia, prometo- Falei entre lagrimas.

—Que bom- ela disse.

Sirius e Charlus entraram.

— Querida você quer que eu chame o curandeiro? - Charlus disse angustiado.

— Não, amor. Acho que vou dormir agora, porque não leva eles pra tomar um chá lá em cima? - ela disse.

—Tem certeza? - Falamos todos juntos.

— Oh, sim tenho. - Ela falou. Percebi que ela olhava muito bem para cada um de nós, como se estivesse tentando nos gravar na memória. Era isso, nossa despedida. Dei um ultimo beijo nela, meu coração minúsculo de tanta dor. 

Saímos do quarto, eu James e Sirius enxugamos as lagrimas.

—Vamos entrar agora...? - Remus perguntou.

—Não, ela pediu pra levá-los pra cima pra tomar um chá. Ela disse que precisava dormir- Disse Charlus a ele.

Tia Dorea faleceu de madrugada, quando estávamos todos dormindo no Caldeirão Furado. Por volta das 5 horas da manhã eu, Lily e Dorcas acordamos quando os gritos de James:

—NÃÃÃÃÃO! MÃÃÃEEEEEEE!-Entre os prantos.

Pulamos da cama e voamos pro quarto a frente, onde os garotos dormiram. Tio Charlus estava lá chorando, Sirius, Remus também. Peter estava tristonho.

— Ela m-mor-rr-eu?- Perguntei num sussurro.

Sirius assentiu pra mim.

—Sim, querida, Dorea morreu há duas horas. Você poderia me ajudar a fazer o velório? - Charlus disse, ele estava calmo. De certa forma o pior havia passado.

— Sim, sim. Vou aparatar lá pra casa e já começo a fazer tudo... Quando o corpo vai ser levado pra Grodric’s? - Perguntei, entre as lagrimas, Lily passou o braço em volta de mim, me consolando.

— Acho que daqui há cerca de três horas, já estaremos lá- Charlus me respondeu.

Voltei pro quarto para me trocar, mas tive que parar porque o choro ficou forte. Sentei-me na cama e deixei o choro passar. Minha segunda mãe, minha amiga e confidente, havia partido. O sentimento de luto, tristeza e solidão vieram como uma bola dentro de mim. Me senti orfã e sozinha de uma forma que nunca senti antes. Senti que ali minha infância acabava de vez.